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Dia: 16 de outubro de 2024

Relação entre a Igreja local e a universal: um elemento que sustenta a sinodalidade

Os fóruns teológico-pastorais, uma novidade da Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, retomaram suas atividades na quarta-feira. Nessa ocasião, eles abordaram o tema do Exercício do Primado e o Sínodo dos Bispos, e a Relação mútua entre a Igreja local e a Igreja universal. Igreja relacional e, portanto, sinodal “A Igreja é constitutivamente relacional e, portanto, sinodal”, disse Miguel de Salis Amaral, citando as palavras do Papa Francisco na abertura da Segunda Sessão da Assembleia Sinodal. Nesse sentido, disse que “as relações alimentam e sustentam a sinodalidade”, afirmando que “a relação entre a Igreja local e a Igreja universal é uma relação que é o fundamento da sinodalidade”. A partir daí, ele quis convidar um olhar de fé para essa relação, apontando para o Mistério, buscando oferecer ajuda no discernimento para se tornar uma Igreja sinodal e missionária. A partir daí, refletiu sobre o núcleo teórico do Mistério e sua concretização dinâmica, afirmando, com o Vaticano II, que a Igreja local é uma parte da Igreja universal, na qual o todo está presente e em ação, a riqueza de todos os dons sacramentais e carismáticos está presente. A Igreja local e a universal estão relacionadas, não são alternativas, dando origem a várias instituições em vista da missão, diversas com várias formulações jurídicas. O cristão pertence à Igreja local e universal e, portanto, está sempre em casa, disse ele. Em suas palavras, destacou a Eucaristia e o episcopado como expressões da catolicidade, da comunhão entre a Igreja local e a universal, sendo a Igreja universal um corpo de igrejas, ressaltando a importância da pluralidade de lugares. “A sinodalidade nos orienta para uma compreensão da relação entre a Igreja local e a universal, e nos leva a ver a Igreja universal como uma concretização visível das diversidades”, ressaltou. Algo que se concretiza de diferentes maneiras, com diferentes sotaques, de modo a enriquecer a todos e favorecer o discernimento sinodal, enriquecendo a missão evangelizadora. A vida missionária sinodal é vivida na Igreja local Para Antonio Autierio, esse tema está presente em muitas partes do Istrumentum Laboris, especialmente no Módulo Lugares. A partir daí, ele enfatizou a igreja local como o lugar onde a vida sinodal missionária é experimentada. Em sua opinião, há dois caminhos para o relacionamento entre a Igreja local e a universal, um com uma visão hierárquica e piramidal, destacando a Igreja universal, e o outro baseado no Povo de Deus como fonte de unidade. De um ponto de vista prático, como teólogo moral, ele se referiu às ações da Igreja, refletindo sobre o exercício da autoridade na Igreja local, enfatizando a importância do contexto na compreensão da relação entre fé e moral, uma vez que esta é influenciada pela cultura do povo. A antropologia e as condições sociais não podem ser deixadas de lado, considerando a necessidade de reconhecer a autoridade de ensino de todos os crentes, inspirados por Karl Rahner, para tornar as Boas Novas do Evangelho uma fonte de vida para todos, defendendo um modelo experimental de expressão da doutrina. Conselhos pastorais e concílios provinciais Miriam Wijlens falou sobre os conselhos pastorais, em vários níveis, e os concílios provinciais, que o Povo de Deus vê como necessários, como verdadeiros veículos da Igreja sinodal para viver a responsabilidade batismal, tornando a Igreja inclusiva, responsável, transparente e ecumenicamente acolhedora. Nessa perspectiva, destacou alguns elementos: o método de seleção dos membros, que sejam eleitos e não nomeados, com diversidade de presenças, abertos a todos, com membros com disposição missionária, ecumênica, com uma agenda em que os membros possam apresentar pontos em vista da corresponsabilidade. Para que esses órgãos tenham impacto, ela defende a obrigação de ouvi-los, de que todos tenham todas as informações e de que as pessoas consultadas possam se expressar livremente. Isso se estende ao trabalho comum entre as igrejas vizinhas, com a participação de todo o povo de Deus, não apenas dos bispos, dos organismos da Igreja, onde todos os participantes têm voto deliberativo, explicando quem deve ser convidado e qual deve ser sua tarefa. Finalmente, ela se referiu à tomada de decisões, cujo modo vem mudando para responder a várias necessidades, desafios