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Dia: 3 de outubro de 2024

Sinodalidade é compartilhar a água com todos, puxá-la ao seu moinho nos empobrece

Em poucas horas, a Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre Sinodalidade nos deixou algumas reflexões, que devem nos levar a nos perguntar sobre algumas atitudes que devemos deixar para trás se quisermos ser uma Igreja sinodal, se quisermos viver a sinodalidade na prática. Diálogos entre surdos Fiquei impressionado com as palavras do Papa Francisco em sua homilia na missa de abertura, na qual ele advertiu sobre o perigo de “nos fechar num diálogo de surdos, onde cada um tenta ‘puxar água ao seu moinho’ sem ouvir os outros e, sobretudo, sem ouvir a voz do Senhor”. Mais uma vez, ele nos adverte sobre uma atitude que está presente em muitas pessoas, até mesmo em muitos de nós, até mesmo em mim e em você, mesmo que não sejamos capazes de reconhecê-la. A tentativa de “levar água para o seu próprio moinho” é um sinal de que não sabemos quem é Deus, fonte de água em abundância para todos, que move a vida de todos, a água move a roda do moinho, também daqueles em quem não somos capazes de descobrir a vida que nasce deles, pois não nos esqueçamos de que Deus deposita essa vida em cada uma das criaturas. Quando escutamos os outros e escutamos a voz do Senhor, somos enriquecidos, ainda mais quando essa escuta nasce da diversidade. Mesmo que tenhamos medo de quem é diferente, de quem pensa diferente, isso também acontece na Igreja. A diversidade é uma fonte de conhecimento, é algo que enriquece nossa vida, porque encontramos pessoas, realidades, maneiras de viver a fé que, por serem desconhecidas, nos permitem aumentar nosso conhecimento. Apontar trajetórias de crescimento Francisco é alguém com uma grande capacidade de nos questionar, de nos colocar diante de nós mesmos e diante de Deus, uma atitude necessária para podermos crescer pessoalmente e como comunidade, para podermos caminhar juntos, para podermos tornar realidade uma Igreja sinodal. Daí a importância do tempo de retiro antes da Assembleia Sinodal, da necessidade de viver o Sínodo em um clima de oração para escutar a voz do Espírito, que pode ajudar os membros da Assembleia Sinodal a indicar “possíveis caminhos de crescimento pelos quais convidar as Igrejas a caminhar”, como disse o Cardeal Hollerich, relator geral do Sínodo, na primeira congregação geral, realizada na tarde de 2 de outubro. Não queiramos monopolizar Deus, não pensemos que somos os únicos que o conhecem, não nos sintamos donos de Deus. Estejamos convencidos de que caminhar juntos nos enriquece, que compartilhar a água que vem de Deus não só enriquece os outros, mas também a nós mesmos. Vamos disfrutar do caminhar juntos, vamos sentir a alegria de viver nossa fé em comunhão com a humanidade e com todas as criaturas. É hora de assumir que a sinodalidade é compartilhar a água com todos, que puxá-la ao seu moinho só nos empobrece. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Dolores Palencia: “Nós, mulheres, também temos que aprender a nos libertar de um estilo de clericalismo que vivemos”.

