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Encontro no Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral leva a Roma a voz dos Yanomami, das periferias

A canonização de São José Allamano, fundador dos Missionários e das Missionárias da Consolata, juntamente com a celebração da Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, tornou possível que a voz da Amazônia e de seus povos, a voz das periferias, estivesse presente em várias instituições italianas e vaticanas. O apoio do Papa aos Yanomami Uma dessas reuniões aconteceu no Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, onde a voz da Terra Indígena Yanomami foi levada por um de seus líderes, Julio Ye’kwana. Foi nesse território, na Missão Catrimani, onde os Missionários e as Missionárias da Consolata estão presentes desde 1965, que aconteceu o milagre que levou a Igreja Católica a reconhecer a santidade de São José Allamano em 20 de outubro de 2024, Dia Mundial das Missões. No final das canonizações, o Papa Francisco disse: “O testemunho de São José Allamano nos lembra da necessidade de cuidar das populações mais frágeis e vulneráveis. Penso em particular no povo Yanomami da floresta amazônica brasileira, entre cujos membros ocorreu o milagre ligado à canonização de hoje. Faço um apelo às autoridades políticas e civis para que garantam a proteção desses povos e de seus direitos fundamentais e contra qualquer forma de exploração de sua dignidade e de seus territórios”. Tornar conhecido o sofrimento desses e de outros povos, dentro e fora do Brasil, é o caminho para que sua dignidade seja reconhecida e respeitada. Grave crise na Terra Indígena Yanomami Os Yanomami vêm sofrendo, especialmente desde 2019, com a precariedade de suas condições de vida, o que levou à morte por causas evitáveis de mais de 500 crianças com menos de 4 anos de idade. Tudo isso é consequência do garimpo ilegal, que desmatou a floresta, poluiu os rios com mercúrio, aumentou as doenças e levou a fome ao território, o que foi confirmado de várias maneiras. Situações que levaram o Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral a apoiar e acompanhar os povos indígenas na defesa de sua cultura, língua e saúde, algo em que sempre contaram com o apoio do Santo Padre. O Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral está empenhado em levar a Roma a voz dos povos indígenas, dos migrantes, das periferias. Eles estão presentes nos territórios para escutar os clamores do povo, algo que consideram um presente e um processo a ser continuado. Não se pode ignorar que a Igreja Católica tem uma forte influência na defesa dos direitos humanos em nível internacional. Isso é fortalecido quando esse trabalho é realizado em uma rede, em conjunto, por meio de alianças entre territórios e bispos, de forma sinodal. Por essa razão, o dicastério se oferece aos territórios como uma presença no território para influenciar, discernir e servir. Realidade da Terra Indígena Yanomami Os participantes da reunião ouviram de Julio Ye’kwana a realidade da Terra Indígena Yanomami, demarcada em 1992, onde vivem 33.000 indígenas em 350 comunidades. É um território que atravessa as fronteiras entre Brasil e Venezuela, pois para os indígenas não há fronteiras. A situação é dramática devido ao garimpo ilegal, que tem ferido a terra e os povos indígenas, que estão sendo constantemente corrompidos. Soma-se a isso o fato de que, no Brasil, os povos indígenas sofrem com a ameaça do Marco Temporal, claramente inconstitucional, que os mobilizou em uma luta contra. O Pe. Corrado Dalmonego, missionário e antropólogo da Consolata, que viveu por muitos anos entre os Yanomami na Missão Catrimani tem realizado um trabalho de pesquisa e desenvolvimento. Ele reconhece a redução da presença de garimpeiros e vê a necessidade de reativar as bases da proteção etno-ambiental. Denuncia também que a mortalidade infantil e a desnutrição, embora reduzidas, continuam, pois falta capilaridade e regularidade nos serviços de saúde. Ressalta ainda que, uma vez que a terra e os rios estejam contaminados pelo mercúrio, não será possível retornar ao território, pois a população sofrerá problemas neurológicos. O missionário entregou material sobre os Yanomami aos membros do Dicastério, solicitando que encontrassem canais para rastrear o ouro que sai da Terra Yanomami para vários países. O trabalho do CIMI Diante da situação dos povos indígenas, a Igreja no Brasil criou o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), como lembrou o arcebispo de Porto Velho e ex-presidente do CIMI, Dom Roque Paloschi. Dessa forma, ele destacou o trabalho de Dom Erwin Kräutler e de Dom Luciano Mendes de Almeida para que a Constituição Brasileira de 1988 reconhecesse os direitos indígenas. Da mesma forma, o Relatório de Violência contra os Povos Indígenas que o CIMI produz todos os anos.  O bispo, que já pastoreou a Igreja de Roraima, definiu a Missão Catrimani como resultado do Concílio Vaticano. Do Dicastério, seu prefeito, o cardeal Michael Czerny, insistiu que sua missão é “acompanhar e ajudar se necessário”, questionando como podem ajudar e pedindo que sejam mantidos informados sobre o trabalho que está sendo realizado na Amazônia e, assim, compartilhar essas boas práticas. Os povos indígenas estão organizados Nesse sentido, o Arcebispo de Manaus e Presidente do CIMI, Cardeal Leonardo Steiner, refletiu sobre a preocupação de todos os governos com sua imagem, algo que não aconteceu com o governo brasileiro anterior. Em seu discurso, ressaltou a importância das palavras do Papa no Angelus em apoio aos Yanomami, como algo importante para os povos indígenas, pois repercutem em todo o mundo.  O Cardeal Steiner agradeceu ao Dicastério por seu apoio e pediu apoio contínuo em termos de cultura, língua e saúde, enfatizando que “sempre contamos com o apoio do Santo Padre”. Ele também enfatizou que os povos indígenas estão bem organizados: com advogados, enfermeiros, criando consciência de seus direitos. Um grande desafio, porque “existe a possibilidade de que os povos desapareçam”, especialmente por causa do mercúrio. A Ir. Sofia Quintans Bouzada agradeceu ao Dicastério por “levar a Roma a voz dos povos indígenas, dos migrantes, das periferias”, convidando seus membros a irem aos territórios, escutar os clamores e levar seus sentimentos a Roma.  Ela reafirmou as palavras sobre a influência da Igreja Católica em termos de direitos humanos em nível…
