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“A catequese nossa é muito para os sacramentos, e acaba abandonando a dimensão social da fé”, afirma Dom Ionilton

Dentro das coletivas de imprensa que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil organiza cada dia, nesta terça-feira se fez presente Dom José Ionilton Lisboa de Oliveira, bispo da Prelazia de Itacoatiara. O tema da coletiva era análise de conjuntura e 6ª Semana Social Brasileira. Segundo Dom Joaquim Mol, presidente da Comissão de Comunicação da CNBB e mediador das coletivas de imprensa ao longo da semana, “só é frutuosa uma assembleia quando ela se deixa iluminar pela realidade”. Na coletiva participaram, além de Dom José Ionilton, Dom Francisco Lima Soares, Bispo de Carolina – MA e Dom José Valdeci Santos Mendes, bispo de Brejo – MA. Eles fizeram um resumo da Análise de Conjuntura apresentada na segunda-feira e da 6ª Semana Social Brasileira, apresentada na terça-feira de manhã. A Analise de Conjuntura foi realizada, segundo o presidente da Comissão de Análise de Conjuntura por oito professores e professoras de universidades católicas, que se reúnem a cada 15 dias e partem de informações científicas em suas análises. Dom Francisco relatava os desdobramentos da crise atual no Brasil e no mundo. Trata-se de uma realidade muito complexa, diante da qual a Igreja tem o papel de “apontar ações que sejam inspiradas no Evangelho e pela necessidade da nossa fraternidade”, afirmava Dom Joaquim Mol. A 6ª Semana Social Brasileira que tem por título “Mutirão pela Vida, por Terra, Teto e Trabalho”, está inspirada no encontro do Papa Francisco com os movimentos populares em 2014, segundo Dom Valdeci. Ele destacava democracia, soberania e economia como pontos fundamentais de discussão da 6ª SSB, apresentando os objetivos, enfatizando a necessidade de alargar o debate a toda a sociedade. Estamos diante de um processo, onde é destacada a importância das lutas populares, daqueles que lutam por uma sociedade mais justa e mais fraterna, denunciando as violações dos direitos humanos e da natureza. Já foram realizados mais de 90 mutirões desde 2019, no último ano em modo virtual, na tentativa de apontar rumos e caminhos que ajudem o povo a conquistar direitos e dignidade. Nesse ponto Dom Mol, seguindo EG 176, afirmava que “evangelizar é tornar o Reino de Deus presente no mundo”, o que mostra a importância da Análise de Conjuntura e da 6ª SSB. Dom Francisco, Bispo de Carolina Dom José Ionilton, seguindo as palavras do Papa Francisco, afirmava que “a humanidade é pisoteada por esse vírus e por tantos outros vírus que nós ajudamos a crescer”, relatando elementos que mostram a situação que o Brasil vive em consequência da pandemia: maior colapso sanitário e hospitalar da história do Brasil, papel da Igreja no campo da solidariedade. Segundo o bispo de Itacoatiara agora é momento de solidariedade, mas depois deve ser tempo de manifestação de indignação, lembrando que o Papa Francisco nos chama a não nos deixar anestesiar nossa consciência social. Nas perguntas dos jornalistas os bispos foram abordando diferentes questões, fazendo um chamado a refletir sobre a realidade atual, a agir com prudência, unidade e serenidade. Também foi abordado o posicionamento que um cristão deve ter diante da ditadura, a necessidade de tomar consciência diante do desmatamento, da pressão aos povos indígenas, que estão vendo seus territórios invadidos durante a pandemia, a falta de política de preservação do meio ambiente do governo, o que incentivou os ataques. Diante disso era feito um pedido aos meios de comunicação de inspiração católica para divulgar essas situações. Dom Ionilton refletia sobre “o desafio que é a gente conseguir ajudar as pessoas a compreender a dimensão social, política e profética da fé”. O bispo afirmava que na Bíblia esses assuntos estão presentes, nos profetas, onde se faz um chamado a defender o pobre e o insjustiçado, as ações de Jesus em defesa dos pobres, dos pequenos, insistindo que “não tem outro caminho”. O bispo de Itacoatiara também lembrava o relatado no Concilio de Jerusalém, onde se faz um chamado a não esquecer os pobres. Ele lembrava da figura de Dom Helder, muitas vezes chamado de comunista, o que continua acontecendo com o Papa Francisco, com