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A pandemia do Tráfico de Pessoas, uma realidade “invisível, disfarçada, quase imperceptível” na Amazônia

O Tráfico de Pessoas, uma realidade definida pelo Papa Francisco como mercantilização da vida, é um desafio cada maior na sociedade atual, também para a Igreja. No Regional Norte 1 da CNBB, o enfrentamento do Tráfico Humano e da exploração sexual de crianças e adolescentes tem sido assumido desde 2011 pela Rede Um Grito Pela Vida. A pandemia da Covid-19 tem provocado um aumento dessa realidade, algo que tem sido abordado no encontro de formação organizado pela Rede um Grito pela Vida, que refletiu sobre “A realidade das violações dos direitos, abuso, exploração sexual, Tráfico de Pessoas e migração em tempos de pandemia no Regional Norte 1: junto a infância, juventudes e mulheres”. Estamos diante de uma realidade sempre presente na vida da humanidade, presente na Bíblia, onde já são narradas situações de trabalho escravo, violências, violações de direitos e migrações, segundo Francisco Lima. Não podemos esquecer que história é construída por povos que dominam outros povos, fazendo com que sempre existiu a escravidão do povo. A escravidão ao longo da história foi permitida durante séculos, era considerada legal e normal. De fato, o Brasil foi um país construído com indígenas e negros traficados, lembrava Francisco Lima. Hoje é uma realidade mascarada, disfarçada e invisível. O Tráfico Humano é a escravidão de nossa época, a mercantilização da vida em nome do lucro, onde pessoas são consideradas mercadorias, insistia o secretário executivo do Regional Norte 1. Na sociedade atual, uma situação que tem aumentado com a pandemia, existem circunstâncias que facilitam o Tráfico Humano. Uma delas é a miséria diante da falta de emprego ou qualquer fonte de renda, também a ganância, que faz com que as pessoas busquem ter dinheiro sem limites, sem escrúpulos, algo que inclusive acontece por pessoas conhecidas. Junto com isso, outra circunstância é a impunidade, dado que é difícil que os criminosos sejam punidos. Estamos diante de uma realidade que é a terceira atividade mais lucrativa no mundo, que rende 32 bilhões de dólares por ano. Uma realidade da qual participam muitas pessoas, de toda condição, que é um atentado contra a dignidade da pessoa, segundo Francisco Lima. Existem diversas modalidades desse crime: mendicância, exploração sexual, adoção irregular, servidão doméstica, casamento servil, trabalho escravo, atividades criminosas, venda de órgãos, que são expressões do Tráfico Humano. A Amazônia é uma das rotas principais do Tráfico Humano no mundo. Francisco Lima refletia sobre a situação dos ribeirinhos e indígenas nas cidades, muitas vezes nas periferias. Diante dessa realidade Jesus nos convida a acolher, dar de comer, cuidar, visitar. Ele lembrava como a Igreja tem buscado dar visibilidade e refletir essa realidade, sobretudo a partir da Campanha da Fraternidade de 2014. Em consequência disso, o Regional Norte 1 assumiu a Migração Forçada e o Tráfico de Pessoas como causa comum nas dioceses e prelazias. O Sínodo para a Amazônia, desde o processo de escuta, e Querida Amazônia, onde o Papa Francisco nos diz que “é preciso indignar-se”, tem ajudado a refletir e dar visibilidade ao Tráfico de Pessoas. A pandemia tem aumentado a vulnerabilidade das vítimas. Nesse sentido, a realidade do interior nos mostra que existem muitos casos de gravidez precoce, de meninas de 12 e 13 anos, algo que está ajudando a conhecer o trabalho realizado pelo AJURI Amazônico. Estamos numa região onde muitas menores são forçadas a se casar, onde acontece um crescente aumento do trabalho infantil no interior e nas cidades. Na verdade, os dados são pouco conhecidos, um grande problema é a ausência de dados, também a precarização da rede de proteção e do seu funcionamento, dos CMDCAs e dos conselhos tutelares. Diante dessa realidade somos chamados a olhar a realidade e se articular para transformar, afirmava Marcia Maria de Souza Miranda. A articuladora da Caritas Regional Norte 1, relatava as situações e dificuldades vividas neste tempo de pandemia, insistindo na necessidade de estender o olhar para o interior e trabalhar em rede. O desmonte das políticas públicas, uma realidade cada vez mais presente no Brasil, tem piorado a situação da população, relatava Márcia. Diante disso, a sociedade civil tem se organizado e garantido os direitos do povo. Um desafio é levar as formações para o interior, onde quase não tem acesso à internet. Isso tem que levar a fortalecer as pastorais sociais, a cuidar da realidade de muitas jovens e adolescentes que para se manterem, no interior e na cidade, acabam caindo na exploração sexual e tráfico de drogas. Se faz necessário continuar animando as pessoas, para que não desanimem diante da realidade de desgoverno e os tantos desafios. É tempo de ousadia, simpatia e profetismo, de resgatar a pastoral de conjunto, para poder superar a pandemia do Tráfico de Pessoas e tantas pandemias presentes na Amazônia e no mundo.   

