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Dia: 22 de maio de 2025

Encontro da RUC: A política, modo de aproximar os estudantes universitários ao bem comum

A política é uma concretização do sonho social, do qual Francisco falou em Querida Amazônia. Este foi o tema de reflexão do II Encontro Sinodal de Reitores de Universidades para o Cuidado da Casa Comum da Rede de Universidades para o Cuidado da Casa Comum (RUC), que acontecerá de 20 a 24 de maio de 2025, na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Estado político atual No terceiro dia do encontro, a reflexão abordou a questão da “Justiça Ecológica Integral e Diálogo Social” como a melhor política para respeitar a dignidade humana. O ponto de partida foi a análise do estado político atual, buscando relacionar política e ecologia. Nessa perspectiva, Alex Villas Boas, da Universidade Católica Portuguesa, apoiando-se em Michel de Certeau, que Francisco considerava um teólogo de referência, abordou essa questão. Ele destacou três elementos: a inteligência poliédrica, da qual falava Michel Foucault, para pensar a política e o poder; a crítica à auto referencialidade do conhecimento; e a intersecção entre agenda religiosa e agenda política como fonte de revolução, falando de espiritualidade política. Uma teologia pública que é um exercício de diálogo e comunhão entre diferentes pessoas. Uma realidade política que, nos Estados Unidos, segundo Victor Carmona, da Universidade de San Diego, é uma política que cria muros e incentiva uma visão estreita da realidade. Uma realidade que exige iniciativas que ampliem horizontes, construam pontes, gerem conversão ecológica e inclusão. Nessa perspectiva, Enrique del Percio, da Universidade de San Isidro (Argentina), inspirado por Scannone, destacou a importância do diálogo entre Teologia, Filosofia e Ciências Sociais, para não ser dominado pela ideologia. Abordando os conceitos de liberdade, individualidade e sociedade, percebe a necessidade de assumir que estamos em relações, colocando a fraternidade como horizonte, e a necessidade de entender o que é fraternidade madura. A partir daí, assumir que não podemos alcançar a realização se não alcançarmos a realização dos outros. Algo que exige a luta pela dignidade. Justiça Ecológica Ao abordar a questão da Justiça Ecológica Social e Ambiental Integral, Ernesto Villanueva, da Universidade Nacional Arturo Jauretche, na Argentina, destacou a ideia platônica de que a política é uma preocupação com o bem comum, uma semente que cada pessoa guarda no coração e deve ser nutrida. Por isso, ele considera a organização um aspecto central, já que ninguém consegue atuar individualmente em todas as áreas, alertando para o risco de cair na especialização excessiva. Ele acredita que é necessário integrar todas as atividades na esfera da política global para evitar que outras potências ocupem esses espaços. Por sua vez, Fernando Ponce de León, da Universidade Católica do Equador, questionou se a política ainda encanta. Na opinião dele, há indiferença e antipolítica. Estamos diante de pessoas que, para ganhar eleições, dizem que não são políticas, um discurso que é comprado por muitos. Isso levanta a questão de se a política é um sonho ou um pesadelo, levando a uma tendência de promover a ecologia sem recorrer à política. Partindo da premissa de que a educação é um ato político, pois tem uma intenção por trás, ele pediu para a universidade escolher que tipo de pessoas ela quer formar. Isso porque construir uma força política social exige tempo e paciência. Caminhando juntos para causar impacto No encontro da RUC, “estamos nos engajando em políticas profundas e transformadoras”, de acordo com Susana Nuín, da Universidade Sofia. É necessário articular profundamente a rede, diante da tentação de competir com os outros. Para isso, ela defende ir além das margens para poder congregar, para compartilhar as riquezas de cada universidade. Isso porque “só temos impacto político se formos capazes de caminhar juntos“, enfatizou a socióloga uruguaia. Jackeline Farbiarz, da PUC-Rio, abordou questões relacionadas ao mundo indígena a partir de sua experiência em uma aldeia indígena. O objetivo é promover o diálogo entre as realidades das universidades e da região amazônica visando a transformação em vários níveis. A política como preocupação com o bem comum é necessária em tempos de antipolítica e exaltação do individualismo, segundo Oscar Alpa, da Universidade Nacional de La Pampa (Argentina). Uma necessidade nas universidades, que sempre se preocuparam com a política, com o bem comum. No caminho para a COP 30, é preciso pensar nos jovens, no “façam bagunça” que Francisco pediu na Jornada Mundial da Juventude no Rio. Daí a preocupação com os jovens fazendo bagunça política, para não serem dispensáveis, com conhecimento limitado em uma área específica, o que aumenta o risco de serem descartados. Uma reflexão que tem estado presente no debate realizado em vários grupos, buscando aproximar os universitários de tudo o que se relaciona com o bem comum, resgatar o conceito de comunidade e integridade, superando o individualismo dominante. Buscando dar voz aos silenciados pela sociedade por meio da universidade, visto que a universidade vai além do campus, com possibilidade de influenciar decisões políticas. Recuperar o significado da palavra “política” e organizar a atividade política é uma necessidade urgente nas universidades. Para isso, foram elaboradas propostas que visam contribuir para o avanço dessa dimensão política, que leva ao avanço do sonho social. Diálogo com o poder político O impacto deste encontro, tendo em vista a COP 30, aumenta com o diálogo com os diversos setores da sociedade. Daí a importância da presença da Ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, Marina Silva, que ressaltou a importância de trazer a contribuição da ciência com a sensibilidade de um olhar disposto a perceber as coisas, a ouvi-las e a compreendê-las. A ministra denunciou a atual situação do Brasil, que ameaça à democracia, que vem sendo mantida com dificuldade e com fortes polarizações, a exemplo da lei sancionada em 21 de maio que acaba com a proteção ambiental no país. No Dia da Biodiversidade, ela pediu a compreensão de que todos precisam da natureza, “porque é nosso dever preservar e conservar a vida, onde todos devemos estar integrados”. Nesse sentido, “se todas as formas de existência são uma forma de louvar a Deus, então cada espécie de biodiversidade que se extingue é uma forma…
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10 anos da Laudato si´: Impulsar a necessidade de cuidar a Casa Comum

