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Dia: 12 de outubro de 2024

Discernimento que leva a concretizar organismos eclesiais sinodais

Uma Igreja sinodal sem discernimento não vai muito longe, e é por isso que esse deve ser o caminho para elaborar e tomar decisões, tendo em mente que todas as pessoas batizadas receberam o dom do Espírito. De fato, o discernimento eclesial é a essência do itinerário da espiritualidade sinodal. Para isso, a metodologia a ser seguida é a “conversa no Espírito” e o discernimento comum. Entrando no coração do outro No atual processo sinodal, essa tem sido uma experiência muito enriquecedora. Pode-se dizer que essa dinâmica, que permite entrar no coração do outro, criou um espaço para expressar livremente os próprios pontos de vista e para a prática da escuta recíproca, algo que foi incluído no Instrumentum Laboris para a Primeira Sessão da Assembleia Sinodal. É um caminho no qual se avança ainda mais quando se dialoga com outras ciências, quando se concretiza o que foi pedido na Gaudium et Spes, um documento que não pode ser ignorado para entender a medula do Vaticano II: “examinar em profundidade os sinais dos tempos e interpretá-los à luz do Evangelho”. Outra condição necessária é valorizar o sensus fidei de todos os participantes, independentemente de seu gênero, sua vocação, o ministério que assumem na Igreja. Ouvir Deus e as pessoas, “a ponto de respirar nelas a vontade à qual Deus nos chama”, e assim buscar “um consenso que brota não da lógica humana, mas de uma obediência comum ao Espírito de Cristo”, como nos diz a Episcopalis Communio. Nesse sentido, a Igreja não pode se contentar em ter um Sínodo, ela tem que ser um Sínodo. Algo que São João Crisóstomo, um dos pais da Igreja, já dizia: “Igreja e Sínodo são sinônimos”. A CEAMA, um organismo sinodal Uma questão importante é como realizar os processos de discernimento e quem participa deles. O Sínodo para a Amazônia, no qual muitos veem um “treinamento” para o atual processo sinodal, teve, entre suas 157 propostas, a criação de um organismo episcopal para a região amazônica, que se concretizou na Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA), uma novidade na história da Igreja. A presidência da CEAMA, que pode ser considerada um órgão de tomada de decisões, é composta por um bispo, um padre, um representante da vida religiosa, um representante do laicato e um representante dos povos indígenas. Isso é complementado pela Assembleia, da qual participam representantes das sete conferências episcopais presentes no bioma amazônico. São 105 jurisdições eclesiásticas de nove países. Nesse sentido, a CEAMA, uma continuidade do processo iniciado com a REPAM há 10 anos, é uma expressão do nós eclesial com um discernimento criativo, onde se entrelaçam as relações das pessoas, os itinerários formativos e os lugares para um autêntico intercâmbio de dons espirituais, culturais, sociais, ecológicos e litúrgicos, algo que se concretizou em vários elementos, entre eles o Rito Amazônico e a ministerialidade das mulheres. Promoção de processos de conversão Em uma Amazônia ferida por assassinatos de líderes ambientais, tráfico humano, mineração ilegal, incêndios florestais, desmatamento, secas e tráfico de drogas, entre outras situações, é necessário promover processos de conversão, também na vida da Igreja. Isso deve ocorrer nos órgãos episcopais, nas igrejas locais, nas paróquias, nas comunidades e nas pastorais, onde os processos de formação para o discernimento eclesial devem ser realizados em uma perspectiva sinodal que possibilite a busca de novos caminhos para a Igreja e para uma Ecologia Integral. É uma questão de coragem, de não ter medo de avançar nessa conversão eclesial. Caso contrário, o atual Sínodo pode continuar sendo um evento isolado ou momentâneo. O desafio é assumir um modo cada vez mais vivo de ser e de proceder por meio de organismos eclesiais em sua composição e sinodais em sua ação. Não deixemos de seguir a audácia do Espírito, para que a Igreja continue sendo “luz das nações”, “sinal e sacramento de salvação” neste momento da história em que nos cabe viver. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

No Dia de Aparecida, Papa Francisco pede aos brasileiros que “cuidem uns dos outros e do clima”