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Imagem de Nossa Senhora da Amazônia entregue ao Papa Francisco expressa gratidão pelo seu carinho

A Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade conta com a participação de dois representantes da Amazônia brasileira, o arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Steiner, que é membro do Sínodo, eleito pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), e o jesuíta nascido em Manaus, padre Adelson Araújo dos Santos, professor da Universidade Gregoriana de Roma, que é um dos facilitadores. Papa Francisco envia uma benção à Igreja da Amazônia Em um dos intervalos da assembleia, os dois entregaram ao Papa Francisco uma imagem de Nossa Senhora da Amazônia, enviada por uma comunidade de Manaus que a tem como padroeira. A imagem revela os traços caboclos e indígenas próprios do povo da Amazônia, segundo explicou a Santo Padre o cardeal Steiner, agradecendo-lhe em nome de todos os católicos da Amazônia pelo apoio, pelo amor, pelo carinho que ele tem pela região amazônica. Um presente que o Papa Francisco agradeceu enviando uma benção para a comunidade que enviou a imagem e para todas as comunidades da Igreja da Amazônia. Esse carinho do Papa Francisco pela Amazônia e pelos povos que habitam a região é algo evidente. Ao longo do seu pontificado tem manifestado essa proximidade, uma atitude iniciada nos primeiros meses de seu papado. No encontro com o episcopado brasileiro com motivo da Jornada Mundial da Juventude de Rio de Janeiro em 2013, ele definiu a Amazônia “como teste decisivo, banco de prova para a Igreja e a sociedade brasileiras”. Uma presença diferente da Igreja na Amazônia Segundo o Papa, “a Igreja está na Amazônia, não como aqueles que têm as malas na mão para partir depois de terem explorado tudo o que puderam. Desde o início que a Igreja está presente na Amazônia com missionários, congregações religiosas, sacerdotes, leigos e bispos, e lá continua presente e determinante no futuro daquela área”. Naquela ocasião, Francisco chamou, inspirado no Documento de Aparecida, a “salvaguardar toda a criação que Deus confiou ao homem, não para que a explorasse rudemente, mas para que tornasse ela um jardim”. Igualmente, ele falou da importância de cuidar da formação do clero autóctone, em vista de consolidar o “rosto amazônico” da Igreja. Essas dinâmicas cobraram maior relevância com o decorrer do tempo, especialmente com o Sínodo para a Amazônia, que realizou sua Assembleia Sinodal cinco anos atrás, em outubro de 2019, e que muitos consideram de particular importância para o momento histórico que a Igreja está vivenciando no atual processo sinodal. De fato, o discurso do Papa ao episcopado brasileiro pode ser considerado um primer impulso para os passos dados ao longo dos mais de 11 anos de pontificado.   Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Cada vez mais ameaçados, a Câmara dos Deputados da Itália escuta a voz dos indígenas da Amazônia

A Câmara dos Deputados da Itália acolheu nesta terça-feira 22 de outubro, com motivo da canonização de São José Allamano, um evento sobre os povos indígenas da Amazônia. O Papa Francisco, no final das canonizações deste domingo fez um chamado às autoridades a proteger o Povo Yanomami, uma mensagem que foi exibida no início do ato, sendo lembrada a preocupação do Papa Francisco pela Amazônia, algo presente em Querida Amazônia. Conscientizar a comunidade internacional O desafio é conscientizar o parlamento italiano e a comunidade internacional sobre a necessidade da proteção dos povos indígenas, uma questão além das religiões, segundo o deputado italiano Fábio Porta, organizador do encontro. Ele apresentou a realidade da Amazônia, falando da importância da COP 30, que será realizada em Belém do Pará em 2025, uma oportunidade para a humanidade se colocar na frente da Amazônia e seu papel nas mudanças climáticas. Ele denunciou o desrespeito dos direitos garantidos na Constituição Brasileira de 1988. Mesmo com um governo sensível, o interesse político e económico fala mais forte. Na Amazônia se morre pelo desmatamento e pela ação dos garimpeiros ilegais, lembrou Porta. Ele fez um chamado ao governo italiano sobre sua responsabilidade com relação ao ouro que sai da Amazônia e as graves consequências que provoca. No dia em que é celebrada a festa de São João Paulo II, ele lembrou suas palavras: “holocaustos conhecidos continuam ainda hoje na Amazônia”. Atenção do atual governo aos povos indígenas O embaixador do Brasil na Itália, Renato Mosca de Souza, relatou a situação crítica, de total abandono, de fome e doença com o povo Yanomami, encontrada pelo atual governo, uma situação presente em outros povos indígenas. Diante disso foi criado o Ministério dos Povos Indígenas para enfrentar esse problema, para levar a letra da lei à realidade. O embaixador destacou a importância da participação da Igreja para ajudar o governo para dar aos povos a possibilidade de aceder a cidadania e à vida verdadeira, não ser um povo abandonado. Mosca de Souza destacou a importância do G20 de novembro a ser realizado no Rio de Janeiro, que irá abordar a luta contra a fome e a pobreza, um compromisso do Governo Lula, em um país que saiu em 2014 do mapa da fome da FAO e em 2024 tem 30 milhões de brasileiros que passam fome o sofrem insegurança alimentaria. Diante disso, manifestou o compromisso do governo brasileiro de enfrentar essa situação inaceitável, pois “o problema não é de produção, mas de distribuição”. Ele denunciou os quatro anos de governo negacionista, que abandonou o povo da Amazônia. Frente a isso, ele disse que o único motivo de todo governo é trabalhar pelo povo. O embaixador defendeu o desenvolvimento sem abandonar a dimensão social e a sustentabilidade.  