Av. Epaminondas, 722, Centro, Manaus, AM, Brazil
+55 (92) 3232-1890
cnbbnorte1@gmail.com

Autor: cnbbnorte1blog@gmail.com

Curso de Teologia do ITEPES pede Credenciamento junto ao MEC

A formação sempre foi um elemento importante na vida da Igreja. A exortação apostólica Querida Amazônia nos diz que “é oportuno rever a fundo a estrutura e o conteúdo tanto da formação inicial como da formação permanente dos presbíteros, de modo que adquiram as atitudes e capacidades necessárias para dialogar com as culturas amazónicas”.  Na tentativa de avançar nesse caminho de formação dos futuros presbíteros, a Associação Amazônica para a Pesquisa e Educação Cristã, AAPEC, reunida em Assembleia neste 23 de setembro decidiu apresentar ao Ministério da Educação (MEC), o pedido de credenciamento do Curso de Teologia do Instituto de Teologia, Pastoral e Ensino Superior da Amazônia, ITEPES, segundo informou Dom Leonardo Steiner. Seguindo os caminhos do Sínodo para a Amazônia, o arcebispo de Manaus, afirma que “o credenciamento oferecerá uma oportunidade rica de formação e educação para as igrejas que formam o Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, CNBB”, sempre buscando concretizar a inculturação e cuidado com a criação. A Assembleia da AAPEC é continuação da Assembleia do Regional Norte 1 da CNBB, que de 20 a 22 de setembro reuniu em Manaus os bispos e representantes das igrejas particulares que fazem parte do Regional e das pastorais. Ao longo de três dia de reflexão foi momento para construir novos caminhos. Nesse sentido podemos dizer que o pedido de credenciamento do Curso de Teologia do ITEPES representa um passo a mais nesses novos caminhos.  Se trata de levar para as bases, para as dioceses, prelazias, paróquias e comunidades as reflexões do Sínodo para a Amazônia. Não podemos esquecer que foi nas bases que, mediante o processo de escuta, foram surgindo os encaminhamentos que deram lugar ao processo sinodal, que aos poucos está voltando para as bases. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1

Exploração sexual, além de imoral, é crime

A escravidão é uma realidade ligada à história da humanidade. Muitas pessoas se perguntam como é possível que no século XXI esse fato continue fazendo parte da realidade social. Isso demanda a necessidade de desenvolver e aprimorar medidas de enfrentamento que promovam a proteção e cuidado dos marginalizados. 23 de setembro é o Dia Internacional Contra a Exploração Sexual e o Tráfico de Mulheres e Crianças, mais uma oportunidade para tomar consciência dessa realidade muitas vezes invisível, difícil de identificar, porém muito comum. Podemos dizer que durante a pandemia da Covid-19, a exploração sexual e o tráfico de mulheres e crianças têm se tornado uma realidade ainda mais presente e invisibilizada. Este Dia Internacional Contra a Exploração Sexual e o Tráfico de Mulheres e Crianças foi instituído em 1999, visando estabelecer mecanismos de proteção, sobretudo aos mais vulneráveis. É momento para cobrar do poder público melhoras no combate deste crime que dilacera a vida de coletivos mais numerosos do que a gente pode imaginar. São mulheres e crianças vulneráveis, geralmente pobres, com escassos recursos, o que aumenta o risco de cair nas redes do tráfico de pessoas. Quando a fome e a necessidade apertam, o risco de se tornar vítimas destas redes aumenta exponencialmente, provocando grande sofrimento nas pessoas, nas famílias e na sociedade como um todo. A lei é algo que está deixando de ser cumprida no Brasil nos últimos anos, sobretudo aquelas leis que defendem os direitos dos mais vulneráveis. Como está acontecendo em muitas outras realidades, a proteção das vítimas da Exploração Sexual e do Tráfico de Mulheres e Crianças, está sendo algo esquecido por um poder público que pouco se importa com as vítimas. Levar o que está escrito nas leis para a prática cotidiana é um desafio cada vez mais urgente, inadiável. O povo brasileiro deve tomar consciência da necessidade de concretizar a proteção das vítimas, de se posicionar em favor dos mais fracos e vulneráveis. Mas será que realmente a sociedade brasileira está preocupada em enfrentar esse crime? A sociedade brasileira se preocupa com a defesa das mulheres e crianças vítimas do tráfico de pessoas e da exploração sexual? Só quando o povo descobrir a importância deste combate, poderá ser enfrentada uma realidade que deveria ser desterrada definitivamente da nossa sociedade. É tempo de denunciar, de cobrar políticas públicas, de deixar claro que o nosso lado é o lado das vítimas, de não nos calar. Só assim poderão ser dados os passos necessários que nos levem a construir uma sociedade onde as vítimas não sejam mais invisibilizadas, onde as vítimas não sejam inclusive criminalizadas, e sim uma sociedade onde as vítimas sejam acolhidas e inseridas. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1 – Editorial Rádio Rio Mar

