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Fórum das mulheres amazônicas: “O diaconato das mulheres só precisa ser reconhecido, porque já é exercido na Amazônia”

No âmbito do processo de escuta da Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, a Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) organizou o Fórum Temático Mulheres da Pan-Amazônia. O encontro virtual, segundo a REPAM relatou num comunicado de imprensa, contou com a participação de cerca de 80 mulheres, a grande maioria dos 9 países que compõem a região Pan-Amazônica. Junto com as contribuições das mulheres presentes, foram enviadas anteriormente as respostas de 173 mulheres, que responderam a um questionário simples. Durante o encontro virtual refletiram sobre “a força e importância do rosto feminino da Igreja na nossa região, e a necessidade de fazer cada vez mais esforços para provocar mudanças na estrutura da Igreja, porque sem isso, qualquer novo ministério que seja criado irá reproduzir o clericalismo”. As mulheres participantes salientaram que “sonhamos com uma Igreja circular, sinodal, intercultural, comunitária, profética, missionária, em saída, samaritana, aliada e orante que caminha juntamente com todo o seu povo, e com as dificuldades reais e estruturais que os podem afetar”. Na Amazônia, as mulheres querem uma Igreja com a “mística do nós“, retomando as palavras de Evangelii Gaudium. A partir daí, dizem que ratificam um sonho coletivo: “Queremos uma Igreja que seja um discipulado de iguais, uma Igreja sinodal, onde a verticalidade dê lugar à circularidade”. Denunciando realidades presentes na região amazónica, as mulheres insistem que “a invisibilidade das mulheres é um terreno fértil para a violência“. Por conseguinte, reivindicam “a necessidade de reconhecimento público dos nossos serviços, que queremos continuar exercendo de e como povo de Deus”. Não se trata de dominação, porque, segundo as mulheres participantes no fórum, “não estamos interessadas em qualquer luta de poder, queremos simplesmente que os serviços que realizámos sejam reconhecidos e a possibilidade de tomar a palavra pública, de pregar, e isto por fidelidade ao Evangelho, seja definitivamente aberta”. Na sua opinião, “o diaconato das mulheres só precisa de ser reconhecido, porque já é exercido na Amazónia“. Utilizando o mapeamento da REPAM, que mostra que de cada 10 representantes em posições de responsabilidade apenas 3 são mulheres, as participantes insistem que “é urgente reforçar o empoderamento, a liderança e os vários serviços e ministérios que as mulheres exercem neste território”. Além disso, salientam que “a presença do conhecimento e da sensibilidade das mulheres é essencial em todos os espaços de formação de toda a Igreja, incluindo os seminários”. A partir desta afirmação exigem “a presença de mulheres nestes espaços tanto como formadoras e formandas, como em espaços de acompanhamento espiritual e de tomada de decisões”. Para as mulheres amazônicas, “o conteúdo sobre as mulheres deve ser indesculpavelmente ensinado pelas mulheres e deve estar presente no programa de todas as formações da Igreja”. Finalmente, afirmaram que “as mulheres da Pan-Amazônia somos construtoras da Igreja e renovamos o nosso compromisso com ela nesta caminhada em direção à Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe”. Luis Miguel Modino, assessoria de comunicação CNBB Norte 1

São João: festa da luz no meio de tanta escuridão

24 de junho é dia de festa grande no Nordeste brasileiro, uma tradição que os migrantes trouxeram para a Amazônia. A cultura popular é algo que marca a vida dos brasileiros e dentro dessa cultura, a religiosidade popular sempre teve seu espaço. No final das contas a alegria é algo constitutivo de Deus, acreditamos num Deus que alegra os nossos corações. A festa de São João está ligada ao costume de acender fogueiras, que segundo a tradição cristã foi o jeito como Isabel, segundo o combinado, anunciou para sua parenta Maria o nascimento do precursor. Ao longo da história, tem sido muitas as leituras feitas sobre o significado da fogueira, que acalenta e ilumina no meio do frio e da escuridão. O frio e a escuridão têm se instalado na vida da humanidade diante de tantos episódios de dor que estamos vivenciando. O obscurantismo foi colocado como norma de comportamento por aqueles que se tornaram agentes das trevas. Diante disso se faz necessário ser luz que ilumine e anuncie a vida, que se esforce para que essa vida possa persistir e se tornar presente no meio da humanidade. São João também é momento de encontro, de viver a familiaridade e a amizade, de partilhar a alegria da festa. Caminhar juntos se torna uma necessidade cada vez mais urgente diante dos tempos difíceis que estamos enfrentando. Na escuridão, uma mão amiga sempre nos fortalece e facilita continuar avançando. Em tempos de divisão e enfrentamento somos chamados a nos unir e testemunhar a união. O Papa Francisco faz um chamado à humanidade para viver em fraternidade e à Igreja para caminhar em sinodalidade. Os momentos de encontro nos ajudam a entender o sentido dessas atitudes e nos fazem sentir que desse jeito a vida é mais fácil, que juntos somos mais e chegamos mais longe. O encontro, a união, nos fortalecem e nos ajudam a superar as adversidades. São João Batista é a voz que grita no deserto, que prepara os caminhos do Senhor, que anunciou a chegada do Salvador. Seguindo seu exemplo, somos chamados a nos fazermos anunciadores da vida que vem de Deus, mesmo que muitos não queiram escutar essa mensagem. Sejamos essa fogueira que ilumina e acalenta os corações, esse fogo em torno do qual o povo se encontra e compartilha o que cada um é e tem. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1 – Editorial Rádio Rio Mar

