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Dia: 23 de maio de 2025

II Encontro da RUC encerra seus trabalhos com sinais de esperança em vista da COP 30

A 10 anos da Laudato si´ a Rede de Universidades para o Cuidado da Casa Comum (RUC) está reunida na Pontifícia Universidade Católica de Rio de Janeiro (PUC-Rio) de 20 a 24 de maio de 2025, para, em preparação para a COP 30, refletir sobre “Dívida Ecológica e Esperança Pública”. O ponto de partida tem sido os quatro sonhos da Querida Amazônia, sendo o sonho ecológico, abordado na perspectiva da economia, o tema de debate da quarta jornada de trabalho. Métodos criativos para proteger a natureza No I Encontro da RUC, realizado no Vaticano em 2023, Francisco advertia sobre os pequenos grupos que fazem mal uso da herança comum, escravizando as pessoas, povos inteiros que ficam pelo caminho como se eles fossem lixo. Algo que é consequência do uso dos recursos naturais apenas por pequenos grupos por meio de teorias socioeconómicas que não integram a natureza, que precisa de métodos muito criativos para protegê-la. Abordando o tema da Dívida Pública e Ecologia, foram apresentadas algumas experiencias, como o realizado em Nova Iorque, no Bronx, de acompanhamento a comunidades que sofrem economicamente e ecologicamente. No caso do Conselho Episcopal Latino-americano e Caribenho (Celam), isso se concretiza em um trabalho em rede, segundo seu secretário geral, dom Lizardo Estrada, um caminho de comunhão entre a Igreja do continente e o Papa. O bispo peruano destacou a importância do cuidado da Casa Comum, um convite constante no Papa Francisco. Nessa perspectiva se faz necessário refletir sobre a justiça social, segundo o padre Roman Pardo, da Pontifícia Universidade de Salamanca, que tem a ver com a dívida social, histórica e ecológica, consequência de desvantagens que fazem parte dos países pobres. Importância da Laudato si´ Refletindo sobre “A caminho de uma Possível Remissão da Dívida”, o cardeal Leonardo Steiner destacou a importância da Laudato si´, que abordou a partir de quatro provocações: Hermenêutica da totalidade; pensar calculante e poético; o movimento da palavra economia; e Eco-nomia como esperança. Se faz necessário novas hermenêuticas, assumir que “a conversão ecológica afina a relação entre a natureza e a sociedade”. Somos desafiados a entender, seguindo as cosmovisões indígenas, que a casa é “onde se vive”, mas também ficar atentos diante da tecnologia, muitas vezes submissa ao lucro, que “permite viver melhor, comunicar e ter muitas vantagens, mas alerta para o risco de ela se tornar reguladora, se não dominadora, da vida, se torne um modo de pensar que domine as relações humanas”. Não podemos ignorar que “os recursos da terra estão a ser depredados também por causa de formas imediatistas de entender a economia”. Algo que tem a ver com a maximização do lucro, com uma economia que mata. Por isso, “a Laudato si´é um convite a procurar outras maneiras de entender a economia e o progresso, o valor próprio de cada criatura”, enfatizou o cardeal. No caminho de Rio a Belém se faz necessário falar de dívida e como impacta a países em desenvolvimento. Ninguém pode ignorar que a crise climática foi criada por países ricos e será mais sentida por países pobres, o que tem que levar a refletir sobre o conceito de justiça, dada a falta de esperança presente em países muito endividados. Reflexões presentes no trabalho em grupos que querem levar sinais de esperança à COP 30, com propostas concretas que devem ser trabalhadas e sistematizadas em vista de influir nesse importante espaço de decisão. Necessidade de cuidar da Casa Comum O desafio é levar a mensagem a todos os níveis, que mostre que a necessidade de cuidar da Casa Comum. Para isso se faz necessário estar unidos, também nas ações, na mudança de pensamento, ser muitos e mais fortes, com mensagens claros para mudar aquilo que Papa Francisco pediu à RUC. Tudo isso sob valores comuns, éticos, de direitos, que levem a recuperar a esperança e a construir maiorias que possam construir um mundo melhor. Deve ser delineado um marco jurídico a propor à COP, mas também gerar nos estudantes universitários o desejo de lutar pelos direitos da Casa Comum. A hora é de tomar decisões, a hora é de implementar, e essa deve ser uma exigência na COP 30. Não podemos ignorar que a universidade ocupa um lugar preferente na sociedade. Um sentimento que gera esperança de cara à COP 30, mas também na toma de consciência das universidades.

Cardeal Steiner chama a “Uma mudança na economia que se tornou reguladora, dominadora da vida”

