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Dia: 6 de março de 2025

Diocese de Roraima apresenta a Campanha da Fraternidade: “A mudança começa nas nossas comunidades”

  Foto: Rádio Monte Roraima No início da quaresma, um tempo em que a Igreja “nos chama à conversão, à mudança de vida, a voltar ao evangelho, a voltar àquele projeto de Deus em nossa vida e na nossa sociedade”, segundo salientava dom Evaristo Spengler, a diocese de Roraima apresentou à imprensa a Campanha da Fraternidade 2025. O bispo ressaltou que “essa conversão não basta ser individual, é necessário também uma conversão comunitária, uma conversão social e que produza frutos.”  Nessa tessitura se coloca a Campanha da Fraternidade, que em 2025 tem como tema: “Fraternidade e Ecologia integral”, e como lema “Deus viu que tudo era muito bom”. Diante disso, o bispo questionou: “como é que Deus está enxergando o mundo hoje, vendo tanta destruição, tanta contaminação, tanta pobreza, Deus ainda aplaudiria que tudo está muito bom?”, vendo a Campanha da Fraternidade como instrumento que quer fazer esse questionamento: “o que nós estamos fazendo com a criação que Deus nos delegou?” Ele insistiu na necessidade do ser humano cuidar da Criação, zelar por ela. Segundo o bispo, “a Criação não é só o ser humano, não é só o homem e a mulher”, recordando que a Campanha da Fraternidade deste ano está determinada pela realização da COP30 em Belém do Pará, os 10 anos do lançamento da encíclica Laudato Si e os 800 anos do Cântico das Criaturas de São Francisco de Assis. Uma campanha que quer ajudar-nos a descobrir as causas da atual crise climática, que em grande parte vem da ação humana, relatando diversos exemplos disso na diocese de Roraima: desmatamento acelerado, criação extensiva de gado, monocultivo. Algo que prejudica claramente o lavrado, uma terra fraca para o cultivo, que acaba com a biodiversidade e pode desertificar a região. Igualmente refletiu sobre o garimpo e a ameaça de uma grande hidroelétrica. O bispo denunciou a pressão do poder económico com relação à COP30, pedindo uma legislação que cada vez mais tem que se adequar à preservação e não à destruição. Junto com isso a necessidade de conscientização de cada cristão e cada cidadão, de evitar o consumo desenfreado, de uma mudança de mentalidade e de prática, de ação para no avançar caminho a um grande desastre. A Campanha da Fraternidade tem como um dos seus instrumentos de reflexão o Texto Base, elaborado por uma equipe, da qual fez parte a professora da Universidade Federal de Roraima, Marcia de Oliveira, que foi perita no Sínodo para a Amazônia. Ela levou para a reflexão da equipe as questões centrais da Amazônia, destacando no Texto Base o chamado ao bem viver como proposta alternativa a esse modelo capitalista que tem causado essa crise climática sem precedência na história da humanidade. Nessa perspectiva, foram inseridas no texto diversas experiências exitosas que garantem que “as regiões ou os territórios ocupados pelos povos indígenas são territórios de grande preservação, são territórios de convivência, são territórios que estabelecem aqueles princípios da casa comum apresentados pelo Papa Francisco na encíclica Laudato Si e eles representam para nós um grande modelo de vida, um grande modelo de ecologia integral”, enfatizou a professora. Marcia de Oliveira destacou a importância do tempo quaresmal como “um tempo de escuta, de reflexão, de conversão”, insistindo em que “eu não posso me converter se eu não reconheço onde é que eu estou falhando, onde é que eu estou interrompendo processos de participação e de vivência.” Nesse sentido, ela vê a necessidade de processos de revisão da nossa vida diante da questão ecológica, vendo a Campanha da Fraternidade como “um grande convite a revermos de forma muito profunda a nossa relação com a natureza e entrarmos num processo de conversão ecológica.” Foto: Rádio Monte Roraima Com relação à COP 30, a professora denunciou que as COPs têm sido convertido em espaços de negociação da natureza, mostrando a necessidade de levar adiante “uma proposta de mobilização de toda a igreja do Brasil para, durante o processo de preparação e realização da COP, como sociedade, como organizações da sociedade civil, a gente estabelecer outras reflexões e estabelecer outras alternativas, outros mundos possíveis.” Por sua vez, o vigário episcopal para a Pastoral da diocese de Roraima, padre Celso dos Santos, insistiu em que a Campanha da Fraternidade está dentro do processo quaresmal, destacando o método do Texto Base, que parte da necessidade de olhar a realidade, da situação que se vive, marcada por uma crise civilizatória com muito impacto na questão ambiental. Desde aí procurar como Igreja parâmetros para nos orientar, a partir da fé, da Palavra de Deus, da Tradição da Igreja, tendo em conta que “a casa comum tem seus limites e nós já estamos quase que ultrapassando esses limites”, o que tem que nos levar a nos questionar: “Qual é a nossa responsabilidade de cristãos e de cristãs para com esta realidade?”, disse o padre Celso. Uma reflexão que tem que nos levar a “um novo agir, um agir com responsabilidade”. Nesse sentido, o vigário de Pastoral destacou que “é importante que neste tempo de quaresma, onde todas as nossas comunidades se reúnem, celebram, possam de fato viver a sua fé no chão que estão inseridas. A mudança começa, claro, nas nossas comunidades. Mas isso também exige que nós lutemos por políticas que de fato mudem essa relação predatória com a terra, com o meio ambiente.” Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Deixar atrás o individualismo e nos convertermos ao cuidado