No dia 24 de maio completa 10 anos da encíclica Laudato si´, um documento que impulsou a necessidade de cuidar da Casa Comum. Papa Francisco nos ajudou a ter maior consciência dos clamores da Terra e os clamores dos pobres, a perceber que sem o necessário cuidado, o futuro da humanidade, especialmente dos mais pobres, cada vez é mais complicado. O texto que agora completa 10 anos tem nos ajudado a entender que a salvação da humanidade e do Planeta exige o compromisso de todos. Nessa perspectiva somos chamados a fomentar a vida em comunidade, superando o individualismo que nos distancia dos outros, mas também nos afasta do mundo, criado por Deus não para ser dominado e sim para ser cuidado. Para isso se faz necessário entrar no caminho da conversão ecológica, uma proposta que Papa Francisco faz em Laudato si´. A grande questão é se nós queremos entrar nesse caminho de conversão, de mudança de vida que nos aproxime da ecologia integral, que tem em conta o cuidado do ambiente, mas também o cuidado das pessoas. Um chamado que é para toda a humanidade, mas que cobra uma força maior na Amazônia. Uma região que só aparece citada uma vez na Laudato si´, mas que inspira o texto escrito por Papa Francisco. A vida que flui na Amazônia, nos seus rios, florestas e povos se faz presente na primeira encíclica de Papa Francisco. Ele foi o Papa que voltou os olhos da humanidade para a região amazônica. O desafio é como dar continuidade a essa dinâmica do cuidado, como nos envolvermos cada vez mais na defesa da Amazônia e dos povos que a habitam. A Laudato si´, 10 anos depois de sua publicação, continua sendo um espelho onde nos olharmos como humanidade, como cristãos, mas também cada um e cada uma de nós, pessoalmente. Assumir a proposta de vida que aparece nas palavras de Papa Francisco é uma demanda que tem plena atualidade hoje. É tempo de olhar para frente, de continuar sonhando, seguindo a proposta de Papa Francisco na Querida Amazônia, uma exortação que nos ajuda a, reconhecendo os aportes do passado, construir um futuro melhor, sustentado no bem viver. Uma proposta de vida que tem acompanhado os povos originários a construir um modo de vida que enxerga a presença do Criador em todas as criaturas. Continuemos sonhando com as propostas de Laudato si´, com um modo de vida fundamentado no cuidado do ambiente, no cuidado das pessoas, no cuidado de toda criatura. Continuar sob a guia da Laudato si´ é o melhor modo de continuar o processo iniciado pelo Papa Francisco. Não desistamos no cuidado, pois isso nos faz melhores criaturas e a reconhecer a mão do Criador em tudo e em todos.