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Dia: 14 de outubro de 2024

A sinodalidade, sem transparência e prestação de contas, fica estagnada

A transparência e a prestação de contas do trabalho pastoral são elementos que ninguém pode ignorar em uma Igreja sinodal. Para avançar nessa dinâmica, é necessário levar em consideração os contextos locais específicos, com suas características culturais e tradições históricas. Nada pode ser avaliado de forma abstrata e, além disso, promover a mais ampla participação, já que todos os membros do Povo de Deus podem e devem contribuir, fortalece esse caminho. Cultura de transparência e responsabilidade Para avançar nesse caminho sinodal, para poder caminhar juntos, para gerar atitudes que favoreçam a confiança mútua entre os membros do Povo de Deus, é necessário ir além da prática, para estabelecer uma cultura de transparência e responsabilidade. Somente assim a sinodalidade e a corresponsabilidade poderão se solidificar, pois isso mostrará o valor das ações realizadas no exercício dos diversos ministérios na comunidade. Ao contrário, a falta de transparência e de prestação de contas alimenta o clericalismo e a desconfiança. Esses processos de transparência e prestação de contas precisam de instâncias e maneiras de avaliar o modo como as responsabilidades ministeriais de todos os tipos são exercidas, inclusive entre o clero. A avaliação, especialmente se participativa, permite ajustes apropriados nos planos pastorais e promove a capacidade de servir melhor os membros do Povo de Deus de acordo com suas respectivas vocações e articulação no serviço. Trazer isso para a vida cotidiana da Igreja é um desafio para o avanço da sinodalidade prática. Na medida em que pensamos que estamos acima do bem e do mal, que não temos que prestar contas a ninguém, que não é necessário ser transparente, a vida da Igreja está desmoronando, a comunhão está se perdendo, a participação das pessoas é reduzida à expressão mínima e, na missão, o vigor necessário para que outros descubram no testemunho de cada batizado a força do Espírito de Deus está se dissipando. A necessidade de conselhos pastorais e econômicos Os conselhos pastorais e econômicos são um instrumento para aumentar a transparência, e se deve garantir que eles sejam ouvidos e que suas opiniões sejam levadas em consideração quando as decisões forem tomadas. Os conselhos devem ser vistos como uma necessidade em todas as instituições da igreja. Quando os vários ministérios que compõem o Povo de Deus são ignorados na composição dos conselhos, quando o planejamento pastoral e econômico é assunto de uma pessoa ou de um pequeno grupo que nada questiona, o Evangelho e, com ele, a vitalidade da Igreja, se perdem. Da mesma forma, a publicação de um relatório periódico e de um demonstrativo financeiro regular, e mostrar como tudo isso contribui para o desenvolvimento da missão, são atitudes que não podem mais ser ignoradas. Por fim, não podemos ignorar que, para a devida prestação de contas, é necessário promover o acesso das mulheres a cargos de autoridade e sua participação nos processos decisórios, bem como a participação daqueles que exercem ministérios e cargos na Igreja nos processos de monitoramento e avaliação do desenvolvimento da missão. Nunca nos esqueçamos de que a sinodalidade não é uma teoria, mas uma prática, que precisa de instrumentos, entre os quais a transparência e a prestação de contas nunca podem estar ausentes. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Liliana Franco: “As experiências sinodais são laboratórios para um serviço melhor”