Nessa perspectiva falou da COP 30 como momento de afirmação desta ideia e deste compromisso. Ele agradeceu o apoio do governo italiano ao Brasil em temas relacionados com as mudanças climáticas e a fome. Diversas explorações na Terra Indígena Yanomami O líder indígena da Terra Yanomami, homologada em 1992 sob a pressão indígena e internacional, Júlio Ye´kwana mostrou a realidade de seu território, do tamanho de Portugal, onde moram 33 mil pessoas em 350 comunidades, com 7 línguas e 10 associações para defender os direitos dos povos indígenas. Ele denunciou as ameaças que sofrem: garimpo ilegal, incentivado pelo governo anterior e cada vez mais sofisticado, devastação do território, poluição dos rios, desmatamento, exploração sexual, tráfico de armas e drogas. Ele disse que a Terra Indígena Yanomami se tornou local de criminalidade, atraindo inclusive gente de outros países. Os indígenas são aliciados, começaram a escravizar os indígenas, aumentaram diversas doenças e a desnutrição, dado que os pais de família não conseguiam mais plantar roça, pois ficavam no garimpo ou com malária. Diante da exportação do ouro para Europa, o líder indígena fez um pedido de socorro para que esse ouro seja rasteado para conhecer sua procedência. Os Yanomami têm feito uma aliança com os Kaiapó e Munduruku, os mais atingidos pelo garimpo ilegal, em vista de ganhar força na luta. Ele falou do Marco Temporal, que vai ser um genocídio dos povos indígenas. Ele disse que os Yanomami querem viver, praticar sua cultura, algo que o garimpo está atrapalhando. A pressão internacional é fundamental Essa realidade foi aprofundada pelo padre Corrado Dalmonego, Missionário Dalmonego italiano, antropólogo e grande conhecedor desse povo, que tem vivido por muitos anos na Missão Catrimani, onde aconteceu o milagre que levou a reconhecer a santidade do fundador de sua congregação. Ele reconheceu as melhoras com o atual governo, mas ainda não são suficientes. Diante da impossibilidade de continuar vivendo em uma terra devastada, ele ressaltou que a pressão internacional é fundamental, daí a importância do pedido do Papa Francisco no Angelus do último domingo. Riqueza de uns poucos acima da vida dos indígenas “A questão indígena no Brasil é muito séria”, segundo o arcebispo de Porto Velho, dom Roque Paloschi, que denunciou que os povos originários no Brasil nunca foram reconhecidos como gente. Os artigos 231 e 232 da Constituição Brasileira de 1988 nunca foram levados a sério, e depois de 40 anos só um terço das terras indígenas foram homologadas, algo deveria ter sido feito em três anos. Ele também mostrou sua preocupação diante do Marco Temporal. Ele destacou a importância do ato na Câmara dos Deputados da Itália e a presença do embaixador, e denunciou um desenvolvimento que destrói a Casa Comum para concentrar riqueza nas mãos de poucos, se mostrando contra aqueles que colocam a monocultura para a exportação acima da vida dos indígenas. Mesmo assim disse não ter perdido a esperança: “faz escuro, mas eu canto”, citando o poeta Tiago de Mello. Necessidade de mais avanços do atual governo O secretário executivo do Conselho Indigenista Missionário, Luis Ventura, fez ver que as Terras Indígenas estão em mãos do poder económico, que não se cumpre o que a Constituição de 1988 diz com relação aos povos indígenas, estando se desconfigurando seus direitos. Ele demandou mais avanços ao…
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Sínodo: Desafio de “voltar para casa como embaixadores ativos da sinodalidade”

A Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade está em seus estágios finais, pois esta quarta-feira é o último dia de trabalho geral, aguardando a importante tarefa que será realizada na quinta e sexta-feira pela comissão de redação para elaborar a versão final do Documento Final que será votado ponto a ponto no sábado à tarde, após uma leitura prévia e, espera-se, detalhada, em profundidade, na manhã do mesmo dia. Trabalhar em círculos menores Na terça-feira, como foi feito na segunda-feira à noite, na presença do Papa, os círculos menores trabalharam nas emendas ao rascunho que receberam. Como comunicou a secretária da comissão de comunicação, Sheila Pires, o trabalho das últimas horas dos círculos menores evidenciou o equilíbrio, a profundidade e a seriedade, bem como a linguagem simples do Documento Final, ao qual foram oferecidas algumas sugestões nas intervenções livres. Pires destacou a alusão aos jovens, com o pedido de um dos membros mais jovens da Assembleia Sinodal aos bispos para que não os deixassem de lado, “caminhem conosco, pois queremos caminhar com vocês“, disse a eles. Ele também enfatizou a necessidade de o documento incluir o papel das mulheres, dos leigos, das conferências episcopais, dos padres e das pequenas comunidades. A assembleia insistiu em dizer um forte e claro “não” da Igreja contra a guerra, “caso contrário, não restará nenhum ser humano vivo que possa ler este documento”, sublinhou. Por sua vez, o prefeito do Dicastério para a Comunicação, Paolo Ruffini, lembrou que nas próximas horas a assembleia se dedicará à elaboração dos modos, propostas concretas, que podem ser modos coletivos dos círculos menores, votados entre os membros do círculo e que devem ser entregues antes do final da manhã de quarta-feira, e modos individuais. Ruffini disse que os modos coletivos terão mais peso. Ele também lembrou que o documento foi redigido em italiano e traduzido para vários idiomas para facilitar o discernimento, incluindo ucraniano e chinês. Sínodo um Kairos para a África Os convidados na Sala Stampa na terça-feira, 22 de outubro, foram