O sonho ecológico em uma perspectiva econômica foi o ponto de reflexão no quarto dia do II Encontro Sinodal de Reitores de Universidades para o Cuidado da Casa Comum, que acontece de 20 a 24 de maio de 2025 na Pontifícia Universidade Católica de Rio de Janeiro (PUC-Rio). Um congresso em torno a Laudato si´, que “depois da Pacem in Terris de São João XXIII, talvez, tenha sido o documento da Igreja com maior repercussão e de valor para o espaço e tempo em que vivemos”, segundo o arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Steiner, que refletiu sobre “A caminho de uma Possível Remissão da Dívida”. Vivemos numa Casa Comum Um texto pontifício que representa “um horizonte que se abriu, mas que ainda necessita de provocações, debates, para perceber que vivemos numa Casa Comum”, segundo o arcebispo. Ele agradece a Papa Francisco “por nos ter ofertado essa pérola preciosa”, um documento que “foi decisivo nas discussões da COP de Paris”. O cardeal fez quatro provocações: Hermenêutica da totalidade; pensar calculante e poético; o movimento da palavra economia; e Eco-nomia como esperança. Segundo o arcebispo, em Querida Amazônia, “os quatro sonhos, as quatro dimensões, oferecem a totalidade do modo de ser, de viver, uma hermenêutica da totalidade”. Uma encíclica que “é essencialmente o cuidado com o todo!”, abordando a questão econômica como “dinâmica da convivência, desestruturando a Casa comum”. Ele lembrou as palavras dos bispos da Amazônia em Santarém 1972: “para uma verdadeira encarnação e libertação!” Segundo o arcebispo de Manaus, a hermenêutica da totalidade “possibilita uma outra hermenêutica da narração do Génesis, que convida a ‘dominar’ a terra”, fazendo um chamado a “cultivar e guardar”, abrindo assim “a uma conversão de relação de reciprocidade responsável entre o ser humano e a natureza (LS 67)”. Um cuidado que nessa hermenêutica é individual e comunitário, que faz necessário “considerar as interações dos sistemas naturais entre si e com os sistemas sociais”, entender que a crise é socioambiental, que “a conversão ecológica afina a relação entre a natureza e a sociedade”, que “despertar a sensibilidade de que participamos da natureza e que a recebemos como casa comum, possibilita uma relação nova de acolhida, respeito, reverência, irmandade”. Nessa hermenêutica da totalidade somos chamados a “reaprender a habitar”, com novas relações. Essa hermenêutica desafia a “uma mudança na economia que se tornou reguladora, dominadora da vida”, que se abre à admiração. A essência do ser revelada através da linguagem O cardeal Steiner refletiu sobre a Eco-nomia a partir do pensamento de Martin Heidegger, para quem “a essência do ser é revelada através da linguagem, e a linguagem é o lugar onde o ser se manifesta e se expressa”. Isso nos leva a entender que “estamos sendo movidos pela palavra, vamos percebendo uma totalidade que se desfaz, uma totalidade que se mantém pela teimosia da esperança, com palavras”. Uma casa que no mundo indígena é “onde se vive”, que leva a entender a Casa Comum, termo acunhado por Francisco, como “a espacialidade para servir”. O segundo modo de conhecer, segundo o cardeal, seguindo o pensamento de Romano Guardini “fazem as energias e as substâncias convergirem para um único fim: a máquina, desenvolvendo uma tecnologia da submissão do ser vivo, mas também para o econômico, o lucro. A tecnologia permite viver melhor, comunicar e ter muitas vantagens, mas alerta para o risco de ela se tornar reguladora, se não dominadora, da vida, se torne um modo de pensar que domine as relações humanas”. O grande perigo é que “o homem perde todos os laços interiores que lhe conferem um sentido orgânico da medida e das formas de expressão em harmonia com a natureza”. E junto com isso, o perigo de entrar na lógica do “se pode ser feito, é lícito”, de entrar no pensar da máquina, do “pensar calculante”, como afirmava Heidegger, algo que tem muito a ver com a Inteligência Artificial. Perigos da economia imediatista Nessa perspectiva, o cardeal falou sobre a economia como esperança, que leva a refletir sobre o fato de que “os recursos da terra estão a ser depredados também por causa de formas imediatistas de entender a economia”. Algo que tem a ver com a maximização do lucro, que entende a relação com o meio ambiente desde os interesses particulares, “o interesse econômico, chega a prevalecer sobre o bem comum e manipula a informação para não ver afetados os seus projetos”. Uma dinâmica que faz com que “os grupos econômicos tomaram conta do poder político e impõe retrocessos em relação ao meio ambiente”, segundo o arcebispo de Manaus. A Encíclica, afirma o cardeal, “demonstra a relação doentia entre tecnologia-economia e meio ambiente”, dado que “o que conta é o lucro, o ganho financeiro”. Uma economia que mata que destrói o meio ambiente e assassina os defensores ambientais, como aconteceu com Dom e Bruno no Vale do Javari, que está atrás do Marco Temporal, do garimpo ilegal. Só existe um interesse: o dinheiro. Diante disso, aprender com os povos originários, de sua capacidade para fazer economia em harmonia com o meio ambiente. Nesse sentido, “a Laudato si´é um convite a procurar outras maneiras de entender a economia e o progresso, o valor próprio de cada criatura”. Restabelecer a Justiça de Deus A esperança, presente no Ano Jubilar, é devolver, perdoar dívidas como uma questão de justiça, como caminho da Paz, buscando restabelecer a justiça de Deus nos diferentes âmbitos da vida. Daí o chamado que ele faz a ver o Jubileu como “um acontecimento que impele a procurar a justiça libertadora de Deus em toda a terra e sentimo-nos chamados denunciar tantas situações de exploração da terra e de opressão dos pobres”. Algo que tem que se traduzir em gestos concretos. Provocações que são “um chamamento inicial para sinodalmente deixar ecoar o meio ambiente numa economia servidora, não exploradora”, com uma mudança cultural, que nos leve a descobrir que “somos todos devedores, mas também todos necessários uns aos outros”. Isso porque “Deus confiou aos nosso cuidado da obra criada, deu a vocação de…
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