No quarto domingo do Advento, o arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Ulrich Steiner, iniciou sua homilia recordando que “estamos no Advento e a Liturgia insistentemente nos diz ‘o Filho do Homem’virá! A insistência litúrgica nos pôs a caminho de Belém. A três semanas a liturgia nos fez caminhar rumo a Belém e vamos nos damos conta da sua proximidade: Ele está à porta e bate”.
A missão confiada
“Acendemos a 4ª vela e vemos que se faz sempre mais luz, para sermos encontrados por aquele que é a Luz da luz; A criança de Belém que tudo ilumina! O Evangelho deste quarto domingo do Advento a mostrar a pessoa extraordinária de São José ao se encontra numa situação humanamente constrangedora, quase vergonhosa. Mas também a nos indicar a missão que lhe é confiada”, disse o presidente do Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.

O arcebispo de Manaus recordou que “José e Maria são noivos, não convivem e Maria está grávida. José se perturba, está surpreso, mas em vez de reagir de modo impulsivo e, segundo a tradição de maneira punitiva, deseja preservar a dignidade de Maria”, citando o texto bíblico: “José, seu esposo, que era um homem justo e não queria difamá-la, resolveu deixá-la secretamente”. O cardeal enfatizou que “denunciá-la seria levá-la à morte, e José procura um modo de preservar a sua amada Maria”.
Segundo o cardeal Steiner, “no sofrimento, sem escândalo, decide deixar Maria. O Anjo em sonho indica um outro caminho, abre caminho, ilumina com os desígnios de Deus. Abre a senda da união, do amor e da comunhão da salvação”, citando o Evangelho do dia: “José, filho de David, não temas receber Maria, tua esposa, pois o que Ela concebeu é obra do Espírito Santo”.
Confiança em Deus
“José confia totalmente em Deus, nos diz Papa Francisco, obedece às palavras do Anjo e recebe Maria. Foi precisamente esta confiança inabalável em Deus que lhe permitiu aceitar uma situação humanamente difícil e, num certo sentido, incompreensível. Na fé, José compreende que o menino gerado no ventre de Maria não é seu filho, mas o Filho de Deus, e ele, José, será o seu guardião, assumindo plenamente a sua paternidade terrena. O exemplo deste homem manso e sábio exorta-nos a elevar o olhar e a impeli-lo a caminhar mais além. Trata-se de recuperar a surpreendente lógica de Deus que, longe de pequenos ou grandes cálculos, é feita de abertura a novos horizontes, a Cristo e à sua Palavra”, refletiu o arcebispo.
“José, homem pobre porque vive do essencial, trabalha, vive do trabalho; é a pobreza típica daqueles que estão conscientes de que em tudo dependem de Deus e nele depositam toda a sua confiança. Na sua fidelidade, na sua justeza, na sua integridade, deseja preservar a Maria. E na revelação do anjo recebe a tarefa de nomear, de dar um nome àquele que está em gestação”, disse o presidente do Regional Norte 1, citando o texto bíblico: “Ela dará à luz um filho, e tu lhe darás o nome de Jesus”.

O nome
Ao elo do texto, o cardeal enfatizou: “o nome! Nós damos nome aos nossos filhos. Antes mesmo do nascimento escolhemos o nome. A criança não veio à luz, nossos olhos ainda não a tocaram, e já pronunciamos seu nome. O nome estabelece a relação, a familiaridade, a intimidade”.
Segundo o arcebispo de Manaus, “no círculo de nossas relações não conseguiríamos suportar conviver com alguém que não pudéssemos dizer o nome. O nome diz da pessoa, da identidade, da personalidade. No nome ela é ela mesma, única, singular. A singularidade que a idade vai conferindo traços, sulcos e maciez de um rosto. E o nome revela o rosto, a existência, a vida, a pessoa”.
“Dizer o nome é dar-se a conhecer; ao perguntar pelo nome se deseja conhecer. Recebemos o nome de alguém e na recepção do nome recebemos a quem nos deu o nome; damos o nome e nos damos no nome; receber e dar o nome é pertencer a alguém, é estar em relação com alguém; é poder ser amado e amar, não o nome, mas a pessoa a quem damos o nome e recebemos o nome”, aprofundou o cardeal.
O nome nos aproxima
Ele disse que “o nome diz tudo, mesmo o não dito, mesmo o silenciado, porque somos mais que o nome. O nome que deixa cada um ser Homem, ser Mulher. O ser humano entre outros seres humanos, onde ele não se perde no meio dos outros, pois se sente chamado e pode chamar a si mesmo. Eu me chamo, eu sou chamado, o meu nome é…! No meu nome, no dizer o meu nome, eu me aproximo e deixo que se aproximem de mim. No nome nos sentimos próximos, pois o nome cria proximidade, intimidade, familiaridade”.