Dom Alcimar descansa para sempre na diocese que o viu nascer e que ele pastoreou por 24 anos

Dom Alcimar Caldas Magalhães, bispo emérito da diocese de Alto Solimões, falecido no último domingo, 20 de junho, descansa para sempre na região que o viu nascer e onde foi padre e depois bispo durante 24 anos. Após de três dias de homenagens, orações e celebrações, primeiro em Manaus, na Igreja de São Sebastião, junto com seus confrades capuchinhos, e nos dois últimos dias na Catedral de Nossa Senhora do Perpetuo Socorro de Tabatinga, sede da diocese do Alto Solimões, tem sido sepultado na capela lateral construída na mesma catedral para seu sepultamento. Segundo Dom Adolfo Zon, o vivido nos dias 22 e 23 de junho na catedral de Tabatinga, tem sido “uma grande manifestação de agradecimento e de carinho do Povo Deus para com aquele que foi seu bispo durante 24 anos”. Foram muitas as homenagens recebidas por alguém que nasceu numa comunidade ribeirinha do município de Benjamin Constant, na mesma diocese do Alto Solimões. O povo das comunidades, gente simples que sempre tiveram a atenção de Dom Alcimar, quiseram se despedir de quem foi seu bispo, de quem defendeu seus direitos e providenciou projetos que pudessem ajudar a ter uma vida melhor, numa região onde as condições de vida nunca foram fáceis. Ao longo dos dois dias de velório em Tabatinga se fez presente, acompanhando o bispo local, Dom Leonardo Steiner, arcebispo metropolitano de Manaus, que viajou junto com os restos mortais desde a capital amazonense. Ele presidiu umas das Eucaristias celebradas, como já tinha feito em Manaus, onde outra Eucaristia foi concelebrada por Dom José Albuquerque, bispo auxiliar da Arquidiocese de Manaus, Dom Mário Pasqualotto, bispo auxiliar emérito da Arquidiocese de Manaus, e Dom Gutemberg Regis Freire, bispo emérito da Diocese de Coari.   A Eucaristia de exéquias, presidida por Dom Adolfo Zon, foi muito participada pelos fieis, segundo o bispo local, que também ressaltou que foi muito bem preparada pelos diversos grupos e pastorais da diocese. O bispo também destacou o trabalho da equipe de acolhida, que manteve organizado o velório, orientando as pessoas a seguir os procedimentos protocolados pela Anvisa de prevenção da Covid-19. Na homilia, Dom Adolfo insistiu em que “temos que fazer memória Dom Alcimar, não só ter uma recordação, não só lembrança”. O bispo da Diocese do Alto Solimões destacou a importância de fazer memória, “que é presença que continua realizando seu sonho de melhorar as condições de vida das pessoas”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1

Solidariedade da Diocese de Roraima pela morte da Ir. Telma, que fez de cada migrante “seu irmão mais próximo”