e possibilidades, um processo de transformação que deve estar presente em uma Igreja sinodal. Igreja local e Igreja universal como uma só Finalmente, o prefeito do Dicastério dos Bispos, Cardeal Robert Prevost, recordou que Santo Agostinho afirmou que a Igreja local e a Igreja universal são únicas, com o objetivo de proclamar o Evangelho. O prefeito recordou o curso para novos bispos do qual participou, onde os bispos foram chamados a olhar além dos limites de suas dioceses e a entender o que significa fazer parte da Igreja Católica, da Igreja universal, da importância de crescer em um profundo sentido de comunhão, algo que deve ser promovido diante de tantas situações de sofrimento. O prefeito do Dicastério para os Bispos delineou como os bispos são nomeados, referindo-se novamente ao curso para novos bispos, que representa uma experiência da natureza universal da Igreja, vislumbrada no fato do encontro e do diálogo com bispos de todas as partes do mundo, cada um enfrentando seus próprios desafios e obstáculos. “A unidade é criada na diversidade, mas precisamos fortalecer esses laços de comunhão”, enfatizou Prevost, algo que ele vê nos círculos menores, onde há uma compreensão do que significa fazer parte da Igreja universal. “Em cada Igreja local há a Igreja universal, mas nenhuma Igreja local representa toda a essência da Igreja universal”, ressaltou o prefeito. Para o Cardeal Prevost, “a perseverança na oração é um dever primordial para fortalecer a solidariedade”. Em suas palavras, ele analisou várias realidades que buscam criar vínculos entre as igrejas locais, sempre com o objetivo de anunciar o Evangelho em todo o mundo. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Cardeal Aguiar: “Enfrentemos com esperança aqueles que criticam e dificultam a implementação da vida sinodal em nossas comunidades”

A celebração eucarística no Altar da Cátedra, na Basílica de São Pedro, onde estiveram presentes os participantes da Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo da Sinodalidade, constituiu mais um passo no desenvolvimento das atividades, marcadas nestes dias pela reflexão sobre os Lugares. A desordem egoísta causa más ações A missa foi presidida por um dos presidentes delegados do Sínodo, o Arcebispo da Cidade do México, Cardeal Carlos Aguiar. Em sua homilia, começou recordando o conselho de São Paulo aos Gálatas, a quem disse que “a desordem egoísta do homem é a causa das más ações”. Diante dessa realidade, questionou como superar essa tendência, ao que respondeu que isso se consegue “aprendendo a deixar-se guiar pelo Espírito Santo; para o que o caminho é conhecer Jesus Cristo, e assumir como bom discípulo, seu testemunho de vida e seus ensinamentos”. De acordo com o cardeal mexicano, “dessa forma obteremos os frutos do Espírito Santo: amor, alegria, paz, generosidade, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e autocontrole”. Nesse caminho, continuou, “sem dúvida, ganharemos, como Jesus expressa no Evangelho, a liberdade de intervir e corrigir aqueles que são desviados, mal orientados ou pretensiosos, que se apresentam como modelos para os outros ou que exigem encargos que não cumprem”. Comprometidos com a vivência e a promoção da sinodalidade Para Aguiar, “é oportuno, diante desta Palavra de Deus, fortalecer nossa confiança na ajuda divina para enfrentar com esperança as diferentes presenças e comportamentos que, dentro e fora da Igreja, criticam e dificultam a aplicação da vida sinodal em nossas comunidades eclesiais”. Uma dinâmica que deve nos levar a nos perguntar “até que ponto estamos comprometidos em viver e promover a sinodalidade em nossas próprias áreas de responsabilidade eclesial e social”. Isso é influenciado por “nossas expectativas condicionadas por nossos próprios contextos sociais e eclesiais”. Em vista disso, ele convidou a “lembrar em nossa oração habitual que certamente não nos faltará a assistência do Espírito Santo para promover nossas tarefas específicas, no caminho e na prática sinodal”. E, juntamente com isso, agir com coerência, pois assim “obteremos os frutos do Espírito Santo, percebendo, por meio de nossa realização, a intervenção divina, que muitas vezes nos surpreenderá, alcançando muito mais do que humanamente esperávamos”. Incentivar para que ninguém desanime ao longo do caminho “Essa experiência espiritual de ver a assistência divina em nossas responsabilidades diárias nos permitirá reconhecer os benefícios do Espírito Santo nos outros e encorajar os membros de nossas comunidades para que, diante das dificuldades habituais, como bons discípulos, não desanimem ao longo do caminho”, enfatizou o arcebispo da Cidade do México. Uma ação com a qual “ganharemos a liberdade espiritual para intervir por meio da correção fraterna, solidária e sincera de nossos vizinhos que precisam de ajuda”, com a qual “nos desenvolveremos como pessoas confiantes no Senhor Jesus, que sabem como não se deixar guiar por critérios mundanos, e seremos felizes, não duvidemos, como uma árvore plantada junto ao rio da graça, que dá frutos em seu tempo e nunca murcha”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

