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Cardeal Steiner: “Morte-vida, nossa esperança, pois na morte vislumbramos o mistério do Amor que tudo cria e recria”

Cardeal Steiner: “Morte-vida, nossa esperança, pois na morte vislumbramos o mistério do Amor que tudo cria e recria”

Na Comemoração dos Fiéis Defuntos, o arcebispo de Manaus e presidente do Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, cardeal Leonardo Ulrich Steiner, iniciou sua homilia recordando que “Jesus no Evangelho nos convida a viver na prontidão, com lâmpadas acessas. Estar à espera do Senhor que está por vir: ‘vossos rins estejam cingidos e as lâmpadas acesas. Sede como homens que estão esperando o senhor voltar … para lhe abrir, imediatamente, a porta, logo que ele chegar e bater.’ (Lc 12,35-36) Viver da espera do inesperado, da chegada do amado, da amada, viver da esperança, estarmos em prontidão, na atenção, pois o Senhor da vida está por chegar. Chega na vida e na morte, na morte-vida. Morte-vida, nossa esperança, pois na morte vislumbramos o mistério do Amor que tudo cria e recria; memória da vida verdadeira!”

Despertos como servos que não dormem

Inspirado nas palavras de Papa Francisco, ele disse que “estarmos despertos como servos que não dormem, até o Senhor chegar, pois nossa existência é laboriosa, frutuosa, fecunda, ativa, amante. Deixarmos as distrações, a desocupação, a sonolência, o torpor, e estar na atenção para acolher com gratidão e admiração cada novo dia que nos é concedido. Cada manhã é uma página branca que o cristão começa a escrever com obras de bem. Jáfomos salvos pela redenção de Jesus, mas agora estamos à espera da manifestação plena do seu senhorio: quando finalmente Deus será tudo em todos (cf. 1Cor 15,28). Nada é mais certo, na fé dos cristãos, do que este “encontro”, este encontro com o Senhor, quando Ele voltar. E quando este dia chegar, nós cristãos queremos ser como aqueles servos que passaram a noite com os rins cingidos e as lâmpadas acesas: é preciso estar prontos para a salvação que chega, prontos ao encontro. Pensastes como será aquele encontro com Jesus quando Ele vier? Mas será um abraço, uma alegria enorme, uma grande alegria! Devemos viver na expetativa deste encontro!”

“Somos convidados a permanecer com as lâmpadas acessas, porque o Senhor da vida sempre está por chegar. Se não mantivermos nossas lâmpadas acessas, será apenas noite e não teremos como abrir as portas da nossa existência quando o Senhor chegar. Nessa atenção benévola e na receptividade amorável a porta permanece aberta e convidativa para que o Senhor entre permaneça conosco. E conosco, ‘Ele mesmo vai cingir-se, faze-nos sentar à mesa e, passando, nos servirá!’ No manter a luz da esperança nos damos conta que é Deus mesmo a nos servir, a cuidar e iluminar nossos dias, a vida e a morte, a morte e a vida”, refletiu o cardeal.

Por que temos medo diante da morte?

O presidente do Regional Norte 1 da CNBB questionou: “No dia em que fazemos memória dos nossos irmãos e irmãs falecidos também nos perguntamos: por que temos medo diante da morte?” Ele recordou as palavras de Bento XVI: “Diria que as respostas são múltiplas: temos medo diante da morte porque temos medo do nada, deste medo de partir em direção a algo que não conhecemos, que nos é desconhecido. E então existe em nós um sentido de rejeição porque não podemos aceitar que tudo aquilo de belo e de grande que foi realizado durante uma existência inteira, venha de repente apagado, caia no abismo do nada. Sobretudo, nós sentimos que o amor chama e pede eternidade e não é possível aceitar que isto venha destruído pela morte em um só momento. Ainda, temos medo diante da morte porque, quando nos encontramos rumo ao fim da existência, existe a percepção que exista um juízo sobre as nossas ações, sobre como conduzimos a nossa vida, sobretudo sobre estes pontos de sombra, que, com habilidade, sabemos remover e tentamos remover da nossa consciência”.

No dia de Finados, nos movimentamos entre a memória e a esperança. Enquanto caminhamos, caminhamos na esperança, pois redimidos, salvos. Seguimos o que nos ensinava o Evangelho: “vossos rins estejam cingidos e as lâmpadas acesas. Sede como homens que estão esperando o senhor voltar … para lhe abrir, imediatamente, a porta, logo que ele chegar e bater” (Lc 12,35-36). Apesar de nossos tropeços, das nossas contradições e mesmo das nossas traições, porque salvos, permanecemos no caminho, no seguimento de Jesus, na superação de nossa fraqueza. Continuamos a plantar, regar, a semear, a oferecer esperança e caridade, pois a vida é generosa, esperançada”, destacou o arcebispo.

