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Dia: 21 de agosto de 2024

Mensagem do V Encontro da Igreja na Amazônia Legal, para as Eleições 2024: “Votemos responsavelmente pela Amazônia!”

Os participantes do V Encontro da Igreja na Amazônia Legal, reunidos em Manaus de 19 a 22 de agosto de 2024, lançaram uma Mensagem por ocasião das Eleições Municipais do próximo 6 de outubro, mostrando suas “esperanças e preocupações a respeito das eleições municipais que se aproximam”. Segundo o texto, “essas eleições têm uma importância particular pela proximidade dos candidatos e candidatas com os eleitores, bem como com suas preocupações mais concretas”, afirmando que “espera-se a garantia de políticas públicas que atendam principalmente os empobrecidos”. Para isso, se pede “identificar e escolher bem os candidatos e as candidatas”, identificando aquilo que é esperado dos prefeitos e vereadores. A mensagem destaca a indispensabilidade do equilíbrio e a complementariedade entre os poderes Legislativo e Executivo, em vista da “consolidação da democracia e o avanço da justiça social nos municípios”. Para os candidatos se pede “um compromisso irrenunciável com a defesa integral da vida”, dos direitos humanos, da Casa Comum. Igualmente, colocar “o bem comum acima de seus interesses pessoais ou corporativos”. “Votemos responsavelmente pela Amazônia!”, clama a mensagem, mostrando a urgência de diversos pedidos. Igualmente é destacada a importância da Ficha Limpa, de avaliar as informações sobre os candidatos, combater a desinformação e repudiar quaisquer formas de violência e divisão. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Rito Amazônico e Ministerialidade: Muito mais que uma mediação pastoral