No dia 12 de outubro, o Brasil celebra a festa de sua padroeira, Nossa Senhora Aparecida, a virgem negra, em torno da qual se reúnem todos os anos milhões de peregrinos que vão à casa da Mãe. Um lugar que reúne todos os elementos da religiosidade popular, algo tão presente no Brasil e na América Latina. Cumprimentá-los e estar perto de vocês Por ocasião dessa festa, o Papa Francisco enviou uma breve mensagem, gravada em vídeo dentro da Sala Paulo VI, e transmitida pelo Vatican News em português, onde está acontecendo a Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, de 2 a 27 de outubro. Francisco, falando em espanhol, iniciou seu discurso ao povo brasileiro dizendo que queria “cumprimentá-los e estar perto de vocês”. Aos brasileiros, o país com o maior número de católicos do mundo, pediu que “sigam em frente, com aquela mensagem de Nossa Senhora que é toda harmonia, harmonia entre todos os cristãos, harmonia com toda a humanidade, harmonia climática”. Em vista dessa harmonia, o Papa enfatizou que “temos que cuidar uns dos outros e cuidar do clima”. Aparecida um lugar importante para Francisco Em suas palavras, ele lembrou que já visitou o Santuário de Aparecida várias vezes. A última ocasião foi em 2013, ano em que o Brasil sediou a Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro, e Francisco, em seus primeiros meses de pontificado, aproveitou para visitar a casa da Padroeira do Brasil. Vale lembrar também que foi em Aparecida que se realizou a última Assembleia Geral do episcopado latino-americano e caribenho. Um momento que pode ser considerado de grande importância para o atual pontífice. O então Arcebispo de Buenos Aires, Cardeal Bergoglio, foi o relator geral da V Conferência Geral do CELAM, e muitos concordam que o Documento de Aparecida foi uma fonte de inspiração para a Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, um documento relevante no magistério do Papa Francisco. O Papa pediu à Virgem Aparecida “que os abençoe, que os faça ir adiante e que os deixe muito alegres, porque ela é a Virgem da alegria”, uma bênção que ele também implorou no final de sua mensagem ao Senhor. Vea aqui o video do Papa. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Do Sínodo Amazônico ao Sínodo da Sinodalidade: Escutar para descobrir a narrativa de Deus