muitos bispos e lideranças da nossa igreja. “Basta falar em direitos humanos, defesa do bem comum, defesa da natureza, aí se titula logo de comunista”, dizia Dom Ionilton. Diante disso, “o nosso papel é fazer a Doutrina Social da Igreja cada vez mais conhecida, assimilada e vivida por nós”, algo que era colocado pelo bispo como grande desafio. Segundo Dom Ionilton, “nós trabalhamos muito o para dentro da Igreja, a catequese nossa é muito para os sacramentos, e acaba abandonando a dimensão social da fé”. Ela chamava a assumir o pedido do Papa Francisco na Querida Amazônia: “que a Doutrina Social da Igreja seja estudada, conhecida e praticada”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1

Os Bispos do Brasil agradecem ao Papa Francisco sua “proximidade paterna e misericordiosa ao povo brasileiro, na pandemia”

Uma carta onde expressam e renovam sua fidelidade e sua comunhão com o Papa Francisco, será enviada ao Santo Padre pelo Bispos do Brasil reunidos em virtualmente na 58ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, de 12 a 16 de abril. O escrito destaca o esforço pela unidade entre as igrejas cristãs e o diálogo com outras religiões e culturas, algo que se fez presente na viagem ao Iraque. Também agradecem pela encíclica Fratelli tutti e pelo ano dedicado ao Patriarca São José e às famílias. Ao mesmo tempo, os bispos externam seus “sentimentos de gratidão pela proximidade paterna e misericordiosa de Vossa Santidade, expressa nas muitas formas de concreta solidariedade manifestadas ao povo brasileiro, neste tempo em que a pandemia fez aflorar misérias, sofrimentos e precariedades em muitas regiões e dioceses brasileiras”. O texto relata as consequências da pandemia: “a fragilidade de nossas políticas públicas, a inabilidade de nossos governantes no trato da pandemia, o negacionismo de uma parcela de brasileiros, a politização e ideologização da pandemia, a impossibilidade dos ritos e orações por ocasião do sepultamento dos mortos por COVID-19, causando dor ainda maior às famílias”. Junto com isso destacam a solidariedade e caridade e que “Não estamos silenciados! Não estamos omissos!” Os bispos falam ao Papa Francisco sobre o tema da 58ª Assembleia Geral da CNBB, que aborda o tema da Palavra, e dizem se unir “a Vossa Santidade nos esforços pela purificação, conversão e justiça frente aos casos de abusos cometidos por membros da Igreja”. Para isso estão sendo estruturados os mecanismos de enfrentamento. O texto faz referência ao Sínodo para a Amazônia e a Querida Amazônia, que “repercutem em nova sensibilidade, gestos de solidariedade e novas atenções pastorais”. Ao mesmo tempo destaca a importância da Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, que visa “celebrar, rever e retomar as luzes, perspectivas e esperanças da Conferência de Aparecida”. Eis a Carta:  CARTA AO PAPA DA 58ª AG CNBB Amado Papa Francisco, Nós, os Bispos do Brasil, reunidos neste ano, de 12 a 16 de abril, por plataforma virtual, a partir de nossas Igrejas Particulares, vivenciamos nossa 58ª Assembleia Geral Ordinária. Neste tempo difícil e desafiador, quisemos viver, neste formato possível, nosso encontro anual, que não nos foi possível realizar no ano passado, devido à insegurança e aos riscos causados pelo início da pandemia da COVID-19. Expressamos e renovamos nossa fidelidade e nossa comunhão com Vossa Santidade, Bispo de Roma e Sucessor de Pedro. Reconhecemos seus inúmeros esforços para construir a unidade na Igreja e com os demais cristãos e favorecer o diálogo com outras religiões não cristãs e com a pluralidade das culturas. Pudemos, de modo exemplar, perceber isto na sua recente viagem ao Iraque, pelos caminhos da fé de Abraão, e nos fecundos diálogos empreendidos ali pela paz e pela concórdia entre os povos, buscando levar também bálsamo espiritual às muitas feridas causadas pelos históricos conflitos naquela região.  Agradecemos pelos frutos e boas repercussões eclesiais e sociais entre nós gerados pela Encíclica Fratelli tutti e pelo ano dedicado ao Patriarca São José e às famílias. Com o auxílio deste “homem justo”, iluminados e impulsionados pelas indicações pastorais da Exortação Amoris Laetitia, haveremos de relançar o olhar pastoral sobre a realidade das famílias. O ano da “Família Amoris Laetitia”, iniciado em 19 de março e a ser concluído com o X Encontro Mundial de Famílias, em junho de 2022, certamente será um norte seguro para nossa ação evangelizadora das famílias. Sem descuidar igualmente dos esforços da nossa comunidade cristã na construção da grande família humana, chamada a construir-se como casa de irmãos e irmãs, no respeito, na amizade e no diálogo amoroso.  