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Dia: 25 de setembro de 2025

Cardeal Steiner no 14º MUTICOM: “toda obra criada é uma comunicação de Deus”

Uma missa amazônica, presidida pelo arcebispo local, cardeal Leonardo Ulrich Steiner, deu início na tarde da quinta-feira ao 14º Mutirão Brasileiro de Comunicação, que reúne em Manaus, de 25 a 28 de setembro de 2025, mais de 400 comunicadores chegados dos diversos cantos do país. Um evento para refletir sobre “Comunicação e Ecologia Integral: Transformação e Sustentabilidade Justa”. O grande comunicador nos enviou um comunicador Na homilia, o presidente da celebração, depois de acolher os presentes, “os que vieram de longe, os que vieram de perto”, destacou “Jesus foi enviado para anunciar, o grande comunicador nos enviou um comunicador. Ele o comunicador do reino de Deus, ele o comunicador do amor de Deus, ele que se fez comunicação porque se fez presença. Presença nos sinais, nas palavras, nas curas, ele simplesmente com sua presença mostrou como Deus é, nos mostrou o modo de ser de Deus”. Segundo o cardeal Steiner, “no texto do Evangelho, este modo de ser de Deus, Jesus pede que seja levado adiante. Por isso envia para serem comunicadores os discípulos.” Ele destacou como significativo no texto de Marcos, que no Ide está o envio a toda criatura, dado que “toda obra criada é uma comunicação de Deus. Todos os seres são comunicação de Deus. Tudo é, na expressão de São Boaventura, sinais do amor de Deus, visibilizações do amor de Deus, palpabilidade da presença de Deus”, insistindo em que Deus se comunicou. Algo que levou o cardeal a dizer que “talvez por isso, os medievais pensavam que Deus é comunicação. E nós participamos dessa comunicação de Deus, somos participantes dessa comunicação”. Enviados para anunciarmos que existe um reino novo Como participantes dessa comunicação, o arcebispo de Manaus disse que “o Evangelho de hoje também nos envia. Nos envia para anunciarmos a toda criatura que existe um reino novo. Tudo foi restaurado em Cristo. Tudo agora foi transformado em Cristo. Tudo foi transfigurado em Cristo. Tudo agora é transparência de um amor que se tornou visível, palpável na cruz, vida nova a toda criatura.” Nessa perspectiva, o cardeal Steiner disse que “talvez por isso nosso mutirão deseja justamente refletir, pensar, aprofundar a nossa comunicação e ecologia integral. Porque nós vemos de modo diferente, a partir da comunicação de Deus, vemos de modo diferente a relação nossa com as criaturas”. Uma relação que, segundo o presidente da celebração, “Francisco de Assis percebeu que era uma relação fraternal, irmão e irmã, e é por isso também que toda criatura louva a Deus.” Ele enfatizou que “nós temos essa palpabilidade de Deus em todas as criaturas, e é por isso que fazemos das criaturas também o nosso grande louvor a Deus, a ecologia integral. A ecologia integral que não busca ser uma expressão qualquer, mas busca ser uma nova relação para podermos dizer e perceber que Deus se comunica também através das criaturas”. Nesse sentido, o MUTICOM deve ser, em palavras do cardeal Steiner, uma oportunidade “para de novo nos darmos conta de que Deus é o grande comunicador e que nós participamos dessa comunicação e que nós somos comunicação. E porque somos comunicação, nós nos deixamos tocar pela comunicação das criaturas, mas especialmente pela comunicação de Deus.” Ele enfatizou que “nós somos comunicação, nós não somos mensagem, não, nós somos comunicação, porque somos seres em relação, assim como Deus o é”. Aprofundar na dimensão de Deus comunicador Refletindo sobre a primeira leitura da liturgia do dia, onde mostra que “o profeta fala da comunicação de Deus, ele é o comunicador de Deus, mas ao mesmo tempo também, Deus que se comunica nele, por ele, e ele que se comunica a partir de Deus.” O cardeal encerrou sua homilia, pedindo que o MUTICOM “nos ajude a aprofundar essa dimensão tão profunda de Deus que é comunicador, porque é relação. Nós somos comunicadores, comunicadoras, porque somos relação, mas também as criaturas, para que realmente haja a harmonia, haja a harmonia da casa comum, e possamos nós todos conviver não num sistema econômico dominador, mas possamos viver na fraternidade universal, possamos viver da fraternidade onde todos têm o seu lugar, tem o seu espaço, mas também tem a sua respeitabilidade. Para assim, na nossa reflexão possamos melhor nos darmos conta o quanto Deus se comunica conosco através de cada uma das suas criaturas”. No final da celebração, o arcebispo de Manaus fez um chamado a agradecer “a graça de sermos comunicadores da salvação, da redenção a toda criatura”, mas também agradecer “o sermos enviados a anunciar vida nova, redimida, transfigurada, celestiada”, e junto com isso agradecer “o sermos filhas e filhos de um mesmo Pai, irmãos de um mesmo Irmão maior, e alma da Alma da Trindade.” Mais uma vez, o cardeal Steiner deu as boas-vindas “a Manaus, a nossa Querida Amazônia, a nossa Igreja que está em Manaus.” Ele pediu “que possamos todos juntos fazer uma bela caminhada nesses dias, um bom mutirão para nos apercebermos que fomos comunicados e que somos comunicação de Deus, que cada criatura é comunicação de Deus, porque comunicador maior não existe do que Ele mesmo, que se comunicou em cada um de nós”. Fotos: Emmanuel Grieco Nascimento

