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Dia: 20 de agosto de 2024

Analisar a conjuntura amazônica para descobrir as prioridades como Igreja

Escutar os clamores da realidade, dos povos que habitam a Amazônia, é um dos grandes desafios de uma evangelização encarnada e libertadora. Daí a importância de analisar a realidade, a conjuntura amazônica desde diversas perspectivas. Uma análise da realidade que a professora da Universidade Federal de Roraima, Márcia Maria de Oliveira, abordava desde o fenómeno das migrações como um desafio para a Igreja da Amazônia. Segundo a socióloga, a Amazônia é a região do Brasil com maior mobilidade humana, com deslocamentos internos e internacionais. Uma realidade marcada pela violência e a violação dos direitos humanos, com grupos especializados em contrabando, tráfico de pessoas e exploração no trabalho. Migrantes, principalmente venezuelanos, sem documentação, com um atendimento deficiente do governo brasileiro, marcados pelo sofrimento, que demanda da Igreja a necessidade de acolher e incluir os migrantes, para vencer a xenofobia e a aporofobia. O alto número de migrantes tem provocado um aumento de moradores de rua, que coloca desafios pastorais. Existe uma relação entre as fronteiras e os conflitos socioambientais, se dando uma parceria entre o garimpo criminoso, o crime organizado e o avanço do agronegócio. O crime organizado controla o garimpo, o tráfico de drogas, o tráfico de pessoas, se dando uma relação com o desmatamento e as queimadas, com a contaminação da terra e das águas, com a crise climática. Diante disso, se faz necessário, segundo a professora, mudar os quadros políticos. Ela denuncia o crescimento da violência na Amazônia, especialmente contra as mulheres, vítimas de assassinatos, e de violência sexual, e da violência sexual contra crianças. Na Amazônia, uma criança ou adolescente é vítima de estupro a cada 8 minutos no último ano, e tem se dado um grande aumento da gravidez de crianças de 10 a 14 anos. Tudo isso em um clima de impunidade diante dessa violência. Na Igreja da Amazônia, se faz necessário, segundo o arcebispo de Cuiabá, dom Mário Antônio da Silva, olhar para fora, abrir janelas, abrir portas, abrir o telhado. Ele questionou como é o compromisso da Igreja na Amazônia, o que é prioridade. Diante da complexidade da realidade, se faz inevitável o profetismo, perguntando “como ser profeta da verdade em nossa querida Amazônia em nossos dias?” e “o que se espera da Igreja?”. Diante disso, o arcebispo de Cuiabá fez um chamado a dedicar tempo para dar passos, para avançar, sentar e discutir, para discernir e agir, aproveitar as reflexões, buscar propostas para um caminho real. No atual processo sinodal, dom Mário Antônio desafiou a não ficar apenas com gotas de Francisco, mas ser um rio de missionariedade, e depois do encontro, “não levar apenas sementes, mas frutos em abundância para todos”. Ele destacou a necessidade de uma formação sacerdotal para ser padres discípulos pastores, refletindo sobre o diaconato permanente e a dificuldade do clero para aceitá-lo, mas também sobre a questão econômica. Em uma perspectiva meio ambiental, ecológica, Felício Pontes, procurador da República, destacou os aportes dos bispos da Amazônia nesse campo. Ele citou as palavras do Papa Francisco na Laudate Deum: “E o mesmo disseram, em poucas palavras, os bispos presentes no Sínodo para a Amazônia: ‘Os ataques à natureza têm consequências negativas na vida dos povos’”. Uma ideia que já aparece em Laudato Si´, que afirma que a ecologia e a justiça social estão intrinsecamente ligadas. O procurador refletiu sobre o modelo predatório de desenvolvimento, combatido desde Santarém 1972, que se concretiza na exploração de madeira, na pecuária, na mineração, na monocultura e na infraestrutura. A consequência disso é que desde 1972, que havia um 0,5% de desmatamento, passou a 20%, ponto de não retorno. Na Amazônia, os conflitos são conflitos por terra e os povos indígenas são os alvos dos ataques. Nessa perspectiva, Felício Pontes destacou o direito a terra como causa dos conflitos. O caminho sinodal da Igreja da Amazônia: Comunhão, Participação e Missão, se concretiza na caminhada da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) e a Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA), segundo o cardeal