O Sínodo discute a substituição das conferências episcopais por estruturas sinodais

O papel dos teólogos ganhou importância na Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre Sinodalidade. Alguns deles, como o coordenador desse grupo, Dario Vitale, o canonista espanhol José San José Prisco, a teóloga romena Klára Antonia Csiszar e o teólogo australiano Ormond Rush, compartilharam suas reflexões na coletiva de imprensa de 16 de outubro. Papel das Conferências Episcopais Sobre o que foi desenvolvido na Sala Sinodal, o prefeito do Dicastério para a Comunicação, Paolo Ruffini, destacou que na Igreja, desde o início, sempre houve uma relação estreita com o território. Ele também refletiu sobre o mundo digital e seus perigos, a necessidade de as paróquias serem lugares de encontro, a necessidade de ser criativo para fortalecer a presença da Igreja em mais áreas, algumas questões relacionadas às conferências episcopais, também em nível continental, o compromisso de preservar a unidade da Igreja, o ministério do Papa a serviço da unidade e a descoberta do interior do coração humano como o primeiro lugar. Esses elementos também estiveram presentes nas palavras da secretária da Comissão de Comunicação, Sheila Pires. Ao falar sobre a unidade da Igreja, a assembleia discutiu a atribuição de competências doutrinárias às conferências episcopais e o perigo de fragmentação da Igreja. Da mesma forma, a necessidade de a Igreja ser um testemunho de evangelização para a cultura, refletindo sobre a diferença entre o depósito e a formulação da fé. A Assembleia Sinodal falou sobre a possibilidade de substituir as conferências episcopais por outras estruturas sinodais. Ele também relatou a insistência em considerar cada lugar como uma terra de missão e a importância de se coordenar com Roma antes de tomar decisões. Por fim, Pires enfatizou a importância das pequenas comunidades de base, “que podem contribuir para tornar a paróquia mais viva e dinâmica”, e a necessidade de se adaptar às mudanças culturais e digitais. Um texto para vislumbrar caminhos Para o coordenador dos teólogos, o trabalho deles no atual sínodo é diferente do de outros sínodos. Dario Vitali destacou o fato de os teólogos terem se envolvido em todas as fases do processo e a importância dos grupos linguísticos, onde são captadas as orientações e os consensos para discernir, buscando convergências e pontos que geram mais debate. Para o teólogo italiano, o elemento decisivo é o consenso, que é alcançado ouvindo o Espírito depois de ouvir os outros. A partir daí, se buscará um texto coerente que nos ajude a vislumbrar o caminho a seguir pela Igreja. Caminho comum de canonistas e teólogos José San José Prisco destacou o trabalho conjunto entre canonistas e teólogos, algo que não era normal há muito tempo, dado o caminho paralelo entre a Teologia e o Direito Canônico ao longo da história. O canonista espanhol destacou a necessidade mútua, pois “os canonistas se dedicam a compreender melhor a norma canônica e sua possível aplicação ou mudança para o momento atual”. Nesse sentido, sua tarefa é acompanhar os pedidos do Sínodo para possíveis mudanças em relação à legislação, para descobrir entre os pedidos as possibilidades de mudança que poderiam melhorar a legislação atual, uma função que é muito complementar à dos teólogos. Um par de óculos para vislumbrar o que Deus pede de nós Reconhecendo a participação no Sínodo como um espaço para o aprendizado conjunto, Klara Antonia Csiszár reconheceu que se abriu um espaço para a teologia no Sínodo, no qual eles querem fazer uma contribuição no estilo sinodal. Os temas dos fóruns são vistos pela teóloga romena como uma orientação diante dos obstáculos. Destacou que se percebe um certo cansaço, desafiando o que chamou de melodia básica, a teologia do Povo de Deus, que deve ser percebido como