A diocese de Roraima emitiu uma nota de solidariedade pela morte da Ir. Telma Lage, que começa com uma frase da religiosa falecida: “Estar em missão é o melhor caminho de conversão”. A nota, assinada pelo bispo diocesano, Dom Mário Antônio da Silva, lembra a vida da Ir. Telma, nascida em Itabira, Minas Gerais, em 23 de fevereiro de 1972, relatando sua caminhada vocacional e missionária na Congregação das Religiosas Missionárias de Nossa Senhora das Dores. Depois de trabalhar na Bahia, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Goiás, “em 2013, Ir. Telma Lage foi enviada em missão para a comunidade Nossa Senhora da Amazônia de Roraima”, relata a nota, que lembra que isso aconteceu em resposta a um pedido de Dom Roque Paloschi feito à Conferência dos Religiosos do Brasil. Segundo Dom Mário Antônio, “Irmã Telma era conhecida por sua firmeza, mas sobretudo por sua sensibilidade, de modo particular com os mais Pobres”. O bispo lembra que recentemente tinha sido eleita assessora da Pastoral da Juventude do Regional Norte 1, fazendo memória da sua sabedoria e dedicação na coordenação do Centro de Migrações e Direitos Humanos da Diocese de Roraima, “acolhendo os migrantes e provendo suas necessidades iniciais” e fazendo de cada migrante “seu irmão mais próximo, ao qual dedicou seu amor, sua ternura, seu tempo e sua vida”. “Sua vida destemida, simples e engajada é um sinal de profecia e esperança em uma sociedade individualista e desigual”, segundo o bispo de Roraima. Dom Mário Antônio pede que “seu testemunho brilhe para nós como um sinal eloquente do amor a Deus e aos irmãos”. Finalmente, em nome da diocese “agradece sua audácia, sua coragem, sua resistência, sua fidelidade, sua dedicação e sua perseverança”, pedindo a Deus que lhe dê o eterno descanso. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1

Irmã Telma Lage, a Covid-19 leva a defensora dos migrantes em Roraima

Faleceu na noite desta terça-feira, 22 de junho, no Hospital Geral de Roraima (HGR), a Ir. Telma Lage. A religiosa da Congregação das Missionárias de Nossa Senhora das Dores tinha 49 anos e trabalhava na diocese de Roraima desde o início de 2013. Atualmente, a Ir. Telma era Coordenadora do Centro de Migrações e Direitos Humanos da Diocese de Roraima, se tornando uma das grandes defensoras dos migrantes no Estado de Roraima, onde a chegada de venezuelanos tem sido constante nos últimos anos. Muitos consideram a religiosa falecida como a cara visível do grande trabalho que a diocese de Roraima faz com os migrantes, uma das grandes prioridades da Igreja local. Internada no HGR desde o dia 19 de junho, tinha sido intubada no segunda-feira, 21 de junho. Na noite da terça-feira, após duas paradas cardíacas não resistiu e veio a óbito. Pessoa muito conhecida no Estado de Roraima, tem sido muitas as homenagens recebidas nas últimas horas. Dentre elas, podemos citar aquela que dizem que “a Ir. Telma tinha um coração tão grande que podia acolher a muitas pessoas. Uma mulher sensível, lutadora pelos direitos dos outros e apaixonada pela missão”. Em mensagem postado nas redes sociais, o irmão Danilo Correia, coordenador das Pastorais Sociais da diocese de Roraima, expressava os sentimentos de muitos dos que trabalharam com a religiosa: “Irmã Telma, o teu grito é o nosso grito; a tua resistência é a nossa resistência; a tua luta é a nossa luta!”. O religioso Marista, continuo dizendo: “Amiga, irmã e companheira de vida religiosa consagrada, de equipe missionária, de área missionária, de missão, de Vida, que foi se tecendo a cada segundo, minuto… Num bate papo, numa mística, nos momentos de lazer, no curso de políticas públicas, na simbologia dos gritos dos excluídos e das excluídas, até desenhos animados, planejamos juntos e juntas”. O irmão Danilo ainda disse: “Aqui, continuamos a nossa caminhada na certeza de que você, aí do céu, nos braços do Pai, olha por nós, com aquela mesma sintonia e comunhão que construímos aqui. Fica aqui, o meu muito obrigado e a gratidão da comunidade marista, das pastorais sociais e da REPAM-RR. Um dia nos encontraremos…”. A Defensoria Pública do Estado de Roraima, em nota de solidariedade, mostrou as condolências diante da morte de alguem “empenhada pela resistência em favor dos empobrecidos e humilhados”. Segundo a nota, a Ir. Telma “contribuiu para que o racismo fosse combatido em todo lugar”, definindo-a como “pessoa alegre, dinâmica, sorridente, articulada, conselheira, missionária que ela foi”, uma pessoa “de um senso de justiça incomparável”. O sepultamento da Ir. Telma está previsto para 10:30 desta quarta-feira no Cemitério Nossa Sra. da Conceição, em Boa Vista (RR), com uma breve oração exequial presidida por Dom Mário Antônio da Silva, bispo de Roraima. Segundo informou a diocese de Roraima, “com motivo das disposições médico-sanitárias, não será possível celebrar a missa de corpo presente da nossa irmã Telma”. O cortejo vai percorrer diferentes comunidades da Área Missionária São Raimundo Nonato, de Boa Vista, onde a ir. Telma estava presente juntamente com a ir. Pedrina. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1 Fotos: Reprodução Facebook