Os processos de escuta têm sido um elemento importante no caminho da Igreja nos últimos anos. Na América Latina e no Caribe, isso foi levado em conta, especialmente desde o Sínodo para a Amazônia, algo que posteriormente foi aprofundado com a Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe e o atual processo sinodal. A irmã Liliana Franco, presidente da Confederação de Religiosos e Religiosas da América Latina (CLAR), participou dos dois sínodos e da assembleia eclesial. A escuta é transversal De acordo com a religiosa colombiana, presente na Sala Stampa do Vaticano, “esses dois últimos sínodos, incluindo o Sínodo sobre a Juventude, e essas experiências que estamos tendo nos diferentes continentes nos mostram a importância da escuta como parte transversal de qualquer processo de humanização”. Em relação ao Sínodo da Amazônia, a presidenta da CLAR lembrou que “o Sínodo da Amazônia já afirmava com muita força que a escuta leva à conversão, que realmente o que tem o poder de gerar transformação, de modificar atitudes e estruturas é a escuta, a escuta de Deus e a escuta dos territórios, da realidade”. Algo em que “estamos nos capacitando, que todas essas experiências sinodais acabam sendo como laboratórios que nos capacitam para um melhor serviço”, afirmou Liliana Franco. A religiosa insistiu que “temos muito a aprender, na Igreja e na sociedade, porque muitas vezes todos os seres humanos vamos com nossos próprios monólogos, ideias, paradigmas das coisas”. Diante dessas situações, a religiosa acredita que “a escuta está se posicionando como o caminho, como a maneira de entender a narrativa do que Deus tem a dizer a nós, seres humanos”. Escutar para se aproximar de Deus A escuta, reforçou a presidenta da CLAR, “é a possibilidade de se aproximar e de se aproximar com mais serenidade, com mais sinceridade e com mais reverência da vontade de Deus”. Escutar porque “realmente nos transforma, nos converte”, algo que ela considera um processo de aprendizagem. Uma realidade sobre a qual algumas igrejas locais ou continentais têm maior experiência, lembrando que “se exercitaram mais repetidamente nesses processos de escuta e fizeram da escuta uma atitude vital”. Diante dessa dinâmica de escuta, afirmou que “como toda a Igreja, temos o grande desafio de entender que esse é o caminho da conversão para nós, e até mesmo o caminho da credibilidade em tempos complexos como os que vivemos, tanto como Igreja quanto como sociedade”. Cultura do cuidado Em resposta a uma pergunta sobre o abuso a religiosas, a presidente da CLAR afirmou que “na Igreja nos acostumamos a viver em meio a relações rígidas, a estilos que excluem, a nacionalismos que excluem”. Diante dessa situação, Liliana Franco vê como um grande desafio “purificar as relações para tornar possível essa cultura do cuidado”. Esta é uma questão que a Vida Consagrada em todo o mundo está levando a sério, afirmou. Neste sentido, falando sobre o continente latino-americano e caribenho, assinalou que “temos realizado processos muito claros com os 150.000 religiosos da América Latina e do Caribe que nos permitem revisar nossos modos relacionais, que o que somos e o que fazemos é abusivo, porque não abre espaço para a diferença, porque não é inclusivo”. “Todos nós, na Igreja, estamos em um processo de revisão de nossos modos relacionais, que claramente não são coerentes com o modo de Jesus e que requerem conversão”, afirmou. A partir daí, ela continuou dizendo que “a vida religiosa feminina não está à margem disso, tanto para revisar suas próprias formas de se relacionar, porque às vezes dentro das comunidades e congregações pode haver formas que não são vividas e assumidas a partir de uma cultura saudável de cuidado, como também para reconhecer formas que vêm de fora e que violam as possibilidades, os direitos ou a dignidade das mulheres consagradas”. A religiosa enfatizou que “este processo sinodal nos coloca frente a frente com a revisão necessária e uma opção”. Nesse sentido, destacou que “a opção que este processo está colocando no coração de toda a Igreja é a opção pela cultura do cuidado, por uma forma de nos relacionarmos uns com os outros que seja mais semelhante à forma de Jesus”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Abusos sexuais, de poder, de consciência e espirituais contra religiosas pauta da Assembleia Sinodal