Povos Indígenas da Amazônia, com o apoio da REPAM, denunciam na ONU as violações dos Direitos Humanos durante a Covid-19

A reunião do Fórum Permanente das Nações Unidas sobre Questões Indígenas, uma prática desde 2002, que este ano se realiza de 19 a 30 de abril, conta nos dias 20 e 21 com a presença da Rede Eclesial Pan-Amazônica – REPAM, numa tentativa de trazer a voz das comunidades da Amazônia a este Fórum Permanente. O tema desta 20ª Sessão do Fórum é “Paz, justiça e instituições eficazes: o papel dos povos indígenas no cumprimento do Objetivo do Desenvolvimento Sustentável 16“. A REPAM tem ajudado a reunir as vozes dos povos indígenas que vivem nos territórios, o que pode ajudar a refletir a dura realidade da Amazônia nas futuras recomendações do Conselho e a sensibilizar para a promoção de políticas públicas mais consentâneas com a realidade das comunidades indígenas. A reflexão desta terça-feira foi “Durante a COVID-19, as violações dos Direitos Humanos na Amazônia crescem e aprofundam-se“. Presidido por Dom Gabriele Caccia, observador permanente da Santa Sé junto das Nações Unidas, o evento foi moderado por João Gutemberg Sampaio, secretário executivo da REPAM, e contou com a presença de Francisco Calí, Relator Especial da ONU sobre os Direitos dos Povos Indígenas, Jeremias Mura, do Povo Mura-Brasil, Veronica Grefa, do Povo Kichwa-Equador e Alberto Ynuma, do Povo Amahuaca-Peru. Os representantes dos povos indígenas mostraram a situação dos Direitos Humanos na Amazônia, num evento que Henry Ramirez, um dos organizadores, definiu como “uma expressão de solidariedade globalizada“, insistindo em ver “os direitos humanos como uma tarefa indiscutível da nossa fé”. Dom Caccia recordou a importância da visita do Papa Francisco à Amazônia e a sua defesa dos povos amazónicos, que nunca foram tão ameaçados, algo que aumentou com a pandemia, que causou a morte de muitos indígenas, como aconteceu noutras pandemias, consequência das grandes distâncias e do isolamento social destes povos. O observador permanente da Santa Sé nas Nações Unidas denunciou que os governos querem impulsionar a economia, permitindo a invasão da Amazônia, dando liberdade às empresas mineiras para explorarem a região amazónica, sem o consentimento prévio dos povos indígenas, transformando os tratados num tratado de morte. Foram os mineiros que, em alguns países, como o Brasil, trouxeram a Covid-19 às comunidades indígenas. Nas suas palavras fez referência ao Sínodo para a Amazônia, destacando a presença de representantes dos povos originários e do que foi reunido na Querida Amazônia em defesa dos povos amazónicos e dos mais pobres. Dom Caccia insistiu em que as suas vozes fossem ouvidas, e as suas culturas e beleza natural preservadas. Ao mesmo tempo, salientou as injustiças e violência sofridas pelas comunidades indígenas, pelo que estas devem ser protegidas e reconhecidas como os principais interlocutores, aos quais devemos respeitar e pedir autorização para qualquer ação. O prelado salientou a importância da presença de líderes indígenas no Fórum Permanente e a necessidade de os ouvir. A REPAM sempre se preocupou com “a defesa do território e dos mais vulneráveis, daqueles que são privados dos seus direitos”, segundo o irmão João Gutemberg Sampaio. O secretário executivo insistiu que a REPAM trabalha no campo da defesa dos direitos humanos e da incidência política, contando com a presença dos próprios atores territoriais. Nas suas palavras, salientou que a Amazônia é uma região com profundas desigualdades, grandes disparidades sociais, pobreza extrema, violência generalizada por várias razões, acesso precário à água potável, falta de segurança alimentar, sistema de saúde precário, o que tem causado um grande impacto da pandemia, algo que exige a necessidade de os Estados implementarem medidas de proteção.  Os povos indígenas estão entre os mais em risco, algo que tem aumentado com a pandemia. Esta declaração, feita por José Francisco Calí Tzay, mostra a necessidade de medidas especiais para a proteção dos povos indígenas em todo o mundo. Numa altura em que existe um risco acrescido para a saúde dos povos em muitos países, o Relator Especial da ONU sobre os Direitos dos Povos Indígenas recordou diferentes pandemias espalhadas pelos colonizadores ao longo da história, por vezes intencionalmente. Outra situação preocupante, segundo o diplomata guatemalteco, são os efeitos da poluição ambiental sobre a saúde, com um aumento das doenças crónicas, que neste tempo de pandemia não estão a ser tratadas como deveriam. Francisco Calí instou os governos a promoverem medidas para proteger a saúde dos povos indígenas, com atenção prioritária aos efeitos da Covid-19. Ao mesmo tempo, denunciou que o neocolonialismo contribui para a invasão de terras e aumenta o risco, consequência da discriminação sistemática enfrentada pelos povos indígenas, muitas vezes privados do que garante a saúde e a alimentação. O relator denunciou o sofrimento dos povos indígenas nas grandes cidades e a situação particularmente grave em que vivem no Brasil. Jeremias Mura falou do Brasil, denunciando os ataques sofridos durante a pandemia. De acordo com o líder indígena, “o governo brasileiro não se preocupou com uma política diferenciada para os povos indígenas durante a pandemia, o que agravou muito a situação sanitária“. O mesmo se pode dizer da educação, uma vez que “em muitos casos os estudantes indígenas ficaram sem estudar”, dada a grande dificuldade em participar em aulas virtuais. Nesta época de pandemia houve um aumento de invasões, especialmente por parte de madeireiros e mineiros. Segundo ele, os invasores não respeitam o isolamento social e os órgãos de supervisão não se movem para controlar estas invasões. Foi por isso que exigiu respeito pelos protocolos de consulta e denunciou o enorme aumento dos preços no Brasil. Na Amazônia equatoriana, um dos grandes vilões são as companhias petrolíferas. Veronica Grefa, líder do povo Kichwa, recordou o derramamento de petróleo de 7 de abril de 2020, que contaminou os rios Coca e Napo e deixou mais de 105 comunidades indígenas sem comida e água. Segundo ela, “destruiu a nossa casa, já não temos uma vida digna“, insistindo que “temos vindo a sofrer as consequências há mais de um ano, com graves danos para a nossa saúde”. Além disso, o sistema de justiça, aliado ao governo e às grandes empresas petrolíferas, negou-lhes a sentença, a qual foi objeto de recurso em…
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“Ser mais um servidor entre vocês”. Dom Ionilton lembra sua nomeação como bispo de Itacoatiara