Prelazia de Tefé envia Dom Fernando, que “se manteve no meio de todos com a presença simples e misericordiosa”

A Prelazia de Tefé enviou na noite desta terça-feira, 22 de junho, Dom Fernando Barbosa para sua nova missão na diocese de Palmares (PE), onde foi nomeado como novo bispo pelo Papa Francisco no dia 9 de junho. Uma missa na Catedral de Santa Teresa, onde participou o clero da prelazia, junto com representantes das paróquias, comunidades, pastorais e movimentos, tem servido como momento de agradecimento pelos 7 anos de ministério episcopal na região amazônica. Também estavam presentes o vice-presidente do Regional Norte 1 da Conferência Nacional, Dom Tadeu Canavarros, bispo auxiliar de Manaus, o secretário, Dom Zenildo Pereira da Silva, bispo da prelazia de Borba, e o secretário executivo, o diácono Francisco Lima. Na homilia, Dom Fernando disse estar “com o coração partido”, mas sabendo que “os pensamentos de Deus conduzem a missão”. O bispo eleito de Palmares afirmava que “foi aqui na Amazônia, junto com o nosso clero, que aprendi a ser um pastor”. Por isso, se disse agradecido pelo apoio, insistindo em que “aprendi com cada um, pastoral, grupo, movimento”. Em nome do Regional Norte 1, Dom Tadeu agradeceu a Dom Fernando pelo tempo de missão no Amazonas, “por estar em comunhão com as nossas nove Igrejas do nosso Regional Norte 1”, afirmando que “é índole da vocação sacerdotal ser missionário”. Segundo o vice-presidente do Regional, “para nós Igreja, evangelizar é missão, e isso significa tornar presente o Reino de Deus onde quer que estejamos”. Segundo o bispo auxiliar de Manaus, a colaboração de Dom Fernando foi muito importante, especialmente a partir do Sínodo para a Amazônia. Dom Tadeu assegurou a oração e amizade dos bispos do Regional, fruto da comunhão e sinodalidade, pedido a intercessão de Santa Teresa e São Vicente de Paulo. O clero, a través de seu coordenador, afirmava que “a pessoa do pastor é a segurança para nós, clero local”. Após entregar uma lembrança, foi destacada como uma das grandes qualidades de Dom Fernando, o fato dele “ser o parceiro, o companheiro, a pessoa amiga que sempre nos ouviu de igual para igual, sempre nos deu essa liberdade de conversar”. Desde a coordenação de pastoral, o episcopado de Dom Fernando Barbosa em Tefé foi definido como “tempo de partilha, de esperança, que motivou e segue motivando o Povo de Deus na vivência da fé”. Foram relatados alguns dos passos dados ao longo dos últimos 7 anos, “que fez alimentássemos o desejo de um Evangelho que liberta, incentiva e fortalece uma Igreja local missionária em saída, a favor de todos os povos”. Foi destacado que “o apoio no fortalecimento das pastorais, movimentos e organismos foi expressivo”, citando diferentes passos dados ao longo do episcopado de Dom Fernando, que mostrou “seu jeito de dar voz, vez e lugar aos leigos e leigas, fortalecendo uma Igreja de vários rostos”. Finalmente, desde a coordenação de pastoral foi enfatizado que “Dom Fernando se manteve no meio de todos com a presença simples e misericordiosa”. Após outras homenagens, no final da celebração, Dom Fernando Barbosa definia a celebração vivida como momento de gratidão à prelazia de Tefé, às autoridades, insistindo em que “nossa celebração de envio por este tempo de convivência com todos é o sinal da nossa união”, afirmando que “a Igreja, ela é missionária”. Dom Fernando se referiu à Prelazia de Tefé como “uma Igreja amazônica, missionária, cada vez mais fortalecida, de modo especial depois do Sínodo de 2019, Igreja de comunidades de base, movimentos, ministérios, uma Igreja de pastoral, uma Igreja fortalecida pelos nossos leigos e leigas”. Junto com isso destacava que “nosso empenho missionário é um empenho que possibilita a Prelazia caminhar com os seus pés”. Finalmente pedia ao povo da Prelazia que continuem a missão e acolham o novo bispo, para quem pedia orações desde já. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1

Economia de Francisco e Clara Regional Norte 1: necessária releitura histórica dos impactos coloniais nos territórios

O Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil se reunia neste último sábado para refletir sobre a Economia de Francisco e Clara. Trata-se de uma proposta do Papa Francisco, que surgiu para provocar a reflexão de jovens até 35 Anos que sonham, desejam dar alma a economia.  Estamos diante da possibilidade de uma “economia encarnada nas mais diversas sociedades, que inclui e não descarta, que integra e possibilita vivências de comunhão fraterna entre os povos”, segundo a irmã Elis Alberta Santos, uma das assessoras do encontro. “Essa economia trata de horizontalizar as lutas pelo direito da natureza e dos empobrecidos, articulando essas lutas num só grito, por novas economias”, segundo a religiosa.  A base da proposta está na Laudato Si, e ao longo de mais de dois anos se vem refletindo nesse caminho. Na Amazônia, a Economia de Francisco e Clara nos remete, segundo a Ir. Elis, para uma leitura crítica da realidade. Segundo a religiosa, nascida em Manaus, “é importante decolonizar mentes e corpos, a partir de uma releitura histórica de como os impactos coloniais afetaram e ainda afetam cruelmente nossos territórios, desde pequenos lugares, aldeias para a construção das grandes cidades”. Segundo a religiosa da Divina Providência, “o capitalismo embasa todo o processo colonial e continua hoje invadindo e saqueando os territórios indígenas”.  Tudo isso provocou fortes consequências, levando muita gente da Amazônia a negar “a nossa própria identidade”, consequência de “políticas assimilacionistas do estado nacional brasileio que criou estratégias legais para que deixássemos de existir”, segundo a Ir. Elis. Manaus é um claro exemplo disso, algo que tem provocado a reflexão da Articulação Brasileira da Economia de Francisco e Clara. Daí surgem questionamentos no campo ambiental, vítima de uma economia que mata. A religiosa interligava a experiência mística de São Francisco de Assis com “a nossa experiência enquanto povo amazônico, do cuidado com a Mãe Terra, com o cosmo, com tudo que nos compõe e com o que propõe o Papa Francsico a partir desse chamado de ‘realmar a economia’ e no documento da Laudato Si que se entrelaça com Fratelli tutti”. Segundo a assessora do encontro, se faz necessário, recolhendo as palavras do Papa Francisco, “dar voz aos pobres e vulneráveis na criação de novas políticas econômicas para que se tornem protagonistas de suas vidas e de todo contexto social”. A reflexão vai se concretizando nas vilas temáticas, nas casas de Francisco e Clara, como espaços de comunhão fraterna, de vivência e imersão, que ajudem a reconstruir novas interações ecológicas e econômicas, a partir de outras lógicas, dialógicas e inclusivas, afirma a Ir. Elis. Também foi destacada a Aliança Mulher Mãe Terra, relatando diferentes experiências em que isso vai se concretizando na Amazônia e no Brasil. As Vilas Temáticas foram apresentadas pela Ir. Michele da Silva, quem mostrava que são subdivisões em grupos temáticos, que podem ser considerados como “laboratórios de diálogo, escuta e partilha de vida, com o propósito de encontrar soluções conjuntas e caminhos alternativos para uma nova economia”. Trata-se de uma construção conjunta entre os jovens e economistas experientes, “para pensar de forma crítica e sustentável, soluções para os problemas do mundo contemporâneo”, segundo a religiosa do Imaculado Coração de Maria. Em cada realidade local estão sendo construídas cada uma das vilas temáticas. A religiosa foi apresentando-as, mostrando os elementos mais importantes de cada uma das vilas. São 12 as vilas que fazem parte da Economia de Francisco e Clara: Finanças e humanidade, buscando o bem-estar das pessoas, investimentos que trabalhem pelo bem comum; Agricultura e Justiça, atenta às mudanças climáticas, direitos trabalhistas e direito à água, o papel das mulheres; Energia e pobreza, transitando para uma economia de baixo carbono; Lucro e vocação, um trabalho que ajude a desenvolver os dons que cada pessoa tem.   Entre as vilas temáticas também está Negócios em transição, buscando respostas diante da crise ambiental, e provocando transições que não excluam os mais pobres e vulneráveis; Gestão e dom, promovendo a gratuidade nos negócios e uma gestão sustentável; Trabalho e cuidado, com novas perspectivas culturais da atividade do trabalho, sustentadas na “ecologia humana integral”; Políticas e felicidade, com novas dinâmicas, não sustentadas no individualismo; CO2 das desigualdades, buscando semear uma nova economia, construir uma cultura de paz e bem, fomentar o trabalho como atividade humana digna. As vilas temáticas também abordam as questões de Vida e estilo de vida, que não seja distante da vida, que promova o não desperdiço e a equidade; Negócios e paz, um objetivo a ser ativamente promovido; Mulheres pela economia, mais inclusiva, equitativa e centrada nas pessoas, reconhecendo as capacidades das mulheres e criando novos modelos organizacionais, novas ferramentas de inclusão e equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. Na Amazônia, a Ir. Michele da Silva, buscando uma terminologia mais inculturada, falava de construir “Malocas”. Para isso se faz necessário identificar as iniciativas existentes, escuta das pessoas que dinamizam essa economia, subsidiar essas iniciativas e ampliar o trabalho, para que Economias alternativas, tenham espaço e fomentem um consumo consciente. Junto com isso, construir as Malocas ou Aldeias com as temáticas (grupos de estudo) ligadas a nossa realidade local. Também criar uma Casa ou mais Casas de Francisco, como referencial da ECOFRAN Norte 1.  Do encontro participaram representantes das pastorais, do conselho de leigos, da vida religiosa, mas também representantes do mundo político e académico. Nas reflexões oferecidas pelos presentes foi enfatizado a necessidade de abrir os encontros e reflexões sobre a Economia de Francisco e Clara a espaços extra eclesiais, o que deve ajudar a espalhar suas propostas e se enriquecer com ideias de outros coletivos que não participam ativamente da vida da Igreja. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1

