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Dia: 25 de agosto de 2024

Dom Leonardo: “Deus Humanado, era demais para aqueles homens e aquelas mulheres, e abandonam o caminho”

No 21º Domingo do Tempo Comum, o cardeal Leonardo Steiner iniciou sua homilia dizendo que “depois de proclamar que Ele era o verdadeiro alimento, o pão descido do céu, Jesus oferece aos discípulos a oportunidade de segui-lo na liberdade e na liberalidade. Depois de não atinarem para a presença do Filho de Deus no Filho de José, de terem pensado que era demais aceitar o filho do carpinteiro, o filho de Maria, Jesus provoca os discípulos a uma decisão que possa despertar para a graça de seguimento.” Lembrando o texto evangélico: “a partir daquele momento, muitos discípulos voltaram atrás e não andavam mais com ele”, o arcebispo de Manaus disse que “ao se apresentar como Pão do céu, como alimento de eternidade, vários discípulos voltam atras. Diante do anúncio inesperado de Jesus, o Evangelho mostra a murmuração ‘de muitos discípulos’. Diziam: ‘Essa palavra é dura demais!’ Que o filho de Maria e José pudesse ser alimento de eternidade era incompreensível. Deus tornara-se próximo demais, Deus era palpável de mais, Deus era visível demais, Deus em nossa humanidade e fragilidade a dizer que Ele poderia conduzir para a vida eterna. Deus Humanado, era demais para aqueles homens e aquelas mulheres, e abandonam o caminho. Jesus deixou de ser o caminho, a verdade e a vida para aquelas mulheres e aqueles homens. Preferiam continuar errantes, desenraizados, sem fonte, sem água, sem comida que alimentasse as aflições, os assaltados, as desilusões.” “Jesus busca amasiar o coração endurecido, não os ofende, não agride, apenas mostra que para além da oferta do alimento verdadeiro, a vida do Reino, é ‘o Espírito é que dá vida, a carne não adianta nada’. Deseja indicar o caminho de nova vida, um novo Espírito, capaz de transformar a vida na carne, a finitude humana, a deshumanidade. O que impede os discípulos de ver Jesus Cristo como o Filho de Deus, o verdadeiro redentor, salvador, é o fechamento, estarem presos às próprias categorias, ao modo de pensar, interesseiro, fechado, mundano”, disse o cardeal.   “É isso que os leva à murmuração e os impede à adesão. O esforço de abrir a mente dos discípulos para perceberem na humanidade, no despojamento, que em Jesus havia uma proximidade, uma presença de Deus inusitada, admirável, sublime, encantadora: Deus comida e bebida. A nossa fome, a nossa sede pode ser saciada. É, sim palavra dura para os duros de corações. E abandonam o caminho. Não conseguem permanecem e caminhar com Jesus. Jesus não se tornou o caminho, a verdade e a vida para aquelas mulheres e aqueles homens. Preferiam continuar errantes, desenraizados, em fonte, sem água, sem comida que alimentasse as aflições, os assaltados, as desilusões”, destacou.   “E diante da dispersão, Jesus a questionar os doze: Também vós quereis ir embora? Simão Pedro respondeu: A quem iremos senhor? Não diz ‘para onde iremos?’, mas ‘para quem iremos?’. O ensinamento colocado pelo Evangelho na boca de Pedro não é ir e abandonar uma obra começada, seguir uma ideia, mas é ‘para quem ir’. A quem seguir, em quem crer?”, analisou o arcebispo de Manaus.    Segundo o presidente do Regional Norte1 da CNBB, “para Pedro e os que permaneceram são palavras que despertam, conduzem à vida verdadeira, à plena vida, à vida sem confim. São ‘palavras de vida eterna’. Seguir a Jesus, ser seu discípulo, ser sua discípula, permanecer na sua cercania, justamente quando não se percebe a clareza, não se tem a iluminação a respeito dos aconteceres. Pedro na sua pergunta-confissão a demonstrar estima, afeição, bem-querer, confiança. É que no amor, mais que conhecer, importa amar! No amar que se vem ao conhecimento, ao co-nascimento. No amar abrem-se dimensões e perspectivas que não conseguimos a partir de nós mesmos, mas somente a partir do Amor que é o amor.” “A partir desta interrogação de Pedro, compreendemos que a fidelidade a Deus é questão de fidelidade a uma pessoa, com o qual nos unimos para caminhar juntos pela mesma estrada. E esta pessoa é Jesus. Tudo o que temos no mundo não sacia a nossa fome de infinito. Precisamos de Jesus, de estar com Ele, de alimentarmo-nos à sua mesa, com as suas palavras de vida eterna! Acreditar em Jesus significa torná-lo centro, o sentido da nossa vida. Ele é o ‘pão vivo’, o alimento indispensável. Unir-se a Ele, numa verdadeira relação de fé e de amor, significa estar profundamente livre, sempre a caminho. Cada um de nós pode questionar-se: quem é Jesus para mim?”, disse, citando Papa Francisco.   “Jesus confronta a vida verdadeira, com a vida de vaivém; da vida do alimento que perece com a vida alimentada que conduz à eternidade; da vida que cuida de si com a vida que sai ao encontro dos outros; da vida que é vivida a partir de si com a vida que parte de Deus e nele encontra segurança, refúgio e liberdade”, sublinhou o cardeal Steiner.   Ele disse, seguindo as palavras de Fernandes e Fassini, que “o Evangelho a nos ensinar o encontro que a fé possibilita, ou o encontro que possibilita a fé, e que desperta para uma afeição e benquerença própria. Na pergunta-confissão de Pedro entrevemos o caminho da fé, do amor: primeiro vem a graça do encontro ou o encontro da graça, o nascer do encontro, que desperta a alma, o espírito do bem-querer único e insubstituível. Nessa relação nova e única tem início o seguimento. A partir da fé, abre-se uma fenda que leva à compreensão. A declaração de amor de Pedro: ‘Nos cremos firmemente e reconhecemos que tu és o Santo de Deus’, é uma nova visão, uma nova relação. ‘A fé traz consigo seu próprio saber. É um saber feito de experiência, de uma evidência que nasce e cresce do próprio encontro e da afeição que é graça desse mesmo encontro. Nessa fé e nesse saber, na mente de Pedro, dos Doze e de todos os que acolhem Jesus no Espírito, brilha esta evidência e alegria: ‘Tu és o Santo de Deus!’ Isso é: tu és a…
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Agenor Brighenti: “Este Sínodo não quer ser um evento isolado”, porque “a sinodalidade é constitutiva da Igreja”

A Assembleia da Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA), que acontece em Manaus de 23 a 26 de agosto de 2024, abordou o atual processo sinodal e a contribuição da CEAMA e da REPAM para a Segunda Sessão da Assembleia Sinodal. Um processo que, de acordo com Agenor Brighenti, é um momento especial na Igreja, já que “por iniciativa do Papa Francisco, estamos fazendo a transição do Sínodo dos Bispos para uma Igreja sinodal”. A sinodalidade é um estado permanente de ser Em sua opinião, “este Sínodo não quer ser um fato isolado”, pois “a sinodalidade é constitutiva da Igreja, é um estado permanente de ser de toda a Igreja”, buscando “implementar uma Igreja de comunhão e participação para a missão, na corresponsabilidade de todos os batizados”. Para o teólogo brasileiro, o objetivo é resgatar um princípio que imperou na Igreja no primeiro milênio: “o que diz respeito a todos deve ser discernido e decidido por todos”. Brighenti fala de fatos paradigmáticos, como a Constituição Apostólica Episcopalis Communio, que afirma que o Sínodo dos Bispos precisa ser “um canal mais voltado para a evangelização do mundo de hoje do que para a autopreservação da Igreja”, o que exige escutar o povo de Deus. Em segundo lugar, o Sínodo para a Amazônia, com seu amplo processo de escuta, a participação de não-bispos, inclusive mulheres, e um Documento Final oficial. Junto com isso, a Primeira Assembleia Eclesial, com um processo de participação de baixo para cima, começando pelas Igrejas locais, com os bispos como membros da Assembleia e não como um corpo sobreposto a ela. O atual Sínodo iniciou o processo de baixo para cima, depois em assembleias continentais, a Assembleia Sinodal e o retorno às igrejas locais. Tudo como parte do processo, com todos os membros tendo o direito de votar, inclusive as mulheres. Ele também destacou como eventos providenciais a Conferência de Aparecida, que retomou o Vaticano II, e a eleição do Papa Francisco, que relançou o Vaticano II e, na Evangelium Gaudium, universalizou Aparecida, promovendo uma