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Dia: 11 de outubro de 2024

Papa Francisco na Vigília Ecuménica: “A unidade dos cristãos e a sinodalidade estão ligadas”

A Praça dos Protomártires Romanos, dentro do Vaticano, local onde a tradição diz foi martirizado o apóstolo Pedro, segundo lembrou o cardeal Koch, foi palco de mais uma das atividades em torno da Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre Sinodalidade, a Vigília Ecumênica, precedida por uma procissão acompanhada por velas, à qual se juntaram mais de 80 celebrações em todo o mundo. Uma celebração que ocorreu no dia em que se comemora o aniversário do início do Concílio Vaticano II. Mártires como testemunhas da unidade A celebração, que contou com a presença do Papa Francisco, juntamente com os participantes da Assembleia Sinodal, incluindo os delegados fraternos, cujo número aumentou nesta Segunda Sessão, e representantes de outras igrejas, deu um papel de destaque a dois documentos conciliares, Lumen Gentium, um dos textos base, que serviu para conduzir a Ladainha de Louvor, e Unitatis Redintegratio, o documento que contém as reflexões sobre a unidade dos cristãos, que foi o fio condutor da Oração de Intercessão. Recordando os mártires, glorificados pelo testemunho de Cristo, à luz do capítulo 17 do Evangelho de João, o Papa Francisco afirmou, a homilia não foi lida pelo Santo Padre, mas entregue aos participantes, que “neste lugar, recordamos os primeiros mártires da Igreja de Roma: sobre o seu sangue foi construída esta basílica, sobre o seu sangue foi edificada a Igreja”, pedindo “que estes Mártires fortaleçam em nós a certeza de que nos aproximamos uns dos outros ao aproximarmo-nos de Cristo, apoiados pela oração dos santos das nossas Igrejas, já perfeitamente unidos pela sua participação no Mistério Pascal”. Mais perto de Cristo para uma maior proximidade entre os cristãos Em seu 60º aniversário, Francisco recordou a Unitatis redintegratio: “quanto mais os cristãos estão próximos de Cristo, tanto mais próximos estão uns dos outros”. Lembrando que a abertura do Concílio “marcou a entrada oficial da Igreja Católica no movimento ecumênico”, ele destacou a presença de delegados fraternos e irmãos e irmãs de outras Igrejas. Ali citou o que São João XXIII disse aos observadores na abertura do Concílio, no qual se refere à oração de Cristo na Última Ceia, um texto aprofundado pelo Papa em sua homilia. “A unidade dos cristãos e a sinodalidade estão ligadas”, enfatizou Francisco. Dois processos, a sinodalidade e a unidade dos cristãos, nos quais “não se trata tanto de construir algo, mas sim de acolher e fazer frutificar o dom que já recebemos”. Após perguntar sobre como apresentar o dom da unidade, ele respondeu que “a experiência sinodal ajuda-nos a descobrir alguns aspetos experiência sinodal ajuda-nos a descobrir alguns aspetos”. Em primeiro lugar, ele destacou que “a unidade é uma graça, um dom imprevisível. O verdadeiro protagonista não nós, mas o Espírito Santo, que nos guia para uma maior comunhão”. Unidade, fruto do céu Com base no fato de que não sabemos o resultado do Sínodo e o caminho para a unidade, ele enfatizou que “a unidade não é em primeiro lugar um fruto da terra, mas do céu”, é algo a ser implorado “como Cristo quer” e “com os meios que Ele quer”, citando o padre Paul Couturier. No caso do processo sinodal, “a unidade é um caminho: amadurece em movimento, durante o percurso. Cresce no serviço recíproco, no diálogo da vida, na colaboração entre todos os cristãos que ’apresenta o rosto de Cristo Servo numa luz mais radiante’”, disse Francisco. Algo que nos chama a “caminhar segundo o Espírito”, como diz Gálatas, ou como “uma caravana de irmãos”, nas palavras de Santo Irineu. Isso porque “a união entre os cristãos cresce e amadurece na