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Dia: 9 de maio de 2025

Cardeais brasileiros partilham sua experiência no Conclave e sua visão de Leão XIV

O Colégio Pio Brasileiro, um pedacinho do Brasil em Roma, segundo o arcebispo de Porto Alegre (RS) e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cardeal Jaime Spengler, acolheu o encontro dos cardeais brasileiros com a imprensa. Uma oportunidade para conhecer suas vivências no Conclave e nas congregações gerais prévias. Mais peruano do que norte-americano Uma experiência de diversidade, de partilha das expectativas de cada cardeal, em espírito de fraternidade, de fé, de oração e de diálogo fraterno, segundo o cardeal Spengler. Ele ressaltou a diversidade que faz parte do Papa Leão XIV e sua visão do mundo, difícil de encontrar em muitas pessoas. Dos cardeais eleitores presentes, não estava presente o cardeal João Braz de Aviz, o arcebispo de São Paulo (SP), cardeal Odilo Scherer, foi o único que participou do anterior conclave em 2013. O cardeal Scherer, que vê o novo Papa como alguém mais peruano do que norte-americano, destacou que o conclave é um momento de celebração, precedido de 12 dias de reflexão sobre a vida da Igreja e o perfil do Papa, em vista de se formar uma consciência, dada a responsabilidade enorme eu lhes foi encomendada. Um conclave rápido, enfatizou o arcebispo de Brasília (DF), cardeal Paulo Cesar Costa, que destacou o papel do Papa dentro da Igreja e o papel político, de diálogo com a sociedade, buscando ajudar com que o Evangelho e a Doutrina Social da Igreja possam iluminar as grandes questões que fazem parte da vida da humanidade. Elementos presentes nas congregações gerais, onde o arcebispo do Rio de Janeiro (RJ), cardeal Orani Tempesta, destacou a universalidade da Igreja, tendo visto o Conclave como oportunidade para ver como o Espírito Santo vai agindo. O povo de Deus presente O Conclave foi um momento em que os cardeais, que saíram da Capela Paulina invocando aos santos, sentiram a companhia de uma grande multidão, a presença da Igreja, segundo o arcebispo de Manaus (AM), cardeal Leonardo Steiner, que disse que “nós encontramos o Espírito Santo”. Algo que ajudou diante do pouco conhecimento entre os cardeais eleitores e que fez perceber as possibilidades, “pensando a Igreja que está no mundo inteiro, pensando na diversidade de culturas”. O arcebispo de Manaus destacou a importância da oração de tantas pessoas que rezaram pelo Conclave, sentir a companhia do povo de Deus. Ele agradeceu a Deus “pelo Papa que nós temos”, insistindo em que não será a repetição de outro Papa. Nele destacou sua condição de grande missionário, um homem dedicado. O cardeal Steiner destacou a importância da paz para os cristãos, dado que “o cristianismo nasce com um grande anúncio da paz”. O arcebispo de Manaus disse “as questões sociais, elas sempre terão que estar presentes. E o Papa tem uma grande sensibilidade para isso”, lembrando que “a diocese dele (Chiclayo-Peru), era uma diocese bastante pobre e ele se dedicou muito aos pobres”. Um Papa que a exemplo daquele que levou o mesmo nome por última vez, não vai se eximir da importância da Doutrina Social da Igreja, “porque tem a ver com os pobres, com as periferias, com os povos originários, com a questão do meio ambiente, onde a Terra que está sofrendo, onde as pessoas estão sofrendo”. No Papa Leão XIV destacou que “é um homem que tem muita sensibilidade e é claro que devagarinho vai entrando dentro desse mundo todo, como fez Papa Francisco, como fez Papa Bento XVI, dentro da perspectiva de cada um. “Ele vai nos ajudar a entender o caminho, que é o caminho da paz, mas é o caminho também da liberdade e da libertação”, enfatizou o cardeal Steiner. Tempo de comunhão A Igreja inicia após o conclave “um tempo de comunhão na oração e na acolhida do novo Papa, tempo de reforçar nossa comunhão com o apostolo Pedro, Leão XIV, tempo de esperança pela eleição do novo Papa”, segundo o arcebispo de Salvador (BA). Ele destacou que “o novo Papa conhece a realidade da América Latina, foi bispo no Peru, ele traz no coração a América Latina”, lhe definindo como grande missionário. O arcebispo primaz do Brasil, que tem trabalhado com o Papa como membro do Dicastério dos Bispos, destaca seu “jeito simples, fraterno, acolhedor, sempre atento às necessidades de nosso tempo, muito unido ao Papa Francisco”. Igualmente, sublinhou que Leão XIV está muito unido ao Brasil, e que tinha sido convidado para a Assembleia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. O arcebispo falou sobre a possibilidade, mesmo em tom distendido, de receber o Papa Leão XIV no Brasil. Um Papa que conta com grande experiencia pastoral e que vai fazer muito pela paz, segundo o cardeal Sérgio da Rocha. O Espírito Santo agiu Don cardeais presentes, o arcebispo emérito de Aparecida (SP), dom Raimundo Damasceno, foi o único que não entrou na Capela Sistina para participar do conclave. Ele destacou a oportunidade de participar das congregações gerais, onde tinha a oportunidade de participar todo membro do Colégio Cardinalício. Ele disse que “o Espírito Sato agiu discretamente, mas efetivamente”, ressaltando que “o Papa idôneo para o momento atual, um mundo dividido por tantas guerras”. Um Papado chamado a dar resposta diante de diversas realidades, como é a paz, os migrantes, e tantas outras. Para isso, como tem sido enfatizado ao longo das congregações gerais, o Papa não está só, toda a política do Vaticano é pensada em conjunto, ainda mais com um Papa de muita escuta, como foi ressaltado pelos cardeais presentes.

