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Dia: 19 de outubro de 2024

São José Allamano: a santidade vinda da periferia

O fundador dos Institutos dos Missionários da Consolata e das Irmãs Missionárias da Consolata, o Beato José Allamano, será canonizado no Dia Mundial das Missões, em um Sínodo que tem a missão como foco da Segunda Sessão de sua Assembleia Sinodal, e após o reconhecimento de um milagre ocorrido em uma missão que mostra o valor da interculturalidade na proclamação do Evangelho, a Missão Catrimani. Uma missão para cuidar da vida Nesse lugar, no meio da selva amazônica, perto da fronteira entre o Brasil e a Venezuela, a Consolata chegou em 1965, para realizar uma missão diferente, que tinha como objetivo fundamental cuidar da vida de um dos povos mais numerosos e sofridos da Amazônia brasileira, o povo Yanomami, eternamente ameaçado e hoje morrendo lentamente em consequência dos ultrajes realizados pela mineração ilegal, que polui seus rios e os explora de várias maneiras. Se alguém defendeu e cuidou dos Yanomami da região de Catrimani, foram os missionários e missionárias da Consolata. Eles o fizeram por meio de um modelo de missão baseado no respeito e no diálogo, que se traduz em ações concretas em defesa da vida, da cultura, do território e da floresta, da Casa Comum. Uma missão fundada no silêncio e no diálogo que gera laços de amizade e alianças na perspectiva do bem viver. Um bem e um privilégio para a Igreja de Roraima. Uma referência não apenas para aqueles que seguem a espiritualidade de Allamano, mas também para a Igreja de Roraima, representada na canonização por seu atual bispo, Dom Evaristo Spengler, por um de seus antecessores, Dom Roque Paloschi, e por Dom Raimundo Vanthuy Neto, bispo da diocese de São Gabriel da Cachoeira, a diocese mais indígena do Brasil, que até o início de 2024 era padre da diocese de Roraima e participou da fase diocesana do processo de canonização. Junto com eles, religiosos e religiosas, leigos e leigas, entre eles indígenas Yanomami, que com a presença dos Missionários e Missionárias da Consolata descobriram a riqueza da espiritualidade fundada pelo novo santo. A Missão Catrimani “tem sido um caminho extraordinário, um bem e um privilégio para a Igreja de Roraima”, como disse Dom Roque Paloschi quando era bispo de Roraima, que também insistia na necessidade de respeitar e compreender as diferenças das culturas indígenas. O Cardeal Steiner, arcebispo de Manaus e presidente do Conselho Indigenista Missionário, e o atual bispo de Roraima, Dom Evaristo Spengler, insistiram nisso na coletiva de imprensa que antecedeu a canonização. Uma atitude de cuidado que é motivo de gratidão para os povos indígenas da Terra Yanomami, como reconheceu um de seus líderes, Julio Ye’kwana, na Sala Stampa do Vaticano. De fato, o milagre pelo qual José Allamano será canonizado pode ser visto como uma expressão do trabalho realizado pela diocese de Roraima. Em 7 de fevereiro de 1996, o Beato Allamano intercedeu em favor do indígena Yanomami Sorino, que vivia na Missão Catrimani. A cura milagrosa do indígena, em uma época em que a medicina tradicional e a ciência médica só podiam esperar sua morte, depois de ter sido atacado por uma onça, que abriu seu crânio, foi fruto da oração fervorosa das Irmãs Missionárias da Consolata, pedindo a intercessão de seu fundador, o Beato José Allamano, no primeiro dia da novena dedicada a ele. Uma recuperação milagrosa fruto da oração Após as orações das irmãs, o indígena Sorino teve uma recuperação milagrosa e vive até hoje na comunidade indígena. A diocese de Roraima iniciou o processo diocesano em 2021, e o Dicastério para as Causas dos Santos o concluiu em 23 de maio de 2024, aprovando o decreto de reconhecimento do milagre. É, sem dúvida, uma confirmação da escolha feita pelos Missionários e Missionárias da Consolata por esse tipo de missão, nem sempre compreendida e até rejeitada por alguns católicos. No atual processo sinodal, que tem debatido o tema da relação com outras culturas e religiões como forma de realizar a missão, o que aconteceu no processo de canonização do novo santo, fundador de dois institutos com um claro caráter missionário, pode ser visto como algo que mostra que a fecundidade do anúncio do Evangelho alcança frutos inesperados. Que São José Allamano continue a interceder pelos Yanomami e por todos os povos indígenas, tantas vezes vistos como gente da periferia, descartados por uma sociedade que coloca o lucro acima da vida das pessoas. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

