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Dom Mário Antônio da Silva: “Existem muitos discursos de defesa da vida, mas pouca prática em defesa da vida fragilizada”

Durante quase seis anos, de 2016 a 2022, o atual Arcebispo de Cuiabá foi Bispo da Diocese de Roraima, afirmando que viveu esse tempo desde o aprendizado e a partilha com as comunidades, também com os povos indígenas. A situação que vive o Povo Yanomami o leva a destacar o trabalho realizado com esse povo pela Igreja de Roraima, sobretudo pelos missionários e missionárias da Consolata. Um trabalho de defesa, que “se dá por omissão das autoridades, que têm a competência de cuidar dos povos indígenas”. Diante desse momento de tristeza e de luto, Dom Mário Antônio chama a assumir uma verdadeira ecologia integral. O 2º Vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), faz um chamado a que “como católicos nos unamos em defesa da vida e da vida concreta”. Segundo ele, “hoje existem muitos discursos de defesa da vida, da fecundação até a morte natural, mas pouca prática em defesa da vida concreta existente diante dos nossos olhos, sobretudo quando ela está fragilizada”. O senhor foi Bispo da Diocese de Roraima durante quase seis anos. Por todos os lugares onde passamos, vai ficando um pedaço do nosso coração. O que o senhor deixou na Diocese de Roraima? Meu período em Roraima, quase seis anos, foi um período de muitos desafios, mas também de muito aprendizado, aprendizado com as comunidades, sobretudo daquelas que estavam mais distantes do grande centro, que é a capital. Mas um aprendizado ímpar com os povos e comunidades indígenas. Das muitas coisas que eu aprendi lá e procurei retribuir é a proximidade com as pessoas, a proximidade no aspecto de estar junto, não só para celebrar a missa, mas também para a convivência. E a convivência se dava nos arraiais, se dava nas quermesses, se dava até nos momentos de comensalidade, eram momentos muito bonitos. O que eu procurei também partilhar com as comunidades da Diocese de Roraima é que nós precisamos ter uma fé que é mais do que normas, sejam católicas ou bíblicas. Mas a nossa fé é adesão a Jesus Cristo e essa adesão é visibilizada pelo seguimento a Ele, na prática da paz, da justiça e da solidariedade. Foi isso que eu procurei partilhar com as pessoas, recebendo deles impulso e motivação para uma missão diante de tantos desafios. O senhor fala da importância da convivência com o povo. Entre os yanomami, a Diocese de Roraima se faz presente através dos missionários e missionárias da Consolata, na missão Catrimani, realizada desde a convivência com esse povo. Qual a importância dessa presença como Igreja no meio do Povo Yanomami e esse jeito de anunciar o Evangelho? A Diocese de Roraima sempre teve na sua história, sobretudo com os bispos anteriores, grande preocupação com os povos indígenas e também específica com o Povo Yanomami, com a presença dos missionários e as missionárias Consolata, uma presença heroica, de mulheres e homens na convivência com as comunidades do Povo Yanomami, no respeito à cultura, no respeito à religião, na convivência, no fomentar os valores e em valorizar a sabedoria do Povo Yanomami. No seu cuidado com a própria cultura, com a própria humanidade, com os membros de cada maloca, de cada comunidade, como também no cuidado da natureza, com o cuidado da floresta, dos rios, da obra do Criador. É um jeito de conviver muito respeitoso e que tem sementes do Evangelho, que realmente revela o que o ser humano tem de mais humano e divino, no estar, na interlocução e no confronto. Por isso, a Diocese de Roraima tem uma contribuição sem igual em toda a Igreja, para todo mundo, a través do testemunho dos missionários e missionárias da Consolata, essa presença de respeito, de valorização, e digna de ser chamada também do Reino de Deus à luz daquilo que nos fala São Paulo, da graça, paz e justiça do Espírito Santo. Uma presença que também foi de defesa diante de tantos ataques que os povos indígenas e sobretudo o Povo Yanomami têm sofrido nas últimas décadas. Por que é importante essa atitude de defesa da Igreja assumida pela Diocese de Roraima em favor dos povos indígenas, do Povo Yanomami? A gente gostaria que todo ser humano tivesse sua dignidade humana respeitada, seus valores reconhecidos, seus direitos cumpridos para que pudessem também seus deveres serem executados, sem traumas, sem sacrifícios, sem opressão e sem injustiça. Mas infelizmente é fantasia achar que a Igreja não precise estar na luta pelos mais empobrecidos. A Igreja de Roraima, como toda a Igreja católica, quando se coloca ao lado dos indefesos, dos mais pobres, tem sido a grande testemunha de Jesus Cristo. No caso do Povo Yanomami, os missionários e missionárias da Consolata abrem portas e abrem os nossos olhos para uma atitude fundamental, mesmo que específica, diante dos desafios dos povos yanomami, lutar pela dignidade da sua vida, da sua saúde, de sua própria religião, conservando e escutando a sua própria sabedoria. A defesa da Igreja se dá por algo que a gente fica muito triste, se dá por omissão das autoridades, que têm a competência de cuidar dos povos indígenas, da omissão do Governo Federal, do Governo Estadual e de outras instituições que têm a competência de cuidar dos povos indígenas. Esse abandono, esse descaso, esse desmonte de direitos fez com que os povos yanomami entrassem ainda em uma escuridão maior, em uma treva que não mereciam. Parece-me que agora vem aí uma nova luz, tem novas luzes que surgem. Uma luz que a Igreja sempre procurou manter, mesmo que de maneira limitada, com as suas forças e com a sua missão lá com o Povo Yanomami. Uma atitude que não é exclusiva da Igreja de Roraima, mas que poderíamos dizer que é assumida pela Igreja do Brasil e inclusive da Igreja universal com o apoio expresso do Papa Francisco aos povos indígenas. Como Vice-presidente 2º da CNBB, como o senhor pensa que a Igreja do Brasil está impulsando essa defesa e como o que está acontecendo com o Povo Yanomami desafia a Igreja…