Agenor Brighenti: o Sínodo “vai exigir que a gente repense as estruturas da Igreja”

O Sínodo sobre a sinodalidade se apresenta como “uma experiência única para a Igreja como um todo”, segundo Agenor Brighenti. O teólogo brasileiro foi nomeado recentemente membro da Comissão teológica do Sínodo, um serviço que ele diz acolher com muita alegria. O exercício da sinodalidade tem sido uma dificuldade na Igreja pós-conciliar, e “o Papa Francisco, ele está dando passos muito decisivos e consequentes na implementação dessa sinodalidade”, segundo Agenor. Na entrevista ele vai refletindo sobre os passos dados e as dificuldades enfrentadas na vivência da sinodalidade na América Latina. A Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, um claro exemplo de sinodalidade, é vista pelo teólogo como um bom aprendizado para o próximo Sínodo. As consequências desse Sínodo, “vai depender muito do processo de escuta”, segundo o padre Brighenti. Na medida em que “escuta o clamor, as demandas, os desafios, a Igreja também se converte à realidade, que a gente abre a possiblidade de uma conversão aos ideais do Evangelho”. Tudo isso “vai exigir que a gente repense as estruturas da Igreja”. Acaba de ser nomeado membro da Comissão teológica do Sínodo sobre a Sinodalidade. O que representa essa nomeação em seu trabalho como teólogo? É um serviço que a gente acolhe com muita alegria, a pesar do grande desafio e das dificuldades que se vá encontrar, mas é um momento único na Igreja. A gente nunca tinha pensado que a sinolalidade pudesse ser uma realidade estrutural, porque vai ter um momento nas igrejas locais. A partir dali vai ter um momento continental, nos cinco continentes, para desembocar numa assembleia geral. Nós podemos dizer que vai ser uma experiência única para a Igreja como um todo, porque nós teremos o Sínodo dos Bispos naquela perspectiva da Constituição Episcopalis Communio, que quer fazer da assembleia do Sínodo uma assembleia do Povo de Deus, onde a Igreja se configura como uma Igreja de igrejas, uma comunhão de igrejas locais. A sinodalidade, ela é expressiva realmente quando ela é expressão da voz do Povo de Deus a través das Igrejas locais. É um fato inusitado de Francisco que a gente acolhe com muita alegria e que a gente vai tentar colaborar na medida do possível. Fala sobre sinodalidade como uma dimensão estrutural da Igreja, que na verdade não é algo novo e sim uma proposta que surgiu do Concilio Vaticano II. Por que aconteceram tantas dificuldades para só depois de quase 60 anos assumir essa dimensão estruturante que o Concilio marcava como um elemento fundamental? Nós estamos num processo de recepção do Concilio Vaticano II, que é um processo de renovação da Igreja em grandes proporções, e um dos aspectos em que se teve grande dificuldade de avançar foi justamente no exercício da sinodalidade. Como fazer que o “sensus fidei” pudesse ser expressão da Igreja como um todo, desde as igrejas locais, as instâncias intermediárias, como são as conferências episcopais nacionais e continentais, e sobretudo a questão da Cúria Romana. O Papa Francisco, ele está dando passos muito decisivos e consequentes na implementação dessa sinodalidade, que teologicamente já está na reflexão do Vaticano II, mas que do ponto de vista da sua operacionalidade, se caminhou muito pouco. O grande desafio era situar a episcopalidade ou a colegialidade episcopal no seio da sinodalidade eclesial. Sempre foi algo difícil na Igreja isso, situar o bispo como membro do Povo de Deus, não como condutor do Povo de Deus, não como mestre do Povo de Deus, não como alguém que comanda o Povo de Deus, mas como membro do Povo de Deus. Aparecida, e isso é muito interessante nesse sentido, ela situa os bispos como membros do Povo de Deus, e Francisco, ele tem insistido que os bispos não podem ser uma espécie de elite na Igreja, eles precisam ser inseridos dentro do Povo de Deus. Mesmo quando há um organismo como uma conferência episcopal ou como um sínodo, que é de bispos, ele não pode ser expressão simplesmente de um setor da Igreja. Se há uma reunião de um segmento da Igreja, ele deve ser porta voz de todo esse sentir comum do Povo de Deus. Nesse sentido, na atualidade, a renovação do Vaticano II dá um passo substancial, como vai ser também a reforma da Cúria, como vai se pensar, certamente, o estatuto das conferências episcopais nacionais, para que sejam expressão de uma assembleia eclesial e não simplesmente de bispos. Como se vai repensar também certamente o papel do bispo nas dioceses, por que canonicamente os bispos, dentro da Igreja local, eles são muito pouco sinodais do ponto de vista do Direito Canónico, tanto que conselhos e assembleias são facultativos. Certamente, com esse sínodo vai se sentir necessidade de fazer com que esses organismos de comunhão, que hoje na Igreja existem mais ou menos funcionando, mas que eles precisam ser não facultativos, mas obrigatórios. Como a Igreja vai ser Povo de Deus, sinodal, o Povo de Deus vai exercer o “sensus fidei” se não há organismos estáveis que assegurem essa participação efetiva de todos no discernimento e na tomada de decisões daquilo que é relativo à vida pastoral. Mesmo aos trancos e barrancos, a gente pode dizer que América Latina tem sido o continente onde tem se realizado maiores esforços nessa tentativa de viver a sinodalidade. O que pode aportar a Igreja da América Latina e do Caribe ao próximo Sínodo sobre a Sinodalidade? A Igreja na América Latina, ela tem sido muito pioneira em muitos aspectos da recepção do Vaticano II, tanto que se diz que aqui houve uma recepção criativa do Concilio. Não no sentido de simplesmente repetir ou implementar a letra de um texto, mas aqui se fez uma recepção dentro do nosso contexto latino-americano. Por exemplo, categorias como nova evangelização, conversão pastoral, e essa renovação com relação a organismos eclesiais mais de comunhão e participação e mais sinodais, tem sido também a Igreja da América Latina uma pioneira. Medellín, enquanto conferência continental, já tinha havido em 1955 em Rio de Janeiro, são conferências pioneiras. Que um continente…
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Corpo de Dom Alcimar chega em Tabatinga a será sepultado na quarta-feira