  Portanto, hoje são quatro anos de minha nomeação como bispo da Prelazia de Itacoatiara- Amazonas. Este anúncio aconteceu na Paróquia Nossa Senhora da Conceição em Riachão do Jacuípe (BA), onde vivia e servia como Colaborador Paroquial.  Quero agradecer a Dom Giovanni D’ Aniello, Núncio Apostólico, Dom Ottorino, na época Bispo de Serrinha e aos meus Irmãos da Congregação Vocacionista: Padre Wesdras, Pároco, Padre José Lino, Vigário, Padre Antônio Rafael, Geral e Padre José Carlos, Provincial, presentes na celebração da Palavra, na qual foi feito o anúncio. Na minha mensagem à parcela do Povo de Deus da Prelazia de Itacoatiara, que envie naquele dia, disse que desejava “ser mais um servidor entre vocês que vivem a sua vocação e missão nesta Prelazia”. Confesso que tenho me esforçado para ser assim…  Disse, também, “vamos trabalhar em comunhão, numa Igreja toda vocacional e ministerial, que acolhe e busca servir todas as pessoas, mas que deseja servir especialmente aos empobrecidos e excluídos, para que todos tenham vida (cf. Jo 10, 10)”. Nesta minha primeira mensagem apresentei minha identidade como cristão, consagrado Vocacionista, padre e agora bispo. Continuo pensando assim e esforço-me para quer nossa Prelazia caminhe nesta direção.  Hoje, durante o dia, nos momentos de oração e na celebração da Eucaristia, me perguntei: por que a Igreja, me chamou de tão longe para vir servir como bispo aqui, nesta Querida Amazônia, nesta Querida Prelazia, a este Querido povo?  Sou consciente de que não sou o bispo esperado do Clero da Prelazia, afinal eles nem sabiam que eu existia. Sei que foram indicados outros nomes. A não escolha de alguém daqui do Norte, da Prelazia, deve ter sido meio frustrante para o nosso Clero.  Talvez, por isto, ainda sou visto, por muitos, com certa reserva, como um estranho no ninho, um forasteiro, alguém imposto pela Igreja.  Tenho sempre me perguntado diante de Deus: Como meu nome apareceu e foi escolhido para ser bispo na Prelazia de Itacoatiara? Só tem uma palavra para definir isto: mistério!  De uma coisa podem ter certeza, não pedi para ser bispo, fui escolhido pela Igreja; não pedi para vim ser bispo na Prelazia de Itacoatiara, que até o dia 04 de abril, dia da consulta, confesso, não sabia que existia. Foi a Igreja que me propôs ser bispo e ser bispo prelado em Itacoatiara. E com temor e tremor, disse sim!  Na minha primeira mensagem disse: “Que sejamos uma Igreja que celebra os sacramentos, que educa na fé e desperta lideranças para a vivência da cidadania, a partir dos valores de nossa fé cristã e da Doutrina Social da Igreja, para ajudar a resgatar a ética na política”. Continuo SONHANDO com este Projeto de Ação Evangelizadora. Quando alguém estranha meu jeito de ser bispo e minha maneira de orientar a nossa missão, sempre peço que leiam a minha primeira mensagem para o Povo de Deus na Prelazia, lá eu me revelei, quem era e o que pensava.  Ou não é verdade?  Obrigado ao Povo de Deus desta Prelazia, que desde o dia 19 de abril de 2017 tem rezado por mim e tem me acompanhado com a amizade e o apoio pastoral para que meu Sonho, que ouso dizer ser o sonho de Deus, o sonho da Igreja, que apresentei na minha primeira Mensagem, possa ir se concretizando cada vez mais neste chão amazônico, nesta Prelazia de Itacoatiara. Em Cristo Ressuscitado e em Maria, Mãe do Rosário, da Amazônia e das Vocações!   Dom José Ionilton Lisboa de Oliveira, SDV

Dom Roque Paloschi: “Essa concepção perversa de governar tem causado uma destruição inestimável”

Um cenário de retrocesso, essa é a situação que vivem os povos indígenas no Brasil, segundo o presidente do Conselho Indigenista Missionário – CIMI, que se manifesta no “agravamento das violações de direitos humanos dos Povos Indígenas, principalmente no que se refere a regularização dos seus territórios”. Neste 19 de abril em que é comemorado o Dia dos Povos Indígenas, que tem realizado um ato de protesto em Brasília, as palavras de Dom Roque Paloschi na 58ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, realizada de 12 a 16 de abril, cobram ainda maior relevância. Diante da pandemia, o CIMI teve que se retirar das aldeias, “para preservar as vidas dos nossos irmãos indígenas”, segundo o bispo. Já são mais de mil indígenas vitimados pela Covid-19 e mais de 50 mil infectados. Muitas dessas vítimas tem sido os mais velhos, “verdadeiras bibliotecas vivas”. Além da pandemia, “os indígenas enfrentam a omissão e a falta de diálogo do atual governo”, segundo Dom Roque Paloschi, denunciando os constantes ataques aos povos indígenas. “Nas falas e nas ações do presidente da República com relação aos indígenas destacam-se a ignorância, o preconceito, a discriminação, a violência”, insiste o presidente do CIMI, citando diferentes manifestações e decisões do presidente Bolsonaro provando isso. Diante das invasões das terras indígenas, o arcebispo de Porto Velho denuncia que “essa concepção perversa de governar tem causado uma destruição inestimável, impactando a vida dos povos indígenas e a proteção do meio ambiente”. Exemplos disso acontece em diferentes pontos do Brasil, principalmente na Amazônia, onde o garimpo ilegal e o agronegócio, com o apoio do governo brasileiro, estão provocando graves consequências. São diferentes projetos de lei que o governo tem aprovado nos últimos messes nesse sentido. Ao mesmo tempo, o judiciário, através do Ministério Público Federal, o Supremo Tribunal de Justiça e o Supremo Tribunal Federal “muitas ações têm sido deferidas em favor dos povos indígenas”. Desde o CIMI, “agradecemos imensamente o apoio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, que tem sido muito importante na defesa dos direitos dos povos indígenas no Brasil”, disse seu presidente na 58ª Assembleia Geral da CNBB. Neste dia em que é comemorado o Dia dos Povos Indígenas, o CIMI assume ainda com mais força os desafios “na continuidade do apoio aos irmãos indígenas, mas o compromisso da missão e a solidariedade têm prevalecido”. São muitas as ações desenvolvidas pelo Conselho Indigenista Missionário que “têm ajudado a salvar vidas em todas as aldeias no Brasil”. Confira as palavras de Dom Roque na 58ª Assembleia da CNBB. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1

