Dom Zenildo Lima: “As comunidades não podem ser igual casa de conjunto habitacional, todas iguais”
A missionariedade é uma dimensão fundamental na vida da Igreja, na vida das comunidades eclesiais de base. Na Amazônia, as CEBs são “um barco missionário que inclui todos e todas”, segundo o bispo auxiliar de Manaus e referencial das comunidades eclesiais de base no Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB Norte 1), dom Zenildo Lima. Uma reflexão presente na VI Assembleia das Comunidades Eclesial de Base da prelazia de Tefé, que se celebra na paróquia São Joaquim de Alvarães de 09 a 13 de julho, com a presença de mil representantes das 14 paróquias e 03 áreas missionárias em que se divide essa igreja local. A Igreja casa O bispo destacou a importância das imagens, seguindo o exemplo de Jesus, que se servia das parábolas, uma dinâmica presente na catequese da Igreja ao longo da história. Dom Zenildo Lima usou a imagem da casa para falar da Igreja, sustentada em quatro pilares, quatro esteios, nas casas de madeira da Amazônia: Palavra, Pão, Caridade e Ação Missionária. Dom Zenildo Lima refletiu sobre as experiências de vida que as pessoas vivem em suas casas, mas também nas comunidades. A casa como lugar de encontro, em volta da mesa, como local de encontros marcantes, como local onde vamos descobrindo nossa identidade. Nessa perspectiva, o bispo destacou a importância de as comunidades ter sua identidade, de recuperar a identidade de nossas comunidades, onde a gente tem que vivenciar a experiência de encontro amoroso, de encontro afetuoso. “As comunidades não podem ser igual casa de conjunto habitacional, todas iguais”, disse o bispo referencial das CEBs no Regional Norte 1. A Igreja barco Falando da Igreja como barco, dom Zenildo disse que “CEBs não pode ser barco de turismo, tem que ser barco de pesca”. Isso porque “um barco de pesca é simples, funcional, sempre em movimento. Carrega redes, instrumentos de trabalho e pescadores que conhecem a dureza das águas, mas também a alegria da pesca abundante”, segundo o bispo. Nessa perspectiva, ele definiu as CEBs como “comunidades que se reúnem para partilhar a Palavra, a Eucaristia, fortalecer a fé, discernir a vida e sair ao encontro dos irmãos e irmãs com gestos concretos de solidariedade, justiça e anúncio do Reino”. Frente a isso, “um barco de turismo é bonito, confortável, cheio de poltronas, música ambiente e paisagens para admirar. Tudo é feito para agradar os passageiros. Mas ele não pesca, ele passeia. Está ali para entreter, não para transformar. Se uma CEB se transforma num barco de turismo, perde sua razão de ser: deixa de evangelizar e passa a girar em torno de si mesma”, sublinhou dom Zenildo. Uma Igreja que se envolve com a vida do povo É por isso que, em palavras do bispo auxiliar de Manaus, “as CEBs foram pensadas como um jeito de ser Igreja, como expressão da Igreja em saída: uma Igreja que rema contra a corrente, que se envolve com a vida do povo, que escuta as dores da terra e dos pobres. Não podemos correr o risco de cair na tentação do comodismo, de nos contentar com reuniões fechadas, eventos para nós mesmos, e um certo ‘turismo espiritual’ que nos afasta da realidade”. Um barco missionário, que acolhe, que conduz, que entrega. Um barco que promove a inclusão, a corresponsabilidade e a sinodalidade, refletindo sobre relações, processos, vínculos e formação. O bispo, seguindo o Documento Final do Sínodo sobre a Sinodalidade, questionou: Quais as convicções que nos sustentam para estarmos juntos no Barco? Como diferentes sujeitos com diferentes responsabilidades, podem atuar em comunhão? Como se dá a tomada de decisões e o acompanhamento das mesmas nas diferentes instâncias da comunidade? Como experimentamos nosso senso de pertença à comunidade e como ela está enraizada na realidade? Nossas experiências de formação educam para caminharmos juntos? Ajudam a ser comunidades sinodais e em saída missionária? O barco missionário das CEBs tem que ajudar as pessoas a viver como seguidores de Jesus, disse dom Zenildo. O bispo fez um chamado a descobrir que Jesus está conosco, Ele está no barco, ajuda a superar as dificuldades. Mas sabendo que o barco missionário tem que ir ao encontro dos outros, atravessar o rio, mesmo correndo riscos. Diante da diferença com os outros, o bispo questionou como a gente reage, se o faz com agressividade ou se aprende com os outros. O desafio missionário é fazer com que todos tenham vida e para isso é necessário se sentir responsável pelo cuidado das pessoas. Um barco missionário Na reflexão eclesiológica, “a Igreja se compreende, as comunidades de base se compreendem como comunidades eclesiais missionárias, como um barco missionário que inclui todos e todas”, sublinhou dom Zenildo Lima. Segundo ele, “missionariedade, mobilidade, Igreja em saída, inclusão permearam esta reflexão”. O bispo refletiu sobre “os movimentos que acontecem dentro do barco, que são movimentos que exigem sinodalidade, os movimentos que acontecem fora do barco, que são movimentos que exigem comprometimento no que diz respeito ao cuidado da casa comum, no que diz respeito a novas experiências religiosas”. Realidades em que somos “sempre iluminados pela Palavra que apresenta Jesus presente no barco conosco, sempre iluminados pela caminhada da Igreja em nossa região, sempre iluminados pelo testemunho de pessoas que deram a vida por esta Igreja em Tefé”, disse o bispo. Ele definiu a VI Assembleia das Comunidades Eclesiais de Base da prelazia de Tefé como “grande encontro de uma Igreja sinodal, de uma Igreja em saída, de um compromisso com a plenitude da vida e com a missão”.