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Dia: 27 de agosto de 2024

Programa Universitário Amazônico (PUAM): valorizar e fortalecer o conhecimento local como um caminho para minimizar a lacuna educacional

Nos últimos dias, Manaus tem sido o epicentro dos caminhos de futuro da Igreja na Amazônia. Foi realizado o V Encontro da Igreja na Amazônia Brasileira, que reúne 58 igrejas locais, a II Assembleia da Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA) e, nos dias 27 e 28 de agosto, acontece a reunião do Conselho do Programa Universidade da Amazônia (PUAM). A importância de uma visão panorâmica Mais de 20 representantes de diversas universidades, organizações e instituições, vindos de vários países, buscando avançar em um caminho que começou em 2022. O cardeal Pedro Barreto, arcebispo emérito de Huancayo (Peru) e presidente da CEAMA, disse a eles que é muito importante ter “uma visão panorâmica de todo o processo que estamos construindo, algo sem precedentes e que nasce como um mandato de Deus”. O cardeal destacou o passo iniciado há 10 anos, que significou uma mudança do anúncio do Evangelho “em ilhas” para a canalização de diversas experiências e a criação de um canal de comunhão na diversidade. O cardeal Barreto insistiu que não devemos ter medo de ser diferentes, o importante é estarmos identificados com a Amazônia. Para isso, defendeu a consciência de trabalhar juntos, articulados, unidos em algo que é um dos sonhos de Deus, como expressou o Papa Francisco em Querida Amazônia. O cardeal peruano lembrou que o PUAM surgiu de uma proposta do Sínodo para a Amazônia, em conjunto com a CEAMA, ressaltando que é um mandato do Magistério pontifício e como Magistério indica uma linha para toda a Igreja. A partir daí, definiu o PUAM como a expressão do caminho concreto da Igreja na Amazônia para a educação de todos os que vivem na Amazônia, com especial atenção aos povos indígenas, que são os mais atingidos. Uma educação no território amazônico com a qual a Igreja está comprometida, enfatizou o presidente da CEAMA. Projeto educacional da PUAM Os membros do conselho foram informados sobre os passos dados no projeto educativo do PUAM, sua estrutura, dividido em três capítulos, partindo do contexto, passando por um projeto educativo na Pan-Amazônia, até chegar às diretrizes pedagógicas. Para concluir, enfatiza-se a necessidade de compreender a missão do PUAM na construção de um futuro sustentável, os desafios e as perspectivas para o futuro e as referências. Para avançar, responderam a uma pergunta: “A partir do caminho coletivo, quais são as percepções do Conselho sobre a estrutura e/ou o conteúdo do Projeto Educativo do PUAM?” Análise da realidade educacional O estudo de viabilidade territorial, educacional e financeira do Programa Educativo do PUAM “Gestão Integrada do Território Amazônico” destaca o trabalho realizado no território, buscando recuperar as vozes do território. A análise da realidade educacional de cada país onde a PUAM está presente mostra que, no Brasil, por exemplo, houve a diminuição do analfabetismo e a necessidade de acesso ao ensino superior, a necessidade de abordar a inclusão e a diversidade sociocultural, a falta de programas de desenvolvimento sustentável e conservação ambiental e de formação profissional e tecnológica adaptada à região amazônica, bem como a promoção da igualdade de gênero na educação. A realidade colombiana mostra a baixa taxa de cobertura no ensino superior, os desafios decorrentes das condições geográficas e socioculturais, a falta de programas educativos adaptados e as desigualdades econômicas e de recursos. Essas situações se repetem no Equador, onde a taxa de evasão é alta e há desigualdade na distribuição da oferta educativa e dificuldade de adaptação às necessidades regionais, o que exige o fortalecimento da identidade cultural e da autonomia. Também no Peru, onde há falta de recursos e de ofertas educacionais, principalmente contextualizadas. Uma desigualdade mais evidente na Venezuela, consequência da crise econômica e social, agravada por estratégias educacionais incompletas e politizadas. Elementos comuns nas comunidades amazônicas Uma realidade que é decisivamente influenciada pelos problemas sociais da região amazônica, que se referem à