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Padres de Coari, Tefé e Alto Solimões participam do Retiro anual

Os padres das igrejas locais da calha do Solimões participam na cidade de Coari de 23 a 27 de janeiro de 2023 do Retiro anual. O tema do retiro deste ano é “A Missão de cuidar e o cuidado da Missão, a partir da pedagogia de Jesus”, tendo como passagem iluminadora Lucas 24, 13-36. O tema está em concordância com as temáticas trabalhadas pelos presbíteros do Brasil nos últimos anos, tendo sido refletido no último Encontro Nacional dos Presbíteros, realizado em Aparecida em maio de 2022. Também está presente no retiro o III Ano Vocacional no Brasil, que está sendo realizado neste ano de 2023, com o tema “Corações ardentes, pés a caminho”. Um momento único para reencontrar com Deus, para renovar o ministério e a vocação. Cerca de 35 presbíteros da Diocese de Coari, a Diocese de Alto Solimões e a Prelatura de Tefé estão participando deste momento de oração. No retiro estão presente Dom José Altevir da Silva, Bispo da Prelazia de Tefé, que é o pregador do retiro, Dom Marcos Piatek, Bispo da Diocese de Coari e Dom Adolfo Zon, Bispo da Diocese de Alto Solimões. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1 Com informações e fotos do Pe. Marcelo Gualberto, Diocese de Alto Solimões

Dom José Albuquerque preside planejamento quadrienal da Organização dos Seminários e Institutos do Brasil

Está acontecendo na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Brasília (DF), de 23 a 25 de janeiro, a reunião dos membros da nova diretoria nacional da Organização dos Seminários e Institutos do Brasil (OSIB). Convocados pelo bispo referencial da Organização, Dom José Albuquerque, estão presentes o Pe. Vagner João Pacheco de Moraes, da Diocese de Osasco – Regional Sul 1, Presidente da OSIB; o Vice-presidente Pe. Edgar Rigoni, da Diocese de Colatina – rRegional Leste 3; o Pe. Carlos Henrique Santos, da Arquidiocese de Aracaju – Regional Nordeste 3, Secretário Executivo; o Pe. Deoni Alexandrino da Silva, Arquidiocese de Cuiabá – Regional Oeste 2, tesoureiro; e o Pe. Guilherme Bada Duzioni  da Diocese de Criciúma – Regional Sul 4), coordenador de publicações. O encontro traz a oportunidade de planejamento das atividades do quadriênio e as previstas para o ano de 2023. Segundo o Bispo auxiliar da Arquidiocese de Manaus e Bispo eleito da Diocese de Parintins, pelo fato de ser uma nova equipe, esse tipo de reunião se faz necessária para que os membros possam se conhecer melhor e para que se ajudem mais. “Cada um desses membros são formadores, tem diversas atribuições nas suas dioceses, então temos que reunir esforço para além de ter uma atribuição local e regional também estarmos à serviço da equipe nacional, por isso é preciso nos organizarmos na questão de calendário das nossas atividades”, explicou Dom José Albuquerque. Ele salientou que ao longo de 2023, a OSIB irá realizar três encontros destinados aos que atuam especificamente nas casas de formação, que são os diretores espirituais, os formadores e os psicólogos que trabalham nos seminários.  “Precisamos verificar os objetivos, procurar assessoria e estarmos em sintonia com os outros organismos da Comissão”, disse. Os encontros planejados acontecerão de 27 a 30 de março o Encontro Nacional para Diretores Espirituais, em Itaici (SP); de 10 a 14 de julho o Encontro Nacional de Atualização para Formadores, em Guarulhos (SP); e de 22 a 24 de setembro o Encontro Nacional de Atualização para Psicólogos, em Guarulhos (SP). Segundo o presidente da OSIB a reunião além de ser uma oportunidade de reencontrar todos os membros é também ocasião oportuna para que os mesmos conheçam a sede da Conferência, as Edições CNBB, e de toda a dimensão de organização da Igreja no Brasil a qual eles estão inseridos como OSIB. Já o Padre Carlos Henrique, Secretário Executivo da OSIB destacou que a reunião é sempre uma expressão da sinodalidade em que são convidados a vivenciar como igreja. Ele define a OSIB como um colegiado em que se reflete, planeja e auxilia a igreja naquilo que tange às organizações dos seminários e institutos do Brasil. “É uma missão de grande importância porque os nossos seminários são ambientes que formam os futuros sacerdotes das igrejas particulares espalhadas pelo nosso imenso Brasil. É uma experiência muito peculiar, especial, porque além dessa dimensão bela de contribuir com a formação dos reitores e formadores de seminários, nós também agregamos essa dimensão da colegialidade interligada com a CNBB, que é a expressão de comunhão e participação”, expressou o padre Carlos Henrique. O encontro será oportunidade para rever o Estatuto da Organização e partilharem sobre encontros nacionais já ocorridos, como foi o caso da primeira experiência missionária que aconteceu no Amazonas, em Manaus, e o curso para formadores e reitores da América Latina que aconteceu em novembro de 2022, em Roma. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1 – Com informações e fotos da CNBB Nacional