Povos Indígenas do Javari chamam “a fazer uma reflexão sobre o destino do nosso planeta”

“Nós povos originários, não podemos comemorar a morte dos nossos Líderes que já se foram nesta data”, são as palavras com as quais a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari, abre uma nota lançada neste 19 de abril em que é comemorado o Dia dos Povos Indígenas. Num cenário de morte, incrementado pela pandemia da Covid-19, os povos indígenas do Vale do Javari, que divide o Brasil do Peru, na Diocese de Alto Solimões, onde existem vários povos em isolamento voluntário ou em contato inicial, denunciam que estão sendo empurrados ao precipício. Isso se faz visível em que “os rios, floresta e todo território originário estão sendo alterado”. Diante da morte dos povos indígenas, a nota afirma que “nosso inimigo revira a terra em nome do ‘progresso’ nitidamente ganancioso, nocivo e austero. Eliminatório!”. Isso é algo que os povos da floresta, tradicionalmente guiados pelo Bem Viver, dizem não compreender, “essa busca alucinante por riqueza, que chega ao ponto de destruir seu próprio chão”. Diante disso, sua proposta é que 19 de abril seja um dia de Resistência, que quer ser uma “homenagem às centenas de Lideranças que já foram caladas, e um dia os nossos filhos e filhas, irão dar continuidade e assim será até o último índio”. A situação atual é consequência de um governo que já advertiu suas intenções “nenhum centímetro de terra seria demarcado para índio“. Essas palavras foram proferidas pelo atual presidente da República na campanha eleitoral. Se trata de “uma maneira de eliminarmos, aliás, a maneira mais cruel e violenta”, enfatizam os povos indígenas do Vale do Javari. Mesmo assim, eles insistem em que “nós continuaremos na Luta!”. Diante dos planos de aniquilar os povos indígenas, “forjados nos porões da covardia”, os povos rezam “pela preservação do planeta”. Junto com isso, a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari incentiva “nossos jovens que a nossa existência depende da preservação do território, pois um índio sem-terra, floresta e rios é uma pessoa sem identidade”. A mensagem é um convite “a fazer uma reflexão sobre o destino do nosso planeta, pois a cada árvore derrubada, é um copo d’água à menos que podemos oferecer aos nossos filhos”, fazendo um chamado “para combater esse ‘progresso devastador´”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1

Dom Ionilton: “Façamos como Pedro e digamos a quem está matando o nosso povo: vós matastes a vida”

Na Homilia deste terceiro Domingo da Páscoa – Ano B, Dom Ionilton Lisboa de Oliveira começava fazendo referência à atitude de Pedro exercendo a dimensão profética da denúncia de sua missão. A partir do texto do Livro dos Atos dos Apóstolos, lembrava a Mensagem ao povo brasileiro da 58ª Assembleia Geral da CNBB, celebrada de 12 a 16 de abril, que nos lembra que “não podemos nos calar quando a vida é ameaçada, os direitos desrespeitados, a justiça corrompida e a violência instaurada”. Segundo o bispo de Itacoatiara, “diante deste grave momento que vivemos, ficarmos calado, não fazermos nada para a busca de solução, e pior criticarmos quem se esforça para fazer alguma coisa é pecado de omissão”. Ele convidava a que “façamos como Pedro e nos dirijamos a quem está matando o nosso povo e digamos: vós matastes a vida”. Dom Ionilton também destacava a função de Pedro exercendo o ministério da reconciliação. Segundo ele, “no Sacramento da Confissão é assim: eu preciso me arrepender, me converter, ou seja, mudar de vida, confessar e ser perdoado pela Igreja em nome de Deus”. Seguindo essa reflexão, citava as palavras do Papa Francisco em sua carta aos Bispos do Brasil, enviada nesta quinta-feira, 15 de abril, onde “nos pediu para sermos promotores da reconciliação para o bem de nosso país”. Segundo o bispo de Itacoatiara, “esta reconciliação não pode ser entendida, como vamos deixar para lá, nós não podemos dizer nada, deixemos as mortes pela Covid e pela fome continuarem a acontecer”. Nesse sentido, ele lembrava as palavras do Papa Francisco na Querida Amazônia: “A Amazônia deveria ser, também, um local de diálogo social… para encontrar formas de comunhão e luta conjunta… Mas se queremos dialogar, devemos começar pelos últimos”. Dom Ionilton acrescentava que “podemos substituir a palavra dialogar por reconciliar e dizer: Se queremos reconciliar, devemos começar pelos últimos”. Após uma pequena reflexão sobre o Salmo, que nos chama a confiar em Deus, e a segunda leitura, que é um convite a não pecar, nem pessoal, nem comunitariamente, o bispo refletia sobre a passagem do Evangelho deste 3º Domingo da Páscoa, onde aparece “o episódio dos chamados discípulos de Emaús, uma Vila nas proximidades de Jerusalém”. Eles fazem memória, e isso levava o bispo a se perguntar “estamos falando uns com os outros do que está acontecendo em nosso país, em nosso estado, em nosso município, em nossa vila, comunidade, cidade, bairro, rua?”. O que os discípulos contam é “como eles tinham reconhecido Jesus ao partir o pão”, o que o levou a se questionar: “E nós falamos, digitamos, postamos sobre o que? A Palavra de Deus? A homilia do Papa, do bispo ou do padre sobre a Palavra de Deus? A assembleia dos Bispos do Brasil? A Mensagem da CNBB ao povo brasileiro? Sobre a crise sanitária, ética, política e econômica de nosso país?  Sobre nossa preocupação com a demora da Vacina para todos? Sobre a alegria de quem já pode se vacinar? Ou conversamos sobre novela, futebol…” Falando sobre a paz que Jesus deseja aos discípulos, Dom Ionilton afirmava que “a paz deve ser nosso desejo”, algo que lembrando as palavras do profeta Isaías é fruto da justiça. Isso o levava a dizer que “segundo a Palavra de Deus, sem justiça não pode haver paz”. Daí o bispo de Itacoatiara afirmava que “nós precisamos trabalhar para que haja justiça social no mundo, para que assim possa haver paz e como consequência destas duas realidades, possamos viver alegres, felizes”. Refletindo sobre a paz de Jesus, Dom Ionilton diz que “é uma paz que promove a unidade na diversidade, a comunhão, o respeito entre as pessoas, a igualdade de direitos e deveres, a superação de toda forma de discriminação (raça, condição social, religião, opção política, gênero, região), como nos lembra a Campanha da Fraternidade Ecumênica”. Ele também lembrava do Documento de Aparecida, que diz que “Devemos promover a geração de uma cultura da paz que seja fruto de um desenvolvimento sustentável, equitativo e respeitoso da criação”. Também citava o Documento de Medellín: “A paz não se acha, há que construi-la. O cristão é um artesão da paz”, e o Texto Base da Campanha da Fraternidade de 2009, que afirma que “A conquista da paz não vem pela força das armas. Ela vem dos novos relacionamentos, fundamentados no amor, porque Deus é Amor e é Ele a fonte da verdadeira paz e da verdadeira concórdia”. No texto do Evangelho deste domingo, “Jesus nos envolve na missão, nos chama e nos envia”, segundo Dom Ionilton. O bispo insistia em que “precisamos ser testemunhas dele: amar como ele amou, pensar como ele pensou, sentir como ele sentiu, servir aos pobres e sofredores como ele serviu, defender a vida como ele defendeu, enfrentar com coragem e sem violência os que fazem o povo sofrer como ele enfrentou”. Em suas palavras citava de novo o Documento de Aparecida: “Cristo está presente naqueles e naquelas que dão testemunho de luta pela justiça, pela paz e pelo bem comum”. Também lembrava o dito pelo Papa São João Paulo II na Carta Encíclica Sobre a Validade Permanente do Mandato Missionário, onde disse que “O testemunho da vida cristã é a primeira e insubstituível forma de missão”. É por isso, que o bispo da Prelazia de Itacoatiara definia o testemunho como “viver conforme a fé que professamos, onde a gente estiver no dia a dia de nossa vida e não uma fala sobre uma experiência de fé que vivenciou”. Ele finalizava pedindo “que Jesus abra a nossa inteligência como abriu a dos discípulos para entendermos e praticarmos a Escritura, a Palavra de Deus”. Luis Miguel Modino, assesor de comunicação CNBB Norte 1

A Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe inicia o Processo de Escuta

Gerar vários diálogos e atividades que “serão o fio condutor de todo o processo de discernimento para e durante a Assembleia”, é o objetivo do processo de escuta da Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, que está começando e durará até meados de julho. Este processo de escuta responde ao desejo do Papa Francisco que, na apresentação da Assembleia a 24 de janeiro, disse que “a Igreja se dá ao partir o pão, a Igreja se dá com todos sem exclusão, e uma assembleia eclesial é um sinal disso: de uma Igreja sem exclusão”.  Mauricio Lopez, que já está familiarizado com este tipo de atividade, a partir da experiência do Sínodo para a Amazónia e que coordena o Comité de Escuta, assinala que “aspiramos ter uma plena e ampla participação de todo o povo de Deus que peregrina na América Latina e no Caribe, para que esta Assembleia seja uma verdadeira celebração de nossa identidade eclesial a serviço da vida“. Segundo o Secretário da Ação Pastoral do CELAM, “este evento quer ser uma genuína expressão de uma presença que acolhe as esperanças e os desejos de todas as pessoas que compõem a Igreja, Povo de Deus, especialmente neste tempo de profunda crise”. Por esta razão, Maurício insiste que “a coerência com o anúncio do Evangelho de Jesus será o gesto vivo que dará relevância ao nosso processo, e devemos escutar atentamente os gritos dos empobrecidos e da irmã mãe terra neste tempo de pandemia da Covid-19 e todas as outras pandemias de iniquidade e exclusão que este momento revela”. É uma proposta aberta a todos, na qual é possível participar através de atividades comunitárias, fóruns temáticos e contribuições individuais, com inscrições feitas através da utilização de uma plataforma de colaboração em linha, no website da Assembleia Eclesial, na sua secção “ESCUTA” ( https://asambleaeclesial.lat/escucha/ ).  A Assembleia Eclesial da América Latina e Caribe incentiva a organização de espaços de escuta, cujas informações serão confidenciais, também através de plataformas virtuais, tendo em conta a situação da pandemia na América Latina e Caribe. O trabalho será organizado a nível geral, em cada uma das Conferências Episcopais e nas diferentes redes e instituições pastorais latino-americanas (CLAR, Caritas, redes eclesiais territoriais e temáticas, entre outras). Para este processo foram elaborados materiais que já se encontram disponíveis no site da Assembleia da América Latina e do Caribe. Este é o Documento para o Caminho, onde alguns aspectos da realidade que “nos desafiam como discípulos missionários neste momento da história” são estudados em profundidade, à luz do documento e da experiência de Aparecida. Aí encontramos os fundamentos teológicos, históricos e bíblicos à luz de vários documentos da Igreja Universal e das Conferências Episcopais da América Latina e do Caribe. Nas palavras de Mauricio Lopez, “será uma ajuda para o diálogo e o discernimento pessoal e comunitário, suscitando muitas contribuições do Povo de Deus na escuta mútua e nas deliberações comuns. É um documento para encorajar e abrir diálogos”. Juntamente com ele, está disponível o Guia Metodológico, que explica os passos a dar e a forma de o fazer.   No pensamento do Papa Francisco, como afirma a Constituição Apostólica Episcopalis Communio: “o processo sinodal tem o seu ponto de partida e também o seu ponto de chegada no Povo de Deus, sobre o qual os dons da graça derramados pelo Espírito Santo devem ser derramados. Daí a importância de ouvir o Povo de Deus como primeiro passo para que a Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe seja bem sucedida. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1