Papa Leão XIV: Evangelizar um mundo onde “Não é fácil testemunhar nem anunciar o Evangelho”

Menos de 24 horas depois de ser eleito, o Papa Leão XIV presidiu uma missa na Capela Sistina, o mesmo local onde ele foi eleito sucessor de Pedro no quarto escrutínio de um Conclave iniciado na tarde de 7 de maio. Com a participação do Colégio Cardinalício e de mais algumas pessoas, uma mulher leu a primeira leitura, foi um momento de ação de graças, encerrado com aplausos, enquanto o novo pontífice saía da celebração. Tesouro da Igreja Em sua homilia, ele lembrou as palavras de Jesus no Evangelho de Mateus: “Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo”. Segundo o Papa, “com estas palavras, Pedro, interrogado juntamente com os outros discípulos pelo Mestre, sobre a sua fé n’Ele, expressa em síntese o tesouro que a Igreja, através da sucessão apostólica, guarda, aprofunda e transmite há dois mil anos”. Ele falou sobre a encarnação e ressurreição de Jesus, o Messias, que “mostrou-nos assim um modelo de humanidade santa que todos podemos imitar, juntamente com a promessa de um destino eterno, que ultrapassa todos os nossos limites e capacidades”. Se referindo ao apóstolo Pedro, o Papa Leão XIV disse que “Deus, de modo particular, chamando-me através do vosso voto a suceder ao Primeiro dos Apóstolos, confia-me este tesouro para que, com a sua ajuda, eu seja seu fiel administrador (cf. 1 Cor 4, 2) em benefício de todo o Corpo místico da Igreja; para que ela seja cada vez mais cidade colocada sobre o monte (cf. Ap 21, 10), arca de salvação que navega sobre as ondas da história, farol que ilumina as noites do mundo”. Algo que acontece com a Igreja, “não tanto pela magnificência das suas estruturas ou pela grandiosidade dos seus edifícios – como estes monumentos em que nos encontramos – mas pela santidade dos seus membros, do povo que Deus adquiriu, a fim de proclamar as maravilhas daquele que o chamou das trevas para a sua luz admirável (cf. 1 Pe 2, 9)”. Ele refletiu sobre “um aspecto importante do nosso ministério: a realidade em que vivemos, com os seus limites e potencialidades, as suas interrogações e convicções”. Uma pessoa sem importância Diante da pergunta de Jesus aos discípulos: “Quem dizem os homens que é o Filho do Homem?”, o Papa disse que o mundo, “considera Jesus uma pessoa totalmente desprovida de importância, quando muito uma personagem curiosa, capaz de suscitar admiração com a sua maneira invulgar de falar e agir. Por isso, quando a sua presença se tornará incómoda, devido aos pedidos de honestidade e às exigências morais que invoca, este ‘mundo’ não hesitará em rejeitá-lo e eliminá-lo”. Junto com isso, para as pessoas comuns o Nazareno “é um homem justo, corajoso, que fala bem e que diz coisas certas, como outros grandes profetas da história de Israel. Por isso, seguem-no, pelo menos enquanto podem fazê-lo sem demasiados riscos ou inconvenientes. Porém, porque essas pessoas o consideram apenas um homem, no momento do perigo, durante a Paixão, também elas o abandonam e vão embora, desiludidas”, disse o Papa. Duas atitudes de grande atualidade, dado que “ainda hoje não faltam contextos em que a fé cristã é considerada uma coisa absurda, para pessoas fracas e pouco inteligentes; contextos em que em vez dela se preferem outras seguranças, como a tecnologia, o dinheiro, o sucesso, o poder e o prazer”. Segundo o Papa, “são ambientes onde não é fácil testemunhar nem anunciar o Evangelho, e onde quem acredita se vê ridicularizado, contrastado, desprezado, ou, quando muito, suportado e digno de pena”. Lugares de missão urgente Diante disso, ele insistiu que “são lugares onde a missão se torna urgente, porque a falta de fé, muitas vezes, traz consigo dramas como a perda do sentido da vida, o esquecimento da misericórdia, a violação – sob as mais dramáticas formas – da dignidade da pessoa, a crise da família e tantas outras feridas das quais a nossa sociedade sofre, e não pouco”. O Papa acrescentou que “ainda hoje, não faltam contextos nos quais Jesus, embora apreciado como homem, é simplesmente reduzido a uma espécie de líder carismático ou super-homem, e isto não apenas entre os não crentes, mas também entre muitos batizados, que acabam por viver, a este nível, num ateísmo prático”. Neste mundo, lembrando as palavras de Papa Francisco, “somos chamados a testemunhar a alegria da fé em Jesus Salvador”. Leão XIV enfatizou a importância da relação pessoal com Jesus, “no empenho em percorrer um caminho quotidiano de conversão”. Mas depois também, “como Igreja, vivendo juntos a nossa pertença ao Senhor e levando a todos a sua Boa Nova”, lembrando as palavras de Lumen gentium. Finalmente, ele refletiu sobre “um compromisso irrenunciável para quem, na Igreja, exerce um ministério de autoridade: desaparecer para que Cristo permaneça, fazer-se pequeno para que Ele seja conhecido e glorificado (cf. Jo 3, 30), gastar-se até ao limite para que a ninguém falte a oportunidade de O conhecer e amar”. Tudo sob a intercessão de Maria, Mãe da Igreja.