“E o filho de Maria receberá de José um nome. O filho de Maria, o concebido pelo Espírito, o gerado no Espírito receberá do homem José um nome. Era próprio do pai nomear, chamar, dar o nome (São João Crisóstomo, Sermão 4,6). O nome do filho de Maria e de José é Jesus!”, refletiu o cardeal Steiner.
É por isso que “Deus recebendo um nome, Jesus, Deus podendo ser nomeado, Deus se tornando próximo no nome Jesus. No nome Jesus se estabelece entre Deus e nós uma relação nova, uma familiaridade, uma intimidade própria. O nome Jesus revela a existência, a vida, o rosto, a pessoa: o salvador, Deus”.
Ser amado e amar
“Deus deseja que José pronuncie o seu nome, pois deseja dar-se a conhecer e dizer que pertence à nossa familiaridade e realidade. No seu nome, no dizer o seu nome, ele se aproxima e deixa que nos aproximemos dele. Ao receber o nome Ele deseja ser amado e amar”, segundo o arcebispo de Manaus.
Segundo ele, “é por isso que o Evangelho nos recordava a palavra do profeta: ‘Ele será chamado pelo nome de Emanuel que significa: Deus está conosco’. No dizer de São João Crisóstomo, “Emanuel quer dizer eles verão a Deus com os homens; é verdade que sempre esteve com os homens, mas jamais com tamanha evidência” (São João Crisóstomo, Sermão 4,6). Ele o esperado no nome se torna visível. No nome, Deus se torna um de nós e podemos chamá-lo como chamamos a nosso filho. No nome Jesus se encontra a certeza de que Ele é um dos nossos, da nossa relação, da nossa terra, da nossa gente. Dar a Deus o nome Jesus é dizer que encontramos aquele que o profeta anunciava, o Emanuel, Deus conosco”.

O Deus conosco
Na primeira leitura, o cardeal destacou que “ouvíamos como o Senhor fala: ‘Pede ao Senhor teu Deus que te faça ver um sinal, quer provenha da profundeza da terra, quer venha das alturas do céu’. Deus recebendo de nós um nome é o sinal que provém da profundeza da terra e que, ao mesmo tempo, vem das alturas do céu. O nome que provém das profundezas da terra e das alturas dos céus é o Emanuel, o Deus conosco, aquele que agora veio habitar a terra! Sim, Deus recebeu um nome que provém das profundezas da terra da nossa humanidade e fragilidade; é o nome do Deus conosco, o da terra dos homens, é dos homens, é homem. Mas é o nome que provém das alturas dos céus porque Deus é o não-homem. O não-homem é que pode ser totalmente, intimamente, encarnadamente, homem. Somente dos céus pode provir aquele, gestado nas profundezas da terra. Aquele das alturas dos céus e das profundezas da terra está em gesta, está em gestação no ventre de Maria. Ele já pode receber um nome, deseja um nome, deseja ser nomeado, deseja ser chamado pelo nome. E no nome Jesus se anuncia: o nosso Deus está no meio de nós. O Deus conosco no ventre de Maria: mais conosco, mais Emanuel, impossível. E o nome visibiliza a invisibilidade de Deus. Ele é o conosco”.
Finalmente, o arcebispo de Manaus fez um chamado, “apressemo-nos, irmãos e irmãs, está por nascer nosso filho e já escolhemos seu nome! Nós o chamaremos Jesus, Aquele que salva, o Emanuel. Vamos a Belém e vejamos o Deus conosco. Vamos a Belém e deixemo-nos tocar pelo Deus conosco, um de nós, como nós, em nós, próximo de nós, dormindo em nós, vindo à luz em nós. E na proximidade da vinda, do nascer expressamos o desejo de nossos corações: Deus conosco, Emanuel, vem! Já escolhemos teu nome, desejamos nomear-te, pronunciar teu nome, chamar-te de Jesus. Vem Meu Senhor e Meu Deus! Amém”.