A Segunda Sessão da Assembleia Sinodal, que está sendo realizada na Aula Paulo VI, no Vaticano, de 2 a 27 de outubro, está na metade do caminho. A terceira das quatro semanas em que essa fase do processo sinodal está dividida, se contarmos o retiro anterior, começou na segunda-feira. Percursos: processos de tomada de decisão, transparência, responsabilidade e avaliação A assembleia está discutindo o módulo sobre percursos. Esse módulo, lembrou Sheila Pires, secretária da Comissão para a Comunicação, diz respeito ao tema de processos de tomada de decisão, transparência, responsabilização e avaliação. Segundo Pires, foram relatadas experiências relativas a essas temáticas chegadas de diversos lugares, dentre elas da Amazônia, sublinhando “a dificuldade de encontrar a harmonia entre as tradições cristãs e os ritos locais”. Algo que acontece, como foi dito, “porque a Igreja no passado negligenciou a diversidade e a complementariedade entre as culturas”, afirmou a jornalista. Igualmente, Pires relatou as falas sobre envolver as crianças na vida da Igreja, valorizar os catequistas, escutar os jovens, incluir as escolas católicas nos processos de evangelização e formação. Uma realidade que parece ter aparecido com força, foi a violência sofrida pelas religiosas, não só abusos sexuais, mas abusos de poder e de consciência, assim como abuso espiritual. Situações que muitas vezes ficam ocultas, devido ao comportamento patriarcal da sociedade, e que demanda introduzir procedimentos e sistemas nas dioceses e nas conferências episcopais para fazer face a esses problemas. Também foi pedido garantir dignidade às mulheres consagradas e leigos, e foi refletido sobre a falta de presença feminina na formação dos seminários em vista de uma formação equilibrada. Processos de tomada de decisão Paolo Ruffini, prefeito do Dicastério para a Comunicação, destacou a reflexão sobre os processos decisórios, a necessidade de criar conselhos decisórios com a presença de leigos e especialistas. Ele abordou novamente a questão dos abusos e da transparência nesse campo e nas finanças como um elemento fundamental em uma Igreja sinodal, uma transparência que deve ser equilibrada com a confidencialidade. Uma prestação de contas que também deve ser dada aos pobres. Ele também abordou questões relacionadas ao Código de Direito Canônico, insistindo que ele não deve ser uma ferramenta restritiva, mas sim uma ferramenta para a defesa dos mais pobres. Como antídoto para o clericalismo, ele propôs relações dinâmicas, envolvendo mais pessoas na tomada de decisões. Colocando-nos mais radicalmente no estilo de Jesus Entre os convidados da Sala Stampa, a primeira a se dirigir aos jornalistas, a quem agradeceu o serviço prestado a esse processo sinodal, foi a presidente da Confederação de Religiosos e Religiosas da América Latina e do Caribe, Liliana Franco. No Módulo Percursos, que foi estudado em profundidade nos últimos dias, ela destacou quatro grandes temas: formação, discernimento, participação e responsabilidade, que “nos colocam mais radicalmente no caminho de Jesus”, no estilo do Evangelho, “o estilo que deve permear tudo o que é sinodal”. Uma resposta à grande pergunta da Segunda Sessão da Assembleia Sinodal: Como ser uma Igreja sinodal em missão? Para Liliana Franco, “a formação só faz sentido se nos torna melhores testemunhas”, que deve ser integral, humana, inclusiva, contextualizada, atenta à realidade, sublinhando a necessidade de formação com os outros, juntos. Uma formação que olhe para as crianças e os jovens, com eles e como eles, novas formas de formação que nos permitam ser melhores testemunhas. Sobre o discernimento, ela o vê como “o caminho para descobrir o que o Espírito quer da Igreja”, discernimento pessoal e comunitário para buscar juntos na diversidade “a direção de nossa vida em missão”, com estruturas e instâncias mais participativas. Finalmente, a religiosa se referiu à transparência e à prestação de contas, mais do que como um meio, como uma cultura que deve ser ancorada na Igreja, como um modo de ser e estar, como algo natural. O