Dom Edson Damian: Nas comunidades da Amazônia “o povo tem direito à Eucaristia”

O Sínodo para a Amazônia pode ser considerado como um divisor de águas na vida da Igreja da Amazônia, inclusive na vida da Igreja universal. O grande desafio é levar para as igrejas particulares as propostas elaboradas, algo que foi dificultado pela pandemia, mas que aos poucos vai se tornando realidade. Estamos falando de uma Igreja sinodal, onde todos e todas são escutados, onde as pessoas se encantam pelo fato de que “a palavra de uma mulher indígena é escutada com o mesmo respeito e atenção do que a palavra de um bispo”, segundo ressaltava uma das participantes, no final da 48ª Assembleia do Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que aconteceu em Manaus de 20 a 22 de setembro. Na tentativa de construir novos caminhos, os bispos e representantes das dioceses, prelazias e pastorais têm elaborado as novas Diretrizes à luz das Diretrizes da CNBB Nacional e dos sonhos da Querida Amazônia. Tudo isso num processo sinodal, uma dinâmica do Regional, segundo o padre Zenildo Lima, membro da equipe de articulação da Assembleia. Após recolher o material apresentado pelas bases, isso foi transformado num texto de proposta, para depois acolher as contribuições dos delegados presentes nessa Assembleia, segundo o reitor do Seminário São José de Manaus. Ele ressalta que foram repercussões bastante profundas que foram refletidas em grupos de trabalho, trazendo de novo o chão das realidades locais. O padre Zenildo Lima, auditor no Sínodo para a Amazônia, acha interessante “essa consciência desse sujeito que é a comunidade eclesial missionária, seja como sujeito, mas também como destinatário”. Ele destaca o fato de “ousar a inversão de uma metodologia missionária, que é aquela que o Sínodo trouxe para nós, de trazer a periferia para o centro”. “As comunidades periféricas no centro da ação missionária, da ação evangelizadora já é um grande sinal de presença, e uma presença sempre marcada por esse compromisso com a vida”, ressaltou. Se faz necessário começar a colocar em prática as atividades muito concretas que surgem dos sonhos de Querida Amazônia, segundo Dom Edson Damian. O presidente do Regional Norte 1 insiste em “levar em conta a interculturalidade”. Diante das muitas culturas na região, “a Igreja deve construir a unidade na diversidade, e para isso nós devemos criar espaços de diálogo, para respeitar as pessoas que são diferentes, para que se manifestem na sua espiritualidade, nos seus valores culturais”, segundo o bispo de São Gabriel da Cachoeira.   Na sua diocese, o princípio que norteia a espiritualidade e a pastoral é: “a boa nova das culturas indígenas acolhe a Boa Nova de Jesus”. Segundo o bispo, “as sementes do Verbo chegaram antes dos missionários, e nós devemos ter a sensibilidade para descobrir esses valores que são humanos, profundamente cristãos, que os povos indígenas vivem até hoje: a vida comunitária, a partilha dos alimentos, o trabalho feito em comum”. Dom Edson Damian fala também dos casamentos interétnicos, algo que aproxima uma cultura da outra, e facilita que os povos indígenas aprendem várias línguas na convivência uns com os outros. O presidente do Regional Norte 1 insiste na necessidade de “começar a traduzir, pelo menos os Evangelhos nas línguas dos povos indígenas”. Também em “colocar elementos da espiritualidade dos povos indígenas na nossa liturgia, na liturgia da Palavra, na liturgia Eucarística com muita mais liberdade”. Um outro elemento é “a valorização dos catequistas que estão nas comunidades indígenas e ribeirinhas, que devem ser acompanhados com uma formação bíblica e pastoral”, afirma o bispo. Segundo ele, “muitos deles devem ser ordenados diáconos casados, permanentes, e futuramente são eles que serão ordenados os presbíteros para as comunidades”. Na Assembleia se acentuou muito “que a Eucaristia é um elemento fundamental da nossa espiritualidade cristã”, insistindo em que mesmo valorizando a celebração da Palavra, “o povo tem direito à Eucaristia, que é elemento fundamental da nossa espiritualidade cristã”. Falando do sonho ecológico vê fundamental “levar a Laudato Si´ aos povos das nossas comunidades ribeirinhas”. Mesmo vivendo a ecologia e sendo os guardiões da natureza, é importante “descobrir o valor que tem a ecologia integral”. Junto com isso, no sonho social, falou da cidadania, da fé e política, de levar adiante escolas de formação, algo necessário “nesse momento de retrocesso que vive nosso país, de desmonte dos direitos que os povos indígenas e os pobres adquiriram com muita luta”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1