Pedro Barreto, presidente da CEAMA. Ele definiu a REPAM e a CEAMA não como instituições e sim como organismos que expressam a vida da Amazônia, como as duas faces de uma mesma moeda, expressão de uma Igreja sinodal que escuta o clamor da terra e dos pobres na Amazônia, e que age de maneira conjunta e articulada. O cardeal Barreto insistiu em que esse é um caminho sinodal iniciado no Concílio Vaticano II, que teve sua aplicação na América Latina na Conferência Geral do Episcopado Latino-americano em Medellín (Colômbia), em 1968. Uma dinâmica levada à Amazônia nos encontros amazônicos de Iquitos (Peru) em 1971 e Santarém, em 1972. O cardeal peruano destacou a importância da Conferência de Aparecida, onde os bispos da Amazônia brasileira destacaram a importância da evangelização na região. Igualmente, a importância do Sínodo para a Amazônia (2019), do Sínodo 2021-2024, que no Informe de Síntese da Primeira Sessão, destaca que a CEAMA é fruto de um processo sinodal. “Estamos abrindo caminho desde a Amazônia”, enfatizou Barreto, que mostrou o desejo de no Jubileu 2025 ser peregrinos de esperança para a Amazônia. Um desejo expressado pela Ir. Laura Vicuña Pereira Manso, vice-presidenta da CEAMA, que fez um chamado a que “façamos do Sínodo para a Amazônia um caminho trilhado por todos nós”. Esse Sínodo para a Amazônia “nos deu uma consciência pan-amazônica”, segundo o bispo auxiliar de Manaus e vice-presidente da CEAMA, dom Zenildo Lima. Ele lembrou da existência no Brasil da Comissão Episcopal Especial para a Amazônia, do trabalho em rede iniciado com a REPAM e o posterior organismo de coordenação, ferramenta, das igrejas locais surgido com a CEAMA, destacando a necessidade de diálogo da CEAMA com as igrejas locais. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Retrato da Igreja na Amazônia mostra os avanços e desafios nascidos no Sínodo e aprofundados em Santarém 2022

A Igreja da Amazônia está reunida em Manaus para seu V Encontro, iniciado no dia 19 de agosto e que será encerrado no dia 22. Mais de 80 pessoas, bispos, padres, representantes da Vida Religiosa e do laicato refletem no segundo dia a partir da realidade social e eclesial. Em uma Igreja em que “anunciamos o Reino de Deus sempre novo”, segundo o arcebispo de Manaus e presidente do Regional Norte1, cardeal Leonardo Steiner. Um Reino que “anunciamos e vivemos” nos ministérios, serviços e vocações que fazem chegar o Reino a sua plenitude, com uma abundância que dá cem vezes mais. Ele destacou “quanta disponibilidade e quanta generosidade, quanta entrega, tudo por causa do Reino de Deus”, nos missionários e missionárias na Amazônia, que “foram atraídos”, segundo o cardeal disse na Eucaristia que deu início aos trabalhos do segundo dia do encontro. A Igreja da Amazônia dá de sua pobreza, ressaltou o cardeal Steiner, “e tudo isso é transformado em Reino de Deus, visibilização da vida de Deus entre nós”, sublinhando que “recebemos cem vezes mais, em cultura, em religiosidade, em doação, na sensibilidade para com os povos”. Ele enfatizou a importância dos últimos, queridos de Deus, “últimos porque Deus não consegue não se inclinar de modo bem facejo diante da fragilidade, da pequenez, do abandono de seus filhos e filhas”, chamando a ser anunciadores desta esperança e na Igreja da Amazônia, fazer memória “dos nossos antepassados que anunciaram o Reino de Deus, viveram o Reino de Deus e plantaram o Reino de Deus”, de sua missionariedade. O Encontro é uma retomada das vivências do Sínodo para a Amazônia, que foi um tempo de muitas expectativas, segundo o bispo auxiliar de Manaus e vice-presidente da Conferência Eclesial da Amazônia (Ceama), dom Zenildo Lima. As reflexões do Sínodo para a Amazônia, mesmo reconhecendo as lacunas, foram recolhidas no Documento Final, um documento programático, e na Querida Amazônia, com um cariz mais reflexivo. O IV Encontro da Igreja na Amazônia, realizado em Santarém 2022, foi momento de recepção do Sínodo para a Amazônia, assumindo como tarefa, a partir das Igrejas da Amazônia, avançar nas lacunas, na questão ministerial, no rosto amazônico, na questão social. Tudo isso foi recolhido no Documento de Santarém 2022, considerado por dom Zenildo Lima, “uma recepção do Sínodo para a Amazônia com os nossos aportes”. Nesse Documento aparecem como diretrizes básicas a encarnação na