Um dos elementos presentes no processo sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade é o lugar das mulheres na Igreja e sua participação nos processos de tomada de decisões, uma reflexão confiada a um dos dez grupos de trabalho criados pelo Papa Francisco em fevereiro de 2024, que continuará seu trabalho após o encerramento da Segunda Sessão da Assembleia Sinodal. O caminho está sendo percorrido Estão sendo dados passos nessa direção, como Maria Dolores Palencia apontou na primeira coletiva de imprensa da Segunda Sessão da Assembleia Sinodal. No seu caso, sua nomeação como Presidente Delegada da Assembleia Sinodal, junto com Momoko Nishimura do Japão, cargo que compartilha com outros sete homens, foi uma das surpresas da Primeira Sessão da Assembleia Sinodal. O que se experimenta na Assembleia Sinodal e na vida cotidiana da Igreja nas dioceses, paróquias, comunidades e outras esferas eclesiais, leva a religiosa mexicana a dizer que “a experiência deste ano, entre uma sessão e outra, nos mostrou como uma experiência de aprendizagem, que um caminho está sendo feito, e que esse caminho está dando frutos”. Maria Dolores Palencia enfatizou que “depende muito dos contextos e das culturas, dos continentes”. Abertura de novas experiências e propostas A Delegada Presidente da Assembleia Sinodal faz eco ao que está sendo vivido no México, mas também na América Latina e no Caribe, algo que ela foi descobrindo nos diversos encontros para os quais, junto com os outros membros do Sínodo da região América-Caribe, foi convidada ao longo do processo sinodal, momentos em que compartilharam e dialogaram”. Nessa perspectiva, ela destaca que “está sendo trilhado um caminho em que o papel das mulheres, seus dons e suas contribuições em uma Igreja sinodal estão sendo cada vez mais reconhecidos”. Ela também destacou que “estamos reconhecendo a possibilidade de abrir novas experiências e propostas para descobrir ainda mais esse papel, para podermos nos aprofundar”. Falando sobre o trabalho nos círculos menores, as mesas redondas nas quais a Assembleia Sinodal é organizada, ela contou o que ouviu na mesa da qual estava participando, onde foi dito que “há lugares onde os conselhos pastorais são cem por cento femininos, o padre e todos os membros do conselho pastoral são mulheres”. Levando em conta os contextos “Depende dos contextos, mas isso está sendo feito pouco a pouco”, disse. Nesse sentido, ela enfatizou que é um aprendizado, mesmo em alguns lugares, para mulheres leigas e consagradas, “porque também temos que aprender a nos libertar de um estilo de clericalismo que experimentamos, também de nossa parte”. Por isso, a religiosa mexicana, acostumada a viver nas periferias, atualmente vivendo em um refúgio para migrantes no México, não hesita em dizer que “passos estão sendo dados, temos que dar passos ainda mais amplos, mais rápidos, mais intensos”, mas ao mesmo tempo ressalta que “temos que levar em conta os contextos, respeitar as culturas, dialogar com essas culturas e ouvir as próprias mulheres, nesses lugares e nessas culturas, mas há de fato um caminho a seguir”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

O Sínodo “não pode ser um espaço para negociar mudanças estruturais”

No dia em que a Sala Stampa da Santa Sé retornou ao seu local habitual, depois de um longo período de reformas, foi realizada a primeira coletiva de imprensa da Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, que acontece em Roma de 2 a 27 de outubro, com 365 membros. Além de Paolo Ruffini, prefeito do dicastério para a comunicação, e Cristiane Murray, vice-diretora da Sala Stampa, participaram da coletiva Giacomo Costa, secretário especial da Assembleia Sinodal, Ricardo Battochio, presidente da Associação Teológica Italiana, Maria Dolores Palencia, uma das presidentes delegadas da assembleia, e o bispo Daniel Ernesto Flores, de Brownsville (EUA). Importância da espiritualidade e da oração Na Assembleia Sinodal, “a espiritualidade e a oração ocupam um lugar muito importante”, segundo Ruffini, assim como a situação mundial, marcada pela guerra, algo presente na intervenção do Cardeal