Dom Tadeu: “Que a Amazônia possa ser um sinal da periferia que ilumina o centro”

Construir novos caminhos, sustentados na fraternidade, unidade e dignidade, está sendo o propósito da 48ª Assembleia do Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Nessa dinâmica, Dom Edmilson Tadeu Canavarros pedia que “o Cristo encarnado da Boa Nova, da inculturação e da interculturalidade nos proporcionem serenidade, discernimento e coragem para encontrar novos caminhos”. O vice-presidente do Regional vê nisso uma possibilidade na busca do bem e a vida dos povos e comunidades da Amazônia e caminhar mais juntos pelo Reino. Buscar os novos caminhos é uma urgência “neste momento de crise global, humanitária, climática e de fraternidade”, visando “viver uma genuína ecologia integral de austeridade, consumo responsável, com um olhar que considere a situação atual e a justiça para as novas gerações, e ali a Igreja deve ser aprendiz, irmã e mestra”. O bispo auxiliar de Manaus denunciava que “o problema ecológico mais importante é chamado de iniquidade (desigualdade de direitos)”. Diante disso fez a proposta de que “a Amazônia possa ser um sinal da periferia que ilumina o centro”, e junto com isso, lembrando as palavras do Papa Francisco no II Encontro Mundial de Movimentos Populares, assumir o chamado a “se mobilizar, a exigir – pacífica e tenazmente – a adoção urgente de medidas apropriadas”, diante da destruição da Criação. A Igreja do Regional Norte 1 quer responder às necessidades do povo partindo das propostas da Igreja do Brasil e da Igreja universal. São muitas as propostas que estão sendo vividas ou que serão vividas nos próximos tempos. Algumas delas têm sido apresentadas na Assembleia e devem influenciar os novos caminhos que a Igreja do Regional Norte 1 está propondo ao povo do Regional Norte 1. Uma delas é a Economia de Francisco e Clara, a tentativa de “realmar a economia”, segundo a irmã Michele Silva, da Articulação Brasileira de Francisco e Clara. A religiosa lembrava os passos dados nos últimos anos, marcados por encontros virtuais, buscando “mudar a lógica capitalista, um sistema que não é mais sustentável”, e que demanda “uma economia alternativa ao serviço da vida”. No Regional Norte 1 estão sendo dados passos na articulação da Economia de Francisco e Clara, em parceria com outras pastorais e realidades eclesiais, algo nem sempre fácil, dadas as dificuldades de acesso a internet em algumas regiões do Regional. A 48ª Assembleia do Regional Norte 1 refletiu também sobre a Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA), e a Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, duas novidades na história da Igreja, segundo lembrava Dom Edson Damian. O presidente do Regional refletia sobre uma assembleia que quer retomar as reflexões de Aparecida, como horizonte de saída de uma Igreja em estado permanente de missão, sustentada na conversão eclesial, que se concretiza no âmbito das ações, das relações e das estruturas. Uma dinâmica que vai se fazer presente no próximo Sínodo sobre a Sinodalidade, algo que vai marcar a caminhada eclesial nos próximos dois anos, ou na 6ª Semana Social Brasileira. É aí que os novos caminhos irão se concretizando, nas novas diretrizes elaboradas ao longo da Assembleia, com a participação dos bispos, padres, religiosas e religiosos, leigas e leigos, expressando assim que os passos em vista de uma Igreja sinodal estão sendo dados. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1