Dom Roque Paloschi: “A Igreja de Roraima ficou junto aos povos indígenas contra tudo e contra todos, e tem pago um preço muito caro”

As palavras de uma música cantada nas comunidades: “Ninguém se engana, ninguém se engana, essa história já começou desumana”, são lembradas por Dom Roque Paloschi ao falar da realidade do Povo Yanomami. Uma realidade que ele conhece de primeira mão, dado que entre 2005 e 2015 foi Bispo da Diocese de Roraima e desde setembro de 2015 até hoje ele é Presidente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Uma história que “se tornou desumana de uma maneira muito visível, muito concreta, que abalou o mundo, na tentativa do Regime Militar da construção da Transamazônica, aonde houve uma invasão de garimpeiros que exigiu por parte das entidades humanitárias e a Igreja um empenho muito grande para a denúncia no exterior em relação ao genocídio que estavam vivendo os povos yanomami”. O Arcebispo de Porto Velho lembra também da Campanha SOS Yanomami lançada no final da década de 80, “envolvendo muitos setores democráticos no Brasil e entidades ligadas também à defesa dos direitos humanos e à Igreja, que foi muito importante também”. Um período que define como “uma tragedia humanitária muito grande”, recordando como com muito sacrifício o governo conseguiu a retirada dos garimpeiros, que na verdade não saíram totalmente. Inclusive alguns foram entrando na Terra Yanomami e se apossando de grandes extensões de terra na perspectiva de tomar posse dessas terras. Ele se refere a um período bastante curto de certa tranquilidade junto às comunidades yanomami em relação ao garimpo. Essa realidade mudou a partir do ano 2005, com uma presença visível dos garimpeiros, uma situação continuamente denunciada por diversas entidades ligadas aos yanomami, assim como pela Igreja de Roraima e o próprio Conselho Indigenista Missionário. Garimpeiros “acobertados pelos grandes proprietários e pelo poder político local”, denuncia Dom Roque. O Presidente do Cimi destaca a importância do reconhecimento e demarcação das terras yanomami nos anos 90, na época do Governo Collor, que ele vê como algo decisivo. Dom Paloschi insiste em não ignorar que mesmo com a Constituição de 88, dos artigos 231 e 232, “sempre foi uma luta em glória a questão da saúde do Povo Yanomami e a questão da educação”. A Igreja com sua missão junto ao Povo Yanomami, “sempre procurou ser essa presença de proximidade e de solidariedade, onde eles precisam ser os sujeitos, os protagonistas da história”, destaca o Arcebispo de Porto Velho. Em relação ao atual cenário, Dom Roque insiste em que “não é de hoje que as denúncias têm sido feitas em âmbito do país, Ministério Público, Polícia Federal, tudo quanto é órgão governamental tem sido feito essas denúncias, mas infelizmente nós chegamos aonde chegamos porque os invasores e também aqueles que garantem a presença dos invasores lá, se sentiam sempre autorizados pelas falas do senhor presidente que deixou o cargo há pouco, e também pela sua equipe de ministros e toda essa frente”. Dom Roque Paloschi insiste que “pode ser difícil nós vermos essas imagens, mas isto não vem de hoje, isto é uma tragedia já anunciada”. Ele não duvida em afirmar que “nós vivemos num país preconceituoso, discriminatório, aonde queremos negar os direitos originários dos primeiros habitantes dessas terras. Os povos yanomami vivem nessa região há mais de 12 mil anos segundo os estudos, mas nós, porque armamos um arcabouço jurídico, achamos que temos o direito de tirar os únicos direitos que eles têm, os seus territórios, as suas culturas, as suas espiritualidades e o seu modo de viver”. “O Povo Yanomami, e isso dito por Davi Kopenawa, não é contra o desenvolvimento, os povos indígenas não são contra o desenvolvimento, mas que desenvolvimento é esse, onde queremos destruir a Criação, envenenar a terra, a água e o ar para concentrar riqueza nas mãos de pouco?”, ressalta Dom Roque. Ele destaca que “é mais do que urgente que o Governo Federal com seus diversos ministérios assuma essa responsabilidade pública e não dê trégua até que não se retire o último invasor de todas as terras indígenas, que está sendo uma vergonha para o Brasil, aonde nós estamos negando o direito dos primeiros habitantes dessas terras”. O Povo Yanomami sempre dispensou uma grande acolhida à Igreja católica, não duvida em disser aquele que foi Bispo da Diocese de Roraima por 10 anos. Dom Roque destaca o tempo em que a diocese coordenou a saúde indígena, sendo pedido com insistência pelos povos indígenas para que a diocese não deixasse de fazer esse trabalho, sendo abandonado em consequência das grandes dificuldades com a Fundação Nacional de Saúde (FUNASA). Nesse sentido, ele lembrou que as comunidades sempre perceberam a presença dos missionários e missionárias