Cardeal Steiner: uma ecologia integral, não pode ser no horizonte do mercado, mas da fraternidade

Manaus acolhe de 25 a 28 de setembro de 2025 o 14º Mutirão Brasileiro de Comunicação (MUTICOM), com o tema: “Comunicação e Ecologia Integral: Transformação e Sustentabilidade Justa.” Um evento que conta com mais de 400 participantes e quer ser um espaço de partilha, de reflexão sobre as políticas e práticas de comunicação, um momento para aprender a partir de uma metodologia sinodal, sustentada na escuta. Chegarmos ao cuidado da casa comum O MUTICOM, organizado pela arquidiocese de Manaus, quer “abordar a questão de uma ecologia integral, mas especialmente chegarmos ao cuidado cada vez maior da nossa casa comum”, segundo o arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Ulrich Steiner. Um evento para “trabalhar a comunicação dentro dessas questões ambientais na proteção da casa comum”, em palavras do bispo de Campo Limpo (SP) e presidente da Comissão para a Comunicação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Valdir José de Castro. O MUTICOM tem ido agregando diversos atores ao longo do processo, “que vão interagindo, se integrando e somando forças e ajudando a realizar o evento”, afirmou o bispo de Oeiras (PI) e membro da Comissão para a Comunicação da CNBB, dom Edilson Soares Nobre. Ele destacou a importância, seguindo a temática de encontro, de “pensar a comunicação levando em consideração a ecologia integral, porque diz respeito a nossa sobrevivência, ao nosso presente e ao nosso futuro, ao nosso modo de ser e ao nosso modo de agir, ao nosso comportamento”. Os povos indígenas estão sendo caçados por motivo econômico A questão da falta de cuidado com a casa comum atinge de modo especial aos povos indígenas. Nessa perspectiva o presidente do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), cardeal Steiner, que participou nos últimos da assembleia do CIMI, denunciou “como os povos indígenas estão sendo caçados, mas isso por motivo econômico, isso por motivo de avançar cada vez mais nas terras para o agronegócio, para a mineração.” Diante dessa situação, ele enfatizou a necessidade do “MUTICOM nos ajudar a abrir olhos, na reflexão, nos debates, conseguimos comunicar que existe por detrás desse pensamento nosso hoje em dia no mundo, existe um sistema que está dominando, sistema do mercado, sistema econômico, que está destruindo o meio ambiente.” O arcebispo de Manaus sublinhou que “se trata de uma relação econômica”, o que leva o cardeal Steiner a dizer que “se conseguirmos devagar ir percebendo que no fundo das nossas relações atuais, a destruição do meio ambiente vem de um sistema que está se impondo cada vez mais”, algo que tem a ver também com o meio político. Ecologia integral não no horizonte do mercado, mas da fraternidade Ele fez um chamado a MUTICOM refletir sobre uma questão; “se quisermos uma ecologia integral, quisermos uma casa comum, não pode ser no horizonte do econômico, do mercado, mas no horizonte da fraternidade, no horizonte onde está interligado.” Daí a importância do MUTICOM como “um momento muito importante de despertarmos, ajudarmos a despertar para uma responsabilidade e desmontarmos o esquema que está se impondo.” Um sistema que está se impondo, citando como prova disso as decisões do Congresso Nacional, que por detrás têm todo um horizonte econômico. Frente a isso, “nós como Igreja temos um outro horizonte, o horizonte da fraternidade, o horizonte das relações harmônicas, que é a relação do Reino de Deus”. Um sistema que vem se impondo ao longo dos dois últimos séculos, segundo o arcebispo de Manaus, até o ponto de achá-lo como algo natural. Ele disse que “o Papa Francisco nos acordou, e muitas pessoas estão nos acordando, os povos indígenas têm nos ajudado a acordar para podermos realmente abrir os nossos olhos e começarmos a discutir sem nos agredir.” Nesse sentido, ele vê o MUTICOM como espaço de colaboração, “não só para a questão ambiental, mas para a questão das nossas relações, que elas estão hoje muito fracionadas”. Desde o pensamento teológico, que leva a fazer uma leitura do horizonte da fé, do Reino de Deus, o cardeal Steiner destacou que “o Reino de Deus foi plenificado em Jesus Cristo Crucificado, Ressuscitado”. Nessa perspectiva, “quando nós falamos de fraternidade e não de economia como essencial, estamos colocando um elemento teológico fundamental”, segundo o arcebispo de Manaus. Ele citou o pensamento de São Francisco de Assis, que chama os diversos elementos de irmãos, “devido a uma relação própria”. As criaturas todas precisam ter oportunidade É por isso que “a obra criada, ela tem uma fundamentação teológica para nós que somos Igreja, mas nós queremos atingir as pessoas que não tem essa compreensão teológica.” Uma afirmação que nasce do fato de que “em nosso horizonte de leitura, as criaturas todas precisam ter oportunidade, porque tudo está em relação. E se tudo está em relação, cada um deve ter seu espaço nessa casa comum”, o que demanda fraternidade e uma convivência harmónica. Parafraseando as palavras de Papa Francisco, quando ele disse “tirem as mãos da África”, o cardeal Steiner sua vontade de dizer: “Tirem as mãos da Amazônia.” Isso porque “a compreensão não é do respeito”, algo que ele fundamenta no sentido teológico, que “ajuda a compreender as relações, e nós estamos com as relações muito distorcidas”. Fotos: Ana Paula Gioia Lourenço