Assembleia do Regional: A Palavra fundamento da construção dos Novos Caminhos

A centralidade da Palavra sempre tem sido um elemento fundamental na vida da Igreja. Na exortação pós-sinodal Verbum Domini, o Papa Bento XVI lembrava que “O Sínodo convidou a um esforço pastoral particular para ressaltar o lugar central da Palavra de Deus na vida eclesial”. Essa mesma ideia foi colocada pelo Papa Francisco na Evangelii Gaudium, exortação apostólica que é considerada o programa pastoral do atual pontífice. “Toda a evangelização está fundada sobre a Palavra de Deus, escutada, meditada, vivida, celebrada e testemunhada. Portanto, é preciso formar-se continuamente na escuta da Palavra. A Igreja não evangeliza se não se deixa evangelizar continuamente. É indispensável que a Palavra de Deus seja cada vez mais o coração de toda a atividade eclesial”, diz o Papa Francisco. Aos poucos essa centralidade da Palavra foi se fazendo presente na vida da Igreja do Brasil, iluminando assim a vida e a missão da Igreja, segundo Dom Mário Antônio da Silva. Já em 2012, a Igreja do Brasil aprovava o Documento 97 da CNBB, “Discípulos e Servidores da Palavra de Deus na Missão da Igreja”. Na 58ª Assembleia da CNBB, realizada no mês de abril, o tema central foi a Animação Bíblica da Pastoral, que foi aprovado como Documento de Estudo, dado que a Assembleia foi virtual. O bispo de Roraima apresentava aos participantes da Assembleia do Regional Norte 1 da CNBB, que acontece em Manaus de 20 a 22 de setembro, o conteúdo do documento, centrado na parábola do semeador, mostrando seus elementos fundamentais. Diante das dificuldades, o documento mostra a confiança de Jesus na força da Palavra, que anuncia de um jeito corajoso e apaixonado. A Igreja do Brasil propõe a Animação Bíblica da Pastoral como fonte da evangelização, ajudando a enfrentar os desafios de evangelizar. Segundo o 2º vice-presidente da CNBB, citando o Documento de Estudo, “nos deparamos com inúmeros desafios”, que mostram que “a carne de Cristo está ferida na carne dos irmãos”. Dom Mário Antônio lembrava que “as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora 2019-23 orientaram para que as Comunidade Eclesiais Missionárias sejam edificadas sobre alguns pilares, dentre os quais o pilar da Palavra”. O bispo destacou a importância da prática da Leitura Orante e da implantação da Animação Bíblica da Pastoral, que é mais do que uma campanha. Se trata de um processo, que deve conduzir à mudança de mentalidade, explicitando as condições para sua realização e sua implantação em nível nacional, regional, local e virtual. O Regional Norte 1 está dando passos nesse sentido, algo que deve ajudar na vida e na caminhada pastoral das igrejas locais, chamadas a semear a Palavra, sabendo que é o Espírito quem conduz a ação da Igreja. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1

Missão, Palavra, Serviço e cuidado da Criação: novos caminhos do Regional Norte 1

Construir novos caminhos se torna muitas vezes uma missão árdua na Igreja. Desde outubro de 2017, em que o Papa Francisco convocou o Sínodo para a Amazônia, a Igreja da região foi desafiada a buscar novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral. O Regional Norte 1 assumiu esse desafio, iniciado com o processo de escuta, e quer agora concretizar na realidade das igrejas locais tudo o que foi debatido ao longo do processo sinodal. A 48ª Assembleia do Regional Norte 1, que acontece de 20 a 22 de setembro em Manaus, quer construir em comum esses novos caminhos, tendo como base as reflexões do Sínodo para a Amazônia e as Diretrizes Gerais para a Ação Evangelizadora da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), mas sem esquecer uma nova realidade social e eclesial determinada pela pandemia da Covid-19. Esses novos caminhos têm que nascer a partir da realidade local, da vida das comunidades, dos documentos que fazem parte da vida da Igreja da Amazônia após o Concílio Vaticano II. A Igreja do Regional Norte 1 se entende a si mesma como uma Igreja Discípula Missionária, uma Igreja Discípula da Palavra, uma Igreja servidora da vida, uma Igreja irmã da Criação. Isso responde a cada um dos quatro sonhos do Papa Francisco em Querida Amazônia e cada um dos quatro pilares das Diretrizes para a Ação Evangelizadora da CNBB. A missionariedade é fundamento do ser da Igreja, um aspecto que tem sido construído nas igrejas da Amazônia, marcadas pela sua identidade missionária, algo que faz parte da própria dinâmica e jeito de ser da comunidade, recolhido nos planos de pastoral, onde se insiste na presença na vida do povo, se propõem as comunidades eclesiais como opção e o caminho sinodal, na escuta, formação e articulação, como proposta, tendo a ministerialidade, com ministérios conferidos pelo bispo, como modo de ser Igreja, sustentada na figura do catequista e no protagonismo das mulheres. A Palavra tem um papel fundamental na vida da Igreja da Amazônia, na Iniciação à Vida Cristã, na liturgia e sacramentos. Daí a importância de fomentar processos formativos, da inculturação como caminho para a interculturalidade, sendo uma Igreja anunciadora da Palavra que se faz ouvinte da riqueza cultural dos povos da Amazônia, do mundo urbano, uma Igreja que caminha em busca de um rito amazônico e assume os direitos dos povos. A caridade na Igreja da Amazônia se traduz em denúncia profética, em solidariedade, em compromisso com os vulneráveis e descartados, também durante o tempo de pandemia. Uma Igreja servidora e defensora da vida, que escuta os clamores e dá atenção às lutas existenciais dos povos ameaçados, mulheres e jovens, que se compromete na defesa e proteção da natureza. Isso faz com que a Igreja sinta a necessidade de se comprometer com os povos indígenas, as populações ribeirinhas, os migrantes e vítimas do tráfico de pessoas e o enfrentamento do feminicídio, extermínio da juventude e violência institucional. É uma Igreja irmã da Criação, comprometida a través das pastorais e da participação em momentos de luta comum. Mas que também se questiona sobre como se fazer presente nas comunidades mais distantes a partir da criatividade. O sonho ecológico do Papa Francisco em Querida Amazônia, desafia a Igreja da região a integrar meio ambiente e espiritualidade, a fomentar a transversalidade da questão socioambiental como paradigma em toda a ação evangelizadora pautada pela mística do cuidado, a garantir a Eucaristia na vida das comunidades.      Mesmo na dificuldade, quando a escuta é o ponto de partida e o discernimento é assumido como modo de ser e caminhar na Igreja, os passos vão sendo dados e os novos caminhos vão sendo concretizados. Nessa dinâmica está caminhando a 48ª Assembleia do Regional Norte 1 da CNBB. Com ousadia e parresia, o kairós, o tempo de Deus, se faz presente, Ele vai conduzindo a vida do povo que peregrina na Amazônia. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1

