Cardeal Steiner: “Toda ganância destrói, separa, divide”
No 18º Domingo do Tempo Comum, o arcebispo de Manaus e presidente do Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB Norte 1), cardeal Leonardo Ulrich Steiner, iniciou sua homilia lembrando que “não encontrando conciliação com o irmão, um homem busca a Jesus.” Segundo o arcebispo, “diante do litígio dos bens, Jesus recorda: ‘Tomai cuidado contra todo tipo de ganância, porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens.’” Desabundância de plenitude O cardeal Steiner sublinhou que “pode haver abundância de bens, mas falta de vida, desabundância de plenitude! A equidade, a justiça, o bem, a irmandade não vem de bens, mas do encontro com a abundância da vida. Toda ganância destrói, separa, divide, às vezes leva à morte. A abundância da vida, o bem-querer, a bem, a bondade, a justiça, a equidade, a irmandade, a generosidade, a misericórdia obrativa, concedem a medida que possibilita discernir o que os dois podem receber e depois usufruir. Dividir e ter pouco, mas abundância de vida”. Ao contar a parábola, o cardeal mostrou que “Ele nos propõe um modo de viver que evita a ganância e deixar guiar-se pela abundância da vida. A vida do Homem, a vida de cada um de nós, tem seu valor, tem seu sentido, tem sua grandeza, sua beleza, que provém de outro espaço. Não da abundância dos bens, mas da abundância da vida, da grandeza das relações, dos cuidados, da doação da generosidade, do amor. É da abundância da vida que nasce a realização de nós mesmos e na experiência de seguidoras, seguidores de Jesus. Jesus a vida plena, a abundância da vida, experimentou uma vida de poucos bens e distribuiu a todos os bens do corpo e do espírito aos mais necessitados. Ele era a abundância da vida, do amor!” Apreciar o capital de amor O presidente do Regional Norte 1 recordou as palavras de Santo Agostinho no Sermão 34: “Irmãos, examinai com atenção a vossa morada interior, abri os olhos e apreciai o vosso capital de amor, e depois aumentai a soma que tiverdes encontrado em vós. E guardai esse tesouro, a fim de serdes ricos interiormente. Chamam-se caros os bens que têm um preço elevado, e com razão. […] Mas que coisa há mais cara do que o amor, meus irmãos? Em vossa opinião, que preço tem ele? E como pagá-lo? O preço de uma terra, o preço do trigo, é a prata; o preço de uma pérola é o ouro; mas o preço do amor és tu mesmo. Se queres comprar um campo, uma joia, um animal, procuras em teu redor os fundos necessários para isso. Mas, se desejas possuir o amor, procura apenas em ti mesmo, pois é a ti mesmo que tens de encontrar. Que receias ao dar-te? Receias perder-te? Pelo contrário, é recusando-te a dar-te que te perdes. O próprio Amor exprime-se pela boca da Sabedoria e apazigua com uma palavra a desordem que em ti lançava a expressão: «Dá-te a ti mesmo!»(…) Escuta o que diz o Amor, pela boca da Sabedoria: «Meu filho, dá-me o teu coração» (Pv 23,26). (…) ‘Meu filho, dá-me o teu coração», diz a Sabedoria. Se ele for meu, já não te perderás. […]. Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu entendimento’ (Mt 22,37). […] Quem te criou quer-te todo para Si”. “Sim, amados irmãos e irmãs, ganância, pode nos deshumanizar e desdivinizar. Corremos o risco de perdermos a nós mesmos, quando perdemos a força de amar, servir, repartir”, enfatizou o cardeal. Ele lembrou como nos dizia Agostinho: “dá-te a ti mesmo!” Isso, porque “oferecer a nós mesmos, está no movimento da doação, isto é, do amor como possibilidade da abundância de vida. No bem que oferecemos, no acolhimento que possibilitamos, no dinheiro que damos, pode ir sempre ‘eu mesmo’. É nesse dar-me a mim mesmo que está a possibilidade de um amor que jamais frustrará, pois é livre e doativo. Eleva, transforma, transfigura!!, pois é nosso coração que oferecemos e não os objetos e as sobras”. Vaidade das vaidades “É da abundância dos bens da vida, do coração que recebemos o ensinamento da primeira leitura do Eclesiastes: Vaidade das vaidades tudo é vaidade!”, afirmou o arcebispo de Manaus. Segundo ele, “o homem religioso, descobriu que fora de Deus nada existe, nada é. Tudo um grande vazio: um nada, pura vaidade, ilusão, fantasia! Todos os empreendimentos, esforços, conquistas, realizações, sonhos aparentemente realizados, tudo o que fizermos a partir de nós mesmos e para nós mesmos, contradizem ao desejo mais profundo de plenitude e de eternidade que habita em cada um de nós. Na intimidade de nós na busca de um lugar, onde repousar nosso coração. E o coração não repousa nas coisas, nos bens”. O cardeal enfatizou que “a última frase do Evangelho que ouvimos é uma verdadeira provocação que Jesus nos faz: ‘Ainda nesta noite, pedirão de volta a tua vida. E para quem ficará o que tu acumulaste? Assim acontece com quem ajunta tesoureiros para si mesmo, mas não é rico diante de Deus. E para quem ficará o que tu acumulaste?’ Ou seja, para quem acumulei?” Citando o texto evangélico, “Tomai cuidado contra todo tipo de ganância”, ele disse que “a ganância que acumula, acumula e destrói a vida pessoal e, também a vida dos pobres”. O cardeal citou as palavras de Papa Francisco em Evangelii Gaudium 202: “Enquanto não forem radicalmente solucionados os problemas dos pobres, renunciando à autonomia absoluta dos mercados e da especulação financeira e atacando as causas estruturais da desigualdade social, não se resolverão os problemas do mundo e, em definitivo, problema algum.” Segundo ele, “sim amados irmãos e irmãs, hoje o que domina é a especulação financeira. Perdeu-se o horizonte da abundância da vida, caminhamos com rapidez para a acumulação de tudo o que passa”. Nesse sentido, ele lembrou que São Paulo insistia: “aspirai às coisas celestes e não às…
Leia mais