Grech em sua intervenção na primeira congregação e que levou a assembleia a rezar pela paz. Ele também se referiu aos dez grupos de trabalho criados pelo Papa, cujo trabalho está entrelaçado com o da Assembleia Sinodal. Na quinta-feira de manhã, começaram os trabalhos sobre os fundamentos do Instrumentum laboris. Chamados a dar um passo adiante Uma segunda sessão na qual “somos chamados a dar um passo adiante”, enfatizou Giacomo Costa, que insistiu que “não é uma repetição, nem uma continuação cronológica do que foi vivido no ano passado”, destacando o que foi aprendido ao longo do caminho. Ele também destacou as palavras do Papa de que “não é uma assembleia parlamentar, mas um lugar de escuta e comunhão”, algo que deve ser compreendido cada vez mais. Da mesma forma, lembrou que o Sínodo “não pode ser um lugar para negociar mudanças estruturais, mas um lugar para escolher a vida com vistas à conversão e ao perdão”, algo que a vigília penitencial ajudou a alcançar. No primeiro dia, foi mostrado o trabalho realizado, com uma apresentação do Cardeal Grech que ajudou a entender a necessidade de que os dez grupos de reflexão sejam oficinas da vida sinodal, nas quais se possa continuar aprendendo, convidando todos a apoiar esses grupos, aos quais todos podem enviar contribuições até julho de 2025, que serão compiladas e enviadas aos grupos pela Secretaria do Sínodo, sendo assim uma forma de trabalhar juntos como Igreja de uma maneira diferente, algo em que o Papa tem insistido desde o início, tudo no caminho para que a Igreja continue a proclamar o Evangelho, a escutar e a ser um sinal de esperança em um mundo dividido e fragmentado. No trabalho dos grupos, a novidade é a reflexão baseada no Instrumentum laboris, de modo que os melhores elementos possam emergir, em busca dos temas a serem votados pela Assembleia, e assim se tornar uma Igreja sinodal misericordiosa, na qual o Papa Francisco insiste, como Giacomo Costa destacou. Uma Igreja sinodal misericordiosa A celebração penitencial criou a atmosfera da Assembleia, afirmou Battochio, gerando uma consciência do que significa ser Igreja, consciente do pecado individual e do pecado de toda a Igreja, um pecado que é uma ferida nos relacionamentos e que leva a pensar na necessidade de misericórdia, porque o amor de Deus não se cansa e torna possível viver novos relacionamentos, em uma Igreja sinodal misericordiosa, que é assim porque é alcançada pela misericórdia de Deus. Ele também destacou o importante trabalho dos teólogos e sua ajuda na reflexão e elaboração do Instrumentum laboris, que agora facilita a compreensão teológica das contribuições individuais e dos círculos menores. Um caminho feito pouco a pouco Como uma das presidentes delegadas, Maria Dolores Palencia enfatizou a importância de os presidentes delegados terem se reunido dias antes do início da Segunda Sessão, juntamente com os facilitadores, “podendo expressar dúvidas e pequenos medos, e criar a comunidade de amizade e fraternidade, poder começar a assembleia com muita coragem e muita liberdade, sentindo que estamos fazendo esse caminho pouco a pouco, juntos, juntos”, enfatizando que não há um Documento Final pronto, mas um documento para trabalhar, aprofundar, discernir, avançar nele, levando em conta a realidade do nosso mundo, que está se tornando cada vez mais extrema. Um mundo que “é olhado com o amor de Deus, com o amor do Pai e com o nosso próprio amor”, afirmou a religiosa. Ela insistiu que “a partir desse olhar amoroso e misericordioso, devemos colocar o melhor de nós mesmos para fazer um caminho de reflexão e aprofundamento, para que possamos encontrar orientações, caminhos, formas de avançar em direção a uma experiência concreta desse modo de ser Igreja, que é a sinodalidade para a missão”. Maria Dolores Palencia insistiu que “o foco é a missão, o objetivo é a missão”, afirmando que estar na Assembleia é um presente recebido para um serviço de Igreja ao mundo. A perspectiva não é inimiga da verdade O bispo estadunidense enfatizou o fato de nos reunirmos novamente e, assim, relembrarmos as experiências do último ano, destacando o crescimento