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Dia: 13 de julho de 2024

Moises Sbardelotto: “Viver atentos aos outros no caminho comum ao longo das rodovias digitais”

A Pastoral da Comunicação (PASCOM Brasil) realiza de 12 a 14 de julho em Aparecida (SP) seu 8º Encontro Nacional, com o tema: “Pastoral da Comunicação em uma mudança de época: desafios e perspectivas”. Um espaço de reflexão, de partilha, de busca de novos caminhos para avançar juntos em vista do anúncio do Evangelho. Nessa dinâmica comunicativa, cada vez mais determinada pela cultura digital, Moises Sbardelotto refletia sobre “Igreja em saída nas estradas digitais”, partindo sua reflexão da ideia de caminhar juntos nas estradas digitais. Se faz necessário lembrar as palavras do Papa Francisco no Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2014: “entre as estradas estão também as digitais, congestionadas de humanidade, muitas vezes ferida”. Essa afirmação nos leva a refletir, segundo Sbardelotto, sobre a presença plena dos cristãos nas redes sociais, lembrando a colocação do Diretório de Comunicação da Igreja no Brasil, que no número 230 afirma: “A Igreja é chamada a se inculturar digitalmente, e sua presença nos ambientes digitais é incentivada por ser um lugar de testemunho e anúncio do Evangelho. Isso exige que os cristãos e as cristãs presentes na rede consigam ir além dos instrumentos e tomem consciência das mudanças fundamentais que as pessoas, a cultura e a sociedade experimentam nesse contexto, para aí também serem sal e luz do mundo”. Uma participação nas redes sociais que tem que levar a refletir sobre o modo como pessoal e comunitariamente, se deve viver no mundo digital, com amor ao próximo, atentos aos outros no caminho comum ao longo das rodovias digitais. Algo que nos remete à sinodalidade, lembrando que no Informe de Síntese da Primeira Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, o capítulo 17 fala sobre “Missionários no ambiente digital”, o que mostra que essa temática é uma preocupação da Igreja católica. Ele abordou a questão dos pedágios das estradas digitais, ressaltando que o cristão não pode ser ingênuo, “nos ambientes digitais não podemos entrar como se fosse um lugar neutro, existem problemáticas”. Sbardelotto apresentou os resultados de uma pesquisa sobre o uso das mídias sociais no Brasil, afirmando que no início a internet era um espaço livre, um lugar aberto, democrático, que se tornou um latifúndio dominado pelas plataformas: Google, Amazon, Appel, Meta, Microsoft. Ele refletiu sobre a soberania dos nossos dados, questionando para onde estão indo os nossos dados, algo de fundamental importância, porque “os dados são o petróleo contemporâneo, a grande fonte de renda dessas empresas”. De fato, a internet não é um lugar neutro, é um lugar com interesses políticos e económicos, sublinhou. Nesse sentido, ele refletiu sobre o lucro dessas empresas com as informações, que nem sempre são positivas, destacando que o que interessa é gerar lucro. Como consequência dessa realidade colocou o aumento de depressão e suicídio com o surgimento das redes sociais, surgindo assim o que denominou de “geração ansiosa”. Uma realidade que demanda da Igreja pensar no impacto que isso tem em sua missão. Partindo do livro “Influenciadores digitais católicos: efeitos e perspectivas”, Sbardelotto questionou se o que acontece é engajamento ou assujeitamento. Algo que leva à criação frequente de conteúdos que geram impacto; disputa pela visibilidade e pela relevância; temor constante de desaparecer; não transparência algorítmica das plataformas. A consequência disso é o que ele chama contratestemunhos digitais, deixar-se levar pelo bezerro digital: visibilidade, voltar os olhos para mim; futilidade, esquecendo da essência da fé cristã; falsidade; agressividade. Atitudes que levam a pisotear o Evangelho, o que tem que levar a pensar o que está acontecendo no caminho da missão digital. Se faz necessário um discernimento entre a lógica do lucro e a lógica da graça. A primeira propõe uma economia da atenção, consumo, individualidade, descarte; a segunda se concretiza na economia do dom, Deus que se entrega gratuitamente; a comunhão, a