realidade e a evangelização libertadora, com cinco linhas prioritárias: fortalecimento das comunidades eclesiais de base na ministerialidade e participação das mulheres; formação dos discípulos missionários; defesa da vida, dos povos da Amazônia; cuidado com a casa comum, migração, mineração, megaprojetos de infraestrutura; evangelização das juventudes. Nessa perspectiva, as igrejas locais da Amazônia foram convidadas a responder a algumas perguntas, para ver os avanços e dificuldades, para verificar os passos dados e os entraves quanto a aplicação das propostas de Santarém 2022; perceber situações emergentes que tem exigido um peculiar cuidado pastoral; consolidar algumas iniciativas, indicando desdobramentos concretos quanto a compromissos, opções pastorais, responsáveis, prazos. Um encontro para reconhecer os muitos passos e iniciativas, mas que também aflora a preocupação diante das resistências e retrocessos. Cada um dos seis regionais em que está dividida a Igreja na Amazônia Legal, seguindo as perguntas previamente enviadas, foram apresentando o resultado das escutas. Nos muitos e ricos aportes realizados, cabe destacar que as pessoas estão sendo atingidas em sua essência e isso mexe com a estrutura eclesial, que tem a ver com esse modelo de fé que vai se desenhando. Se percebe um cansaço das comunidades e dos agentes, e existe na Igreja da Amazônia uma preocupação com o clericalismo, com o tradicionalismo, aparecendo a questão da formação presbiteral e o papel das mulheres na Igreja. Também aparecem algumas exigências, que fazem referência ao cuidado com a casa comum e a proximidade com os pobres. Uma Igreja que nunca deve esquecer a dimensão do Reino, onde as comunidades têm uma importância decisiva e que é desafiada a uma maior presença nas comunidades indígenas, a não perder a dimensão sinodal, presente por muitos anos na Igreja da Amazônia, ainda mais diante da individualização da vivência religiosa, que gera um descompasso pastoral, que desafia a buscar saídas para ser uma Igreja mais profética, a reforçar a vida das comunidades. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

V Encontro da Igreja na Amazônia Legal: “Sermos cada vez uma Igreja mais inserida”

Iniciou nesta segunda-feira, 19 de agosto de 2024 o V Encontro da Igreja na Amazônia Legal, que reúne na Maromba de Manaus, de 19 a 22 de agosto, os bispos e outros representantes das 58 igrejas locais que fazem parte da região. Com o tema, “A Igreja que se fez carne, alarga sua tenda na Amazônia: Memória e Esperança”, está organizado pela Comissão Episcopal Especial para a Amazônia y a Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM-Brasil). O fato de “nos encontrarmos é sempre importante, para criarmos mais comunhão, para pensarmos juntos a evangelização, permanecermos fiéis ao espírito missionário da nossa Igreja na Amazônia, revermos a nossa caminhada”, segundo o arcebispo de Manaus e presidente do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB Norte1). Uma caminhada missionária, sinodal da Igreja da Amazônia, com horizontes muito bonitos e significativos, segundo o cardeal Steiner. Isso se concretiza em “sermos cada vez uma Igreja mais inserida”, lembrando a encarnação proposta em Santarém, que hoje deve acontecer em realidades que são outras. O presidente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) destacou a necessidade de “cada vez mais inserirmos a vida dos povos indígenas”, falando sobre a situação muito difícil em termos de meio ambiente que vive a Amazônia. O cardeal Steiner destacou o incentivo de Papa Francisco a levarmos em consideração toda a realidade, uma perspectiva que “nos anima, mas é uma perspectiva exigente, porque não podemos deixar ninguém para trás. Queremos caminhar todos juntos, mas levando em consideração as realidades que estamos a viver”. Um encontro iniciado com uma celebração marcada pela vida da Igreja e dos povos da Amazônia, seguida da abertura oficial do encontro, que representa uma alegria muito grande para a arquidiocese de Manaus, segundo seu arcebispo. O cardeal Steiner pediu que “seja um encontro onde podermos continuar a sonhar, para sermos uma Igreja profundamente encarnada, levando em consideração os sonhos do Papa Francisco”, e a partir daí “sermos uma Igreja que realmente canta a liberdade, e ao cantar a liberdade, se