o Cardeal Fridolin Ambongo Besungu, Dom Franz-Josef Overbeck, Dom Andrew Nkea Fuanya e o Padre Clarence Sandanara Davedassan. O Cardeal Ambongo, Arcebispo de Kinshasa (República Democrática do Congo), disse que o Sínodo da Sinodalidade foi recebido como um Kairos em seu país, ajudando a descobrir como ser Igreja no contexto sociocultural africano. Depois de três anos de trabalho, ele disse estar muito satisfeito com um sínodo não para resolver problemas, mas para buscar uma nova maneira de ser Igreja, algo que ele acredita ter sido adquirido. De acordo com o cardeal, outros elementos específicos surgirão mais tarde, “o Sínodo definiu uma base e agora temos que ver como aplicar essa ideia de sinodalidade a quaisquer problemas que possam surgir. Quando eu voltar para casa, tentaremos entrar nessa dinâmica, como ser a Igreja Católica na África de uma maneira diferente”. Sinodalidade significa o futuro O Arcebispo de Bamenda (Camarões), Dom Andrew Nkea Fuanya, começou expressando sua gratidão pelo Sínodo, “um exercício muito bonito no âmbito da Igreja Católica”. O arcebispo definiu a sinodalidade como “um sinal escatológico para todos nós que viemos de tantos lugares diferentes”. A partir daí, ele afirmou que “todos os membros do Sínodo queremos voltar para casa como embaixadores ativos da sinodalidade“. Para o membro do Sínodo, “a sinodalidade significa o futuro”, porque é uma dinâmica que leva a “rejeitar o individualismo”, sendo um “chamado à vida comunitária, ao caminho comum”, algo muito importante para suas comunidades cristãs, que começam nas famílias, e daí vão para as missões, conferências episcopais e a Igreja universal, pequenas comunidades nas quais se conhecem, e que para que permaneçam plenas, a sinodalidade é vista como o caminho. O bispo Nkea Fuanya destacou o papel dos catequistas, que são extremamente importantes, com um papel fundamental, pois estão presentes em todos os níveis. Ele também ressaltou a participação das mulheres, que dirigem as igrejas, e a importância de estarem juntas como expressão da igreja sinodal. Para o bispo camaronês, a África é um lugar fértil para a sinodalidade, que é importante para a paz, porque “em nossas comunidades conseguimos resolver os problemas pacificamente”, concluiu. Reinculturando em uma sociedade pós-secular Dom Franz-Josef Overbeck, bispo de Essen e presidente da Adveniat, destacou que metade dos alemães são pessoas sem religião, o que leva os bispos a se questionarem. Em vista disso, a Igreja Católica precisa se reinculturar em uma realidade pós-secularizada e repensar suas estruturas. Ainda mais porque as paróquias são frequentadas por idosos e poucos jovens. O desafio é reevangelizar depois de séculos de cristianismo, dar uma nova resposta ao papel das mulheres na Igreja, encontrar uma resposta para a falta de padres e o que isso significa para a liturgia, enfatizou o bispo de Essen. Em sua opinião, há uma tensão entre a estrutura e a nova espiritualidade. Nesse sentido, ele disse que a sinodalidade é algo que eles já vivem, com estruturas paroquiais que são sinodais há 50 ou 60 anos. No nível da Conferência Episcopal, após o escândalo dos abusos, a Igreja alemã realizou uma reflexão sinodal sobre as estruturas sinodais que já possui. O diálogo como experiência cotidiana na Ásia Por fim, o padre Davedassan mostrou o que a Ásia traz para a jornada sinodal, onde os cristãos são supostamente uma minoria, o que os leva a viver juntos com outras religiões, em uma coexistência que leva a ser sinodal ad intra e ad extra. Em um continente onde o espaço público para a expressão da fé parece estar cada vez mais reduzido pelo extremismo político e religioso, a necessidade de diálogo não é uma opção, mas uma necessidade na Ásia, que faz parte da experiência cotidiana e é o caminho para viver em harmonia. Nesse contexto, a sinodalidade é a base de tudo isso, em uma mistura cada vez mais comum de crenças, o que significa que as crianças aprendem a viver em diálogo dentro da família. “O caminho sinodal não é algo novo, ele já existe em muitos países asiáticos, e isso…
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Timothy Radcliffe, o testemunho da liberdade necessária em uma Igreja sinodal

  A figura do dominicano inglês Timothy Radcliffe, um dos dois acompanhantes espirituais da Assembleia Sinodal, juntamente com a Madre Maria Inazia Angelini, é de particular importância para o andamento do processo. Não foi em vão que eles possibilitaram que os participantes da Assembleia “ouvissem a voz do Espírito Santo”, algo que o Papa Francisco pediu em seu discurso na abertura oficial. Entrar em sintonia com o que Deus diz O Papa Francisco considera a oração e a Palavra de Deus como as condições para ver “todas as contribuições reunidas durante esses três anos de trabalho intenso, de compartilhamento, de confronto de ideias e de esforço paciente para purificar a mente e o coração”, como ele disse na missa de abertura. E nesse caminho, o dominicano tem sido alguém que ajudou a entrar em sintonia com o que Deus está dizendo à sua Igreja hoje. Ele fez isso com liberdade, a mesma liberdade que pediu na meditação antes de receber o rascunho do Documento Final para consideração, emenda e votação. Ele pediu aos participantes da Assembleia que “exercessem essa pesada responsabilidade” com liberdade. Para Radcliffe, falar de liberdade é falar de uma atitude que dinamiza sua vida diária. Pregar e incorporar essa liberdade Quando disse em sua meditação que “nossa missão é pregar e encarnar essa liberdade”, insistindo que “a liberdade é a dupla hélice do DNA cristão“, Radcliffe deixou claro que essa “é a liberdade de dizer o que acreditamos e de ouvir sem medo o que os outros dizem, com respeito mútuo”. Essa atitude é perceptível em sua vida cotidiana, alguém que permanece firme em sua missão de ajudar Francisco a realizar seu grande horizonte desde que assumiu o pontificado, uma Igreja sinodal, uma Igreja