comunidade, o encontro. Desde aí abougou por uma presença discernente no ambiente digital, discernir o que nós fazemos em rede. Ele lembrou as palavras de Francisco: “Nós cristãos, não temos um produto para vender, mas uma vida para comunicar”. Diante disso afirmou a necessidade de ter clareza disso para que nossa missão seja fiel ao Evangelho, refletindo sobre as estradas digitais á luz do Caminho, que deve nos levar de volta às fontes, ao Jesus dos Evangelhos e ao Evangelho de Jesus. Daí a proposta de partir do Evangelho, de como o caminho pensado para caminhar hoje à luz do Evangelho. Sbardelotto propus alguns caminhos: o Caminho da proximidade, a atitude do Bom Samaritano, prestar atenção às pessoas que estão à margem da nossa comunicação digital, presença samaritana nas redes; o Caminho do anúncio do Reino, pensar em estratégias coletivas de missão coletiva, para chegar naqueles que chamou de pagãos digitais, aqueles que seguem o caminho do mercado, que tem que levar às ovelhas perdidas, superando uma linguagem católica só para católicos, buscando caminhos alternativos de engajamento social. Igualmente propus o Caminho do banquete, anunciar uma coisa boa, o amor de Deus, que é Pai, que é Mãe, comunicar um banquete apetecível; o Caminho estreito, ser coerentes, fiéis ao Evangelho nesse mercado que vai muitas vezes contra o Evangelho, falando de ser um anti-influenciador digital, jogar contra a lógica dos influenciadores; o Caminho da Cruz, o missionário digital é seguidor de alguém que afastou de se mesmo a tentação da fama, do dinheiro, do poder, alguém que não condescendeu com a mercantilização da Casa do Pai, que não serviu a dos senhores. Na Cruz, ressaltou Sbardelotto, tudo foi invertido, não houve curtidas e praticamente nenhum seguidor perante a Cruz, onde todas as lógicas são relativizadas. Tudo isso seguindo o que ele chamou de método Emaús, que tem como passos o encontro, a escuta, o diálogo e o testemunho. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Mons. Lucio Ruiz: “A comunicação não é uma atividade da Igreja, mas sua essência”

O Centro de Eventos Padre Vitor Coelho de Almeida, em Aparecida (SP), acolhe de 12 a 14 de julho de 2024 o 8º Encontro Nacional da Pastoral da Comunicação (PASCOM Brasil), que tem como tema “Pastoral da Comunicação em uma mudança de época: desafios e perspectivas”. Um encontro para que, segundo o bispo de Campo Limpo e presidente da Comissão Episcopal para a Comunicação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Valdir José de Castro, possamos “compartilhar nossas experiencias, alegrias, desafios, mas sobretudo que possamos renovar nosso compromisso com a Evangelho de Jesus, compromisso de sermos sinais da boa nova no mundo da comunicação, ser instrumentos de comunicação que constrói pontes e gera a cultura do encontro”. O Secretário do Dicastério para a Comunicação da Santa Sé, Mons. Lucio Ruiz, definiu os participantes como “um grande dom para a Igreja“, reconhecendo que “o que fazem e como fazem, a dedicação, o empenho e a sabedoria com que percorrem o caminho da Evangelização através da Comunicação são uma riqueza, não só para a Igreja que peregrina no Brasil, mas para toda a Igreja”. Na conferência de abertura, em que refletiu sobre o tema central do encontro, pediu para “nos questionarmos sobre como transmitir a Mensagem que transforma a história em um momento em que a fé, em todo o mundo, está em discussão e, como se diz, as Igrejas estão se esvaziando”. Diante disso, ele propôs “responder com coragem e criatividade para proclamar, com entusiasmo ainda maior, o que mudou nossas vidas, o que deu sentido à nossa existência, o que mudou a história, porque, como os Apóstolos, ‘não podemos calar o que vimos e ouvimos’”. Baseando-se no Relatório Síntese da primeira sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre Sinodalidade, ele enfatizou que “todo ser humano constrói sua identidade individual em um ambiente cultural que fornece a estrutura para a compreensão de si mesmo, de seu papel na sociedade, uma hierarquia de valores e um propósito desejável para o desenvolvimento de sua vida”, algo marcado hoje pela “imersão em processos digitais que