sujeito da missão. Nessa perspectiva, refletiu sobre o papel dos bispos na Igreja sinodal e na primazia papal, bem como sobre o desafio de fazer da sinodalidade uma prática cotidiana. Para esse fim, ela nos convidou a “colocar novos óculos para pedir um vislumbre do que Deus está pedindo de nós“. Junto com isso, o papel dos teólogos é “fazer a nossa parte para ajudar o nascimento de uma Igreja sinodal”. Aplicar o Evangelho no tempo e no espaço de hoje Esse Sínodo nos leva a entrar em um processo que faz parte da tradição viva da Igreja, ouvindo a fé viva do povo de Deus, enfatizou Ormond Rush. O papel do teólogo é ajudar as comunidades cristãs a interpretar e aplicar o Evangelho no tempo e no espaço, para levar o Evangelho a todos, algo revelado por Jesus, afirmando que o Espírito Santo nos conduzirá ao futuro. O teólogo australiano enfatizou a importância de ouvir o sensus fidei a fim de chegar a um acordo, para ver como a figura de Jesus ainda é relevante hoje. Com esse objetivo, a teologia constrói pontes, vendo o Vaticano II como um instrumento para ver a história de uma maneira diferente. Nesse sentido, Rush lembrou que as perspectivas mudam ao longo da história da Igreja, o que torna necessário entender os sinais dos tempos, que podem fornecer uma nova visão de Deus. Novas respostas são necessárias, porque as respostas antigas impedem a Igreja de proclamar de uma forma que a mensagem possa ser compreendida, de uma forma que seja empática e misericordiosa. Nesse caminho, os teólogos são chamados a ajudar a Igreja a seguir a Tradição, um papel que estão desempenhando no atual processo sinodal. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Assembleia Sinodal vislumbra lugares de pouso

Há quase um ano, em 20 de outubro de 2023, durante a Primeira Sessão do Sínodo sobre a Sinodalidade, escrevi que “se o Sínodo não for concreto, não aterrissar, corre o risco de cair“. Houve aqueles que não entenderam o texto, mas eu gostaria de pensar que eles só ficaram manchete, que eles leram o texto, para não pensar que não tiveram a capacidade de entender o conteúdo. As mulheres conduzem ao concreto Um ano depois, já na segunda metade de um play-off de ida e volta, usando parâmetros futebolísticos, podemos dizer que a Assembleia Sinodal, em sua Segunda Sessão, está encontrando lugares, pistas de pouso. É um sentimento que se percebe ao conversar com os membros da Assembleia, especialmente neste módulo sobre lugares. Uma das mulheres membros da Assembleia me fez perceber seu papel decisivo para conseguir aterrissar, quando ela disse que “os homens geralmente ficam divagando, nós somos mais práticas, mais concretas“. Não estou voltando atrás na afirmação que fiz há alguns dias, quando disse que, em uma Igreja sinodal, o modo é superior ao conteúdo. Na realidade, a primeira grande pista de pouso é o próprio modo, pouco a pouco estamos aprendendo a colocar o avião no chão, embora fosse mais apropriado dizer o barco de Pedro, e falar em trazê-lo ao porto. Há um ano, questionei o fato de o avião estar voando constantemente, mas agora podemos dizer que, na Igreja, o tempo pertence a Deus, e é Ele quem controla o cronômetro, fazendo do chronos um Kairos, um tempo do Espírito. Escutar a voz do Espírito tem sido um bom plano de voo, que corajosamente traçou a rota a ser seguida, superando as turbulências, muitas delas criadas artificialmente por aqueles que insistem que o avião vai cair, que o barco de Francisco, que hoje dirige com maestria aquele em que Pedro já esteve ao leme, vai afundar. Destreza para pousar em cada contexto e cultura Também não podemos esquecer que nem todas as pistas são iguais; algumas exigem grande destreza por parte do piloto. Essas pistas têm a ver com contexto e cultura, lembrando que “a experiência do pluralismo das culturas e da fecundidade do encontro e do diálogo entre elas é uma condição da vida da Igreja, não uma ameaça à sua catolicidade”, como nos diz o Instrumentum Laboris para a Segunda Sessão da Assembleia. As pistas em que a sinodalidade deve aterrissar são as Igrejas locais, que, é verdade, fazem parte de uma Igreja que é católica, una e única, mas que têm suas especificidades. Um contraponto entre unidade e diversidade, guiado pelo Bispo de Roma, para assumir que juntos somos mais e que a diversidade só enriquece quando a unidade é o nosso foco, o que faz com que o plano de voo nos leve a alcançar o objetivo concreto, a pista de pouso. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1