Também não podemos deixar de externar nossos sentimentos de gratidão pela proximidade paterna e misericordiosa de Vossa Santidade, expressa nas muitas formas de concreta solidariedade manifestadas ao povo brasileiro, neste tempo em que a pandemia fez aflorar misérias, sofrimentos e precariedades em muitas regiões e dioceses brasileiras. Os apelos mundiais de Vossa Santidade em relação ao Pacto Global pela Educação e Economia de Francisco estão sendo divulgados e acolhidos pelos respectivos segmentos, com adesões importantes e criativas da sociedade e da Igreja no Brasil.  Nesta pandemia estamos experimentando e assistindo a situações de grande dor e de belas iniciativas, a saber, de um lado, a fragilidade de nossas políticas públicas, a inabilidade de nossos governantes no trato da pandemia, o negacionismo de uma parcela de brasileiros, a politização e ideologização da pandemia, a impossibilidade dos ritos e orações por ocasião do sepultamento dos mortos por COVID-19, causando dor ainda maior às famílias; por outro lado, a solidariedade entre as pessoas, famílias e comunidades, as muitas e criativas formas de presença junto aos que sofrem com a solidão e o abandono, sobretudo os idosos. A pandemia nos tem educado para muitas ações de evangélica caridade, de socorro aos mais vulneráveis, num belo e criativo pacto pela vida e pelo nosso sofrido Brasil. Contudo, não faltam iniciativas pastorais e vozes proféticas para apontar o Reino e a primazia da vida. Não estamos silenciados! Não estamos omissos! Mesmo reconhecendo o poder das forças de destruição e de morte a que estamos sujeitos. Não perdemos de vista o Evangelho e a presença invisível e vitoriosa do Senhor Jesus, o Vivente, que nos acompanha e nos ajuda a interpretar a história em chave pascal, como fez com os discípulos de Emaús.  Nossa Assembleia Geral dedica-se neste ano, em consonância com as atuais Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, ao tema da Igreja como Casa da Palavra de Deus. “Casa da Palavra: animação bíblica da vida e da pastoral a partir das comunidades eclesiais missionárias”. A partir da imagem bíblica da semente (Mt 13,1-9) queremos mergulhar no mistério do Cristo-Palavra, nos desafios da semeadura neste nosso tempo, nos terrenos prioritários, nos meios para semear. Conhecer a Escritura é conhecer Cristo. Ele é nossa Páscoa e nossa Paz! “Do que era dividido fez uma unidade” (Ef 2,14a). É preciso recomeçar sempre…
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Faleceu Dom Jaime Mota de Farias, bispo emérito de Alagoinhas – BA

Faleceu na noite desta segunda-feira, 12 de abril, aos 95 anos, dom Jaime Mota de Farias, bispo emérito da diocese de Alagoinhas – BA. A morte foi consequência da doença de Alzheimer, que nos últimos dias tinha se agravado. Nascido em São Bento do Una, interior de Pernambuco, no dia 12 de novembro de 1925, era sacerdote desde 25 de agosto de 1957, sendo nomeado bispo auxiliar da diocese de Nazaré da Mata – PE, no dia 21 de julho de 1982. Após três anos como bispo auxiliar, foi nomeado o segundo bispo da diocese de Alagoinhas, onde exerceu essa missão até apresentar sua renuncia em 24 de abril de 2002. Sendo emérito continuou residindo na diocese, onde ajudou no trabalho pastoral sempre que foi preciso. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, reunida na 58ª Assembleia Geral, em nota assinada pela presidência, manifestou pesar pelo falecimento de Dom Jaime Mota de Farias. O episcopado brasileiro, diz se unir “em solidariedade aos familiares, amigos e ao povo de Deus presente na diocese de Alagoinhas”, agradecendo a Deus pelos seus 40 anos de dedicação à Igreja particular da diocese de Alagoinhas. Cientes de que a vida sempre vence a morte, a CNBB, lembrando a liturgia da segunda-feira da segunda semana da Páscoa, reafirma “a certeza de que, mesmo diante da morte, somos sempre convidados a nascer de novo”.

