No Jubileu da Esperança, que nos diz que “a Esperança não decepciona”, o Seminário das Pastorais Sociais do Regional Norte 1 reuniu na Maromba de Manaus, de 23 a 25 de maio de 2025, na comemoração de 10 anos da Laudato si’, 120 coordenadores/as das Pastorais e Organismos, representantes das igrejas locais e lideranças, para refletir sobre o tema: “No chão da Amazônia: caminhos no cuidado da Casa Comum”.
Um caminho de décadas
Uma oportunidade para esperançar, a partir das vivências dos povos e da Igreja da Amazônia, que peregrinam, construindo uma Igreja com rosto amazônico, um modo que foi tomando forma em Santarém 1972 e que teve na Laudato si’ um forte incentivo. Um tempo de aprendizado, inspirado na Palavra de Deus Criador, mas também na caminhada eclesial, nascida no Concilio Vaticano II e que foi dando passos em Medellin, Santarém, Aparecida, o Sínodo para a Amazônia…

Uma Igreja encarnada e libertadora, sustentada nos saberes ancestrais, no Bem Viver. Uma Igreja que sonha, com uma eclesialidade sinodal, uma espiritualidade ecológica, o diálogo intercultural. Sonhos que tem os pés no chão, uma atitude que leva a não subestimar a realidade, a aprofundar, a entender que do lugar onde sonhamos transbordam desafios, surgidos no mundo atual, adoecido, com dissonância cognitiva, em um cenário de violências, marcado pelos dramas contemporâneos.
Gerar esperança
É nessa realidade que o Seminário das Pastorais Sociais chamou a esperançar, a descobrir os sinais dos tempos, o bem que existe no mundo. Um chamado que também é pelo estabelecimento da paz e o cessar das guerras, por “sonhar que as armas se calem”. Um chamado a estar abertos à vida, criando uma aliança social em prol da esperança para os presos, pedindo anistia e perdão, abolir a pena de morte; esperança para os doentes, aliviados pela proximidade dos outros; esperança aos jovens; esperança aos migrantes; esperança aos idosos; esperança aos pobres.
Um esperançar que tem que nascer de cada pessoa, do fato de ir crescendo o número de pessoas que assumem e participam das Pastorais Sociais, com a genialidade das mulheres, aproveitando a capilaridade do laicato e a riqueza de experiências, ministérios, grupos, atividades e projetos de cuidado do meio ambiente que se vivem e são assumidos em tantos espaços do Regional Norte 1.

Partilha de experiências
O Seminário tem sido momento de partilha de inúmeras experiências que iluminam a vida da Igreja e da sociedade, que levam a reaprender o lugar da humanidade na Criação e a relação entre o ser humano e todas as criaturas. Tudo isso sustentado no cuidado, na capilaridade e na sinodalidade, que leva a acolher as audácias do Espírito, a assumir as experiências que ajudam na articulação, a reconhecer a riqueza de atuação predominantemente feminina, a descobrir a riqueza do diálogo com os saberes dos povos da Amazônia, com suas cosmovisões, a aprofundar o conhecimento dos dinamismos e mecanismos presentes nos grupos de interesse por trás da exploração da Amazônia.
Uma realidade que demanda investimento em processos de formação, em parcerias, em incidência, que faz valer a própria posição enquanto agentes sociais. Para isso é necessário estabelecer metas claras, destacar o alcance das boas práticas, assumir uma evangelização que alcance o humano, fortalecer as ações e socializar aprendizados. Junto com isso o Seminário propus algumas ações: celebrar o Jubileu da Terra, das Águas e dos Povos, se envolver na COP. subsídios locais simplificados e com dados locais, investir em comunicação, integrar a Cúpula dos Povos, encontros diocesanos pré e pós COP.
Não pode ser esquecido, seguindo a Bula do Jubileu, que “o Jubileu há de ser um Ano Santo caraterizado pela esperança que não conhece ocaso, a esperança em Deus. Que nos ajude também a reencontrar a confiança necessária, tanto na Igreja como na sociedade, no relacionamento interpessoal, nas relações internacionais, na promoção da dignidade de cada pessoa e no respeito pela criação. Que o testemunho crente seja fermento de esperança genuína no mundo, anúncio de novos céus e nova terra (cf. 2 Ped 3, 13), onde habite a justiça e a harmonia entre os povos, visando a realização da promessa do Senhor”.

Perspectiva do cuidado
O Seminário ajudou, a descobrir “as dinâmicas que mexem com a realidade com a qual a gente lida, nessa perspectiva do cuidado”, segundo o bispo auxiliar de Manaus, dom Zenildo Lima. Um tempo para “uma memória também das nossas percepções”, que mediante o discernimento são descobertas as intervenções necessárias. Mas também momento para fazer memória de “décadas de cuidado, de uma evangelização de cuidado da casa comum”, disse o bispo. Um caminho de fé, “que nos move, que nos movimenta, que nos impulsiona”, que conduz por um caminho ético.
Tudo expressado em linguagens diversos, sinal do potencial que faz parte da vida do povo e da Igreja da Amazônia, que em sua capilaridade se faz presente em tantos locais com um agir incidente, mas que é desafiado a ser mais articulado e esperançador. Para isso, “a nossa fé pode ser uma ferramenta, um instrumento de linguagem e não um instrumento que dificulta a relação entre os povos e entre as sensibilidades religiosas”, enfatizou dom Zenildo Lima. Ele pediu uma mudança nas dinâmicas, nos modos de viver, que ajude a inaugurar algo totalmente novo, a exemplo daquilo que Jesus fez. A partir de uma fé bíblica, no Reino de Deus, como homens e mulheres comprometidos com as pastorais e com o cuidado da casa comum como algo assumido por todos.