de todos, de todos, de todos, uma Igreja na qual todos podem se sentir livres para caminhar juntos, pois “graças a essa liberdade, podemos ousar pertencer à Igreja e dizer Nós”. Para Radcliffe, “o cerne de nossa tomada de decisão é essa dupla hélice de liberdade abençoada. Pois a liberdade de Deus opera nas profundezas de nosso livre pensar e decidir“. Uma liberdade que nos leva a “pensar, falar e ouvir sem medo”, o que é próprio “daqueles que confiam que ‘Deus faz todas as coisas para o bem daqueles que amam a Deus’”. Se, nestes dias, os membros da Assembleia Sinodal conseguirem assumir a necessidade de pensar, falar e ouvir sem medo, o Documento Final será uma luz que brilhará na Igreja. Se nas bases, onde todos vivem sua fé e colaboram na construção do Reino de Deus, todos os batizados, independentemente de seu ministério e serviço, puderem pensar, falar e ouvir sem medo, a Igreja sinodal, a Igreja de todos, poderá dar passos mais largos e mais rápidos, Caso contrário, se continuarmos a adotar uma postura intrometida ou autoritária, que nos leve a medir nossas palavras e ações dominadas pelo medo, que nos leve a interromper qualquer tentativa de viver em liberdade, a sinodalidade se diluirá e a Igreja piramidal e dos privilégios continuará a dominar as relações eclesiais. Quanto mais é de Deus, mais é nossa liberdade. Isso porque a liberdade não pode se resumir a argumentar nossas posições, a nos instalarmos em posições arrogantes, não pode continuar sendo uma atitude que não se materializa em ações. A partir da liberdade, temos de ousar “entrar em debate com nossas próprias convicções”, caso contrário “seremos irresponsáveis e nunca amadureceremos”. A liberdade de Deus atua no âmago de nossa liberdade, brotando de dentro de nós. Quanto mais é de Deus, mais é nossa liberdade”, como disse o dominicano. Uma liberdade que Radcliffe vive e expressa espontaneamente, o que o levou a pedir ao Papa Francisco poder renunciar às suas vestes cardinalícias, algo que o Santo Padre lhe concedeu e que o levará a receber o capelo com seu hábito dominicano branco. Aqueles que o insultam se qualificam, são apenas uma pequena minoria em comparação com a multidão que vê nele uma verdadeira testemunha do Evangelho e da Igreja sinodal e de todos. Até mesmo os jesuítas, alvo de várias piadas do dominicano durante suas meditações, devem amar o novo cardeal, e esta afirmação é claramente outra piada. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Cardeal Fernández: Nada impede que as mulheres “ocupem posições muito importantes na liderança das Igrejas”

Na última sexta-feira, os grupos criados para estudar algumas questões relacionadas ao Sínodo sobre Sinodalidade se reuniram com os membros do Sínodo. A ausência do Cardeal Víctor Manuel Fernández na reunião do grupo 5 gerou certo desconforto entre os presentes. Uma situação que o próprio Prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé esclareceu diante dos participantes da 13ª Congregação Geral, realizada na manhã de segunda-feira, 21 de outubro. O diácono feminino não é uma questão madura O cardeal argentino começou seu discurso, ao qual a assembleia respondeu com aplausos ao final de suas palavras, oferecendo uma reunião na quinta-feira às 16h30. Em suas palavras, ele disse que “o Santo Padre expressou que, neste momento, a questão do diaconato feminino não está madura e pediu que não parássemos agora com essa possibilidade”, um caminho que continua e, no devido tempo, as conclusões serão divulgadas. Em vez disso, disse Tucho, “o Santo Padre está muito preocupado com o papel das mulheres na Igreja“, dizendo que o Papa pede para não se concentrar nas ordens sagradas. O cardeal disse que apoia a posição do pontífice, “porque pensar no diaconato para algumas mulheres não resolve a questão dos milhões de mulheres na Igreja”. Medidas não tomadas Referiu-se a passos que não foram dados, como o apoio ao ministério de catequistas por parte de algumas conferências episcopais, especialmente a dimensão que fala de “catequistas que apoiam as comunidades na ausência de sacerdotes, mulheres que estão à frente, lideram comunidades e desempenham diferentes funções”, que Querida Amazônia assumiu. Uma proposta que considera possível, “porque o Papa havia explicado em seus documentos que o poder sacerdotal ligado aos sacramentos não se expressa necessariamente como poder ou autoridade, e que existem formas de autoridade que não requerem ordens sagradas”. Ele também falou sobre a falta de concessão do acólito às mulheres, com padres “que não querem apresentar mulheres ao bispo para esse ministério”. O mesmo foi dito sobre o diaconato permanente, que não é assumido em todas as dioceses e muitas vezes não vai além de serem coroinnhas. A partir desses exemplos, ele quis justificar que “a pressa em pedir a ordenação de mulheres diaconisas não é hoje a resposta mais importante para promover as mulheres”. Por esse motivo, “para incentivar a reflexão, pedi que fossem enviados ao meu Dicastério testemunhos de mulheres que lideram comunidades ou ocupam cargos importantes de autoridade. Não porque elas se impuseram às comunidades, ou como resultado de um estudo, mas porque adquiriram essa autoridade sob o impulso do Espírito em resposta a uma necessidade do povo. A realidade é superior à ideia”, sublinhou o prefeito. Apoio às mulheres no Sínodo Às mulheres membros deste Sínodo, ele pediu “que ajudem a coletar, explicitar e transmitir ao Dicastério várias propostas, que possamos ouvir em seu contexto, sobre possíveis caminhos para a participação das mulheres na liderança da Igreja”, dizendo esperar propostas e reflexões, algo que ele está pronto para fazer na próxima quinta-feira, quando explicará os passos que estão sendo dados. Finalmente, ela expressou sua convicção de “avançar passo a passo e chegar a coisas muito concretas, para que possamos entender que não há nada na natureza das mulheres que as impeça de ocupar posições muito importantes na liderança das Igrejas“. Isso se deve ao fato de que “o que realmente vem do Espírito Santo não pode ser impedido”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Sínodo: No Documento Final, procure uma profunda renovação da Igreja em novas situações, não em decisões e titulares

A Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, que realiza sua Segunda Sessão de 2 a 27 de outubro, entra em sua semana decisiva. Os participantes já têm em mãos o esboço do Documento Final, que foi entregue após uma Missa votiva ao Espírito Santo e um momento de retiro, no qual tanto o secretário do Sínodo, Cardeal Mario Grech, quanto o Padre Radcliffe, deram uma breve, mas profunda lição sobre o que é a sinodalidade. Rascunho do Documento Final De segunda-feira à tarde até quarta-feira, será o momento de os membros da Assembleia Sinodal darem suas contribuições para que quinta e sexta-feira a comissão redatora possa preparar o Documento Final. Algo a que a secretária da Comissão de Comunicação, Sheila Pires, se referiu. Ela lembrou as palavras do cardeal Grech na missa do dia, onde enfatizou que o final da Assembleia é um novo começo, e do padre Radcliffe, que no retiro fez um chamado à liberdade e responsabilidade. Igualmente, ela se referiu ao rascunho do Documento Final entregue aos participantes, um texto provisório e confidencial, falando da necessidade de afrontar a última semana com espírito de liberdade. O texto quer ser uma seta num caminho rico que incorpora o trabalho ao longo de todas as fases. No rascunho foi considerado os contributos dos círculos menores e dos teólogos, colocando o foco na ressurreição de Jesus. Os próximos passos será uma troca de dons, para partilhar desafios, sonhos, dinâmicas e novas motivações que surgem do texto. A Assembleia rezou no final das atividades da manhã pelo sacerdote assassinado ontem em Chiapas (México). Pedido de desculpas do Cardeal Víctor Manuel Fernández Por sua vez, o prefeito do Dicastério para a Comunicação, Paolo Ruffini, disse que a assembleia está em um momento crucial, destacando as reuniões de sexta-feira à tarde com os grupos de estudo. Nessas reuniões, houve uma situação pela qual o Cardeal Victor Manuel Fernandez se desculpou na Sala Sinodal, onde estava presente o Papa Francisco, cujas palavras, aplaudidas pelos participantes da assembleia, foram entregues aos jornalistas. Ruffini destacou as canonizações deste domingo, a oração de encerramento do Sínodo Digital e, na próxima sexta-feira, 25 de outubro, o Sínodo do Esporte. Os convidados na Sala Stampa do Vaticano na última segunda-feira da assembleia foram Timothy Radcliffe, conselheiro espiritual da assembleia, o arcebispo de Bolonha e presidente da Conferência Episcopal Italiana, Cardeal Mateo Zuppi, a subsecretária do Sínodo, Nathalie Becquart, e Dom Manuel Nin Güell, Eparca Apostólico para os católicos de rito bizantino na Grécia. Como estar juntos de forma diferente Para Radcliffe, há uma tentação de ler o Documento Final, por enquanto o esboço, procurando decisões e manchetes, quando “o Sínodo trata de uma profunda renovação da Igreja em novas situações“. Diante de uma realidade de violência e desintegração da sociedade, citando como exemplo os perigos das eleições nos Estados Unidos, a Igreja é chamada a assumir o papel de ser um sinal de paz e de comunhão com Cristo. É uma questão de tomar decisões que não chegam às manchetes, porque tem a ver com o modo de ser de Jesus e de estar com as pessoas. Para o dominicano, que será nomeado cardeal em 7 de dezembro, a importância do documento está em descobrir como podemos estar juntos de uma maneira diferente. Ele citou dois exemplos, a visita do Santo Padre à prisão para lavar os pés dos detentos e uma visita que ele fez ao norte do Paquistão como general de sua ordem, quando viu como um dominicano americano se vestia com as mesmas roupas e estava entre as pessoas, definindo-o como um pastor com cheiro de ovelha, uma testemunha de que o Evangelho pode tocar e renovar nossa Igreja. A partir daí, ele insistiu que esse é o caminho, a abordagem que devemos adotar para ler esse documento, que “não evoca decisões dramáticas e radicais, mas novas formas de ser Igreja que nos permitem estar em comunhão uns com os outros de maneira mais profunda em Cristo e para Cristo”. O diálogo é o alicerce da Igreja O Cardeal Zuppi afirmou que “o diálogo é o fundamento da Igreja“, referindo-se às mesas da Sala Sinodal como espaços onde todos podemos falar juntos, ouvir uns aos outros a partir de uma dimensão espiritual, não algo funcional, mas uma dimensão mais ampla, onde se percebe a presença da Igreja de todo o mundo, citando como exemplo o representante da Igreja do Nepal, com apenas oito mil fiéis. O Arcebispo de Bolonha pediu para não ceder à polarização, para não querer apagar a voz do outro, para buscar o que nos une, lembrando as palavras do Papa Bom, o que não significa fingir que não há elementos que não possam nos dividir. Ele define o atual processo sinodal como um grande sinal de comunhão em um mundo no qual às vezes é difícil chegar a um acordo. Nesse sentido, ele vê o Documento Final como uma boa indicação do método, para descobrir que a Igreja está vivendo algo neste mundo que, às vezes, esquecemos que é a nossa casa comum, e que deve envolver uma aspiração de encontrar uma fraternidade que nos una a todos como uma experiência muito bonita, uma vez que se fala de tudo, sem ignorar o que é levantado. A partir daí, ele pediu que continuássemos avançando, que olhássemos além, que não ficássemos onde estamos, um método válido em um mundo onde os problemas não são enfrentados, onde se grita com eles. Uma Igreja com traços das pessoas que fazem parte dela, o que a torna mais atraente, concluiu Zuppi. As mulheres fazem contribuições essenciais A subsecretária do Sínodo destacou entre os frutos do Sínodo a promoção do ecumenismo, abrindo uma nova fase e trazendo uma nova forma de ver e articular o Primado do Papa. Na Segunda Sessão, a qualidade da escuta mútua é muito alta, levando a uma promoção da fraternidade. Ir. Nathalie Becquart destacou o papel das mulheres na assembleia, o que elas estão contribuindo como relatoras e na comissão…