Palavra e Análise de Conjuntura. Dom Tadeu e Dom Ionilton destacam os pontos mais relevantes do 1º dia da 58ª AG da CNBB

Nesta segunda-feira, 12 de abril, iniciou a 58ª Assembleia Geral da Conferência Nacional – CNBB, que em consequência da pandemia está acontecendo 100% virtual. No final do dia trazemos as impressões de dois dos nossos bispos do Regional Norte 1 da CNBB, seu vice-presidente, Dom Edmilson Tadeu Canavarros dos Santos, bispo auxiliar de Manaus, e Dom José Ionilton Lisboa de Oliveira, bispo da Prelazia de Itacoatiara. Dom Tadeu destacava a novidade que representa o modo virtual da Assembleia, “por causa da pandemia que vivemos não é possível ainda fazer uma Assembleia presencial”. O bispo auxiliar de Manaus afirma que “a participação está sendo bastante intensa”. A abertura da Assembleia “foi feita invocando ao Espírito Santo, logo em seguida o relatório da presidência e um relatório sobre a questão econômica”, que fez referência aos anos 2019 e 2020. O bispo destaca dois elementos importantes nesse relatório, a reestruturação do setor contável na CNBB e o Centro Cultural Missionário – CCM, como filial da CNBB. Ao falar sobre o Tema Central deste ano, que é a Palavra, Dom Tadeu afirma que “esse tema está de acordo com as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil de 2019 a 2023”. Ele lembra que “na 57ª Assembleia Geral, nós assumimos que a Caridade, Pão, Palavra e Ação Missionária são os quatro pilares que devem sustentar a vida das comunidades eclesiais missionárias e a ideia da Igreja nas casas”. O Tema Central, Pilar da Palavra de Deus, ele traz para nós, segundo o bispo auxiliar de Manaus, “o que significa para nós essa animação bíblica da pastoral”. O documento está dividido em sete capítulos, que segundo Dom Tadeu podem ser vistos como “sete caminhos que nos ajudam na vivência da Palavra e que esta Palavra permeia toda a dimensão da animação da vida das comunidades em que nós nos encontramos”. Do texto, o bispo destaca que “em nossos dias torna-se indispensável estabelecer e fortalecer nas pessoas e nas comunidades o vínculo entre a Palavra de Deus e a vida, tornando nossa ação pastoral cada vez mais alicerçada do contato fecundo com a Escritura Sagrada”. “Nós podemos afirmar que é no encontro com o Senhor Ressuscitado, que na força do Espírito conduz a Igreja, nossa comunidade de discípulos e discípulas, e torna essa comunidade sempre mais missionária na vivência, no anúncio da Palavra de Deus”, enfatiza Dom Tadeu. Ele destaca que “isso está em sintonia com aquilo que já refletíamos na Conferência de Aparecida sobre a reflexão bíblica da pastoral”. É por isso, que “somos convidados, sem dúvida, a partir dessa Assembleia a reassumir, como discípulos, como discípulas, servidores da Palavra de Deus na missão da Igreja e na construção do Reino de Deus”. Falando sobre a Análise de Conjuntura Sócio-política e Eclesial, Dom José Ionilton Lisboa de Oliveira, afirmava que “na verdade, a Análise de Conjuntura Eclesial se tornou um estudo sobre a sinodalidade”. Segundo o bispo da Prelazia de Itacoatiara, “faltou entrar em aspectos importantes da vida e da ação da Igreja no Brasil”. Falando sobre a Análise da Conjuntura Sócio-política, ele afirma que “foi muito mais desenvolvida, destacando que o povo de Deus sofre com a doença e com a fome”, lembrando as palavras do Papa neste domingo, “que não é um tempo para a indiferença”. A Analise relatou, lembrava Dom José Ionilton, que “estamos vivendo graves problemas desde que a pandemia explodiu, mas que esses graves problemas já existiam antes mesmo da pandemia”. O bispo destacou que a análise “ressaltou o colapso sanitário e hospitalar, o maior da história do Brasil, o crescimento do desemprego, a volta do Brasil ao mapa da fome, e a política, se assim podemos chamar, do governo Bolsonaro