Após as homenagens em Manaus, onde foi velado na Igreja de São Sebastião, o corpo de Dom Alcimar Caldas Magalhães, bispo emérito da diocese de Alto Solimões, chegou na manhã desta terça-feira, 22 de junho, no aeroporto Internacional de Tabatinga, onde foi recebido pelo bispo local, Dom Adolfo Zon, e representantes da diocese e da sociedade civil. Em Manaus, na Igreja de São Sebastião foram celebradas duas missas, uma presidida por Dom Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus, e outra concelebrada por Dom José Albuquerque, bispo auxiliar de Manaus, Dom Gutemberg Regis Freire, bispo emértio de Coari, e Dom Mário Pasqualotto, bispo auxiliar emérito de Manaus. Nas duas teve a presença dos freis capuchinhos e dos familiares e amigo se de Dom Alcimar.  Acompanhando o corpo do bispo falecido viajou Dom Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus, Frei Carlo Maria Chistolini, custódio dos Capuchinhos do Amazonas e Roraima, alguns freis capuchinhos e familiares de Dom Alcimar. Após as homenagens da banda de música do CFSol 8º.bis, e a carreata pelas ruas da cidade, o corpo do bispo chegou na catedral do Perpétuo Socorro, onde será velado até seu sepultamento na tarde da quarta-feira. A vida religiosa, o clero, as comunidades e pastorais da diocese, têm organizado momentos de oração e serão celebradas três missas para evitar aglomerações. Num comunicado, o bispo local pede aos fiéis “que participem das celebrações conforme a programação para não juntar muitas pessoas na celebração de quarta-feira às 16:00hs”. O comunicado também diz que “durante á tarde do dia 22 e durante a manhã do dia 23 fica disponível para as diversas homenagens que queiram realizar em honra ao nosso bispo emérito Dom Alcimar Caldas Magalhães OFMCap”. Dom Adolfo Zon, que recebeu uma mensagem de condolências do Papa Francisco nesta segunda-feira pelo falecimento de Dom Alcimar Caldas Magalhães, lembra no comunicado que “ainda estamos em tempo de pandemia, e seguiremos os protocolos de segurança orientados pela ANVISA (uso obrigatório de máscara, álcool em gel, distanciamento social)”. Finalmente, ele pede “que todos possam participar com espirito de gratidão, sustentados pela graça de Deus, e fortalecidos em nossa fé”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1