Assembleia Regional: Ousadia para inculturar a fé e a espiritualidade

A pandemia da Covid-19 marcou a vida da Igreja desde há um ano e meio, também no Regional Norte 1. Depois de perder muita gente, homenageada em uma celebração neste primeiro dia, aos poucos, as atividades estão sendo retomadas, nas comunidades, nas paróquias, nas dioceses e prelazias, também no Regional Norte 1, que nesta segunda-feira, 20 de setembro, começou sua 48ª Assembleia. O tema da assembleia, que será encerrada na quarta-feira, com a presença dos bispos, também alguns bispos eméritos, e representantes das 9 igrejas particulares, é “Construindo Novos Caminhos”. Após dois anos sem assembleia, o Regional Norte 1 quer construir esses novos caminhos para a Igreja da Amazônia desde o Magistério do Papa Francisco, especialmente a Querida Amazônia, surgida do Sínodo para a Amazônia, um momento de grande importância para o Regional Norte 1, da encíclica Fratelli tutti e das Diretrizes para a Ação Evangelizadora da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Esses documentos fizeram parte das palavras de acolhida do presidente do Regional Norte 1, Dom Edson Damian. O bispo de São Gabriel da Cachoeira ressaltou a importância dos documentos do Papa Francisco na vida da Igreja do Regional. No relatório das atividades, realizado pelo secretário executivo do Regional Norte 1, o diácono Francisco Lima, foi mostrada a vida da Igreja, marcada pela pandemia, destacando as muitas ações de solidariedade que as igrejas do Regional têm realizado neste tempo. Tudo isso é consequência da atual conjuntura social e eclesial, analisada por Dom Leonardo Steiner. O arcebispo de Manaus constatou que na sociedade se vive uma ideologia fechada, e na Igreja, a fé hoje em vários ambientes, se tornou ideologia. Ele relatou situações hoje presentes na sociedade, notícias falsas, agressão nas palavras e nos gestos, agressão às instituições, desrespeito à Constituição, linguagem de baixo calão, gestos de descivilizados, modos de exercer o poder que pretendem se sustentar na violência. Dom Leonardo denunciou que “o governo federal governa de costas para os pobres, ataca os povos indígenas”, e junto com isso a condução da pandemia no país, que tem provocado “o momento mais dramático dos últimos tempos na história do Brasil”, mostrando seu assombro diante do fato de que pouca gente se revolta diante dessa situação. Brasil é um país onde os evangélicos e as milícias chegaram ao Planalto, onde os meios de comunicação dão cobertura ao modo de desgoverno. O arcebispo refletiu sobre a política, cada vez mais fragilizada, sobre o meio ambiente, vítima de ataques violentos e do desmonte das instituições responsáveis pelo meio ambiente, sobre a desestruturação da sociedade como um todo, sobre o desmonte do Estado. Dom Leonardo denunciou que estamos diante da crise da ética, sendo imposta a economia como aquilo que determina a sociedade, fazendo com que “neste momento, tudo se torna uma questão de produção e de consumo”. Ao falar sobre a conjuntura eclesial, Dom Leonardo destacou a maior “consciência de uma Igreja em saída, uma Igreja encontro, uma Igreja esperança”. Ao mesmo tempo, fez ver que “o papa é contestado, o bispo é contestado, a liturgia é contestada, a eclesialidade é contestada”. Junto com isso, o fato de que “estamos ausentes nas periferias, nas comunidades ribeirinhas; a nossa Igreja poderia ser mais inculturada na sua espiritualidade e na sua liturgia”. Também questionava a participação da igreja na política, de refletir sobre “a importância da política dentro de uma sociedade apolítica”, a participação nos meios de comunicação, a falta de conhecimento da doutrina social da Igreja. Nesse ponto se referia a Fratelli tutti como grande instrumento para entender uma política voltada para o bem comum. Segundo o arcebispo, a proposta de uma Igreja sinodal, ainda que com dificuldades, caminha, insistindo na necessidade de “receber uma maior participação dos leigos”, de descobrir as expressões profundas de religiosidade nas comunidades indígenas, de avançar numa Igreja mais amazônica, algo que “exigirá ousadia para podermos realmente inculturar a fé, inculturar a espiritualidade”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1