e dos bolsonaristas, dos seguidores de Bolsonaro”. Outro elemento destacado na análise, foi “a militarização do governo, hoje tem mais militares no governo do que o próprio governo militar, a hostilidade à ciência, e por causa disso, o negacionismo”. No final da Análise de Conjuntura, relatava o bispo de Itacoatiara, aparece que “o presidente minimizou a doença, desrespeitou as vítimas, descumpriu o isolamento social, combateu quem quis fazer isso, criou desavenças com governadores, prefeitos e instituições da sociedade civil, que apontaram o caminho do isolamento social como necessário para o combate da pandemia”. Dom José Ionilton também colocava em destaque, em referência ao Análise de Conjuntura, que “ele [o presidente] realizou uma má gestão da área da saúde, trocou quatro vezes o ministro da saúde nesse tempo da pandemia, dificultou a gestão da saúde pública, divulgou dados errados, omitiu informações, e não atuou para criar uma unidade nacional de combate à pandemia”. Segundo o bispo, “foi uma análise de conjuntura muito bem feita e que muito vai ajudar a toda nossa caminhada como Igreja do Brasil”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1

Sofrimento com a doença e a fome e Sinodalidade marcam Análise de Conjuntura da 58ª Assembleia Geral da CNBB

Um momento importante do primeiro dia da 58ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB tem sido a Análise de Conjuntura social e eclesial, elaboradas por uma equipe de assessores e assessoras, que destacam que não representa a opinião da Conferência. “O Povo de Deus sofre com a doença e a fome”. O título da análise de conjuntura social apresentada aos bispos do Brasil, que nos mostra a realidade de um país profundamente atingido pela pandemia da Covid-19, que oficialmente está próximo de 13,5 milhões de casos e já superou os 353 mil mortos. Estamos diante de uma crise com muitas faces, consequência da primazia do dinheiro e das finanças, que tem provocado “uma gravíssima pandemia” que coloca a prova a sobrevivência da humanidade está colocada à prova, e que ameaça com repetir de modo ainda mais grave. A crise sanitária tem impactado nas diversas dimensões da sociedade, provocando um mundo em mudança. A análise relata como tem ido se desenvolvendo o maior colapso sanitário e hospitalar da história do Brasil, com longas filas de espera, trabalhadores com uma carga excessiva de trabalho. Diante dessa realidade o texto destaca “a importância da vacina e do distanciamento social para a superação da pandemia”, junto com o uso de máscaras. A vacinação está “muito aquém do necessário”, o distanciamento social “nunca foi feito de forma plena e organizada em todo o país”. No Brasil a crise econômica e a crise sanitária estão fundamentalmente correlacionadas. Se faz necessário investimentos públicos e fomento à economia, para assim evitar um colapso económico cada vez mais próximo, que vai se traduzir em fome, miséria e desesperança, uma realidade presente nas periferias das grandes cidades. No campo da economia também tem se dado uma grave desvalorização do real, consequência do fato de que nos últimos meses o Brasil se tornou o epicentro da pandemia. Isso favorece as exportações, principalmente do agronegócio, mas tem elevado o preço dos produtos importados, dos itens mais presentes na vida dos mais pobres, a inflação e os juros. A pergunta que surge na análise é o efeito das medidas económicas que estão sendo tomadas no campo económico, mas também os efeitos no meio ambiente. Junto com isso o desemprego bateu recordes ao final de 2020 na maioria dos estados brasileiros. Esse “terrível quadro econômico do ano passado não foi pior, em parte, por conta da política fiscal adotada para mitigar os efeitos da pandemia”, mas o PIB e a dívida externa estão numa situação muito complicada. Uma das mais