peregrinação comum “ao ritmo de Deus”, como os peregrinos de Emaús acompanhados por Jesus ressuscitado”. “Um terceiro ensinamento é que a unidade é harmonia”, lembrou Francisco. Nessa perspectiva, ele afirmou que “o Sínodo tem-nos ajudado a redescobrir a beleza da Igreja na variedade dos seus rostos. Assim, a unidade não é uniformidade, nem é o resultado de compromissos ou equilíbrios. A unidade cristã é harmonia na diversidade dos carismas suscitados pelo Espírito para a edificação de todos os cristãos”. Para o Papa, “a harmonia é o caminho do Espírito, porque Ele mesmo, como diz São Basílio, é harmonia”. Para isso, “precisamos de percorrer o caminho da unidade. Durante este percurso, não deixemos que as dificuldades nos detenham! Confiemos no Espírito Santo, que impele à unidade numa harmonia de policroma diversidade”, enfatizou. O Papa disse que “tal como a sinodalidade, a unidade dos cristãos é necessária para o seu testemunho: a unidade é para a missão”. Recordando a convicção da unidade dos Padres Conciliares, ele lembrou que “o movimento ecuménico nasceu do desejo de testemunhar juntos, na companhia dos outros, não afastados uns dos outros ou, pior ainda, uns contra os outros”. Do local da celebração, o Papa observou que “os Protomártires recordam-nos que hoje, em muitas partes do mundo, cristãos de diferentes tradições dão juntos a vida por causa da fé em Jesus Cristo, vivendo o ecumenismo do sangue. O seu testemunho é mais forte do que qualquer palavra, porque a unidade vem da Cruz do Senhor”. Vergonha diante do escândalo da divisão dos cristãos Como na celebra ção penitencial antes da Assembleia, o Papa expressou “nossa vergonha pelo escândalo da divisão dos cristãos, pelo escândalo de não testemunharmos juntos o Senhor Jesus”. Diante dessa realidade, ele disse que “este Sínodo é uma oportunidade para melhorar, para ultrapassar os muros que ainda persistem entre nós”, pedindo para se concentrar “no chão comum do nosso mesmo Batismo, que nos impele a ser discípulos missionários de Cristo, com uma missão comum. O mundo precisa de um testemunho comum, o mundo precisa que sejamos fiéis à nossa missão comum”. Finalmente, lembrando que “diante do Crucifixo, São Francisco de Assis recebeu o apelo para restaurar a Igreja”, ele pediu “que em cada dia, também nós sejamos guiados pela Cruz de Cristo no caminho para a plena unidade, em harmonia uns com os outros e com toda a criação, ‘porque foi nele que aprouve a Deus fazer habitar toda a…
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Assembleia Sinodal: Uma reflexão séria que se baseia na escuta conjunta

A Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, que está sendo realizada na Aula Paulo VI, no Vaticano, de 2 a 27 de outubro de 2024, entrou em um novo módulo, o dos percursos, dando continuidade ao que foi visto nos relatórios. A Sala Stampa do Vaticano realizou uma nova coletiva de imprensa para dar detalhes do que foi realizado. Trabalho na Assembleia Sinodal Como de costume, a secretária da Comissão de Comunicação, Sheila Pires, relatou o que aconteceu na Aula Sinodal, no seu caso o que se vivenciou no início dos trabalhos sobre os percursos, destacando alguns elementos presentes na apresentação do Módulo pelo Relator Geral, Cardeal Hollerich, e na meditação prévia do Padre Radcliffe. Por sua vez, o prefeito do Dicastério para a Comunicação, Paolo Ruffini, destacou que nesta manhã de sexta-feira o trabalho foi em círculos menores, lembrando a Vigília Ecumênica que acontecerá na Praça dos Protomártires Romanos esta noite, com orações locais em 80 lugares do mundo, e na qual o Papa Francisco estará presente, juntamente com delegados fraternos e representantes de várias igrejas, bem como todos os participantes da Assembleia. Tobin, um cardeal com 7 sínodos Os convidados de 