encarnar nas culturas que aqui existem, possamos realmente ser sinal de esperança”. Uma alegria partilhada pelo arcebispo emérito de Huancayo (Peru) e presidente da Conferência Eclesial da Amazônia (Ceama), cardeal Pedro Barreto, que lembrou que “é um fruto do processo sinodal vivido nesta região tão querida”. Ele destacou a larga história da Igreja na Amazônia, ressaltando a necessidade de “sermos conscientes que recolhemos uma sagrada herança dos nossos antecessores que trabalharam na Amazônia”. O cardeal Barreto agradeceu “todo o esforço que estão fazendo para caminhar em comunhão, participando todos na única missão de Cristo”. Em nome da presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o bispo auxiliar de Brasília e secretário geral da CNBB, dom Ricardo Hoepers, lembrou a longa história de encontros da Igreja da Amazônia, iniciado com o primeiro encontro inter-regional em 1952, destacando que “a perseverança nos ensina que vale a pena continuar esse processo com todo entusiasmo”. Ele refletiu sobre os retrocessos que acontecem cada dia na Amazônia, citando os desmatamentos, e mostrando a preocupação do episcopado brasileiro com os povos originários, “esses são os que mais sofrem”, denunciando “a gravidade das coisas que estão acontecendo em nosso país”, algo que lhes preocupa e buscam dar respostas. Ele mostrou a apertura da CNBB a todos, e lembrou o tema da Campanha da Fraternidade de 2025, sobre a ecologia integral, “uma oportunidade para sensibilizar a todo o Brasil”. A Rede Eclesial Pan-amazônica (REPAM), que está completando 10 anos, o fato de estar presente no território a leva a mostrar suas alegrias e preocupações, segundo sua vice-presidenta, a Ir. Carmelita Conceição. A religiosa citou a realidade da seca, que desafia a “dar um sinal de vida e esperança na Amazônia”, vendo o encontro como ajuda para “vermos o que fazer e como nos posicionar diante de tantos desafios”. A representante do Governo Brasileiro, Kenarik Boujikian, Secretária Nacional de Diálogos Sociais e Articulação de Políticas Públicas da Secretaria Geral da Presidência da República, afirmou que o papel da instituição que representa é manter o diálogo da sociedade civil e os movimentos sociais com o Governo, lembrando a importância dos movimentos populares para o Papa Francisco. Ela destacou a importância das messas de diálogo, apresentando um caderno de respostas às demandas da Igreja brasileira, que não pretende dar soluções, mas ele é uma ferramenta de trabalho, dividido em quatro eixos: emergência climática; direitos dos povos das águas, do campo e das florestas; regularização fundiária: denuncias e violações de direitos nos territórios. Um caderno para fazer novas construções, pequenas coisas que na realidade podem impactar. Diante dessa realidade, “a REPAM-Brasil quer ser um serviço eclesial, articulado com muitos movimentos e muitas organizações da sociedade civil, em busca de preservar os direitos dos nossos povos, dos nossos territórios e da nossa Amazônia como um todo”, segundo se presidente, o bispo de Roraima, dom Evaristo Spengler. Respondendo ao caderno, o bispo afirmou que “as nossas ações apoiam e visibilizam as iniciativas das comunidades, pastorais e organizações eclesiais, a partir de uma espiritualidade encarnada, na defesa da vida dos povos e da biodiversidade amazônica para construir o bem viver”, algo feito com fé e esperança. Ele lembrou a visita realizada a 13 ministérios e outras entidades, levando os resultados da escuta aos povos, que tem como consequência o caderno de respostas. Diante de uma situação que tende a se agravar, dom Evaristo Spengler agradeceu as respostas, destacando a importância das políticas públicas necessárias ao cuidado com a casa comum, com a Criação e com a nossa querida Amazônia. O arcebispo de São Luis e presidente da Comissão Especial Episcopal para a Amazônia, dom Gilberto Pastana, lembrou os membros da comissão desde sua criação em 2003, que hoje é formada pelos presidentes dos regionais da Amazônia Legal. Um encontro de “muita convivência, partilha da vida e da missão, e comprometimento com a causa do Reino”, para dar continuidade às conclusões assumidas no IV Encontro, realizado em Santarém em 2022. Lembrando o tema e o lema, ressaltou a importância do processo de…
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