O milagre de canonização de Allamano, “nos indica onde nós devemos estar, junto dos pobres”

A Praça de São Pedro acolherá neste 20 de outubro, Domingo Mundial das Missões, no tempo em que é realizada a Segunda Sessão do Sínodo sobre a Sinodalidade, que tem como desafio ser uma Igreja sinodal em missão, a canonização de 13 novos santos, dentre eles José Allamano, fundador dos Missionários e Missionárias da Consolata. Deus se manifesta em quem achamos não participa da nossa fé O milagre reconhecido para a canonização de Allamano acontece na Amazônia, com Sorino Yanomami, um indígena da Missão Catrimani, onde o carisma da Consolata está presente desde 1965. Que o milagre tenha acontecido desse modo, “tem um significado muito importante, é para nós uma imensa alegria e satisfação”, segundo o cardeal Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus e presidente do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e do Conselho Indigenista Missionário (CIMI). Em encontro com jornalistas na Sala Stampa vaticana, o cardeal Steiner lembrou que “talvez hoje o povo Yanomami seja o povo indígena mais sofrido no Brasil”. Um exemplo disso foram as dificuldades enormes enfrentadas no ano passado, quando mais de 500 crianças faleceram. Naquela ocasião, ele foi em Boa Vista, a capital do Estado de Roraima para verificar a situação e levar uma palavra do Santo Padre. O arcebispo de Manaus refletiu sobre o fato de o milagre ter acontecido no meio a um povo que a maioria não pratica a religião católica. Isso significa que “ali Deus está presente e se manifesta, se manifesta em alguém que nós achamos que não participa da nossa fé”, afirmou. Ele acrescentou que “nós somos muito agradecidos por Deus iluminar as nossas vidas com esse milagre e nos indicar o caminho onde nós devemos estar e com quem nós queremos estar. Se estivermos junto dos pobres, dos mais necessitados, estaremos no melhor lugar”. Agradecidos pela presença missionária da Consolata Para os Yanomamis a presença dos Missionários e Missionárias da Consolata no meio deles, é de grande importância e motivo de agradecimento, segundo testemunhou Júlio Ye’kwana, liderança indígena da Terra Yanomami, que relatou a realidade local, denunciando o sofrimento diante das graves consequências do garimpo ilegal e pelo Marco Temporal, que os povos indígenas do brasil estão enfrentando, diante do que consideram inconstitucional, “algo feio, um absurdo”. Diante dessa situação, ele pediu o apoio internacional para os moradores originários do Brasil. Uma diocese que fez opção pelos indígenas “A Igreja de Roraima fez uma histórica opção pelos povos indígenas, e isso lhe rendeu muitas ameaças e perseguições ao longo da história”, afirmou o bispo, dom Evaristo Spengler. Ele relatou a história da Igreja local, que desde o início percebeu a realidade dos povos indígenas, considerados propriedade pelos fazendeiros da região, eles eram marcados com o mesmo ferro do gado. Uma situação denunciada pelos missionários beneditinos, diante da qual eles sofreram ameaças físicas, tendo que se refugiar no meio dos povos indígenas. Desde 1948 estão presentes na diocese de Roraima os Missionários e as Missionárias da Consolata, que “continuaram e aprofundaram ainda mais essa opção pelos povos indígenas”, que haviam perdido as terras e a identidade, a língua e a cultura indígena, sublinhou o bispo. Diante disso, os Missionários da Consolata iniciaram um processo de resgate da cultura, da língua, da identidade e das terras, promovendo diversos projetos, uma dinâmica perpetuada ao longo dos anos. Dom Evaristo Spengler denunciou a grande e grave invasão dos garimpeiros, com forte apoio político e económico, da Terra Indígena Yanomami. Junto com isso, chegou o tráfico de armas, de drogas, a exploração sexual das mulheres indígenas, a destruição da floresta e contaminação dos rios, que teve como consequência a destruição do povo Yanomami, aumentando a mortalidade de crianças por causas evitáveis, por falta de cuidados. O bispo lembrou que nos últimos anos a Igreja de Roraima fez opção pelos migrantes, mais de um milhão nos últimos anos. Finalmente, dom Evaristo Spengler disse que “o milagre que aconteceu com o indígena Sorino Yanomami no dia 7 de fevereiro de 1996, livrando-o da morte por intercessão do beato José Allamano, foi um sinal de Deus, foi uma confirmação de que a missão da Igreja está do lado dos mais pobres, dos mais fracos, dos vulneráveis da sociedade, e que é por aí que passa o Reino de Deus”, concluiu. O coração aberto ao mundo A superiora das Missionárias da Consolata, Ir. Lucia Bortolomasi, destacou que o novo santo fundou uma congregação “com o coração aberto ao mundo”, para levar o Evangelho, a salvação, a consolação ao povo que não conheceu o Evangelho de Jesus Cristo”. A canonização leva a “descobrir a beleza desse carisma”, e assim “viver a santidade com o estilo de nosso fundador, um estilo simples, humilde, próximo do povo”, alguém que sempre dizia: “coragem e adiante”. Ao lado de quem habita as periferias O superior geral dos Missionários da Consolata, padre James Bhola Lengarin, destacou o testemunho sobre o povo Yanomami como “um momento de graça”, que desafia a ter o coração atento aos outros, àqueles que habitam as periferias do mundo, que são descartados pela nossa sociedade doente e sem valores. O superior destacou que Allamano enviou em missão não só padres, mas também leigos, para testemunhar a Palavra de Deus. Isso desafia a ir adiante, entregando a vida, sendo sinal de esperança para a humanidade.  Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Papa Francisco recebe mulheres e leigos do Sínodo, pouco ouvidos na história da Igreja