MUTICOM 2025: A Ecologia Integral deve nos levar a mudar nosso estilo de vida

10 anos depois da Laudato Si´, a encíclica que popularizou o termo “ecologia integral”, ainda estamos diante de um conceito pouco compreendido pela grande maioria das pessoas. Daí a importância do capítulo IV da primeira encíclica de Papa Francisco, onde ele aborda os diversos elementos que fazem parte dela. O decorrer da história nos mostra a importância desse conceito e nos leva a aprofundar nas palavras do número 225 da Laudato Si´: “Uma ecologia integral exige que se dedique algum tempo para recuperar a harmonia serena com a criação, refletir sobre o nosso estilo de vida e os nossos ideais, contemplar o Criador, que vive entre nós e naquilo que nos rodeia e cuja presença ‘não precisa de ser criada, mas descoberta, desvendada’”. Nessa perspectiva, o 14º Mutirão Brasileiro de Comunicação, o MUTICOM, que inicia hoje, 25 de setembro de 2025, em Manaus, é mais uma oportunidade para refletir sobre essa temática, superando preconceitos mal-intencionados ou alimentados por interesses políticos ou econômicos, que levam a negar as consequências das mudanças climáticas. Uma atitude que mais uma vez mostrou nesta semana, na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O evento, que acontece em Manaus de 25 a 28 de setembro, tem como tema: “Comunicação e Ecologia Integral: Transformação e Sustentabilidade Justa”. Uma oportunidade para entender a necessidade de comunicar sobre essa temática, em vista de ajudar o povo a descobrir a necessidade de recuperar essa harmonia com a Criação, que nos chama a Laudato Si´. Uma reflexão que cobra especial importância na Amazônia, ainda mais a menos de dois meses da COP30, que será realizada em Belém do Pará em novembro. Ambos os eventos, mesmo em escalas diferentes, deveriam desencadear processos de reflexão em vista de mudanças inadiáveis, que levem a humanidade a aprender com os povos da Amazônia, especialmente com os povos originários, a importância da ecologia integral como norma de comportamento e de relações com a natureza e com as pessoas. Laudato Si´ afirma no número 156 que “a ecologia integral é inseparável da noção de bem comum”. Podemos dizer que o bem comum, ainda mais o bem viver, é um conceito chave nas cosmovisões e nos modos de vida dos povos originários da Amazônia e de outras regiões do Planeta. Quando nosso comportamento ético está orientado em vista do bem comum avançamos em humanidade, pois superarmos o individualismo que destrói toda tentativa de avanço nesse sentido. Conhecer que a ecologia integral é um modo de vida assumido em algumas comunidades da Amazônia em vista de uma sustentabilidade justa é uma oportunidade para testemunhar que essa dinâmica é possível assumi-la. Na mente das pessoas, as coisas existem quando são conhecidas, quando são comunicadas. É missão dos comunicadores católicos mostrar que a harmonia com a criação é um desafio a ser assumido por aqueles que acreditam no Deus Criador. Editorial Rádio Rio Mar