Caderno de Conflitos na Amazônia: Trazer a verdade do que acontece no campo

Os conflitos no campo têm se tornado causa de violência e morte no Brasil, especialmente na região amazônica, foco principal desses conflitos. Já se tornou costume que a Comissão Pastoral da Terra (CPT), elabore o Caderno de Conflitos, que nesta segunda-feira, 20 de setembro, foi lançado no Seminário São José de Manaus, focando na realidade da Amazônia, que concentrou o 62,4% dos conflitos por terra em 2020. Tem sido momento para fazer memória daqueles que tem construído a história da CPT, daqueles que doaram e doam sua vida na defesa dos mais pobres, segundo lembrava Dom José Ionilton Lisboa de Oliveira. O presidente da CPT denunciava que são violências que ficam escondidas, que não são divulgadas pela grande imprensa, também não pela mídia de inspiração católica. O bispo da Prelazia de Itacoatiara lembrou a importância que tem os dados recolhidos no Caderno de Conflitos como fonte de pesquisa de muitos estudiosos, mostrando vários exemplos disso. Dom Leonardo Steiner destacou que o Caderno de Conflitos é “uma maneira de guardar a memória do conflito, das mortes, mas também trazer sempre de novo a verdade do que acontece no campo”. Segundo o arcebispo de Manaus, “o que acontece por trás das mortes e dos conflitos, existem sempre interesses, que não são interesses justos, são interesses apenas econômicos e que vão lançando as pessoas numa situação cada vez mais difícil”. Dom Leonardo lembrou que “a CPT tem sido uma presença pacificadora, mas também uma presença denunciadora, uma presença profética, uma presença do direito que as pessoas tem, e o direito de ter uma vida digna”. O arcebispo fez um chamado a que “nós possamos sempre caminhar, com coragem e esperança, sem nos desanimar demais”. Ele afirmou que “a pesar do conflito ter crescido muito, e estarmos em uma situação política difícil, não podemos perder a esperança”. A CPT e o Cimi (Conselho Indigenista Missionário), segundo lembrou Dom Edson Damian, nasceram na Ditadura, sempre andaram demãos dadas e sempre mantiveram a sua postura profética. São duas pastorais que “nasceram para defender os mais pobres, os mais massacrados do nosso país, os povos indígenas e os trabalhadores do campo”, segundo o presidente do Regional Norte 1 da CNBB, que mostrou seu apoio ao trabalho da CPT. O coordenador de pastoral da Arquidiocese de Manaus denunciou a impunidade no Brasil, que é grande, também naquilo que faz referência à questão da terra, e que tem provocado a instalação de políticas de morte. O padre Geraldo Bendaham destacou a importância de a apresentação do Caderno de Conflitos acontecer lá onde são formados os futuros presbíteros do Regional Norte 1, e que eles tenham sensibilidade para perceber as dores da Amazônia e de seus povos. Finalmente, ele insistiu em manter a alegria que nos leva a não desistir da luta. O deputado federal José Ricardo Wendling ressaltou a importância do Caderno de Conflitos como fonte de pesquisa, inclusive para muitos parlamentares na Câmara dos Deputados em Brasília. O deputado, que faz parte do Conselho de Leigos da Arquidiocese de Manaus, destacou a importância das políticas públicas para garantir direitos em todos os campos. Ele denunciou alguns projetos no Congresso Nacional, tramitados com grande rapidez, que visam a retirada de direitos dos povos tradicionais e os indígenas. A Amazônia é uma região com grande quantidade de terra em disputa, segundo relatou Zezinho Iborra, da Articulação da CPT na Amazônia. Os indígenas e as comunidades tradicionais são os mais atingidos por esses projetos, consequência do avanço da fronteira agrícola. Quem provoca mais conflitos é o Governo Federal, os fazendeiros e os grileiros. São conflitos que tem atrás questões antropológicas, segundo Willas Dias, quem destacou a importância de que o mundo possa olhar para a Amazônia como caminho para resolver os conflitos que estão acontecendo. São conflitos presentes na Amazônia, em todos os cantos, como foi testemunhado em exemplos concretos: no Rio Abacaxis, em Parintins, Lábrea, Itacoatiara, Rio Preto da Eva, Careiro, que mostram as ameaças que sofrem os povos e um bioma cada vez mais decisivo para garantir o futuro do Brasil e do Planeta. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1