11 de outubro foram o Arcebispo de Newark (EUA), Cardeal Joseph Tobin, o Bispo de Sandhurst (Austrália), Dom Shane Anthony Mackinlay, e a professora italiana Giuseppina De Simone. O Cardeal Tobin já participou de sete Sínodos, sendo o primeiro o Sínodo Especial para a Oceania, pouco depois de ser eleito Superior Geral dos Redentoristas. O Arcebispo de Newark apontou algumas diferenças ao longo de 26 anos de participação em sínodos. Em primeiro lugar, ele destacou a escuta, antes restrita a pequenos grupos selecionados, e agora aberta a todos, o que vale a pena. Com base na experiência de sua igreja local, com missas em 23 idiomas diferentes, ele enfatizou a importância de escutar com ouvidos diferentes. Além disso, ele considera fundamental que nesta Assembleia Sinodal seja dada muita atenção ao silêncio, à contemplação, porque em um mundo onde as palavras dominam, o silêncio é fundamental. Finalmente, o Cardeal destacou a maior participação dos teólogos nesta Segunda Sessão. Semeando uma palavra de esperança Um Sínodo com um método muito significativo e revolucionário, um método que é um grande sinal de esperança, que fala de uma Igreja que age em prol do mundo, segundo Giuseppina De Simone. Para a professora italiana, a Igreja quer semear uma palavra de esperança para o mundo. Segundo ela, o que emerge da assembleia é uma reflexão séria que se constrói em comum através da escuta, enfatizando, como fez o Cardeal Tobin, a importância do silêncio para não buscar imediatamente uma resposta simples e superficial, o que ajuda a responder às tensões que algumas questões levantam, o que deve nos levar a não ter medo das perguntas que nascem de uma humanidade ferida e a ser sinais de esperança diante de tanto sofrimento. Lembrando que o Concílio Vaticano II nos ensina a olhar o mundo e a história com esperança, a deixar de lado as visões apocalípticas, a professora enfatizou a imagem das mesas sinodais como maravilhosa, uma vez que todos estão sentados ao redor delas, todo o povo de Deus, a humanidade, mostrando uma imagem que nasce da união, círculos menores em que não prevalece a opinião de ninguém, com a presença de teólogos nas mesas, que ajudam a reflexão teológica a entrar em diálogo, em uma reflexão que nasce da escuta. Trata-se de conhecimento técnico, mas sem perder a relação com a vida, de estar juntos a partir de diferentes papéis e origens, mas unidos pela escuta para alcançar um pensamento comum, relações que devem estar presentes na vida cotidiana, de acordo com De Simone. Aula Sinodal, um espaço de muita energia Para o bispo de Sandhurst, o caminho sinodal na Austrália tem muitos pontos em comum com o que está acontecendo na Assembleia Sinodal. O bispo disse que, na preparação, foram construídas estruturas úteis, que foram projetadas com base no exercício da autoridade, algo que é solidificado pela participação de todos os tipos de pessoas nos processos sinodais. Para o Bispo Mackinlay, a Aula Paulo VI é “um espaço que me dá muita energia”, destacando o papel proeminente da conversa no Espírito, abordando uma ampla variedade de temas comuns. De acordo com o bispo, a Assembleia Sinodal toma decisões importantes, abordando questões de diversas perspectivas culturais. A Segunda Sessão da Assembleia Sinodal fez progressos, pois há uma maior familiaridade com as pessoas, os processos e os objetivos. Isso se deve ao fato de que “muito trabalho foi feito nos últimos 12 meses”, disse Dom Mackinlay. Um Sínodo para alcançar uma participação mais sinodal na missão, com maior corresponsabilidade, com processos de discernimento comunitário e conversação espiritual mais eficazes, nos quais há apoio mútuo e maior corresponsabilidade durante o discernimento nos círculos menores. A partir daí, ele destacou que “estamos tentando tomar decisões, estamos explorando diferentes caminhos”, para os quais o Módulo sobre os percursos que estão sendo trabalhados nestes dias é de grande importância. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Em uma Igreja sinodal, o modo é superior ao conteúdo