Igreja sinodal. Antes disso, como fatos geradores, o Vaticano II, que supera uma Igreja de cristandade, e a Conferência de Medellín, que promove uma nova evangelização, tendo nas comunidades eclesiais de base “a célula inicial da estruturação eclesial”, uma Igreja pobre e para os pobres. Jesus não veio para uma visita rápida Birgit Weiler, abordou a questão dos lugares no Instrumentum Laboris do Sínodo, valorizando sua relação com a cultura e os contextos, o que nos leva a falar de encarnação, seguindo as ações de Jesus, que se tornou um de nós. “Jesus não veio para uma visita rápida, Ele entrou em um contexto e de lá anunciou o Reino de Deus”, afirmou. Segundo a religiosa, a sinodalidade requer experiências, mostrando que dar importância ao lugar não significa ceder ao particularismo ou ao relativismo, destacando a pluralidade das manifestações de Deus e uma unidade que não é uniformidade, pois o catolicismo é unidade na diversidade. Na mesma linha, ele enfatizou que a diversidade não é uma ameaça ao catolicismo, mas um enriquecimento. Isso porque, segundo Querida Amazonia, não existe um modelo cultural único para o cristianismo. Uma das consequências da globalização é a grande mobilidade humana, algo presente na Amazônia, o que nos leva a dizer que o lugar não pode mais ser entendido em termos puramente geográficos e espaciais; é uma rede de relações. Da mesma forma, a importância do mundo virtual, algo muito presente no mundo urbano. Weiler refletiu sobre o lugar da Igreja local como espaço de articulação e a necessidade de identificar caminhos e dar respostas nas Igrejas locais e em sua relação com o Bispo de Roma, apresentando a CEAMA como “uma escola de sinodalidade”. Chamado para a renovação do Povo de Deus As implicações do Sínodo sobre a Sinodalidade para a Amazônia a partir do Instrumentum laboris, segundo a presidente da Confederação dos Religiosos da América Latina e do Caribe, Liliana Franco, são descobrir o chamado à alegria e à renovação do Povo de Deus, aprender da realidade relida a partir da Palavra, da Tradição, dos testemunhos e dos erros. Os fundamentos seriam a Igreja Povo de Deus como sacramento da Unidade, o significado compartilhado da sinodalidade, a unidade como harmonia nas diferenças, ser irmãs e irmãos em Cristo em uma reciprocidade renovada, e o chamado à conversão e à reforma. Junto com isso, Liliana Franco enfatiza a existência de relações de solidariedade, baseadas na conversão relacional, e de itinerários, na formação, no discernimento, na tomada de decisões e na transparência. Daí nasce uma formação integral e compartilhada, com testemunhas, homens e mulheres, capazes de assumir a missão da Igreja em corresponsabilidade e em cooperação com a força do Espírito, em uma contínua conversão de atitudes, relações, mentalidades e estruturas, o que leva a ver a Eucaristia como lugar fundamental de formação à sinodalidade, a família como lugar de educação na fé e na prática cristã e a necessidade do diálogo intergeracional. Discernimento a partir da escuta e da Palavra de Deus A presidenta da CLAR, sobre as características da formação, disse que ela não deve ser puramente teórica, e sim com experiências vitais, integrais, acompanhadas, encarnadas nas culturas e que deve incorporar a cultura digital, para o que apresentou uma série de propostas. É uma questão de buscar novos caminhos, de saber que o discernimento implica compartilhar a perspectiva da missão comum, e é por isso que o discernimento se articula com a comunhão, a participação e a missão. O ponto de referência para todo discernimento é a escuta da Palavra de Deus, sabendo que o discernimento não é uma técnica, mas uma prática que qualifica a vida e a missão da Igreja. A partir daí, destaca que Deus fala de muitas maneiras e há diferentes níveis de discernimento, sabendo que é algo que requer disposições, formação, critérios teológicos e metodologias sinodais, ampliando os cenários de participação. As decisões devem estar de acordo com a vontade de Deus, respeitando e valorizando cada membro, em vista de…
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