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Radcliffe pede liberdade e coragem na construção e votação do Documento Final do Sínodo

A última semana da Assembleia Sinodal começou com um tempo de oração e retiro. Após a missa votiva ao Espírito Santo, os participantes da assembleia, na presença do Papa Francisco, ouviram as palavras do Padre Radcliffe, que os fez perceber que “estamos prestes a embarcar em nossa última tarefa, considerar o documento final, emendá-lo e votá-lo”. Liberdade para os filhos de Deus Para realizá-la, ele pediu que o fizéssem, como pede São Paulo, com liberdade, pois “nossa missão é pregar e encarnar essa liberdade. A liberdade é a dupla hélice do DNA cristão. Em primeiro lugar, é a liberdade de dizer o que acreditamos e de ouvir sem medo o que os outros dizem, com respeito mútuo. É a liberdade dos filhos de Deus de falar com ousadia, com parrésia (por exemplo, Atos 4.29), como os discípulos declararam com ousadia as boas novas da Ressurreição em Jerusalém. Por causa dessa liberdade, cada um de nós pode dizer ‘eu’. Não temos o direito de ficar em silêncio”. A raiz está na liberdade interior, observando que “podemos ficar desapontados com as decisões do Sínodo. Alguns as considerarão imprudentes ou até mesmo erradas. Mas temos a liberdade daqueles que acreditam que “Deus faz todas as coisas para o bem daqueles que o amam”, como diz a Carta aoss Romanos. Ele pediu esperança, pois “podemos ter certeza de que ‘nada pode nos separar do amor de Deus’, nem mesmo a incompetência, nem mesmo os erros”. Uma liberdade que nos leva a “pertencer à Igreja e dizer Nós”. Deus opera em liberdade, afirmou o dominicano, advertindo que “crer no Espírito Santo não nos dispensa de usar nossas mentes na busca da verdade”. O dominicano lembrou o que aconteceu com Yves Congar, silenciado por Roma por “falar a verdade”, por ser “uma testemunha autêntica e pura do que é verdadeiro”. Nessa perspectiva, ele enfatizou que “não devemos ter medo da discordância, porque o Espírito Santo está agindo nela”.  Pois liberdade é “pensar, falar e ouvir sem medo. Mas isso não é nada se não for também a liberdade daqueles que confiam que ‘Deus faz todas as coisas para o bem daqueles que amam a Deus’”. A providência de Deus em ação Para Radcliffe, “a providência de Deus está agindo suave e silenciosamente, mesmo quando as coisas parecem estar dando errado”, pois ela está “entrelaçada na história da nossa salvação desde o início”. Contra isso, ele advertiu que “mesmo que o resultado do Sínodo o desaponte, a providência de Deus está em ação nesta Assembleia, conduzindo-nos ao Reino por caminhos conhecidos apenas por Deus. Sua vontade para o nosso bem não pode ser frustrada”. De fato, “este é apenas um sínodo. Haverá outros. Não precisamos fazer tudo, apenas tentar dar o próximo passo”. Uma afirmação fundamental para entender que somos parte de um processo, que nada começou conosco e, se for de Deus, nada terminará. “Se formos livres apenas para argumentar nossas posições, seremos tentados pela arrogância daqueles que, nas palavras de De Lubac, se veem como ‘a norma encarnada da ortodoxia’. Acabaremos batendo os tambores da ideologia, seja ela de esquerda ou de direita. Se tivermos apenas a liberdade daqueles que confiam na providência de Deus, mas não ousarmos entrar no debate com nossas próprias convicções, seremos irresponsáveis e nunca amadureceremos”, advertiu o dominicano, palavras que são fundamentais para entender a sinodalidade. Isso porque “a liberdade de Deus atua no âmago de nossa liberdade, brotando de dentro de nós. Quanto mais é de Deus, mais é nossa liberdade”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Cardeal Grech: Escutar o Espírito para que “a conclusão desta assembleia sinodal não será o fim de algo, mas um novo começo”

Na reta final dos trabalhos da Assembleia Sinodal, os participantes desse caminho celebraram uma missa votiva ao Espírito Santo, presidida pelo Secretário do Sínodo, Cardeal Mario Grech. Uma assembleia que “recolhe os frutos de um longo caminho iniciado em outubro de 2021”. Não cair na ganância Em suas palavras na segunda-feira, 21 de outubro, o cardeal maltês refletiu sobre como “reunir” sem cair na ganância, algo que “pode se referir não apenas aos bens materiais, mas ao bem e à beleza que Jesus nos confia neste Sínodo”. Analisando o texto, ele disse que, para Jesus, “a herança deve ser dividida, mas mantida intacta por meio da gestão compartilhada”. Isso porque “Jesus se recusa a dividir e, em vez disso, nos convida a buscar a comunhão, uma vez que ele identifica a ganância e o desejo de posse como a raiz da divisão”. Seguindo o que o Papa tanto insiste, Grech afirmou que “Jesus rejeita toda lógica de partidarismo e divisão ao buscar a comunhão entre os irmãos”, convidando os membros da Assembleia a descobrir “como nos preparar nestes dias para colher os frutos de nosso caminho sinodal e de nossa assembleia, sem nos dividirmos, mas buscando a comunhão”. Um caminho rico em frutos O presidente da celebração continuou analisando a parábola, traçando um paralelo com a assembleia, com os “frutos abundantes” descobertos, contando como sinal de alegria “os sinais de vitalidade em cada fase do caminho sinodal, começando com a escuta que caracterizou particularmente a primeira fase e que envolveu todas as nossas comunidades”. A partir daí, ele insistiu que “nosso caminho foi rico em frutos: ele nos ajudou a ver os dons que florescem hoje no povo de Deus, sem esconder nossas fragilidades e feridas. Mas, como discípulos do Ressuscitado, fomos capazes de reconhecer que é precisamente em nossa fraqueza que a força de Deus se manifesta”. Paralelamente à falta