educação, à saúde, ao transporte, à invasão de territórios, à falta de liderança, à migração, à falta de segurança, ao meio ambiente e à perda da cultura, entre outros. Daí surge a demanda por capacitação técnica e tecnológica e algumas propostas são feitas com o objetivo de promover a liderança local, a capacitação para o bem comum, contextualizada e intercultural, programas educacionais abrangentes, empoderamento do território, ofertas de emprego local, programas sociais com a participação e o protagonismo da comunidade, gestão de cultivos para as gerações mais jovens. Isso gera sonhos e aspirações de capacitação, em busca de condições de vida dignas para os jovens, capacitação tecnológica, fortalecimento das identidades, não perder o que é indígena, buscar o bem comum e a combinação da Igreja com o que é indígena. Da mesma forma, surgem necessidades de capacitação que têm como pontos fundamentais a liderança, o fortalecimento da cultura, a educação intercultural, a gestão de conflitos, a comunicação e as ferramentas de acompanhamento. 50 anos de ensino superior da Igreja em Manaus Na reunião se fez presente o arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Steiner, que lembrou a história da arquidiocese no campo da educação por mais de 50 anos, não só do clero, mas também do laicato, um fruto do Encontro de Santarém 1972. Foi naquele tempo que surgiu o Centro de Estudos de Comportamento Humano (Cenesc), que junto com a Universidade Federal do Amazonas foram naquele momento os únicos centros universitários em Manaus. O cardeal disse que infelizmente não se deu os passos para que isso se transformasse numa grande universidade católica. Ele insistiu na necessidade de buscar modos de sermos presença no mundo da formação e da reflexão, um pedido que apareceu no Sínodo para a Amazônia, em vista de formar pessoas que estejam na liderança diante da diversidade de realidades na Amazônia brasileira. Igualmente, o cardeal Steiner falou sobre a importância da presença da Igreja católica no debate económico e social. Finalmente, o arcebispo de Manaus lembrou que a Igreja sempre se destacou no campo da educação, também no âmbito universitário, enfatizando a necessidade de ser presença evangelizadora no campo da educação. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Encerrada a Assembleia da CEAMA, desafiada a assumir compromissos para poder continuar sua missão com coragem

A Assembleia da Conferência Eclesial da Amazônia, que reuniu cerca de 70 pessoas em Manaus, de 23 a 26 de agosto, foi encerrada com compromissos que permitam caminhar juntos na presença de Deus. Em uma Igreja amazônica unida a Deus, como destacou o presidente da CEAMA, Cardeal Pedro Barreto, na Eucaristia de encerramento, ele ressaltou que a paz e a esperança devem marcar a vida e a missão, a partir dos compromissos assumidos diante de Deus. Fortalecendo a caminhada Diante dos muitos problemas, sofrimentos e preocupações, o Cardeal Barreto ressaltou que “a graça e a paz de Deus nos fortalecem em nossa caminhada”, e conclamou, como expressão do Reino de Deus, a “caminharmos juntos em sua presença, tendo em mente os irmãos e irmãs que vivem na Amazônia”. Seguindo o exemplo dos rios da Amazônia, ele convidou a buscar canais de comunhão, de participação de todos para anunciar a missão de Jesus na Igreja. Para isso, pediu a ajuda de Maria para caminharmos juntos e atitudes de coragem, coerência, compromisso como expressão de parresia nesse Kairos. Em vista dos compromissos que serão assumidos, a CEAMA foi chamada a ser um sinal de esperança, a partir da escuta e do serviço, para ter confiança em Deus, presente e atuante na Amazônia. Em uma atitude de escuta, de ser uma Igreja que cuida, acompanha e inclui, que discerne e oferece uma espiritualidade que ajuda a viver em sinodalidade, que reconhece a presença das mulheres e medeia a Revelação do rosto de Jesus. Uma Igreja que, a partir da Amazônia, quer ser uma inspiração para outras igrejas. Daí a necessidade de fortalecer a organização e a estrutura interna da CEAMA e sua comunicação e comunhão com a REPAM, promovendo processos, com um compromisso pessoal e comunitário de conversão, a partir de uma espiritualidade e vocação amazônica, em diálogo com as Conferências Episcopais, as igrejas