“Uma assembleia que alcançou seus objetivos”. Dom Leonardo e Dom Edson analisam a 58ª AG da CNBB

Como a gente tem feito ao longo da semana, escutando a voz dos nossos bispos do Regional Norte 1, no final da 58ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, celebrada de 12 a 16 de abril em formato virtual, escutamos o parecer de Dom Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus, e Dom Edson Damian, bispo de São Gabriel da Cachoeira y presidente do Regional Norte 1 da CNBB. Segundo o arcebispo de Manaus, “a Assembleia Geral da Conferência dos bispos do Brasil é sempre um momento rico de colegialidade, de oração, de partilha, de escuta, da busca para servir sempre melhor a Igreja no Brasil”. Dom Leonardo afirma que “na modalidade virtual caminhou bastante bem. Os bispos puderam participar de suas residências, escutando, falando, propondo”. Porém, ele também reconhece que “foi exigente por estar diante do computador por quatro horas, sem pausa”. Mesmo assim, “a diversidade e a organização dos assuntos ajudaram a amenizar”.  “A reflexão e discussão da pastoral a partir da Palavra de Deus foi uma riqueza”, afirma Dom Leonardo. Segundo ele “a Palavra é sempre fonte para o caminho da Igreja. Houve iluminações ao texto apresentado especialmente quanto à leitura da Palavra de Deus”, dizendo que “será publicado como texto de Estudo”, o que sem dúvida vai ajudar na reflexão da Igreja do Brasil.  Dom Leonardo destaca como significativa a Mensagem aos brasileiros, que ele considera um instrumento para “iluminar as ações e a realidade nesse tempo de pandemia e ao mesmo tempo oferecer esperança e solidariedade”. Analisando o formato da 58ª Assembleia Geral da CNBB, o arcebispo de Manaus, afirma que “numa Assembleia virtual falta a proximidade, o diálogo direto, a partilha mais espontânea, a oração onde se está um ao lado do outro; não apenas ouvindo a sua voz, mas também sentido o seu calor”. Segundo Dom Leonardo, “na virtualidade é possível realizar muito e até é mais fácil controlar o tempo. Mas falta a relação pessoal, o face a face, fundamental para a comunhão e a colegialidade”.  Finalmente, o arcebispo insiste em que “foi importante realizar a Assembleia para não nos distanciarmos uns dos outros, nos percebermos irmãos e mantermos acessa a nossa vocação de discípulos missionários como bispos”. Dom Edson Damian afirma que “apesar de ter sido realizada on-line pela primeira vez, a 58ª Assembleia Geral da CNBB alcançou seus objetivos”. Ele destaca que, “com raras excepções, os bispos convidados e assessores puderam participar integralmente, e foram mais de 400 os participantes”. Como acontece sempre, segundo o presidente do Regional Norte 1 da CNBB, “a pauta teve muitos assuntos e foi possível apresenta-los todos, alguns até com tempo razoável para boas complementações e esclarecimentos”. O bispo de São Gabriel da Cachoeira destaca a boa condução e articulação da assembleia dos quatro bispos da presidência. Ele destaca as oportunas e muito esclarecedoras intervenções de Dom Walmor. Na sua opinião, Dom Edson enfatiza “a abrangente e bem aprofundada estruturada Análise de Conjuntura sociopolítica e económica, sobre a trágica situação que vive o nosso país”, que serviu como base para elaborar “a profética mensagem ao povo brasileiro”. Também destaca a mensagem do Papa Francisco, enviada pela primeira vez, de viva voz, que “está em perfeita consonância com a nossa mensagem ao povo brasileiro”.   O presidente do Regional reconhece também a importância do “Pacto pela Vida e pelo Brasil”, que “está incentivando muitas ações emergenciais para enfrentar a situação dramática que vive o nosso país”, dentre elas a defesa do SUS, o auxilio emergencial, a vacina para todos e campanhas de solidariedade para enfrentar o gravíssimo problema da fome. Foram apresentadas muitas ações das 26 pastorais sociais que atuam sob o guarda-chuva da Comissão para a Ação Sociotransformadora, dentre elas a 6ª Semana Social Brasileira. O fato dela estar acontecendo neste tempo de pandemia, “está escancarando as tremendas injustiças e desigualdades sociais do Brasil”. A manhã de espiritualidade, conduzida pelo cardeal O´Malley, que surpreendeu aos participantes falando em português, também é destacada por Dom Edson Damian. Nela foi meditada a vida de Jesus em Nazaré e sua missão em Cafarnaum, destacando a referência que o cardeal fez a Charles de Foucauld, que captou os 30 anos de Jesus como pobre operário de Nazaré. O presidente do Regional destaca “como é importante esta inserção radical na vida dos pobres para a partir desse lugar partir para o anuncio do Evangelho”, destacando a importância da intimidade com Jesus para poder anuncia-lo no ministério, que deve centrar-se na misericórdia do Pai que busca os perdidos, os descartados pela sociedade que exclui e pela economia que mata. O Pacto Global pela Educação e a Campanha da Fraternidade 2022, que vai trata o tema da educação, também tem sido destacado por Dom Edson. O bispo fez referência aos encaminhamento da Comissão de Comunicação, do 15º Intereclesial das CEBs, e a presença do CELAM, que contou com a presença do presidente, Dom Miguel Cabrejos e de vários assessores, algo que Dom Edson valoriza como muito positivo, destacando que entre a CNBB e o CELAM “existe um diálogo muito aberto, um caminhar conjunto, na direção da sinodalidade”, algo que o bispo de São Gabriel da Cachoeira vê como fruto do caminho de preparação ao Sínodo para a Amazônia e os desdobramentos que estão acontecendo. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1