Dom Leonardo: “Queremos recordar a irresponsabilidade das autoridades no cuidado do tempo pandêmico”

A Arquidiocese de Manaus, como tem acontecido nos últimos dias em muitas Igrejas do Brasil, realizou nesta segunda-feira um momento celebrativo de memória e Justiça, 500 velas por 500 mil vidas ceifadas. Com os últimos raios de sol começou uma celebração onde foi lembrado que cada pessoa é uma história, uma rede de relações, uma fonte de muitas lembranças. Como foi enfatizado nos primeiros momentos do ato, promovido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, com o nome “Toda Vida importa”, nossa dor é coletiva, insistindo em que a solidariedade supera o isolamento. No ato, presidido por Dom Leonardo Steiner, estavam presentes algumas lideranças da diocese, padres, vida religiosa, leigos e leigas das paróquias, áreas missionárias, pastorais e movimentos que fazem parte da vida da arquidiocese de Manaus. Segundo o arcebispo, foi “um momento celebrativo de grande significação, pois desejamos fazer memória”. Ele insistiu em que “memória não é apenas recordar, memória é guardar, é trazer a luz”, tanto “o caminho da nossa sociedade, mas também o caminho da nossa Igreja”. Mas o arcebispo de Manaus também enfatizou que aquele era “um momento também de justiça, justiça porque quando falarmos de justiça estamos falando daquilo que é equânime, aquilo que pertence a todos”. Segundo Dom Leonardo, “neste momento, a dor pertence a todos nós, a separação pertence a todos nós, a morte está pertencendo a todos nós, porque nós os vivos desejamos recordar os mortos”. Mas também, é justiça “porque neste momento queremos recordar a irresponsabilidade das autoridades no cuidado do tempo pandêmico”. Segundo Dom Leonardo, “queremos fazer deste momento luz”. Acender 500 velas diante da Catedral, que o arcebispo lembrava que é “nossa Igreja mãe da arquidiocese de Manaus”, quis simbolizar a presença de todos aqueles que vieram a óbito em Manaus, na arquidiocese, mas também no Estado do Amazonas, donde o número de falecidos já supera os 13.200, e no Brasil. Refletindo sobre as mortes provocadas pela pandemia, o arcebispo afirmava que “a partir da fé, nós sabemos que participamos de uma mesma comunhão, de uma mesma vida. Eles nos acompanhem e nos ajudem a trilhar os passos, a fazer o caminho neste tempo de pandemia”. Por isso ele insistia em “que cada vela acessa seja um pequeno sinal da nossa esperança, esperança de um Brasil melhor, esperança de que nós estamos dispostos a lutar, esperança de um Brasil mais justo, esperança de um Brasil onde todas as pessoas tenham mais oportunidade”. E junto com isso pedia “que este momento celebrativo, de justiça e de memória, nos ajude a sermos pessoas ativas na nossa sociedade e também na nossa Igreja”. Durante o ato foram lidos nomes de pessoas falecidas diante da falta de assistência, de oxigênio, de uma coordenação nacional de medidas sanitárias. Pessoas conhecidas, dado que como foi lembrado “em Manaus vivemos os piores dias das nossas vidas, nos picos da primeira e da segunda onda”. Por isso foi denunciado que “nós amazonenses não somos cobaias, merecemos respeito”. A partir daí, mais uma vez, como sempre tem feito a Igreja de Manaus, foi reforçado o chamado a todos a se vacinar. Não podemos esquecer que nosso Deus é um Deus da Vida, toda vida importa. Somos desafiados a apontar soluções, apontar caminhos a serem seguidos para superar essa catástrofe, como foi sublinhado no ato. Também se insistiu no papel fundamental da CPI no Senado para buscar responsáveis pela catástrofe. Num estado que foi laboratório, segundo foi lembrado, há a necessidade de os políticos fazer seu trabalho fiscalizatório para que as vidas que se foram não sejam em vão. Também foi pedido pelos profissionais da saúde, verdadeiros heróis neste tempo de pandemia. Após rezar juntos a oração elaborada pela CNBB para este momento, Dom Leonardo Steiner destacava a necessidade de “continuar muito unidos e muito solidários para podermos continuar a enfrentar este tempo pandémico, mas também para podermos enfrentar este momento em que temos que exigir das autoridades maior cuidado e maior entrega de vacinas”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1