O Papa que gosta de escutar se reuniu neste sábado com dois grupos aos quais, ao longo da história, a Igreja não deu muita atenção: as mulheres e os leigos. Dois grupos representados nesta ocasião por aqueles que participam de várias maneiras da Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, que está sendo realizada na Sala Paulo VI, no Vaticano. As mulheres e os leigos hoje têm voz e voto A iniciativa, promovida por eles mesmos, foi aceita pelo Santo Padre. O atual pontificado deu passos em relação às mulheres e aos leigos, cada um os qualificará à sua maneira, porque as avaliações pessoais são sempre diferentes. Ninguém pode negar que, por exemplo, no Sínodo, as mulheres e os leigos agora têm voz e voto, o que é um sinal de alegria para eles, já que lhes foi dada a oportunidade de participar do processo de discernimento, uma dinâmica de grande importância na Igreja de hoje. É a própria Igreja que ganha com essa proximidade, pois as redes entre as várias vocações, ministérios e serviços são fortalecidas. Se quisermos que a missão da Igreja, o anúncio do Evangelho, a construção do Reino de Deus esteja presente entre nós, o batismo deve ser o ponto de partida, o Povo de Deus como um todo deve assumir esse chamado de Jesus aos seus discípulos. A escuta é de grande valor para Francisco No Sala Sinodal, nas mesas redondas, a presença de leigos e mulheres foi de grande importância. São eles que melhor conhecem a vida cotidiana da Igreja nas bases, os detalhes da missão diária. Escutar isso é algo de grande valor para o atual pontífice, porque é uma oportunidade de se aproximar do sensus fidei fidelium, o senso de fé dos fiéis, de todo o povo de Deus. O conteúdo das conversas mantidas durante a audiência não foi revelado, mas não há dúvida de que deve ter sido um momento de graça, um tempo de Deus para muitas pessoas, que terão descoberto nos poucos minutos ao lado do Santo Padre uma inspiração, uma forte motivação, não apenas em suas palavras, mas sobretudo em suas atitudes, em sua abertura para ouvir, o que o leva a chegar mais cedo às sessões do Sínodo e a sentar-se para atender à longa fila que se forma, na qual obviamente há espaço para mulheres e leigos. Uma reunião de vozes para uma Igreja sinodal e missionária De fato, alguém que participou da reunião afirma que “foi significativo ouvir as mulheres dos diferentes continentes, essa soma de vozes e sensibilidades unidas no desejo de ser uma Igreja sinodal e missionária. Todas tão diferentes e tão dispostas a caminhar juntas, a abrir portas, a comunicar a Boa Nova. É uma alegria sentir que somos irmãs”. Na Igreja de Francisco há espaço para todos, e todos são ouvidos, todos, todos, mesmo aqueles a quem a Igreja, ao longo de sua história, fez ouvidos moucos. Na Igreja sinodal, haverá muitas mulheres e muitos leigos que continuarão a trabalhar para avançar, para que esse modo de ser Igreja se estabeleça na base, nas comunidades, onde muitas vezes, mesmo que alguns queiram silenciá-los, eles continuam a testemunhar com suas palavras e seu modo de vida que vale a pena levar a Boa Nova até os confins da terra. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1