“A sociedade brasileira é um tecido social, económico, político, cultural e religioso rasgado”, afirma Dom Walmor no final da 58ª AG da CNBB

Inovação tecnológica colocada ao serviço do Evangelho, essa pode ser uma das definições em referência à 58ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, encerrada nesta sexta-feira, 16 de abril, e que desde o dia 12 reuniu virtualmente umas 400 pessoas. Esta tem sido uma assembleia de importância histórica, em palavras de Dom Mário Antônio da Silva, que a considera como “verdadeira semeadura” para a vida do episcopado, da Igreja, da sociedade brasileira e para o mundo. Mesmo com as dificuldades geradas pelo momento atual da pandemia, a assembleia respondeu às necessidades, segundo o bispo de Roraima, tendo acontecido momentos de muita atenção e muita emoção. O segundo vice-presidente da CNBB fazia um chamado a prosseguir unidos e sempre em frente. Na sua análise da assembleia, Dom Jaime Spengler, destacava três elementos: a expectativa, a pauta e o empenho. Após não ter sido celebrada o ano passado, a 58ª Assembleia Geral da CNBB era um desafio, tendo em conta seu caráter virtual, o alto número de participantes e a necessidade de seguir os estatutos da entidade. O primeiro vice-presidente da CNBB afirma que “é possível sim, utilizar a tecnologia para este tipo de eventos”, que tem como vantagem um maior aproveitamento, a redução de custos, a atenção dos participantes, mesmo sem diminuir a importância do encontro. A pauta foi seguida mais do que satisfatoriamente, segundo o arcebispo de Porto Alegre, que afirma que fizemos o que era possível neste momento, além daquilo que prevíamos. Ele também destacava o empenho dos assessores, de vários irmãos bispos em trabalhos em equipe ao longo destes dias, e o esforço de muitos dos participantes em usar as mídias digitais. No final da assembleia Dom Walmor Azevedo de Oliveira disse ter o coração cheio de gratidão, insistindo em que a Assembleia Geral “não foi um congresso, foi um encontro de pastores e de servidores do Povo de Deus”. Tem sido um momento, segundo o presidente da CNBB, para a Igreja do Brasil “rever seus caminhos e encontrar novas respostas”, para olhar sobre o mundo sofrido e ferido, diante do qual “temos que nos debruçar para cuidar dessas feridas”, fazendo um chamado a “colocar um pilar de esperança” num mundo sofrido. Ele insistia em que os bispos saíram da assembleia fortalecidos e com alegria. Falando sobre o uso político da religião, uma questão que aparece na Mensagem ao Povo Brasileiro difundida no último dia da Assembleia, Dom Walmor insistia em que “o uso político da religião é um equívoco, uma manipulação”, afirmando a necessidade de a fé ser raiz iluminadora para a escolha da boa política. Segundo o presidente da CNBB, “a manipulação da Religião significa submeter interesses religiosos àquilo que está no âmbito político partidário”. Ele fazia um chamado para os cristãos estar na sociedade brasileira para “anunciar o Evangelho e não deixarmos crescer polarizações e muito menos judicializações em torno a questões religiosas”. O arcebispo insistia na necessidade de não cair em manipulações e sim “anunciar o Evangelho para que haja paz, justiça, solidariedade, honestidade e verdade em tudo aquilo que fizermos” Em referência à pandemia, um tema presente nos debates da assembleia, Dom Jaime Spengler, destacava as “situações de dor, necessidades de toda ordem, situações que exigiram e exigem empenho para responder aos desafios que o vírus impôs e continua nos impondo”. O arcebispo insistia a necessidade de unir fé e ciência, alabando “a solidariedade em meio a tanta dor, a tanta morte”, algo muito presente em todas as pessoas. Ele relatava a situação de desemprego, a falta de vacinas, o número de pessoas em situação de rua. Dom Jaime enfatizava que diante desses fatos, “nós como Igreja, nós como pastores não podemos nos calar, é o Evangelho que o exige, é Jesus que nos exige”. Segundo o primeiro vice-presidente da CNBB, “quando a vida é ferida, nós não podemos permanecer indiferentes”. Ele chamava a ter senso de corresponsabilidade social, a cuidar e promover a vida e a esperança. Em referência ao acordo assinado entre o Governo brasileiro e o Governo dos Estados Unidos em referência à preservação da Amazônia, Dom Walmor disse esperar que os governantes cumpram aquilo que eles dizem, destacando que “o cuidado da Amazônia é fundamental, essencial para o equilíbrio da Casa Comum”. No horizonte da Laudato Si´ os cristãos temos um grande compromisso de trabalhar pela defesa da casa comum, segundo o arcebispo de Belo Horizonte, algo que é assumido pela CNBB, que tem uma comissão nesse sentido. Junto com isso, destacava a necessidade de um novo estilo de vida para evitar outras pesadas pandemias. Ele fazia um apelo para a Igreja lutar por políticas de preservação do meio ambiente, em diálogo com a sociedade e “com governos sérios”. Pensando no futuro pastoral da Igreja na pós pandemia, Dom Jaime Spengler, destacava a Palavra de Deus, Tema Central da 58ª Assembleia Geral da CNBB “como base, como luz, como orientação necessária para que a Igreja continue desenvolvendo a obra da evangelização”, se tornando “caminho para renovar nossas comunidades”. A mesma coisa a Mensagem ao Povo Brasileiro, que ele vê “como um convite para somarmos forças e não esmorecer diante dos desafios que temos pela frente”, que tem a ver com o senso de corresponsabilidade e continuar promovendo a obra do cuidado, respeito para com vida humana, para com o luto, numa sociedade onde “falta solidariedade maior com a dor”. O arcebispo de Porto Alegre pedia cuidado para com a casa comum, afirmando a necessidade de políticas públicas muito serias, determinadas neste campo, sem querer satisfazer interesses de grupos, e resgatando o olhar divino sobre a criação. Ele fazia um chamado à unidade como empenho decidido, a querer cooperar para deixar nosso mundo, nossa sociedade, nossas comunidades melhores para as futuras gerações. Em suas palavras finais Dom Walmor Azevedo de Oliveira, após agradecer pelo serviço da comunicação, disse que “a Igreja existe para evangelizar, o anúncio do Evangelho é essencial, e para isso a Igreja tem que se comprometer com a vida em todas…
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Dom David Martínez de Aguirre: “A CEAMA quer assumir a missão de delinear o rosto amazónico da Igreja”