não como “uma presença de quem caminha junto respeitando a cultura, respeitando a espiritualidade, respeitando o modo de vida, respeitando a história”. Dom Roque lembrou as palavras do Papa Francisco aos Bispos com motivo da Jornada Mundial da Juventude em 2013, quando o Santo Padre disse: “A Igreja está na Amazônia, não como aqueles que têm as malas na mão para partir depois de terem explorado tudo o que puderam. Desde o início que a Igreja está presente na Amazônia com missionários, congregações religiosas, sacerdotes, leigos e bispos, e lá continua presente e determinante no futuro daquela área”. “Tudo isso tem demostrado também o grande reconhecimento que a presença dos missionários, seja na missão Catrimani como também na missão Xitei, por mais de 20 anos, que infelizmente não conseguimos mais missionários, missionárias que aceitassem viver naquela região, ficou uma lacuna”, lembra Dom Paloschi. Ele insiste em que “eu posso dizer o muito carinho da receptividade, da acolhida, mas também deste caminho respeitoso da Igreja, dos missionários em relação à vida deles e eles também em relação à vida dos missionários”. Algumas pessoas, inclusive entre seus membros, querem desacreditar a postura da Igreja manifestada na nota dos Bispos do Regional Norte1 da CNBB no dia 21 de janeiro de 2023, Dom Roque Paloschi não duvida em dizer que “a ignorância é a pior coisa, é o pior peso que nós carregamos”. Segundo o Presidente do Cimi, “o povo de Roraima, o povo da…
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Diocese de Roraima, sempre companheira e defensora do Povo Yanomami

A dor do Povo Yanomami vem dilacerando a vida de um dos povos mais numerosos e sofridos da Amazônia brasileira. As cenas reveladas nos últimos dias são um episódio mais de uma série de fatos que mostram as consequências dos abusos cometidos nos últimos séculos contra os povos originários no Brasil. Na história do Povo Yanomami, uma de suas grandes defensoras nas últimas décadas tem sido a Igreja católica, especialmente através dos missionários e missionárias da Consolata, que desde 1965 assumiram a missão Catrimani, um exemplo daquilo que hoje, especialmente depois do Sínodo para a Amazônia é conhecido como evangelização intercultural. Do mesmo modo, os Yanomami que habitam na Diocese de São Gabriel da Cachoeira, no Estado do Amazonas, têm contado com o apoio e defesa dos salesianos e salesianas. Na missão Catrimani, um bem e um dom para a Igreja de Roraima, se fez realidade um modelo de missão fundado sobre o respeito e o diálogo resultando em ações concretas em defesa da vida, da cultura, do território e da floresta, a Casa Comum. Uma missão fundamentada no silêncio e no diálogo gerando laços de amizade e alianças na ótica do bem viver. Uma missão que ao completar 20 anos levou o então Bispo, Dom Aldo Mongiano, a dizer que “É privilégio ter os Yanomami”. A defesa do Povo Yanomami tem sido uma prioridade para os últimos Bispos da Diocese de Roraima, levando essa Igreja local a se posicionar. Dom Roque Paloschi, Bispo da Diocese de Roraima de 2005 a 2015, afirmou na introdução ao Livro “O Encontro”, que relata memórias da Missão Catrimani, que “encontrar e conhecer os Yanomami têm sido um caminho extraordinário, um bem e privilégio para a Igreja de Roraima”. Uma missão que “é o antídoto contra as violências que os Yanomami sofriam na época e ainda sofrem”. Um modo de anunciar o Evangelho que tinha como fundamento “a ideia de que os índios não precisam ser modificados”, segundo Dom Roque, que insistia em que “as sociedades ameríndias, assim como qualquer outra sociedade, devem ser compreendidas e respeitadas nas suas diferenças”. De fato, Dom Servilio Conti, bispo na época, buscou com a missão Catrimani, “conhecer aquele povo, amá-lo e com ele viver”. O convívio com os yanomami ajudou a Igreja de Roraima a descobrir que é “necessário entender, aprender a ver o mundo com os olhos do outro”, afirmou o Presidente do Conselho Indigenista Missionário. Segundo ele, “os missionários fundiram e, de certa forma, subordinaram os destinos da missão ao destino dos Yanomami, colocaram-se ao lado dos Yanomami e a serviço de um projeto de vida voltado à dignidade e autodeterminação desse povo”, um caminho nem sempre fácil, que os levou a serem expulsos em 1987 por 18 meses. Já em 2017, quando foi publicado o livro, Dom Roque Paloschi denunciava a ameaça do garimpo na Terra Yanomami: “atualmente, as invasões e depredações das suas terras continuam, com a constante presença de garimpeiros e a pesca predatória. Os indígenas denunciam, mas permanece a impunidade”. Ele fazia um apelo para as parcerias e as redes para “a luta contra os ‘dragões mortíferos’ da vida”. Na mesma linha se manifestou o último Bispo da Diocese de Roraima, atual Arcebispo de Cuiabá, Dom Mário Antônio da Silva, em 23 de abril de 2022, destacando que na história da Igreja de Roraima, “a causa da vida dos povos indígenas foi assumida como anúncio da dignidade humana e, por vezes, com denúncia daquilo que negava o Evangelho e os direitos humanos”. O 2º Vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil denunciava que “nos últimos 3 anos, o dragão devorador da mineração tomou força novamente e avança com toda ferocidade e poder das organizações criminosas sobre a Terra Yanomami”, lembrando os constantes ataques, crimes e mortes provocadas pelo garimpo. Algo que denunciava como “uma vergonha para nosso país e fazem o nosso coração sentir o sofrimento e a morte que os Yanomami e a natureza estão vivendo”. Dom Mário Antônio denunciou “a omissão e a responsabilidade do Governo Federal, que ao invés de cumprir seu papel constitucional na defesa dos povos indígenas e de suas terras, patrimônio da União, incentiva as invasões e coloca na pauta do Congresso Nacional o projeto de lei, que legaliza a mineração em terras indígenas”, enumerando as graves consequências disso.  