Dom Ionilton: “O caminho de nossa fé cristã, passa, necessariamente, pelo serviço”

Uma história que se repete, assim pode ser vista a Palavra de Deus, segundo lembrava Dom José Ionilton Lisboa de Oliveira na homilia do 25º Domingo do Tempo Comum, ao comentar o texto do Livro da Sabedoria, onde diz: “Os ímpios dizem: Armemos ciladas ao justo, porque sua presença nos incomoda”. Segundo o bispo da Prelazia de Itacoatiara, “alguém que trabalha pelo bem comum, pela justiça, pela paz, pela defesa da natureza, pela defesa dos povos indígenas, dos quilombolas, dos ribeirinhos, dos pobres, excluídos, marginalizados, incomoda e se arquitetam planos para fazerem calar quem age assim”. Uma situação relatada no Salmo: “Contra mim orgulhosos se insurgem e violentos perseguem-me a vida”. Dom Ionilton lembrava “quantos cristãos e cristãs, lideranças de comunidades, pastorais, organismos, movimentos populares, ONGs, Sindicatos viveram e vivem experiências assim como o Salmista reza”. O Salmo diz: “quem me protege e me ampara é meu Deus”, algo que segundo o bispo é “verdade, mas Deus quer se utilizar de nós para ampara estas pessoas”. Daí, ele questionava “o que estamos fazendo ou o que poderemos fazer? Vamos nos dispor a ajudar a Deus?”. Ele fazia um convite: “doe um pouco de seu tempo às pastorais sociais, carcerária, saúde, criança, aids, pessoa idosa, pastoral da terra e organismos caritas, rede um grito pela vida!” Comentando a Carta de Tiago, o bispo questionava se “estamos promovendo a paz, fruto da justiça?”, afirmando que “a política existe para promover o bem comum, o bem de todas as pessoas”. Ele lembrava o chamado do Papa Francisco à melhor política no capítulo V da encíclica Fratelli Tutti. Isso nos compromete a “viver esta melhor política, promover o bem comum e jamais ser ou ajudar a fazer da política um espaço meramente de busca do poder, de disputa de cargos e empregos, de favorecimento a grupos de pessoas, família, partido, empresários, banqueiros”. No Evangelho de Marcos, Jesus, “leva os discípulos para serem andantes e missionários”, algo que deve nos questionar hoje. Em vista do Mês Missionário, a ser celebrado em outubro, lembrava o que vai ser realizado na Prelazia nesse tempo. Ele se perguntou se “ficamos calados, com medo, como os discípulos ou buscamos ajuda da Igreja para compreendermos mais e melhor aos ensinamentos de Jesus?”. Partindo da briga pelo poder entre os discípulos, Dom Ionilton insistiu em que “Jesus ensina de forma aberta e firme que o caminho de nossa fé cristã, passa, necessariamente, pelo serviço”, algo que ele mesmo assumiu. Por isso, perguntou: “Estamos servindo? Como estamos servindo? A quem estamos servindo?”. Jesus indica a quem devemos servir: famintos, sedentos, nus, presos, enfermos, estrangeiros…, segundo o bispo. Ele disse que “esta lista precisa ser atualizada sempre dentro do contexto que vivemos”. Se referindo ao Documento de Aparecida, Dom Ionilton relatou que lá se faz uma lista nova: “Comunidades indígenas e afro-americanas, mulheres excluídas, jovens, quem sobrevive na economia informal, meninos e meninas submetidos à prostituição infantil, pessoas e famílias que vivem na miséria, dependentes químicos, pessoas com limitações físicas, portadores de enfermidades graves, sequestrados, vítimas da violência, do terrorismo, de conflitos armados e da insegurança na cidade, anciãos que, excluídos do sistema produtivo, recusados por sua família como pessoas incômodas e inúteis. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1