O V Encontro da Igreja na Amazônia Legal, que está sendo realizado em Manaus de 19 a 22 de agosto, é um espaço de reflexão sobre diversos passos que a Igreja na Amazônia está dando. Um deles é o Rito Amazônico, algo que foi se configurando a partir do desejo de uma Igreja com rosto amazônico, que acompanha a vida da Igreja na região desde a chegada do Evangelho, no século XVI. O Encontro de Santarém, em 1972, pode ser considerado um divisor de águas nessa configuração de uma Igreja com rosto amazônico. Ao longo dos últimos 50 anos foram se dando passos, sendo o Sínodo para a Amazônia, em 2019, o momento em que surgiu a proposta de um rito amazônico, segundo recolhe o número 119 do Documento Final. O Rito Amazônico deve se somar aos outros 23 ritos presentes na Igreja. Segundo Agenor Brighenti, é um rito que quer ser muito mais que um rito litúrgico, pois não pode ser reduzido à inculturação da Liturgia ou do Missal Romano. Nessa perspectiva está sendo trabalhado sobre sacramentos e sacramentais, a Iniciação à Vida Cristã, a Liturgia das Horas, o Ano Litúrgico, os Ministérios, o Espaço Litúrgico, as Estruturas e organização da Igreja. O objetivo é que seja um rito que configure um modelo de Igreja para a Amazônia. O teólogo brasileiro insiste em que um rito não se cria, ele é elaborado a partir dos processos de inculturação do Evangelho e de encarnação da Igreja, fruto de um longo processo de comunidades insertas na realidade, algo que vem sendo feito desde a chegada dos primeiros missionários. Dada a grande extensão e diversidade da região, Brighenti questionava: “É possível um só rito para toda a Amazônia?”. Ele defende a necessidade de respeitar e potencializar a diversidade, que em uma Amazônia múltipla possa se encontrar um denominador comum, mas suficientemente aberto para que cada região possa encarnar seu específico nesse rito. Desde 2020 vem se dando passos com aportes de diversos especialistas e comissões de trabalho, que deu passo ao Marco Geral do Rito Amazônico e a recolhida de registros de experiências de inculturação, buscando criar os componentes do Rito Amazônico que leva a elaborar os Rituais do Rito Amazônico. Um processo que irá até março de 2025, com três anos ad experimentum para avaliar e ajustar o Rito Amazônico. A prática da Ministerialidade é uma realidade presente na Igreja da Amazônia. “Não se pode pensar nos ministérios somente como mediação pastoral, são mais que isso”, segundo a Ir. Sônia Matos, que igualmente insiste em que “não pode pensar em ministérios por causa da falta de ministros ordenados, seria desviá-los de seu significado e fundamento”. A religiosa faz um chamado a partir do sacerdócio comum que deriva do batismo, que leve a entender os ministérios como trilhas para encarnar o Evangelho e a vivência da Igreja. “Para uma Igreja com rosto amazônico é necessário uma ministerialidade amazônida de fato, através de uma vivência eclesial que siga a capilaridade-sinodalidade dos rios”, destaca a superiora da Congregação das Irmãs Adoradoras do Sangue de Cristo. Na Amazônia, dada a história da região, não pode ser esquecido que “as mulheres são sujeitos nas paróquias e nas dioceses, com múltiplas formas de serviço pastoral e ricas experiências de ministerialidade”. Diante disso, aparece o desafio de ser um carisma reconhecido pelo Bispo diante da vocação para um serviço específico na Igreja, um reconhecimento que supera a discriminação de gênero. São ministérios a serviço da vida da comunidade, e nesse sentido, conferir o ministério diaconal às mulheres é reconhecer e legitimar a diaconia que elas “de fato” já exercem nas comunidades, nas coordenações, ministérios da Palavra e da Eucaristia, na animação litúrgica, no cuidado com os pobres. É por isso que “com o reconhecimento, de fato e de direito, as mulheres sairiam do papel de suplência pastoral e de exclusão nas instâncias de decisão, para assumir um ministério a partir de sua dignidade ministerial”, sublinhou a religiosa. Ela defende que a Igreja na Amazônia continua em busca de respostas criativas aos desafios de cada momento histórico, em vista do serviço da missão evangelizadora e da transformação social. Uma dinâmica que leva a refletir sobre o modelo de Igreja a levar adiante na Amazônia. Junto com os ministérios já existentes, aparece a possibilidade de novos ministérios: Ministério da Casa Comum e Ministério da assessoria, dentre outros. “A ministerialidade do povo de Deus na Amazônia reluz sua construção sinodal”, segundo a religiosa. Uma dinâmica sinodal que reconhece a riqueza de todas as lideranças na Igreja e promove a participação de todos. Isso leva a Ir. Sônia Matos a pedir que a Igreja da Amazônia se amazonice, “a través de uma ministerialidade autóctone, pluriforme, pluricultural, para encarnar o Evangelho”, para viver a catolicidade com o rosto e o jeito amazônico, deixando de lado a tentação da uniformidade e da auto referencialidade, para se tornar uma comunidade ministerial, como jeito de viver e testemunhar o Reino. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

V Encontro da Igreja na Amazônia: Ser um farol de esperança, justiça e amor em meio aos desafios