Diante dessa realidade, ele convidou a se unir na defesa e na garantia da vida e do território do povo Yanomami, a não compactuar com a mineração nas terras indígenas, a defender e cuidar da casa comum. O atual administrador diocesano, Padre Lúcio Nicoletto, denunciou essa realidade na Visita ad Limina do Regional Norte1 da CNBB ao Papa Francisco em junho de 2022, lhe entregando uma tela de um artista local onde aparecia o garimpo avançando e destruindo o Corpo do Yanomami, querendo assim denunciar as consequências do avanço do garimpo na Terra Yanomami. Essa foi mais uma denúncia de tantas realizadas nas últimas décadas, especialmente nos últimos anos, pela Igreja de Roraima, levando ao Santo Padre uma expressão do drama dos yanomami em relação à destruição da sua vida. Uma Igreja que no dia 21 de janeiro de 2023 expressou “a nossa solidariedade ao Povo Yanomami e o nosso repúdio ao genocídio, envolvendo pelo menos 570 crianças, devido ao caos instalado nos últimos anos quanto à desassistência na saúde indígena, alto índice de malária, desnutrição e contaminação por mercúrio, provocados pelo garimpo ilegal na Terra Indígena no período do (des)governo anterior e sua necropolítica”. Dizendo apoiar as medidas do governo federal, esperam “medidas que venham solucionar esta situação, como a retirada do garimpo daquelas terras, sempre na defesa e promoção da vida”. Mais um exemplo de uma profecia iniciada muito tempos atrás e que a Igreja de Roraima não quer deixar morrer. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Os Bispos do Regional Norte1 da CNBB mostram indignação e profunda solidariedade ao Povo Yanomami

Os Bispos do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil lançaram neste 21 de janeiro uma nota de indignação e solidariedade diante da situação que vive o Povo Yanomami. Os Bispos se mostram “estarrecidos e profundamente indignados, estamos vendo as imagens dos corpos esqueléticos de crianças e adultos do Povo Yanomami no Estado de Roraima, resultado das ações genocidas e ecocidas do Governo Federal anterior, que liberou as terras indígenas já homologadas para o garimpo ilegal e a extração de madeira, que destroem a floresta, contaminam as águas e os rios, geram doenças, fome e morte. Mais de 570 crianças já perderam a vida”. A Terra Indígena Yanomami (TIY) é a mais extensa terra indígena no Brasil com cerca de 9 milhões de hectares, sendo habitada por cerca de 28.000 indígenas Yanomami, falantes de 6 línguas distintas e divididos em mais de 300 comunidades além de grupos indígenas em isolamento. O garimpo ilegal, com uma presença estimada de cerca de 20.000 garimpeiros, associados a organizações criminosas que configuram o chamado “narco-garimpo”, envolvidos em tráfico de drogas, de armas e lavagem de dinheiro, que contam com a cumplicidade de funcionários públicos e o apoio de uma parcela das elites locais, empresários e políticos, mantêm uma relação com a floresta marcada pelo extrativismo predatório. Trata-se de uma atividade que afeta a 273 aldeias yanomami, uma situação ainda mais agravada pelo desmonte das ações de saúde junto às comunidades Yanomami. As consequências do garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami é a devastação ambiental, a destruição das comunidades indígenas, o desequilíbrio da economia indígena que permite sua sobrevivência, o agravamento da situação sanitária, até o ponto de que comunidades que vivem no meio da floresta amazônica, estão sem atendimento de saúde, são milhares de indígenas abandonados sem qualquer assistência num momento de explosão exponencial de doenças provocadas também pela presença dos garimpos, uma situação que atinge sobretudo às crianças e às pessoas idosas, que sucumbem por doenças que tem tratamento. Diante de uma situação de colapso sanitário, o atual governo brasileiro declarou no dia 20 de janeiro de 2023 a emergência em saúde pública no território Yanomami. O Governo Federal montou uma força-tarefa para avaliar a tragédia na Terra Indígena Yanomami, visitando as regiões mais afetadas para montar um plano de ação e tentar evitar mais mortes. Os Bispos do Regional Norte1 tem manifestado sua “profunda solidariedade ao Povo Yanomami, às famílias que perderam seus filhos e adultos, aos tuxauas e lideranças”. Junto com isso, eles dizem se colocar “ao lado dos missionários e missionárias da Igreja de Roraima e do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), que há tempo vem denunciando a invasão do território yanomami e suas trágicas consequências”. O Regional Norte1 da CNBB apoia “as decisões corajosas do Presidente da República e vários ministros, ministras e assessores que visitaram a