locais e outras organizações, levando em conta a caminhada da Igreja em cada país, a partir da leitura da realidade, que leva a aprofundar o método da encarnação a partir da vida existente na Amazônia, assumindo o Observatório sócio pastoral, apostando na ecologia integral a partir do conhecimento dos povos amazônicos. Assumindo a matemática evangélica Partindo da parábola dos pães e dos peixes, o prefeito do Dicastério para o Desenvolvimento Integral, Cardeal Michael Czerny, analisando a matemática e a gramática, afirmou que “os discípulos pensavam que, para alimentar as pessoas, tinham que dividir cinco pães e peixes, e isso lhes parecia absurdo. Já a matemática para Jesus era o oposto: eles não dividiam, mas multiplicavam”. Trazendo isso para a vida da CEAMA, ele disse que achava que “há uma tentação constante de usar a matemática humana da divisão, pensando que há apenas um bolo”, porque “a matemática humana divide”, insistindo que “essa matemática fechada, precisa, científica, não funciona bem em nosso organismo eclesial. Temos que ter a matemática evangélica em nossa cabeça para reconhecer no outro aquilo que se multiplica”, assinalou, “que não me tira nada”. Na matemática evangélica “há outra lógica”, onde 100 mais 100 não são 200, mas 250 ou 300, porque “muitas vezes na Igreja caímos na tentação de planejar à luz da ciência humana e não da graça de Deus”. A graça da matemática evangélica foi descoberta pelo cardeal “na lógica do caminho sinodal”, onde “cada vocação se soma e precisa das outras vocações”. A missão não é um bolo a ser dividido e distribuído entre as várias vocações; pelo contrário, é quando cada vocação é realizada ao máximo que a missão prospera. A importância da gramática Falando de gramática, ele destacou que, durante a assembleia, “as palavras mais importantes são os verbos. Eles indicam o que está sendo feito e o que precisa ser feito”, enfatizando que “temos que prestar atenção aos verbos”. Esses verbos usados pela CEAMA “têm dois sujeitos, dois nominativos, o que é um pouco perigoso. Há o risco de usá-los em demasia”. Um deles, que é usado com muita frequência, é o sujeito “Ceama”. Uma conferência, seja eclesial ou episcopal, não deve ser o sujeito de tantos verbos, ou seja, não deve cair no que chamamos de autorreferencialidade. Refletiu também sobre o “nós”, referindo-se aos participantes da Assembleia, dizendo que “os sujeitos dos verbos deveriam ser as Igrejas locais, os povos, a Amazônia, à frente das frases”. Isso por uma razão eclesiológica e comunicativa, porque “eclesiologicamente, suponho que vocês reconheçam que o ‘nós’ não é, que a Ceama não é o nominativo, mas as pessoas, as instituições, os processos, o que precisa ser feito” para novos caminhos de evangelização e ecologia integral na Amazônia. Em termos de comunicação, “as pessoas querem ouvir que ‘elas’ são os sujeitos, o nominativo, os atores, os protagonistas”. Daí o apelo que ele fez para reduzir a palavra CEAMA, ou nós, para deixar mais espaço para a palavra você. Comunicação para unir o que está dividido Da comunicação vaticana, o prefeito do Dicastério para a Comunicação, Paolo Ruffini, em mensagem enviada à assembleia, disse que recordava o Sínodo para a Amazônia com emoção e gratidão, afirmando que “esta Assembleia da CEAMA nos diz que o caminho continua em frente, é importante estar juntos, caminhar juntos, traçar juntos o caminho de comunhão que nos une”. Em suas palavras, seguindo o pensamento do Papa Francisco, ele refletiu sobre a importância da comunicação que vem de um coração não endurecido, e sobre a necessidade de que a comunicação sirva para unir o que está dividido, porque a comunhão é um dom recíproco, que entrelaça nossas diferenças, que nos permite reconhecer e apreciar o outro. Daí a importância de encontros como essa assembleia “para a construção de um mundo melhor e de uma comunicação alternativa, um trabalho que estamos fazendo juntos”, ressaltou Ruffini, que pediu para “tecer uma narrativa diferente”, para realizar “um sistema de comunicação baseado na humanidade, e não na tecnologia das máquinas ou no cálculo de algoritmos”. Para isso, insistiu na urgência de recuperar bem viver dos povos amazônicos, “de uma visão pura capaz de…
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