Um Sínodo sem novidades, monótono, sem temas concretos, que nada vai mudar… Essas e outras mensagens semelhantes chegaram nos últimos dias, sinal de que a grande maioria não entende que, da mesma forma que para Francisco o tempo é superior ao espaço, poderíamos dizer que o modo é superior ao conteúdo. Testemunhas em vez de mestres A história nos mostra que os essencialismos deixaram os modos de lado. Nessa perspectiva, pode-se dizer que o Concílio Vaticano II foi uma tentativa de recuperar a importância do modo. Paulo VI, um dos papas do Concílio, diz que “o homem contemporâneo ouve mais as testemunhas do que os mestres ou, se ouve os mestres, o faz porque eles são testemunhas”. O modo como algo superior ao conteúdo, uma dinâmica que foi posteriormente relegada. No atual pontificado, podemos dizer que Francisco deu um novo impulso à dinâmica conciliar. Ele o faz na Praedicate Evangelium, onde, no primeiro parágrafo, explicita “a missão que o Senhor Jesus confiou aos seus discípulos”, que não é outrasenão “anunciar o Evangelho do Filho de Deus, Cristo Senhor, e, através do mesmo, suscitar a obediência da fé em todos os povos”. Para isso, Francisco fala do caminho, não do conteúdo, e afirma: “a Igreja cumpre o seu mandato, sobretudo quando testemunha, por palavras e por obras, a misericórdia que ela própria gratuitamente recebeu”. Gestos e ações para se envolver na vida cotidiana O fundamental é o exemplo, colocando no texto o que Jesus fez, “lavou os pés aos seus discípulos e disse que seríamos felizes se assim fizéssemos também nós”. E, caso não tenha ficado claro, ele continua: “deste modo, ‘com obras e palavras, a comunidade missionária entra na vida diária dos outros, encurta as distâncias, abaixa-se – se for necessário – até à humilhação e assume a vida humana, tocando a carne sofredora de Cristo no povo’”, explicando que, para anunciar o Evangelho, o Senhor “instou-nos a cuidar dos irmãos e irmãs mais frágeis, doentes e atribulados”. É assim que Francisco está orientando a Igreja a responder hoje aos sinais dos tempos, com modos, com testemunho, sem doutrinação. Na meditação antes do início dos trabalhos sobre o Módulo do Instrumentum Laboris que fala dos itinerários, Padre Radcliffe adverte sobre isso: “muitas pessoas querem que este Sínodo dê um Sim ou um Não imediato sobre várias questões, mas não é assim que a Igreja avança no profundo mistério do Amor Divino! Não devemos nos esquivar de perguntas difíceis”. A Igreja deve adotar modos Um Sínodo, uma Igreja, que explica detalhadamente o que deve ser feito em cada momento, é uma Igreja do Levítico e não do Evangelho. É por isso que ainda existem aqueles que defendem a Igreja do conteúdo, da doutrina, a Igreja piramidal em que alguns dizem o que deve ser feito e outros obedecem sem reclamar. Com o Sínodo, Francisco quer nos levar a entender que a Igreja deve adotar modos e, quando isso for feito, o conteúdo virá em seguida. A escuta, o diálogo, a conversa no Espírito, o discernimento comunitário são formas que ajudam a avançar o processo, um termo decisivo no Magistério do atual pontífice. Mas quando se trata de sinodalidade, parafraseando Georg Bätzing, bispo de Limburg e presidente da Conferência Episcopal alemã, “é preciso muita paciência para aprendê-la”, vendo-a como “exaustiva, às vezes árdua”, mas certamente o caminho para “apreciar a diversidade na Igreja e promover a unidade”. Para isso, Bätzing também aponta o caminho: “escutar uns aos outros e levar os outros a sério”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1