região, tomando as medidas necessárias e urgentes para expulsar os invasores e salvar muitas vidas de pessoas à beira da morte”, segundo a nota. Citando as palavras da Querida Amazônia, a exortação pós-sinodal do Sínodo para a Amazônia, onde eles participaram como padres sinodais, a nota diz que “estamos diante de mais uma situação em que se repete o que foi denunciado pelo Papa Francisco na Querida Amazônia: ‘os povos nativos viram muitas vezes, impotentes, a destruição do ambiente natural que lhes permitia alimentar-se, curar-se, sobreviver e conservar um estilo de vida e uma cultura que lhes dava identidade e sentido’ (QA 13)”. Movidos pela esperança, os Bispos suplicam “a Deus Pai, Defensor dos pobres e oprimidos, que proteja o Povo Yanomami a todas as pessoas que lutam para defender seus direitos”. Igualmente, eles pedem a intercessão pelos Yanomami de “Maria, Mãe da Amazônia e Mãe dos Povos Indígenas”.   Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Ir. Michele Silva: “Jesus chama no cotidiano da vida do povo”

“No 3º domingo do Tempo Comum, a liturgia nos apresenta o início do caminho missionário de Jesus, e nos convida a participar deste grande Projeto de Amor de Deus Pai e Mãe pela humanidade”, segundo a Ir. Michele Silva. Comentando a primeira leitura do livro do profeta Isaías, a religiosa afirma que “nos enche de esperança com o anúncio de uma grande luz que traz alegria e libertação ao povo, o próprio Deus que se faz um de nós e caminha ao nosso lado e nos conduz a libertação de toda forma de opressão. É tempo de esperançar coletivamente!”. No Salmo, ela destaca que “o salmista nos encoraja a esperar no Senhor, que é luz, salvação e proteção para a vida! Nenhuma forma de opressão nos fará temer ou desanimar de construir um novo caminho”. Já na segunda leitura da carta de São Paulo aos Coríntios, “temos uma chamada ao discernimento individual e coletivo, as divisões causadas pelas diferentes opiniões, podem destruir as relações e comunidades, seguimos um único Cristo, que ensinou e testemunhou a paz, o amor e a justiça, não podemos nos destruir, seguindo ideologias de um Cristo ‘violento, autoritário, preconceituoso ou vingativo’, podemos refletir sobre esta questão: Qual Jesus eu sigo? É o mesmo do Evangelho?”, destaca a Ir. Michele. No Evangelho segundo Mateus, “Jesus inicia o seu caminho missionário, ensinando a Palavra de Deus e convidando as pessoas a fazerem um processo de conversão: ‘Convertei-vos, porque o Reino dos céus está próximo!’”, ressalta a religiosa. Segundo ela, “Jesus convida companheiros e companheiras para constituir a comunidade, chama  no cotidiano da vida do povo, à beira do mar, nas estradas e apresenta um projeto: ‘Segue-me e farei vocês pescadores de pessoas’”. Finalmente, a Ir. Michele faz ver que “todas e todos somos vocacionados a construir o Reino de Deus onde estamos, a fazer nossa parte para a transformação da Igreja e sociedade, a experiência do Cristo que fazemos em nossas vidas, deve nos ajudar a florescer no amor, no respeito, na solidariedade e na superação de todas as injustiças!”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Dom Maurício Jardim: “Se fala muito de missão, mas precisamos crescer nas práticas, nos envios missionários”

  Um dos participantes da I Experiência Vocacional Missionária Nacional, realizada de 5 a 17 de janeiro, foi Dom Maurício da Silva Jardim. O Bispo da Diocese de Rondonópolis-Guiratinga, partilha o vivido nesses dias em que acompanhado de outros missionários e missionárias visitou as comunidades da Área Missionária do Cacau Pirera, na Arquidiocese de Manaus, “uma experiência de estar muito próximo das pessoas”. Dom Maurício, que foi Diretor Nacional das Pontifícias Obras Missionárias por 6 anos analisa a realidade da missão na Igreja do Brasil, os desafios que devem ser enfrentados. Mas também reconhece que participar dessa experiência coloca desafios na sua missão como Bispo recentemente iniciada. A missão sempre foi fundamental em sua vida, foi missionário na África, durante 6 anos foi Diretor da Pontifícias Obras Missionárias no Brasil antes de ser nomeado Bispo da Diocese de Rondonópolis-Guiratinga. Como o senhor vê a realidade missionária na Igreja do Brasil? Na minha experiência pessoal foi crescendo a própria compreensão de missão, que não se reduz apenas em atividades, em um projeto ou outro, mas percebendo e entendendo que missão é a própria natureza, a própria identidade da Igreja. A Igreja existe para a missão, para ser uma Igreja em saída, missionária. Sendo seminarista participei no Congresso Missionário Latino-americano em Belo Horizonte, e ali foi despertando cada vez mais que eu como eu como batizado devia assumir ser missionário, estar próximo do povo. E fui entendendo que missão é proximidade, é criar aquilo que o Papa diz uma cultura do encontro, sair de nós mesmos, ir às periferias, se aproximar do povo. E isso eu estou vivenciando aqui na Arquidiocese de Manaus, uma experiência de estar muito próximo das pessoas, entrar nas casas, sentar-se com as pessoas sem pressa, ouvir o que o povo aqui sofre muito, tem muitas dificuldades sociais, uma realidade muito violenta nas periferias. Isso vai nos ajudando a não ficar só na reflexão, mas para a prática. Senti isso na minha vida, na minha