que ocorreu. O bispo Flores destacou a importância do silêncio no retiro, como um momento do qual surge a palavra, algo importante em uma Segunda Sessão que será um momento para aprofundar o silêncio como parte fundamental de tudo o que tem um estilo sinodal, que emerge da compreensão espiritual de como o mundo se manifesta. Junto com isso, ele destacou as diferentes perspectivas de apresentação da Ressurreição no Evangelho de João, realizadas pelo Padre Radcliffe no retiro. Para Dom Daniel Flores, “a perspectiva não é inimiga da verdade, é a maneira normal de agir na Igreja”. Nesse sentido, “a realidade sinodal consiste em ser consciente de que a perspectiva se aproxima do Mistério, mas a partir de contextos diferentes”, destacando a importância da escuta como forma de entender as perspectivas locais, insistindo em ouvir as vozes das pessoas, que querem se expressar a partir de sua perspectiva. Nesse sentido, afirmou que, se fosse fácil escutar, todos o faríamos, mas não é o caso, de modo que a realidade sinodal é uma escuta consciente das diferentes perspectivas, que devem ser conhecidas para se…
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Missão no ambiente digital: “Ser uma Igreja sinodal missionária e proclamar o Evangelho mais plenamente nestes tempos”

O Sínodo sobre Sinodalidade aborda o modo de ser Igreja, mas não deixa de lado questões que precisam ser tratadas com mais profundidade. Daí a criação de dez grupos de trabalho para tratar de algumas dessas questões. Um deles, o chamado Grupo 3, é responsável pela missão no ambiente digital, um tópico que apareceu com força na Primeira Sessão da Assembleia Sinodal em outubro de 2023. Discernindo as oportunidades e os desafios da cultura digital Estamos diante de “uma nova página missionária na vida da Igreja, que nos permite chegar às periferias, àqueles que estão buscando e àqueles que ficaram pelo caminho”, nas palavras de Kim Daniels, coordenadora do grupo e professora da Universidade de Georgetown. Em sua opinião, “estar presente no ambiente digital nos permite alcançar os necessitados onde eles estão e, em muitos casos, ser a primeira proclamação do Senhor àqueles que não o conhecem”, insistindo que “para ser uma Igreja sinodal missionária e proclamar o Evangelho mais plenamente nestes tempos, devemos discernir as oportunidades e os desafios apresentados por esta cultura digital”. Trata-se de conhecer melhor “as linguagens que usamos para falar às mentes e aos corações das pessoas em uma ampla diversidade de contextos, de uma forma que seja bela e acessível”. Isso está sendo buscado por especialistas de vários setores da Igreja e da academia, procurando “abordar as complexidades da missão da Igreja no ambiente digital”, seguindo um método sinodal que “enfatiza a escuta, o discernimento e a adaptação, para garantir que incorporemos uma ampla gama de perspectivas, especialmente as dos jovens, em nosso trabalho. Seguindo a estrutura delineada em nosso plano de trabalho”. Maior imersão eclesial no ambiente digital Um trabalho orientado por cinco perguntas-chave, que nos levam a descobrir como concretizar uma maior imersão eclesial no ambiente digital, a integrar essa dinâmica na rotina da Igreja e em sua relação com as jurisdições eclesiásticas, a fazer propostas práticas e a enxergar possíveis desafios. Nesses meses de trabalho, foram dados passos, coletando relatórios, esforçando-se para ouvir experiências e perspectivas, organizando grupos de trabalho, que estudam questões-chave, bem como desafios legais e éticos. Um caminho que continua e que já delineou as próximas etapas para chegar a um relatório completo. O grupo insiste que “somos chamados como uma família de fé para dar testemunho de Jesus Cristo em todas as culturas. Hoje vivemos em uma cultura digital, portanto devemos discernir a melhor maneira de alcançar essa cultura”, combinando o físico e o digital, “com o objetivo de encontrar as pessoas onde elas vivem”. Para isso, eles dizem confiar “que o Espírito Santo guiará nossa Igreja sinodal enquanto caminhamos juntos nesse caminho”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1