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Dia: 25 de abril de 2025

Cardeal Steiner agradece no velório do Papa por “nos despertar para com o cuidado para com a Amazônia”

Uma mistura de sentimentos está presente no coração passando diante do corpo daquele que tem sido uma luz para a humanidade e para a grande maioria dos 1,4 bilhão de católicos do mundo nos últimos 12 anos, embora a multidão de pessoas presentes exija que isso seja feito rapidamente. Reconhecimento de todo o mundo O velório de Papa Francisco, que será sepultado neste sábado na Basílica de Santa Maria Maggiore, após o funeral na Praça de São Pedro, é um sinal de reconhecimento por parte das pessoas de todo o mundo. Mas também pelas mais de 200 delegações oficiais que viajaram a Roma para mostrar suas condolências. De uma dessas periferias veio o arcebispo de Manaus, o cardeal Leonardo Ulrich Steiner. A Amazônia sempre ocupou um lugar especial no coração do último pontífice. Lembro-me da última vez que tive a oportunidade de cumprimentá-lo brevemente, quando lhe contei que minha missão era ser pároco na Área Missionária de San José do Rio Negro, na arquidiocese de Manaus, composta por 26 comunidades indígenas e ribeirinhas. Francisco respondeu: “Que missão linda!” Muito a agradecer a Papa Francisco Um carinho que também está presente naqueles que vivem nessas e em tantas outras comunidades Amazônia afora, que pediram nesses dias que eu também levasse suas vidas para o velório do Papa. Um sentimento de gratidão que o Cardeal Steiner trouxe para Roma. Logo após rezar diante do caixão de Francisco, instalado na Basílica de São Pedro, o presidente do Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB Norte 1) ressaltou que “nós da Amazônia temos muito a agradecer a Papa Francisco por de novo trazer a Amazônia para a discussão, mas especialmente nos despertar para com o cuidado para com a Amazônia”. O arcebispo de Manaus ressaltou que “não só a região amazônica, mas os povos que ali vivem, as culturas”. Segundo o Cardeal Steiner, “tudo isso nós somos muito gratos ao Papa Francisco por nos ter ajudado a repensar e ajudar a incentivar as nossas comunidades a viverem a sua fé nessa realidade da Amazônia”, concluindo suas breves palavras com um “muito obrigado, Papa Francisco”. O Cardeal Steiner é alguém profundamente alinhado com o Magistério do Papa Francisco, tendo promovido de várias maneiras a sinodalidade, o cuidado com os pobres, especialmente a população em situação de rua, o cuidado com a casa comum, o protagonismo das mulheres e a defesa dos povos indígenas. Soma-se a isso sua grande devoção, como franciscano, a Francisco de Assis, incentivando constantemente a descoberta da presença de Deus em todas as criaturas, sentimento presente no conceito de ecologia integral, promovido pelo Papa argentino. Gratidão do povo brasileiro Esse sentimento de gratidão a Francisco também está muito presente nos dias de hoje entre o povo brasileiro. Ele é um Papa muito querido no Brasil, a ponto de, em uma ocasião, um cardeal brasileiro ter dito a Papa Francisco que ele havia conseguido realizar um milagre durante sua vida, que os brasileiros gostassem de um argentino, fazendo o Papa dar uma gargalhada. Uma grande delegação do governo brasileiro prestou suas condolências diante do caixão do Papa, encabeçada pelo presidente Lula, um admirador declarado do pontífice, sua esposa Janja, os presidentes do Congresso, do Senado, do Supremo Tribunal Federal, ministros, parlamentares e a ex-presidente Dilma, que admitiu, como também era visível em Lula, que estava abalada com a morte de Francisco.