vocação, tanto na minha diocese de origem, que é Porto Alegre, depois enviado pelo Sul 3 da CNBB para uma experiência de três anos e meio em Moçambique, na África, e voltando de Moçambique assumi uma paróquia, depois na direção das Pontifícias Obras Missionárias. Tudo isso é uma graça de Deus, Deus vai dando essa força da gente não ficar parado, acomodado. Essa é a tendência nossa, pessoal, e da própria Igreja, ir-se acomodando, numa zona de conforto, achando que tudo está bem. Mas a missão nos provoca ver que não está bem, que as comunidades foram diminuindo, que a realidade da Igreja do Brasil, em momentos da história foi perdendo esse ardor, esse coração missionário. Eu vejo uma retomada, vejo que está crescendo essa consciência missionária. O senhor diz que está crescendo essa consciência missionária. O Brasil foi um país que durante muitos anos foi evangelizado por missionários chegados sobretudo da Europa. A realidade foi mudando e o Brasil é um país que começa a enviar missionários para outros países e também para a Amazônia. Até que ponto a I Experiência Vocacional Missionária pode ajudar a que os futuros padres possam incentivar em sua vida e na vida de suas Igrejas locais essa consciência missionária? Eu tenho essa consciência de que o Brasil já recebeu muito, em toda sua história de evangelização muitos missionários ad gentes. E a gente respira, tanto na Amazônia, no Nordeste, e em outras regiões do Brasil, que teve muita contribuição de missionários que vieram de fora. Eu vendo isso, me senti interpelado a colocar-me a disposição para também sair, por isso eu fui a Moçambique. E nas Pontifícias Obras Missionárias, que tem como objetivo promover o espírito missionário universal, eu foquei muito nessa questão da missão ad gentes, que nisso eu penso que a Igreja do Brasil pode crescer muito ainda. Ela que recebeu, ela pode dar da sua pobreza, como diz o Documento de Puebla, não esperar a que aqui no Brasil tenha um número suficiente de missionários, mas enviar, não tem missão sem envio, sem saída. Tem uma expressão interessante de um padre que trabalho nas Pontifícias Obras Missionárias, que dizia que inventaram refrigerante light, os doces diet, cigarros sem nicotina, café descafeinado, e agora inventaram uma missão sem saída. Se fala muito de missão, também na Igreja do Brasil, mas precisamos crescer nas práticas, nos envios missionários. Por isso que nesses últimos anos se está insistindo muito no tema da missão ad gentes. O tema do Congresso Missionário Nacional aqui em Manaus vai ser esse: “Ide da Igreja local aos confins do mundo”. O sujeito da missão é a Igreja local, é a diocese, e abrir-se à universalidade da missão. Nisso estamos dando alguns passos e os futuros padres, nessa experiência missionária também, eles que saíram de todas as partes do Brasil, a Amazônia é considerada também um tipo de missão ad gentes. Ela é um território universal da missão, que reúne várias culturas, vários povos, e os seminaristas vindo aqui, eu acredito que vai despertar neles também essa consciência missionária. E eles voltando para suas dioceses, na Universidade, na academia, na formação, levando tudo o que eles experimentaram aqui na Arquidiocese de Manaus. Essas experiências missionárias, quando uma Igreja local envia missionários para outras regiões, outros países, sem dúvida enriquece a vida da própria Igreja. Em que podem enriquecer essas experiências missionárias a realidade das Igrejas locais, daquelas que enviaram seminaristas para esta experiência, daquelas que enviam missionários para a Amazônia ou para outros países? A Igreja que envia alguém é uma Igreja que se enriquece, porque o envio, eu o vejo como a expressão de uma Igreja missionária. Se a diocese não envia ninguém, se não tem projetos de igrejas irmãs, se não tem nenhum projeto ad gentes, ela vai perdendo seu ardor, seu fervor missionário. A Igreja se enriquece na medida que envia, que dá da sua pobreza. No Brasil são mais de 60 projetos que tem de igrejas irmãs e é uma contribuição muito grande. Eu vejo que missão…
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A Igreja da Amazônia não defrauda aos missionários

A missão alegra o coração de todo batizado, uma alegria que brota do povo, que ao acolher o Evangelho expressa alegria e gratidão, sentimentos que quem vai em missão agradece. A I Experiência Vocacional Missionária Nacional, realizada na Arquidiocese de Manaus, na Prelazia de Itacoatiara e na Diocese de Coari, acolheu 280 missionários e missionárias de todos os cantos do Brasil, uma mistura de sotaques, de raças, de modos de viver a fé. O que foi expresso no final dos dias de missão pela grande maioria dos participantes mostra que foi uma experiência que superou suas expectativas, que os missionários e missionárias não se sentiram defraudados. De fato, as avaliações dizem que foram dias de encontro, sustentando na interculturalidade, a escuta, o anúncio, o aprendizado. Uma experiência que tem provocado admiração, encantamento, gratidão, superando assim o cansaço de chegar até lugares de difícil acesso. Conhecer a realidade nos ajuda a superar preconceitos, muitas vezes presentes na mente da gente, também em relação à Amazônia, uma região e um povo desconhecido para muitos brasileiros e brasileiras, influenciados