afetam a maneira como as pessoas adquirem informações, formam seus pensamentos, trocam expressões de afeto, assumem valores e compartilham vários momentos“, o que é chamado de “cultura digital”, que molda vários elementos, criando um ecossistema cultural complexo, que o Papa Francisco chama de “mudança de época”. Refletindo sobre a necessidade de inculturação do Evangelho, Mons. Lucio Ruiz lembrou que Francisco pede que “toda a Igreja ‘escute’, que tenhamos a coragem de descobrir a ‘carne sofredora de Cristo’ e que sejamos todos, em primeira pessoa, os ‘bons samaritanos’ que curam as feridas da história, com o amor salvador e redentor de Jesus”. Partindo da importância de Pentecostes, ressaltou que os apóstolos, com a presença do Espírito, pregam e o povo os entende, afirmando que “o ‘medo’ é contrariado pela coragem de ‘pregar’; o ‘estar fechado’ é contrariado pelo ‘sair’; o ser entendido somente entre eles, é contrariado pelo ‘ouvi-los falar em sua própria língua’”. A partir daí, ele insistiu que “não basta pregar, precisamos ser compreendidos!“, considerando que ser compreendido é “um sinal da presença do Espírito”, para o qual é necessário “inculturar a pregação para que ela possa ser compreendida na língua do povo”. A partir dessa perspectiva, assinalou que “os processos de inculturação são necessários para estabelecer um diálogo efetivo com cada cultura e, assim, poder identificar as necessidades de cada ambiente”, algo que referiu à realidade digital, que “não é simplesmente um instrumento, mas uma cultura, a nossa”. Desde o Concílio Vaticano II, com o decreto Inter Mirifica, a comunicação passou a ser considerada como um espaço, mostrando os passos dados pelo Magistério pontifício, que “seguindo a evolução cultural, também caminhou e aprofundou a encarnação da Mensagem na cultura comunicacional”. Isso o levou a questionar “se essa consciência de inculturação, para que a Mensagem seja ‘pregada e compreendida’, projeta estruturalmente nossas homilias, nossa catequese, nossas confissões, nossos ensinamentos, nossa pastoral e nosso currículo acadêmico…“. Lucio Ruiz considera a cultura digital como um desafio missionário para a Igreja, ainda mais se levarmos em conta que 68% da população mundial está imersa na “cultura digital”, o que exige o envolvimento de toda a Igreja, o que apresenta desafios, dada a vertigem das mudanças. Isso exige uma mudança de perspectiva, e ver que “a comunicação não é uma atividade da Igreja, mas sua essência“, o que exige um retorno às origens, “à essência teológica do que é constitutivo para nós”, chamando a “passar da tecnologia ao querigma”, o que muda tudo. “Por que a Igreja ainda não reconhece e aceita a cultura digital como um espaço de evangelização e missão?“, perguntou o secretário do Dicastério para a Comunicação da Santa Sé. A isso ele respondeu que “esse fenômeno se deve ao fato de que ainda não foi superada a visão instrumental do digital”, considerado uma ameaça, algo superficial, um espaço de lazer, com linguagem frívola, leve, incapaz de gerar uma comunicação válida, de ir ao encontro da pessoa e transmitir a Mensagem. Isso requer, insistiu novamente Lucio Ruiz, “passar de um instrumento a uma cultura”, que seja compartilhada, que compreenda o espaço e o tempo e que evangelize. A necessidade de passar do instrumento à cultura busca evitar “uma pastoral que usa o digital para fazer um caminho paralelo enquanto o mundo vive imerso em uma realidade diversa“. Não se trata apenas de “digitalizar a pastoral”, mas de uma “pastoral digital”, ou seja, “proclamar a Mensagem na linguagem, nos tempos, nas dinâmicas, na narrativa, na forma própria desta cultura, para que os homens e mulheres de hoje possam entendê-la e vivê-la”, sublinhou, relacionando-a com a missão, “porque se a cultura é nova, e essa cultura é habitada, então a cultura é missionária”. Para isso, é necessário usar o idioma nativo das pessoas, “para que elas conheçam, entendam e vivam a Mensagem que realmente responde às perguntas existenciais de cada homem e mulher, e que realmente muda o curso da história”. Na reflexão sobre “Inteligência Artificial: o futuro…
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