Cardeal Steiner: “Palavra pequena, criança de Belém, que o vosso choro nos desperte da nossa indiferença, abra os olhos perante quem sofre”
Citando o texto do Evangelho da Missa do Dia de Natal, o Prólogo de São João: “No princípio era a Palavra e a Palavra estava em Deus e a Palavra era Deus”, iniciou o arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Steiner, sua homilia, afirmando que “agora a Palavra se fez carne e habita entre nós”, e que “é o que celebramos no dia do Natal.” Segundo ele, “Na liturgia recordamos que a Palavra que tudo criara veio morar no meio de nós, se fez nossa Palavra e na nossa Palavra nasceu a esperança para todos nós.” Ele citou a Carta aos Hebreus, proclamada na segunda leitura: “muitas vezes e de muitos modos Deus falou outrora a nossos pais pelos profetas, mas nesses dias Ele nos falou por meio do próprio Filho.” Diante do texto, o arcebispo disse: “Agora não mais anjos, agora não mais profetas, não mais patriarcas, Deus a nos ensinar e a proclamar Deus no meio de nós.”. Isso porque “Deus insiste e busca apaixonadamente o coração humano, buscou pela manifestação dos anjos, pela vida dos patriarcas, na voz dos profetas, mas não resistindo no desejo de falar ao nosso coração, nos fala hoje pelo Filho. Deus se fez Palavra. O próprio Filho é a Palavra, o Logos, a Palavra eterna que se fez pequena, tão pequena que cabe numa manjedoura. A palavra que se fez criança para que pudéssemos compreender Deus em Jesus.” Desde então, destacou o cardeal Steiner, “a palavra já não é apenas audível, não possui somente uma voz. Agora a palavra tem o rosto, e por isso mesmo podemos ver a criança de Belém, Jesus de Nazaré. Tornou-se tão palpável, tão visível, tão audível, que já não mais profetas, mas a própria palavra que se faz carne e habita entre nós. Deus que se tornou palpável, audível, visível em nossa humanidade. Ele se fez palavra encarnada, palavra dada, doada, cordial, gratuita, uma verdadeira entrega de amor. Manifestou-se no silêncio de uma noite, ali no recolhimento, no acolhimento, na aceitação, Deus se tornou visível no meio de nós.” Verdadeiramente, refletiu o presidente do Regional Norte1, “a palavra carne da nossa carne, ossos dos nossos ossos, sangue do nosso sangue, é uma manifestação do amor livre e gratuito de Deus no nosso meio. Essa é a palavra que está no início de tudo, no início da nossa vida, no início da nossa fé, o sentido do nosso amor. O de vivermos como igreja, de formarmos comunidade, de sermos uma família. A palavra que tudo funda e tudo dá sentido. A palavra que cria e recria todas as coisas. A palavra que dá sentido até a morte. Dá sentido porque ela agora é a esperança. Ela é a nossa samaritanidade. é a medida da nossa justiça, da nossa solidariedade. É o sentido de sermos Igreja, comunidade de fé.” Segundo o cardeal Steiner, “ela que abre um novo céu e uma nova terra. Ela, a palavra, é o nosso céu e a nossa terra. Pois quando lemos a palavra nos recordamos de Jesus. E em Jesus vamos descobrindo as belezas da nossa fé, da nossa vida. E ali vamos descobrindo a grandeza do reino de Deus. O reino da verdade e da graça, o reino da justiça, do amor e da paz. A palavra, a palavra que se fez carne e habita entre nós.” Na segunda leitura, ele disse que “é iluminar a grandeza da palavra que é Jesus”, sublinhando que “não estremece, invadido de santo temor e tremor o nosso coração diante da beleza do extraordinário desta palavra feita criança.” Ele citou São Gregório de Nazianzeno, que diz: “depois daquela tênue luz da lâmpada do precursor, veio a luz claríssima de Cristo. Depois da voz veio a palavra, depois do amigo, do esposo, veio esposo, uma palavra, disse o arcebispo, “tão audível, tão visível, tão dizível, tão próxima, tão audiente, tão convincente, Jesus na criança de Belém.” Ele enfatizou que “a palavra continua a ser carne na carne sofredora de Jesus de hoje. Ela se encarna na palavra que é escutada, na palavra silêncio, na palavra consolo, na palavra prece, feita oração, na palavra partilha, na palavra consorte, na palavra amorosa, na palavra que serve. Ela se encarna na palavra gesto, no pão repartido, no alimento oferecido, no revestimento da alma, no sofrer, reveste as pessoas na nudez do seu não bem querer. A palavra encarnada que vai se encarnando cada vez mais na medida em que nós vamos vivendo da palavra que é Jesus. Se a palavra está no princípio, é o princípio, o principiar, comecemos então a confiar cada vez mais em Deus.” Em palavras do arcebispo de Manaus, “ele está nos visitando, muitas vezes nos visita, mas às vezes é irreconhecível nas nossas cidades, nos nossos bairros. Ele também está preso nas nossas cadeias, Ele está dormindo nas ruas das nossas cidades, Ele bate as nossas portas, Ele nos busca no perdão, na misericórdia. Ele está presente nos assassinos, presente nos grupos armados, nas facções, Ele está presente nos traficantes, apesar de pensarmos que não, porque todos, mesmo na decadência humana, continuam a ser filhos e filhas de Deus.” O arcebispo questionou, “como anunciamos a palavra Jesus a esses irmãos e irmãs perdidos pelos caminhos?”, enfatizando que “Deus Jesus presente em todas as realidades humanas, também as mais deprimentes, as mais desconcertantes. A palavra Jesus, o nascido de Maria, Deus encarnado, a indicar que tudo foi feito para o nosso bem, apesar de tantos não viverem da paz, mas da violência, não viverem da concórdia, mas da agressão, não viverem da fraternidade, mas viverem da morte.” Diante disso, “somos, no entanto, no nascer de Jesus, a verdade que deve ser reafirmada”, ressaltou o cardeal Steiner. “A todos deu a capacidade de se tornarem filhos de Deus. Igualmente ele veio para iluminar a todo ser humano. Deus não desiste de nós, não desiste de ninguém. Deus não desiste de nenhum de nós. Por mais distantes que sejamos, por mais pecadores que sejamos, mesmo por sermos…
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