Apresentação Caderno de Conflitos: “Registrar a história da luta de uma classe explorada, excluída e violentada”

Desde o início de sua existência em 1975, a Comissão Pastoral da Terra registra os conflitos que envolvem os trabalhadores e as trabalhadoras do campo e denuncia a violência sofrida por eles e elas, violências como despejos e expulsões, assassinatos, ameaças de morte, prisões. Mais uma vez, a CPT apresenta nesta segunda-feira, 20 de setembro, o Caderno de Conflitos na Amazônia. O faz, “na memória de Dom André, Dom Enemésio, Dom Tomás Balduino, Dom Pedro Casaldáliga e Dom Jorge Marskell”, segundo Dom José Ionilton Lisboa de Oliveira, bispo da Prelazia de Itacoatiara e presidente interino da CPT. Ele faz “memória de todos os Agentes Voluntários e Contratados e todos os camponeses já falecidos, especialmente quem morreu pela Covid”. Dom Ionilton também saúda os Agentes da CPT de nosso Regional Amazonas: Irmã Agostinha, Maiká e Ana Virgínia. O bispo agradece o trabalho da CEDOC (Centro de Documentação, e todas as pessoas que colaboraram para que pudéssemos ter o Caderno Conflitos no Campo Brasil 2020. É um trabalho que começou em 1985, em que a CPT criou um setor de Documentação para colher as informações sobre as violações aos direitos humanos no campo e sistematizá-las. Esses dados foram publicados em um relatório que se chamou Conflitos no Campo Brasil, que também ficou conhecido como Caderno de Conflitos. Desde 2011 as informações estão disponíveis na página da CPT: www.cptnacional.org.br. A partir de 2013, o setor passou a se denominar Centro de Documentação Dom Tomás Balduino. O trabalho realiza o tratamento e organização de documentos, tendo a sua atuação pautada não só pela mera organização documental, mas pela análise crítica e aprofundada desse material, no intuito de organizar o registro da luta e da história dos movimentos sociais do campo e a luta de posseiros/as, pequenos/as agricultores/as, acampados/as, assentados/as, assalariados rurais, indígenas, quilombolas e tantas outras comunidades tradicionais. Não podemos esquecer que a CPT é a única entidade a realizar tão ampla pesquisa da questão agrária em escala nacional, e os seus dados são utilizados por várias instituições de ensino, pesquisadores, instâncias governamentais e pela imprensa. Segundo Dom Ionilton, documentar se faz necessário por fidelidade “ao Deus dos pobres, à terra de Deus e aos pobres da terra”, como está explicito em sua missão. O bispo afirma que a documentação possui as seguintes dimensões: Teológica – de acordo com a história bíblica, Deus ouve o clamor do seu povo e está presente na luta dos trabalhadores; Ética – porque a luta pela terra é uma questão de justiça e deve ser pensada no âmbito de uma ordem social justa. Junto com isso, ele fala da dimensão Política – o registro da luta é feito para que o trabalhador, conhecendo melhor sua realidade, possa com segurança assumir sua própria caminhada, tornando-se sujeito e protagonista da história. Também a dimensão Pedagógica – o conhecimento da realidade ajuda a reforçar a resistência dos trabalhadores e a forjar a transformação necessária da sociedade. Outra dimensão é a Histórica – todo o esforço e toda luta dos trabalhadores de hoje não podem cair no esquecimento e devem impulsionar e alimentar a luta das gerações futuras, e a Científica – a preocupação de dar um caráter científico à publicação existe não em si mesma, mas para que o acesso aos dados possa alimentar e reforçar a luta dos próprios trabalhadores. O bispo da Prelazia de Itacoatiara insiste em que “não se trata simplesmente de produzir meros dados estatísticos, mas de registrar a história da luta de uma classe explorada, excluída e violentada”. Segundo Dom Ionilton, “trata-se de um trabalho construído coletivamente, envolvendo agentes da CPT em todos os níveis e as várias equipes de documentação, contando com a contribuição dos movimentos sociais, sindicatos, igrejas e outras organizações e entidades que atuam no meio rural”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1