pelo que ouviram dizer. Chegar nos lugares com os sentidos atentos nos ajuda a abrir o coração e sentir com o espaço e as pessoas, com tudo o que faz parte daquele habitat. A Amazônia encanta pela sua beleza, mas acima de tudo encanta pelas pessoas que nela vivem, sinal de uma acolhida generosa. Uma experiência de vida partilhada que nos ajuda a crescer, a olhar para o outro como sinal de fraternidade. Um território que encanta pelo modo de ser do povo, por uma religiosidade que brota do chão, da vida das pessoas mais simples, que desde a fé superam as dificuldades, testemunhando a presença de um Deus encarnado. Como não sentir o desejo de ir em missão, de ir ao encontro diante dessa realidade? Como não querer partilhar a vida e a fé com pessoas que tanto nos enriquecem com seu jeito de entender a vida e de experimentar a presença de Deus no meio deles? Um povo aberto e receptivo, solidário diante da necessidade alheia. Um povo que faz realidade uma Igreja que concretiza aqui e agora a Boa Nova de Evangelho. A missão parte da encarnação, o testemunho missionário só é válido quando se tem os pés no chão, fincados na vida concreta, quando não esquece o lugar, o momento e os destinatários desse testemunho, que nasce de Deus e que quer conduzir até Deus àqueles que sentem necessidade dele em suas vidas. Sempre desde o serviço, um serviço gratuito, a exemplo do próprio Deus que dá tudo em troca de nada. É tempo de sair de nós, dos nossos lugares de conforto, das realidades que controlamos, para ir ao encontro daqueles que esperam essa palavra, esse testemunho que os faça enxergar esse Deus que está no meio de nós, no meio deles. Não tenhamos medo, nossa vida é missão e é nela que vamos encontrar esse Deus que nos faz plenamente felizes. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1 – Editorial Rádio Rio Mar

6 Luzes para o Caminho, passos a seguir após a I Experiência Vocacional Missionária Nacional

A I Experiência Vocacional Missionária Nacional, realizada em sintonia com a caminhada missionária da Igreja no Brasil, organizada pelo Conselho Missionário de Seminaristas (COMISE), as Pontifícias Obras Missionárias (POM), a Organização dos Seminários e Institutos do Brasil (OSIB) e a Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), quer ser parte de um processo, evitando que fique num evento. Para isso, seguindo as indicações dos 280 missionários e missionárias, provenientes de todos os regionais da CNBB: cristãos leigos e leigas, seminaristas, padres, formadores, religiosos (as), juventude missionária e bispos, foram indicadas algumas luzes a partir do que viram, ouviram e sentiram. A primeira luz nos diz que “Jesus é o Missionário do Pai. Ele anuncia e inaugura o Reino de Deus. A Igreja que coopera com a missão de Deus, é conduzida e iluminada pelo Espírito”, inspirada no Evangelho de Lucas 4,14-21, e no Livro dos Atos dos Apóstolos 1,8. Tudo isso tendo em conta que “a realidade da região amazônica é mais complexa, rica e plural do que imaginávamos. A Igreja que está na Amazônia busca ser viva, ministerial e profética. É importante considerar a força da realidade e da proximidade com o povo de Deus, iluminadas pela sua Palavra, no processo de conversão: o que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com nossos olhos, o que contemplamos e o que as nossas mãos apalparam da palavra da Vida, nós vos anunciamos”, algo que está inspirado no início da Primeira Carta de João. Uma outra luz faz ver que “a missão é vocação: em todos os âmbitos e lugares, necessitamos trabalhar em favor da construção de uma Igreja em saída, fortalecendo uma cultura vocacional missionária: ‘corações ardentes, pés a caminho’”, que nos diz o Evangelho de Lucas 24, 32-33. Ninguém pode esquecer que “a missão é fundamento da vocação cristã”, mais uma luz nascida desta experiência, o que leva os participantes a afirmar que “nós, seminaristas, padres, formadores(as), religiosos(as), leigos(as) e bispos, somos chamados a assumir a missão como estilo de vida: Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa Nova a toda criatura!”, segundo aparece no Evangelho de Marcos 16,15. A I Experiência Vocacional Missionária Nacional reconhece “a transversalidade da missão no processo formativo do discípulo missionário. A missão é natureza da Igreja, faz parte do cotidiano e deve levar ao deslocamento existencial e vocacional do cristão. Ela não se restringe a eventos, atividades ou a uma dimensão”, segundo aparece no Decreto Ad Gentes do Concílio Vaticano II. Uma missão que nasce do encontro com Jesus Cristo, “que exige oração, estudo e participação na vida da comunidade eclesial missionária. É compromisso com a própria vocação preparar-se bem para uma ‘Igreja em saída’. Nos seminários, o COMISE possibilita a cooperação, animação, articulação e a integração desses e outros elementos no processo formativo”, ideia recolhida na Encíclica Deus Caritas est do Papa Bento XVI. As Luzes para o Caminho são colocadas sob a intercessão de Nossa Senhora da Conceição, a Virgem Senhora da Amazônia, pedindo com o coração abrasado de gratidão que acompanhe os missionários e missionárias desta 1a Experiência Vocacional – Missionária Nacional neste caminho de discípulos missionários. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1