A sinodalidade é algo que obviamente vai além da Sala Sinodal. Buscando aprofundar a reflexão sobre uma Igreja sinodal, Amerindia criou o Observatório Latino-Americano da Sinodalidade, que, coincidindo com a Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, a ser realizada em Roma de 2 a 27 de outubro de 2024, organizou a Tenda da Sinodalidade, na qual as reflexões são compartilhadas, em alguns casos, com os membros da assembleia. Dois participantes dos dois sínodos Buscando encontrar uma linha de continuidade entre o Sínodo para a Amazônia e o Sínodo sobre a Sinodalidade, dois participantes de ambos os sínodos, o prefeito do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, Cardeal Michael Czerny, e a presidenta da Confederação de Religiosos e Religiosas da América Latina e do Caribe (CLAR), Liliana Franco, refletiram sobre o caminho percorrido. Czerny partiu da imagem do rio como uma orientação inspiradora, concreta e relevante no Sínodo para a Amazônia, “que nos encorajou a trabalhar, como diz o tema, para descobrir novos caminhos para a Igreja e a ecologia integral”. Uma renovação da Igreja baseada na ecologia integral, chegando à conclusão radical de que “a renovação da Igreja na Amazônia era fundamental para a ecologia de toda a região”. Em torno de um território Liliana Franco, por sua vez, viveu o Sínodo para a Amazônia como uma graça pascal, já que foi o primeiro momento de encontro com toda a Igreja, com diferentes culturas e sensibilidades, “em torno de um território“, visto como responsabilidade de todos. Uma imensa possibilidade de “viver a interconexão, a certeza e a experiência da sacralidade de toda a criação e a interconexão que existe entre tudo”. Algo vivido a partir do protagonismo do Espírito em cada encontro de seres humanos, em cada experiência de tecer juntos, apesar das tensões e contradições, ainda mais em torno da Amazônia, uma beleza ferida. Uma experiência de que “o Espírito sabe romper além das resistências ou posições ancoradas ou aprendidas“, o que a leva a ver o Sínodo da Amazônia como frutífero, algo que trouxe muita vida. Isso vem se concretizando de várias formas, na CEAMA, na REIBA, dando passos para se inserir no território, o que leva a descobrir a vida nova que os processos sinodais trazem. Um Sínodo que foi um laboratório de escuta, com “um exercício saudável, consciente e respeitoso de habitar o território para poder escutar as pessoas e entender que a escuta é a narrativa que Deus usa para nos mostrar o que ele quer de nós”. Uma escuta com a qual o atual Sínodo aprendeu, destacando o método como uma chave, que foi colocada em prática. Ele também destacou a figura e as contribuições do Cardeal Claudio Hummes naquele Sínodo. A novidade da CEAMA Do Sínodo para a Amazônia surgiu a Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA). A esse respeito, o Cardeal Czerny enfatizou que em todos os países amazônicos essa região é uma periferia, com seus problemas, espiritualidades e espírito. Reunir em uma conferência cada região de cada país é “poder enfocar as questões e os processos da Amazônia“, destacou o prefeito. Uma conferência que inclui bispos, padres, religiosos e leigos, que Czerny vê como uma continuação do processo sinodal, que deve levar a CEAMA a “orientar a busca do caminho a seguir para a Igreja em toda a Amazônia”, para ser uma concretização, mas acima de tudo a continuação do processo, para continuar caminhando juntos, algo urgente, porque os problemas estão crescendo. Partindo da questão abordada na Segunda Sessão da Assembleia Sinodal, como ser uma Igreja sinodal em missão, Liliana Franco vê a CEAMA como “uma expressão do que significa ser uma Igreja sinodal e missionária“, porque “nos coloca diante de uma nova maneira de tecer relações, com essa dinâmica que é verdadeiramente eclesial”, seguindo nas relações a lógica do Povo de Deus, e junto com isso porque é uma união para a missão, para responder às necessidades concretas de um território e não para fazer ouvidos moucos. A escuta leva à conversão A religiosa lembrou uma expressão do Sínodo para a Amazônia: “a escuta leva à conversão“, a uma mudança de atitudes e estruturas. Isso porque “a escuta é o que mobiliza a mudança”, e como Vida Religiosa no território, que são os que mais assumiram esses processos sinodais, estão acolhendo esse momento da Igreja a partir dessa escuta, sendo multiplicadores, superando a autorreferencialidade e vários tipos de abusos, tendo em vista a necessária reflexão e reforma, e a presença no território amazônico, com experiências muito significativas de intercongregacionalidade, que transformaram lógicas, sensibilidades, formas de se situar. Segundo Liliana Franco, o Sínodo sobre a Sinodalidade está sendo realizado na perspectiva de um caminho, de um processo, no qual foi privilegiada a escuta em vários níveis, com o método da conversação no Espírito, que torna possível a escuta acolhendo a palavra do outro. A Irmã enfatizou o modo de trabalho dos círculos menores, que encorajam uma reflexão vital e profunda, trazendo para a mesa a vida e a realidade de cada contexto. Falando sobre os percursos, ela vê nesse módulo a possibilidade de ir a questões mais vitais no entrelaçamento da Igreja, fazendo da experiência uma escola de aprendizado, de ser modificado pelo Espírito, a partir de um ato de fé, tendo a santidade de cada um de seus membros como critério para a reforma da Igreja. “Haverá uma transformação de estruturas, quando houver uma transformação de atitudes, haverá uma transformação de modos relacionais, quando nos dispusermos de forma mais reverente a escutar uns aos outros”, sublinhou, o que leva a novos modos de relacionamento, para crescer em capacidade missionária. O Sínodo é mais do que estatísticas O Cardeal Czerny criticou a tentativa de avaliar o Sínodo com estatísticas, porque “o fato é que esta consulta é a mais ampla consulta na história da humanidade“. Nesse sentido, ele disse que novas formas de caminhar não são algo que se faz de uma só vez, é preciso começar. Ele ressaltou que tem “a impressão de que começamos bem,…
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