processo sinodal em Ruanda Em segundo lugar, o Bispo de Cyangugu, Dom Edouard Sinayobye, que vê o atual processo sinodal como inspirado no que os apóstolos experimentaram e fizeram depois de receber o Espírito Santo no Cenáculo. Para Ruanda, o processo sinodal é uma oportunidade de unidade e reconciliação, após 30 anos de genocídio, algo difícil, dada a necessidade de acompanhar as vítimas e os carrascos, sendo assim um Kairos, em vista do progresso na comunhão, que levou à promoção de uma pastoral de unidade e reconciliação na Igreja ruandesa. Nessa perspectiva, o bispo vê no processo sinodal, do qual todos participam, das crianças aos idosos, uma oportunidade de aprofundar os fundamentos teológicos e bíblicos que “nos mostram que somos um”, uma mensagem que ajuda o povo a caminhar junto, a fortalecer a unidade e a reconciliação, visto que, depois do que aconteceu, não é fácil voltar a caminhar como irmãos e irmãs, assumir um estilo de vida fraterno e espiritual, sair ao encontro de todos, aprender a ser missionários e ser formados na práxis missionária, o que está sendo realizado por meio de várias experiências, relatadas pelo bispo. Discernimento eclesial para a missão Por fim, o Arcebispo de Riga (Letônia), Dom Zbigņevs Stankevičs, vê este Sínodo como uma resposta ao desejo de envolver cada pessoa batizada na missão da Igreja de evangelizar o mundo, algo que ele disse estar muito presente em seu ministério desde que foi ordenado bispo. É uma questão de liberar os dons e carismas de todos os batizados, e essa é a tarefa dos bispos, do clero, enfatizando a importância da corresponsabilidade e da descentralização, como expressão da comunhão eclesial. O bispo refletiu sobre o número 58 do Instrumentum Laboris da Segunda Sessão da Assembleia Sinodal, que trata da questão do discernimento eclesial para a missão. Ele enfatizou que o objetivo final do Sínodo é a missão, e por isso é necessário que as estruturas da Igreja sejam mais missionárias. Para isso, pediu um aprofundamento das experiências das conferências episcopais, nas escolas de evangelização, buscando uma formação missionária, algo que já está sendo realizado por meio de experiências concretas. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Na Igreja Sinodal, até mesmo o Papa aguarda para tomar seu lugar

A Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, que está sendo realizada na Aula Paulo VI, no Vaticano, de 2 a 27 de outubro de 2024, iniciou sua terceira semana de trabalho na segunda-feira. O trabalho no Módulo Itinerários termina hoje e, a partir de terça-feira, terá início o último módulo, que fala sobre os Lugares. Ele esperou na porta até o final da oração. Na Aula Paulo VI, observamos situações que nos levam a refletir sobre o significado de uma Igreja sinodal. Assim que a assembleia estava rezando, estava sendo lido o Evangelho, que é a maneira habitual de começar os trabalhos todas as manhãs e todas as noites, o Papa Francisco, em um gesto incomum na Igreja, chegou e esperou na porta por vários minutos até que a oração terminasse, antes de ir para seu lugar em uma das mesas redondas. A pessoa que o conduzia tentou levá-lo ao seu lugar, mas ele lhe disse para esperar. De fato, ao publicar a foto em um grupo de padres e explicar o que havia acontecido, alguém escreveu espontaneamente: “Que gesto bonito. Nós, padres, teríamos chegado tarde e, ainda por cima, teríamos sido notados”, ao que outro respondeu: “você está certo”. Se Francisco tivesse feito isso, teria parecido normal para quase todo mundo. Afinal, na mente da maioria das pessoas, ele é “o chefe” e poderia fazer isso sem ter que se explicar. Francisco é alguém que diz o que vive, e quando ele pede aos novos cardeais que ofusquem a eminência com o serviço, é porque para ele ser o Santo Padre não é o que é decisivo em sua vida, mas o fato de ser um batizado, a quem a Igreja confiou uma autoridade, que é fortalecida quando ele assume a kenosis da qual São Paulo fala em Filipenses: “Jesus Cristo esvaziou-se a