de um lugar para guardar os frutos que aparece no texto, ele questionou: “o que fazer agora, o que fazer com os frutos abundantes que colhemos ao longo desses anos?”, afirmando a possibilidade de não ter “os meios adequados para guardar os dons que descobrimos”, mas também de cair na tentação de que “agora não há mais nada a fazer, só temos que aproveitar os frutos recebidos”, de querer viver da renda, de pensar que o fruto colhido é o fim da história. Não acumular o que foi colhido Ele alertou os participantes da assembleia sobre o risco de “acumular o que colhemos, os dons de Deus, sem reinvesti-los, sem vivê-los como dons recebidos que agora devemos devolver à Igreja e ao mundo”. Além disso, enfatizou que “não podemos nos contentar sem buscar novos caminhos para que a nossa colheita se multiplique ainda mais”, de “correr o risco de permanecer fechados em nossos limites conhecidos, sem continuar a ampliar o espaço da nossa tenda”, já que “a compreensão das verdades e das opções pastorais continua, consolidando-se com os anos, desenvolvendo-se com o tempo, aprofundando-se com a idade”. Para continuar o caminho, ele pediu para “ficar longe da ganância, do desejo de manter tudo, de possuir, de acumular, de definir, de fechar. Devemos vencer a tentação de acreditar que os frutos que colhemos são nosso próprio trabalho e nossa posse”, pedindo para “receber tudo como um presente de Deus”. Diante disso, “o caminho a seguir é o do Espírito de Deus. Pois somente o Espírito Santo pode nos permitir permanecer abertos à novidade de Deus”. Não ouvir apenas a si mesmo De acordo com o secretário do Sínodo, “o homem da parábola só ouve a si mesmo”, e por isso ele nos convidou, individualmente e em comunidade, como em um contínuo Pentecostes, “a dialogar com o Espírito Santo, a nos deixarmos iluminar por ele, esperando aquele transbordamento que é um sinal de sua intervenção”. Isso porque “se ouvirmos apenas a nós mesmos, se nos fecharmos em nós mesmos, estaremos vivendo sozinhos, sem esperança. Pouco a pouco, o que acumulamos começará a desaparecer sem ser substituído pelas novidades que o Senhor continuará a nos enviar”. Frente a isso, “se, por outro lado, escutarmos a voz do Espírito, seremos capazes de identificar novos caminhos”, de modo que “a conclusão desta assembleia sinodal não será o fim de algo, mas um novo começo”, em um caminho confiado a Maria, para que com ela “possamos escutar a voz do Espírito Santo e viver na liberdade do Espírito”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Dom Evaristo Spengler: “Dialogar com aqueles que têm uma outra forma de presença divina em suas vidas”

A Praça de San Pedro acolheu no dia 20 de outubro de 2024, Domingo Mundial das Missões, a canonização de 14 novos santos, dentre eles São José Allamano, fundador dos Missionários e Missionárias da Consolata. O milagre para a canonização aconteceu com o indígena Sorino Yanomami, da missão Catrimani, na diocese de Roraima. Opção pelos povos indígenas Segundo o bispo de Roraima, dom Evaristo Spengler, presente na celebração, a diocese de Roraima, desde sua criação como prelazia, “fez uma clara opção pelos povos indígenas, isso com muita perseguição, com muito sacrifício”, sendo perseguidos e ameaçados de morte, inclusive alguns bispos. “Significa que a opção teve um custo muito grande e tem um custo até hoje”, enfatizou o bispo. “Acontecer o milagre com um indígena yanomami, e operado pelo fundador dos Missionários da Consolata, José Allamano, agora santo, para nós é simbólico. Significa que Deus está nos dando um sinal de que esse é o caminho, a aliança com os povos indígenas, com os mais fragilizados da sociedade, esse é o caminho onde acontece o Reino de Deus neste momento, onde Deus quer a sua Igreja”, salientou dom Evaristo Spengler. Valorizar o povo yanomami O milagre aconteceu em uma missão onde os Missionários e Missionárias da Consolata chegaram em 1965. Lá eles fazem uma missão de presença, sem celebrar sacramentos junto aos indígenas, uma atitude que “quer nos dizer que Deus quer o diálogo e o respeito ao diferente”, segundo o bispo de Roraima. Ele disse que “ser um missionário da Consolata em Catrimani significa valorizar aquele povo, com a sua crença, a sua cultura”. Dom Evaristo Spengler enfatizou que “eles creem em Deus, um Deus que se revela de uma maneira diferente, mas começam a dialogar conosco”, reconhecendo a grandeza de um Deus que conseguiu curar o indígena Sorino. Um diálogo que, segundo o bispo de Roraima, “é muito importante para nós também conhecermos como é que Deus vai se revelando de tantas formas. Deus vai se revelando no passado, Deus se revela no presente”, enfatizando que “a revelação plena é com Jesus Cristo, mas nós conseguimos dialogar com aqueles que têm uma outra forma de presença divina em suas vidas”. Roraima, uma Igreja com uma história sinodal O bispo Salientou que “a Igreja de Roraima tem uma história que é muito sinodal, é um caminhar junto do bispo, com os padres, missionários e missionárias e o Povo de Deus, todos os leigos”. Segundo dom Evaristo Spengler, “essa abertura para o caminhar juntos, também dá uma abertura para as culturas diferentes”, relatando a existência de 12 povos indígenas em Roraima, sendo os mais numerosos os Yanomami, Macuxi e Wapichana, muitos deles batizados, com catequistas e ministros da Palavra. Dom Evaristo Spengler disse que “entre os Yanomami foi diferente, é um diálogo intercultural, interreligioso, porque a presença de Deus está forte na vida deles, e nós temos que fazer essa escuta, é Deus que se revelou no passado, viu o sofrimento do seu povo, desceu para libertá-lo, e está escutando esse povo hoje de formas diferentes. Se revela também com sinais diferentes, mas o sinal de agregação, de unidade, para nós nesse momento, é o sinal desse milagre que acontece com o indígena Sorino, operado por Deus através de São José Allamano”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1