Dom Leonardo: “Em Nossa Senhora nos vemos como Igreja: somos grandeza e miséria, alegria e angústia, luz e sombra”

“Celebramos a Solenidade da Assunção: a Mãe de Jesus é elevada de alma e corpo ao céu, à glória da eternidade, está em plena comunhão com a Trindade Santa”, afirmou o arcebispo de Manaus e presidente do Regional Norte1, cardeal Leonardo Steiner. Segundo ele, “a vida de Maria, toda a sua existência, foi uma expressão do amor da Trindade, por isso, a sua vida e sua morte celebram o mistério amoroso do Pai, do Filho e do Espírito Santo.” “E porque toda manifestação amorosa da Trindade veio manifestada na mulher Maria ao dar à luz a Jesus, celebramos nesta liturgia a sua libertação definitiva do mistério da decomposição na morte”, enfatizou o cardeal. Ele lembrou que “numa tradição antiga se fala na ‘dormição’ de Maria, a elevação de Maria ao céu em corpo e alma”. “Um grande sinal no Céu – uma mulher vestida de sol”, disse o arcebispo, lembrando a primeira leitura. Segundo ele, “a mulher, Maria, está envolta numa contradição. De um lado, vem adornada como rainha, com adereços celestes como a lua, o sol, as estrelas. Por outro lado, enfrenta as dores do parto e a perseguição do Dragão, postado à sua frente, pronto para devorar o Filho, logo que nascesse. O Filho foi levado para junto de Deus e a mulher para o deserto onde Deus lhe tinha preparado um lugar”, lembrando o texto: “Agora realizou-se a salvação, a força e a realiza do nosso Deus, e o poder do seu Cristo” (Ap 12,10). “Maria que concebeu o Filho de Deus e o deu à luz como salvação. Tudo como manifestação do amor de Deus por nós humanos e por toda a criatura”, ressaltou o cardeal Steiner. Ele disse que “em Nossa Senhora nos vemos como Igreja: somos grandeza e miséria, alegria e angústia, luz e sombra. Nela resplandecente, vemos a nossa salvação, a morte vencida, o mal subjugado. Mas enquanto peregrinos neste mundo, carregamos nossa fraqueza, dor e pecado”. Celebrando a sua assunção, segundo dom Leonardo, “a glorificamos como Rainha do Céu e a chamamos de ‘Mãe do Redentor’, de ‘Mãe da divina graça’. Nos mistérios gozosos a contemplamos coroada Rainha do céu e da terra, pois concebeu e deu à luz a Jesus Cristo, nosso salvador. Coroada, pois como nos lembrava a primeira leitura: ‘uma Mulher revestida do sol, a lua debaixo dos seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas’ (Ap 12,1).” São Lucas nos recordava, disse o arcebispo de Manaus, “que Maria partiu, apressadamente, para a região montanhosa, depois que o anjo lhe revelara que sua prima, Isabel, avançada em idade e estéril, também daria à luz um filho. Vimos Maria entrar na casa de Isabel e fomos convidados a contemplar o encontro de duas mulheres grávidas, no qual se revelam, duas profetizas, pois inspiradas pelo Espírito Santo. Isabel sentiu a vinda de Maria e, ao mesmo tempo, João, a vinda do Cristo. O nome ‘João’ evoca o ‘filho da graça’. Como tal, alegra-se com a vinda do gracioso Salvador, Jesus. E Maria permaneceu na casa por três meses e volta para casa.” Segundo o cardeal Steiner, “Maria que saiu da casa, entrou em muitas casas, permanece na casa e volta para casa. Deixou a casa de Nazaré e entrou na casa-estábulo em Belém; de Belém entra na casa estrangeira no Egito; da casa do Egito entra na casa de Nazaré. Deixa a casa de Nazaré para acompanhar o Filho no caminho da Cruz e da morte e habitará a casa da dor e da solidão. Na casa da cruz existe somente a dor, a perda, o sofrer. A dor é sua casa e ela a habita e ela está de corpo e alma. A casa da solidão ao tomar em seus braços o seu filho único descido da cruz, despido, silenciado, sem respiro, sem vida. A vida de sua vida, aquele a quem dera a vida e era a razão de sua vida, agora sem vida nos seus braços. Ela habita a casa da solidão, isto é do estar só Deus, soli-tudo, e nela está de corpo e alma. Nenhum desespero, nenhum fim, nenhum sem sentido, mas repetição silenciosa: ‘faça-se em mim segundo a tua palavra’. Ela está em casa de corpo e alma, pois habitada por Deus.” “Somos convidados, convidadas, para estar a caminho com Maria e sermos a habitação, a morada, na soltura, na liberdade e na receptividade transformante. A nossa revolução passa pela ternura, diz Papa Francisco, pela alegria que se faz proximidade, compaixão que não é comiseração, mas padecer com, para libertar e leva a servir os outros. A nossa fé nos faz sair de casa e ir ao encontro dos outros para partilhar alegrias e sofrimentos, esperanças e frustrações. A nossa fé nos tira de casa para visitar o doente, o recluso, quem chora, quem sabe rir com quem ri, rejubilar com as alegrias dos vizinhos”, ressaltou o arcebispo de Manaus. Como Maria, lembrou dom Leonardo, com palavras de Papa Francisco, “queremos ser uma Igreja que serve, que sai de casa, que sai dos seus templos, que sai das suas sacristias, para acompanhar a vida, sustentar a esperança, ser sinal de unidade de um povo nobre e digno. Como Maria, Mãe da Caridade, queremos ser uma Igreja que saia de casa para lançar pontes, abater muros, semear reconciliação. Como Maria, queremos ser uma Igreja que saiba acompanhar todas as situações “grávidas” da nossa gente, comprometidos com a vida, a cultura, a sociedade, não nos escondendo, mas caminhando com os nossos irmãos, todos juntos. Este é o nosso tesouro mais precioso, esta é a nossa maior riqueza e o melhor legado que podemos deixar: aprender a sair de casa, como Maria, pelas sendas da visitação. E aprender a rezar com Maria, pois a sua oração é cheia de memória e agradecimento; é o cântico do povo de Deus que caminha na história. É a memória viva de que Deus está no nosso meio; é a memória perene de que Deus olhou para a humildade…
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