Vivemos da vida que nos adveio pela morte

“A razão maior de caminharmos na esperança e com confiança é o que nos veio ensinado por São Paulo”, disse citando o texto de 1Cor 15,20-22: “Irmãos: Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram. Com efeito, por um homem veio a morte e é também por um homem que vem a ressurreição dos mortos. Como em Adão todos morreram, assim também em Cristo todos reviverão”. Isso porque “vivemos da vida que nos adveio pela morte. A ressurreição que é florir da morte de cruz. Cristo crucificado-ressuscitado nos dizendo: ‘Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que tenha morrido, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, jamais morrerá’ (Jo,11,25-26)”. Diante do texto bíblico, o cardeal questionou: “Como não viver de esperança? Como no dia de Finados não memorar a grandeza de que todos fomos gerados para a vida e a vida eterna?”

O arcebispo fez um chamado a “fazemos memória! A memória fortalece um povo porque se sente radicado num caminho, numa história, numa comunidade, numa família. A memória faz com que compreendamos que não estamos sozinhos, somos uma comunidade que tem uma história, um passado, uma vida. Fazemos memória, rememoramos, trazemos à lembrança e nos apercebemos numa relação nova e inusitada que ultrapassa o tocado, o cheirado, o visto e nos conduz ao encontro de uma presença em outro espaço e tempo: o tempo e o espaço do amor, da esperança. A liturgia de Finados é memória das relações, despedidas, dores, solidões que nos advieram com o desaparecer de nossos olhos nossos entes queridos”.

Nas nossas orações, refletiu o cardeal Steiner, “fazemos memória das pessoas que morreram sozinhas, abandonadas, sem ninguém. Aquela solidão, onde somente Deus está presente, sem se mostrar. Desejamos rezar por todos os falecidos de todos os tempos. Memória-reverência em relação aos irmãos e irmãs que faleceram e que foram significativas para nós e que não estão mais ao lado no percorrer a vida na terra. Os gestos de afeto, de amor com que envolvemos os nossos falecidos, são um modo para protegê-los, que eles não estejam sem nossa oração diante de Deus. Em todas as culturas podemos colher e perceber um cuidado e reverência para com os falecidos. Na oração pedimos que Deus os acolha na sua misericórdia”.

Visita como memória

O presidente do Regional Norte 1 disse que “hoje, muitos visitarão os seus falecidos e depositarão flores, acenderão uma vela. Memória e esperança! A visita como memória, flores e velas como esperança. Quantos pensamentos, recordações e preces numa visita: memória; quanto desejo de reencontro, de eternidade, ressurreição: esperança. Nossa relação, nossa vida em comunhão com os que estão invisível aos olhos”.

Junto com isso, ele acrescentou: “hoje, quase silenciosamente dizemos e rezamos com Jó na primeira leitura: ‘Eu sei que o meu redentor está vivo e que, por último se levantará sobre o pó; e depois que tiverem destruído esta minha pele, na minha carne, verei a Deus. Eu mesmo o verei, meus olhos o contemplarão, e não os olhos dos outros’ (Jo 19,25-27). Depois do caminho quase desumanado, incompreensível, faz memória ao dizer que viveu na esperança e por isso ergue a prece: ‘Eu mesmo o verei, meus olhos o contemplarão’. Sim, o veremos, pois já o vemos na Palavra e no Pão”.

Nos sentirmos acolhidos

“Essa é nossa esperança, a alegria da nossa fé! Na fé de estarmos na contemplação de Deus trino e uno, nos sentirmos acolhidos e eternamente vivificados. Sim, irmãs e irmãos não os olhos dos outros, mas nós mesmos”, afirmou o arcebispo de Manaus.

Finalmente, ele fez um convite para que “peçamos a Deus que nos conceda a graça de nunca perder a memória, jamais esconder a memória de pessoa, de família, da comunidade e que nos dê a graça da esperança, porque a esperança é um dom que nos concede: saber esperar, olhar para o horizonte, não permanecer fechados. Olhar, tendo a esperança como horizonte. Ele nos conceda a graça de nos reencontraremos no Reino definitivo, onde todos estaremos envoltos pelo amor do Pai, do Filho e do Espírito. Nossos irmãos e irmãs falecidos descansem na paz do Senhor”.

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