Francisco

Franciscus. O desejo expresso em seu testamento é a forma como ele deseja ser lembrado: “O túmulo deve ser no chão; simples, sem decoração especial e com uma única inscrição: Franciscus.” Essa escolha contrasta fortemente com nossa cultura, que, para fazer memória e marcar o espaço-tempo, recorre a monumentos, símbolos, placas e que, nas lápides, encontramos o nome completo, com data de nascimento e morte, alguma citação marcante, muitas vezes de origem duvidosa. Francisco escolheu uma única inscrição. E ele tem razão. Todo o resto é acessório. Talvez essa escolha radical nos questione sobre a própria natureza da memória. Ser lembrado por um nome, não seria a forma mais pura de perpetuar uma essência, livre das camadas de interpretação e dos adornos da história? Esse é o nome que ele escolheu para se apresentar diante de Deus. Não precisará de nenhuma alcunha ou complemento, nem de nenhuma carta de recomendação ou currículo. Não terá que comprovar experiência laboral. Será conhecido e reconhecido por ser Francisco. E nada mais. Despojar-se para permanecer a identidade. Ser reconhecido pela pura ressonância do nome, sem os títulos que o mundo lhe conferiu. O lugar do seu descanso terreno ficará no chão, pois teve os seus pés fincados no concreto da vida e nos ensinou que, para ser pastor de verdade, não se pode afastar da realidade. É o “pastor com cheiro de ovelhas”. Será simples e sem decoração especial, como ele, que continuou usando o mesmo sapato, o seu anel de bispo e a batina branca, por vezes com as mangas rotas. Não buscar erguer-se sequer na morte para subverter a lógica de ascensão e o desejo de poder. Li, especialmente nos últimos dias, muitos títulos dados a Francisco: o misericordioso, o de todos, o da paz, o da esperança e tantos outros. Concordo com todos eles. Estas são apenas facetas de um homem poliédrico; por isso, bastará Francisco. Não precisaremos mais distinguir Francisco de Assis e de Roma, como muitas vezes fizemos em alusão ao santo que o inspirou na escolha do nome. Não precisaremos fazer distinção, tampouco justificar, pois ele mostrou no corpo e no coração, nos gestos e nas palavras, que ele é Francisco. O seu semblante no domingo de Páscoa era o de um pastor mártir, tal como os antigos pastores, que selavam com a própria vida o cuidado do rebanho. As palavras de agradecimento ao seu enfermeiro pessoal foram sinceras e cheias de sentido. A gratidão pela última ida à Praça e seu último passeio no meio do povo eram o que faltava para viver a sua Páscoa. Nesse gesto derradeiro de encontro com o povo a essência de sua missão: um amor concreto e palpável pela humanidade que ele pastoreou. Sua Páscoa pessoal se completa no abraço derradeiro à sua comunidade. Dos braços do povo para os braços do Criador. No entanto, essa mesma bússola evangélica que guiava seus passos e suas palavras o colocou, por vezes, na mira de olhares desconfiados e condenatórios. Sua obstinação em dar voz e vez aos que a sociedade silenciava – os pobres, os últimos da fila, os descartados pela lógica do mundo, aqueles a quem faltava até mesmo um abraço – foi interpretada por alguns como desvio ou como heresia. Incomodou. A Igreja de portas escancaradas, em saída, acolhendo quem estava nas margens, incomodava quem preferia muros e distinções. Acolher quem estava nas margens mostrando que a margem é o centro. Estou seguro de que, para muitos, a lembrança mais vívida não resida nos seus discursos, mas em detalhes singelos: o desgaste de seus sapatos pretos a percorrer os caminhos do mundo, a cruz simples que portava como único ornamento e que mostrava a centralidade do Cristo Bom Pastor, um gesto de acolhimento para com um necessitado, um aceno de esperança em meio à multidão, um sorriso que irradiava uma paz profunda. Se assim for, se forem esses fragmentos de sua humanidade e de sua fé a permanecer na memória coletiva, terá sido o suficiente. Nesses pequenos sinais, nessa linguagem silenciosa do amor e da humildade, muitos terão vislumbrado, de forma inequívoca, o seguimento radical e apaixonado de Francisco a Jesus. Talvez não haja outro Francisco. Nossa lógica mundana, que muitas vezes busca comparações ou continuadores da tarefa, pode ser quebrada com isso. Talvez ainda levemos um tempo para assimilar tudo o que se passou nestes 12 anos de um homem chamado Francisco, que buscou viver com coerência o Evangelho. Eu não tenho dúvidas de que Francisco não descansará nem na eternidade. Continuará o mesmo Francisco, sem o seu corpo mortal, mas incansável, intercedendo pela Igreja a qual tanto amou. Marcus Tullius