O Encontro de Santarém em 1972 foi um momento marcante na vida da Igreja brasileira. Em 2022, seguindo as inspirações e aplicações do Sínodo da Amazônia e o projeto de viver a sinodalidade nas terras e nas águas amazônicas, a Igreja da região quis impulsionar algumas linhas prioritárias. Tendo como ponto de partida as escutas às Igrejas locais e a conjuntura na Amazônia Local, o V Encontro da Igreja na Amazônia, que está acontecendo em Manaus de 19 a 22 de agosto de 2024, com mais de 80 participantes, foram trabalhadas as linhas prioritárias do Encontro de Santarém 2022: fortalecimento das Comunidades Eclesiais de Base, destacando a Ministerialidade e a participação das Mulheres; formação; defesa da Vida dos povos da Amazônia e o cuidado com a Casa Comum; evangelização das Juventudes. Somos chamados a perceber a necessidade do outro, segundo afirmou na celebração eucarística, o bispo auxiliar de Brasília e secretário geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Ricardo Hoepers, pois “quando o outro é invisível, quando o outro é utilizado simplesmente para meu próprio benefício, meus próprios interesses, então, de fato, nós deixamos de ser bons pastores”. Ele advertiu sobre a grande tentação do domínio sobre o outro, que identificou com o clericalismo, com a tentação de instrumentalizar o outro, do ódio, do desprezo, que vai criando uma mentalidade egoística. Igualmente advertiu que “não somos nós que devemos estar no foco, é o Reino de Deus”, convidando a “amar o lugar onde você está, colocar-se ao serviço, reconhecer que estar à disposição da Igreja é um ato de humildade da nossa parte”. Segundo dom Ricardo Hoepers, o tempo é de Deus e é Ele que vai fazer frutificar, o que demanda nos colocarmos ao serviço de seu plano, de sua missão. Igualmente falou sobre a enveja, que nos enfraquece, nos impede reconhecer o que o outro faz. Para isso pediu humildade e nos darmos as mãos para fortalecer em Deus, o seu plano, a sua missão e o seu Reino entre nós. O V Encontro da Igreja na Amazônia sente que o Espírito chama a Igreja da Amazônia a ser um farol de esperança, justiça e amor em meio aos desafios da atualidade, ser um instrumento de transformação e renovação promovendo a dignidade humana, a paz e a integridade da criação. Nessa perspectiva foram abordados seis eixos: formação, ministerialidade, participação das mulheres, casa comum, sustentabilidade, caridade e profecia. Refletindo sobre a formação dos seminaristas, é visto como um desafio o fato de acontecer longe da realidade das dioceses, vendo a necessidade de pensar numa formação mais próxima. Igualmente foi destacado a necessidade de investir na formação de formadores, de pensar em encontros de formadores da Amazônia e de projetos formativos encarnadas na realidade da Amazônia. Se considera importante que os seminaristas realizem atividades missionárias. A ministerialidade tem como base a comunidade eclesial, que indica os ministérios que necessita. Uma ministerialidade que vai além da estrutura eclesial, atingindo o campo da política, cultural, cuidado da casa comum. Falando sobre as mulheres, se reconhece que sua presença nas comunidades como fundamental, considerando fundamental quem é que decide. Daí a necessidade de mudar o Direito Canônico para que os conselhos não sejam só consultivos, promovendo a tomada de decisões de forma mais sinodal e menos clerical, favorecer e estimular a participação das mulheres em todas as instâncias de decisão e em todos os ministérios. Aparece como proposta envolver as mulheres na formação dos maridos que querem ser diáconos permanentes, que as mulheres e as famílias assumam o trabalho diaconal. Igualmente a participação ativa das mulheres na formação dos seminaristas. Do mesmo modo que o diaconato surgiu por uma necessidade da Igreja, atender as viúvas, foi colocado a necessidade de prestar mais atenção às necessidades da Igreja hoje. O cuidado casa comum demanda criar o ministério de cuidado da casa comum, fomentar a sensibilidade espiritual da ecologia, promover a consciência de que os beneficiários de cuidado são as pessoas, fomentar a ação profética, fazer um chamado à responsabilidade das empresas, animar a dimensão ecológica de todas as pastorais, o cuidado e aproveitamento da agua, o uso de energias renováveis, estimular a justiça ambiental com multas ambientais, fomentar o plantio de árvores, participar das datas de cuidado ecológico, A sustentabilidade da Igreja na Amazônia constitui um dos grandes desafios. Daí a proposta de criar um escritório central de captação de recursos, de impulsionar a economia solidária, cuidar bem da Pastoral do Dízimo e promover a solidariedade entre as igrejas locais. Diante da falta boa gestão e transparência se propõe formação em gestão eclesial. Finalmente, na caridade e profecia surgiram propostas de criar a comissão dos Direitos Humanos, de Justiça e Paz, e de impulsionar a participação da Igreja nos conselhos em todos os níveis. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1