si mesmo, assumindo a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens”. Um papa de gestos O atual pontífice é alguém de gestos, que grita com suas atitudes, e é isso que nos leva a nos questionar, a entender que viver como cristão é fazê-lo aprendendo a ser o último, a não insistir em ser o protagonista. Quando assumimos essa dinâmica, garantimos que em nosso testemunho outros possam reconhecer a presença de Deus. Para o comum dos mortais, o que fica são as atitudes, o que faz com que esse gesto produza um impacto muito maior e melhor do que um longo discurso sobre o que é uma Igreja em que todos somos iguais. Ser uma Igreja sinodal é aprender a aceitar esses gestos como normais, entender que todos nós somos importantes, mas ninguém é mais importante do que ninguém. Em Francisco, isso é algo que está enraizado desde que ele costumava se misturar com as pessoas nos ônibus, no metrô de Buenos Aires, desde que ele costumava chegar às favelas com sua pasta na mão. Mais uma vez, o Papa nos surpreende e nos questiona. O problema é se isso nos fará mudar, se nos converterá à Igreja sinodal ou se continuaremos ancorados na reivindicação de privilégios, em uma luta para sermos os primeiros, o que nos distancia cada dia mais daquele em quem nós, cristãos, afirmamos acreditar. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Carta do Fórum das Águas do Amazonas à Sociedade e Tomadores de Decisão

A Amazônia e o Pantanal, biomas essenciais à vida do planeta, estão à beira do colapso. As regiões sofrem impactos devastadores sobre a biodiversidade, os serviços ecossistêmicos e as populações humanas, especialmente entre os grupos sociais mais vulneráveis. Dados recentes do MapBiomas revelam uma retração alarmante na superfície de água desses biomas. A Amazônia, que concentra mais da metade da água superficial do Brasil, perdeu 3,3 milhões de hectares de superfície de água em 2023, em comparação ao ano anterior. O Pantanal, por sua vez, enfrenta uma das piores secas da história, com uma redução de 61% da sua superfície de água em relação à média histórica, resultando em apenas 2,6% de seu território coberto por água. A perda dramática de água está diretamente ligada a políticas e agendas antiambientais que produzem desmatamento e queimada em larga escala e intensificam o avanço das mudanças climáticas. Neste momento, milhares estão em busca de socorro médico para respirar melhor, reduzir tosse, irritação na garganta e nos olhos ou se automedicam, pessoas com comorbidades têm risco de morte aumentado. Outras milhares de famílias estão isoladas sem acesso água e a alimentos (a não ser aquilo que chega por alguma ação de apoio); peixes e botos morrem por falta de água e de oxigênio; o cotidiano de comunidades ribeirinhas e dos povos indígenas está profundamente alterado, provoca adoecimento e transtorno mental; escolas fechadas, ciclo de ensino completamente desajustado; e territórios invadidos por grileiros, madeireiros, narcotraficantes. Diante desse cenário, lideranças políticas e empresariais defendem a pavimentação da rodovia federal BR-319 ligando Porto Velho-RO no “famigerado arco do desmatamento” até Manaus-AM na Amazônia central, poderia resolver o problema do isolamento dessas comunidades, especialmente em períodos de seca. No entanto, os dados mostram o contrário. Os municípios mais afetados pela seca não são acessados pela rodovia, enquanto os municípios ligados pela BR-319 apresentam os maiores índices de degradação florestal, desmatamento e queimadas, agravando ainda mais a crise climática. A pavimentação dessa rodovia, citada em revistas científicas renomadas como Science, Nature e The Lancet, é identificada como um fator que impulsiona o desmatamento e degradação florestal e conduz a Amazônia além do ponto de não retorno de desmatamento tolerado. A crise atual não se restringe a um único ecossistema. Estudos apontam que a pavimentação da rodovia BR-319 e o desmonte das políticas de proteção às Áreas de Preservação Permanentes (APPs) comprometem o funcionamento dos serviços ecossistêmicos conhecidos como “rios voadores” – correntes de ar que transportam a umidade da Amazônia para outras regiões do Brasil e da América do Sul. Sem essa umidade, regiões do sul e sudeste do Brasil enfrentarão secas ainda mais severas, com o colapso dos sistemas agrícolas que dependem dessas chuvas. A recente mobilidade de fumaça produzida nos incêndios da região norte para o sudeste e sul bem demonstram essa realidade. O abastecimento de água nas áreas mais populosas do Brasil, como o sistema Cantareira, também estaria seriamente comprometido com estas medidas, ameaçando o abastecimento humano diretamente. É fato, e muito bem documentado, que este empreendimento compromete a agenda 2030 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) com os quais o Brasil está comprometido, como erradicação da pobreza, fome zero e agricultura sustentável, saúde e bem-estar, educação de qualidade, pública e gratuita, acesso à água potável e saneamento, trabalho digno e crescimento econômico e energia acessível e limpa. De forma vil e perigosa e em meio a maior crise hídrica do Brasil, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, aprovou o Projeto de Lei (PL) 2168/2021que classifica obras de irrigação e dessedentação animal como de utilidade pública, permitindo sua realização em Áreas de Preservação Permanentes (APPs). Essa medida prejudicaria a vegetação nativa e cursos d’água protegidos, essenciais para manutenção dos recursos hídricos, serviços ecossistêmicos e biodiversidade. Destruir essas áreas em prol do agronegócio, durante a pior seca já registrada, é um grave erro, e hoje os incêndios intencionais já se espalham nestes remanescentes de floresta. A rodovia BR-319 é lança que abre caminho para o desmatamento na Amazônia, que, por meio da evapotranspiração e dos rios voadores, mantém os ciclos hidrológicos do Brasil, assim como o coração bombeia o sangue para todo o corpo. Hoje, esse sistema vital está perfurado, espalhando fumaça por outras regiões do país. Já a destruição das APPs seria como uma leucemia que ataca o sistema circulatório das águas, eliminando as fontes de produção, que são as nascentes preservadas pelas APPs. É crucial que os governantes reavaliem a maneira como têm tratado essas questões urgentes. Estes empreendimentos asfixiam a população pela fumaça das queimadas, além de asfixiar o modo de vida das populações mais vulneráveis, pela expansão da grilagem e pistolagem em áreas de uso tradicional. Os grandes projetos amazônicos têm priorizado a expansão do mercado capitalista e a produção de commodities para exportação, gerando elevados custos ambientais, sociais e culturais. O Estado tem investido na exploração de recursos naturais, promovendo atividades como mineração, exploração de petróleo e gás, pecuária, agronegócio e produção hidrelétrica, que causam impactos severos às comunidades tradicionais e ao clima, agravando secas prolongadas, elevação de temperaturas, poluição e escassez de água. Para mitigar esses efeitos, é essencial criar economias solidárias e de baixo impacto ambiental, alinhadas aos ciclos da natureza. As políticas atuais representam um ataque direto à segurança hídrica, alimentar e climática do Brasil. É urgente fechar a BR-319, revogar o PL 2168/2021, reestatizar os serviços de água e esgoto de Manaus, e combater políticas antiambientais que ameaçam ecossistemas e a soberania nacional, colocando milhões de vidas em risco. Organizações que integram o Fórum das Águas do Amazonas:   1 – Serviço Amazônico de Ação, Reflexão e Educação Socioambiental – SARES 2 – Articulação Amazônica dos Povos e Comunidades Tradicionais de Terreiro de Matriz Africana – ARATRAMA 3 – Articulação de Mulheres do Amazonas- AMA 4 – Associação de Desenvolvimento Sócio Cultural Toy Badé – ATB 5 – CEBs regional Norte 1 6 – Coletivo de Mulheres da Educação 7 – Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Tarumã-Açu – CBHTA…
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