Na ressaca do Oscar, do carnaval e de tantas outras situações que nos envolvem iniciamos o Tempo da Quaresma, mais uma oportunidade para reforçar uma atitude que sempre deve estar presente em nossa vida: a conversão. Em 2025, o Papa Francisco nos faz um chamado a nos convertermos à esperança e à sinodalidade, e a Igreja do Brasil nos lembra a necessidade da conversão ecológica. A conversão é bem mais do que uma atitude pessoal, ela tem a ver com a dimensão comunitária, social, algo que faz parte da condição humana. Com o decorrer do tempo, o individualismo tem tomado conta da vida de muita gente, também do modo de viver a religião. Somos individualistas até na hora de fazer os nossos pedidos para Deus, esquecendo que Ele é comunidade e reduzindo o próprio ser de Deus, de quem muita gente quer a exclusividade, esquecendo que sua capacidade de amar é infinita, é para todos. Ser comunidade, vivenciar a sinodalidade, caminhar juntos, são atitudes que se pretendem opacar, colocando a individualidade como aquilo a ser mostrado acima de tudo. Muita gente esquece que juntos somos mais e que nos abrirmos aos outros nos enriquece, pois é na diversidade que cada um de nós descobre caminhos de crescimento, também naquilo que tem a ver com Deus, um Dios que é Trindade, comunidade de amor. Cada vez nos deparamos com mais pessoas com dificuldade para escutar, para se abrir à palavra dos outros. Os preconceitos dominam o pensamento das pessoas, impedem se abrir à possibilidade de crescer com aqueles que nos aportam novos conhecimentos, novas propostas, perspectivas diferentes. Não podemos ter medo da diversidade, pois nossa capacidade crítica nos oferece a possibilidade de encontrar no outro aquilo que nos ajuda a crescer. Uma falta de interesse pelos outros que também está presente com relação a nossa casa comum. O descaso para com o Planeta é uma atitude assumida por muitas pessoas, também por muitos que de diversos modos têm conseguido se colocar à frente dos governos, tendo em suas mãos a possibilidade de decidir com relação a questões que podem atingir gravemente o futuro da humanidade e do Planeta Terra. O negacionismo climático, a renúncia a abrir mão de todo tipo de comodidade, querer disfrutar de comodidades que colocam em risco o meio ambiente, são posicionamentos cada vez mais presentes. Muita gente faz ouvidos surdos diante do grito da Terra, um grito que ressoa nos mais pobres, dado que eles são as vítimas das mudanças climáticas, que cada vez mais provocam mais e maiores desastres naturais. Diante disso, qual é a nossa esperança? Temos motivos para continuar esperando, para continuar acreditando na vida, para continuar acreditando na humanidade? Vamos a nos deixar dominar por pequenos grupos que pretendem estabelecer um pensamento que busca seu benefício exclusivo às costas daqueles que defendem a vida para todos que Deus oferece? É tempo de esperança, de fé, de praticar a caridade, de entender o modo de Deus, que é o cuidado, a escuta, a comunhão. A Quaresma tem que nos levar a sair de nós, a assumir a dinâmica de Deus e assim experimentar que sua proposta sempre é válida e faz realidade seu Reino e a possibilidade de viver em Ressurreição, de viver para sempre. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1 – Editorial Rádio Rio Mar