Integrar todo o Povo de Deus, esse é o objetivo da Conferência Eclesial da Amazónia – CEAMA, nas palavras de Dom David Martinez de Aguirre. O que se pretende é ter “este carácter misto, que é formado pelos bispos, sacerdotes, religiosas, religiosos, leigos do Povo de Deus”. Este foi o ponto de partida da sua participação na 58ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, que se reuniu virtualmente desde segunda-feira passada, 12 de abril, e que nesta sexta-feira encerrou os seus trabalhos. Nas palavras do seu vice-presidente, “o que a CEAMA nos diz é que esta Igreja Amazónica, que se apresentou no Sínodo com as suas dificuldades e os seus problemas específicos, problemas ambientais, problemas sociais e também problemas eclesiais, na própria Igreja nos encontramos com as nossas dificuldades e as nossas fraquezas e a nossa necessidade de procurar novos caminhos, esta Igreja, que se apresentou viva em Roma, no Sínodo, ainda está viva“. Segundo aquele que foi um dos secretários do Sínodo para a Amazónia, juntamente com o Cardeal Michael Czerny, “no Sínodo fomos confirmados, como os apóstolos, por Pedro e por toda a Igreja universal”. A partir daí, “voltámos à Amazônia e hoje a CEAMA quer ser o canal para aquele rio do Espírito Santo, aquele rio de graça, do que vivemos antes do Sínodo e durante o Sínodo, para o que a Querida Amazônia nos encoraja”, insistiu Martínez de Aguirre. Nas suas palavras ao episcopado brasileiro, que não podemos esquecer tem um papel notável na configuração da Igreja Amazónica, uma vez que ocupa mais de metade do território e encerra uma elevada percentagem das circunscrições eclesiásticas, o bispo de Puerto Maldonado, Peru, disse que “a CEAMA assume em missão o que já tinha sido proposto no Documento de Aparecida, queremos assumir a missão de delinear o rosto amazónico da Igreja nesta importante região para o mundo, promovendo uma ação pastoral como um todo, com prioridades diferenciadas e promovendo uma maior inculturação no nosso território”. Esta missão, segundo o vice-presidente da CEAMA, é realizada “em articulação com o CELAM e também com a REPAM, essa importante rede que tece o futuro da nossa Igreja na Amazónia, também com outras entidades importantes da Igreja como a CLAR e a Caritas”. Pode dizer-se que o que a CEAMA tem feito até agora é tentar compactar quais têm sido as prioridades do Sínodo da Amazónia, nas palavras do bispo. A CEAMA organizou-se em 21 áreas temáticas ou núcleos, “que a CEAMA assume como prioridades para delinear este plano pastoral”, segundo Dom David. Estas áreas estão organizadas em torno dos sonhos que o Papa Francisco delineou na Querida Amazónia. Cada um dos sonhos sociais, culturais e ecológicos engloba quatro prioridades, e o sonho eclesial inclui quatro novos sonhos. Todos eles foram apresentados de forma sucinta pelo vice-presidente da CEAMA. No sonho social, procuram-se alternativas ao atual modelo de desenvolvimento e aos impactos negativos sobre a Amazônia e as suas comunidades, para promover um mais justo com o protagonismo dos povos; o acompanhamento, defesa e articulação dos povos originários, especialmente os povos indígenas em isolamento voluntário ou em contacto inicial; a promoção da saúde intercultural para os povos e comunidades orifinárias da Amazônia, e o Observatório eclesial e socioambiental, em aliança também com o CELAM, CLAR, REPAM e Caritas. No sonho cultural, as quatro áreas referem-se à inculturação e experiência de fé, a Universidade Católica da Amazónia, a Rede de comunicação para a Amazónia, em articulação com a REPAM e a rede de educação bilingue intercultural – REIBA. O sonho ecológico, aborda a criação do ministério do cuidado do lar comum, o pecado ecológico, que incentiva a denúncia dos impactos ambientais e a defesa do território das suas comunidades, desenvolve um olhar espiritual para o cuidado da Amazônia, afirma e sensibiliza para a importância da Amazônia para o equilíbrio do clima e estabilidade planetária, em resposta ao desmatamento. Finalmente, o sonho eclesial contém a proposta do rito amazónico, que vai além da liturgia, e possibilita um estatuto próprio que nos permite enquadrar as propostas de inculturação; a passagem de uma pastoral de visita para uma pastoral de presença, superando os modelos colonizadores; promover uma cultura eclesial amazónica própria, marcadamente laica, com itinerários formativos, ministérios e comunidades de base; a força e o dom da mulher; serviços e carismas; vida missionária consagrada, formação, permanência e itinerância pastoral; novos caminhos para a formação do clero, diaconato permanente e presbitério; comunidade celebrante, sacramentos e centralidade da Eucaristia; convivência ecuménica e diálogo inter-religioso; a juventude pan-amazônica. Dom David Martínez de Aguirre destaca que se trata de articular todas estas propostas com o CELAM e a REPAM, que já está trabalhando em alguns temas. Muitos destes temas já começaram a funcionar, como a REIBA, já existe uma comissão para a Universidade da Amazónia e para o tema da juventude, bem como o tema do rito amazónico. Segundo o bispo, também foram formadas comissões em articulação com o CELAM, REPAM, Caritas e CLAR.