graves consequências disso é a fome, que atinge a 19,1 milhões de brasileiros, com mais da metade da população sem segurança alimentar. As perspectivas, após “a catastrófica gestão da pandemia e da economia”, são pouco alentadoras, com “ausência de crescimento econômico (exceto para alguns setores), junto com considerável inflação ao consumidor”. O texto entregue aos bispos afirma que o Brasil mudou, algo que se faz visível na conjuntura política, no aumento das possibilidades de comunicação, surgindo o fenómeno da psicopolítica, que “o fluxo contínuo da comunicação, a instabilidade da emoção, não permitindo a reflexão, o racionalismo”. Isso se traduz numa difícil relação entre política e cultura e as dificuldades enfrentadas pelo sistema democrático, cimentado em “relações de mando e subserviência”, se fazendo cada vez mais evidente o que texto chama de “uma paixão pela ignorância”, também chamado de “ódio à inteligência, ao conhecimento, à ciência, ao esclarecimento, ao discernimento”, se fazendo um “uso elitista do conhecimento”. A educação, junto com a cultura, também se tornou uma dificuldade no Brasil. Tem aparecido distintos universos culturais, que tem motivado “uma perda do respeito pelo mundo da cultura e da educação, o maior alicerce da esfera pública”. Essa realidade, que já estava em crise, piorou muito com a pandemia. O texto analise a figura do atual presidente, Bolsonaro, que denomina como “um entrave para a superação da crise”, fez realidade uma política marcada pela militarização, por querer fazer a vontade do povo, o messianismo, a hostilidade à ciência e o anticomunismo. Frente a ele está o fator Lula, que tem retornado para a corrida eleitoral, e tem provocado “a notória a mudança política do governo federal”.  Junto com isso, a análise destaca a grande presença militar no atual governo. O texto conclui relatando a postura do governo federal e do presidente diante da pandemia, que o levou a minimizar a doença e desrespeitar as vítimas; descumprir o isolamento social, o uso de máscaras e incentivou o uso de medicamentos sem eficácia científica comprovada; realizar uma má gestão da área da saúde; criar desavenças com governadores, prefeitos e instituições da sociedade civil. A análise afirma que “muitas mortes e sofrimento de famílias poderiam ter sido evitados”. Diante disso, as propostas são: vacinas e vacinação com a maior velocidade possível; distanciamento social; auxílio emergencial. Diante de um quadro “de fome, doença e de desgovernos” a proposta é de “mais unidade e uma profunda e resistente união do coro dos lúcidos”, construindo pontes e diálogos, “tarefa dos cristãos e de todos de boa-fé”. A análise de conjuntura eclesial teve como ponto central a sinodalidade, que promove uma experiência de comunhão e participação. De fato, pode ser considerada como uma reflexão teológica sobre essa dimensão. O ponto de partida tem sido o Magistério do Papa Francisco, para quem esse é “o caminho que Deus espera da Igreja do terceiro milênio”, uma proposta de “caminhar juntos”, em chave missionária, que tem como fundamento teológico a infalibilidade in credendo de todo o povo de Deus, o sensus fidei e o consensus fidelium, o que faz de cada batizado um “sujeito ativo da evangelização”.   O Santo Padre vê a sinodalidade como “dimensão constitutiva da Igreja”, de onde surge o “dinamismo de comunhão que inspira todas as decisões eclesiais”, que tem como base a escuta e a decisão de entrar num processo. A realização da sinodalidade começa nas igrejas particulares e continua nas regiões eclesiásticas e conferências episcopais, chegando finalmente ao âmbito da Igreja universal. A teologia da…
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Dá início a 58ª Assembleia Geral da CNBB centrada na Palavra de Deus e 100% virtual

Foto: CNBB Da grandiosidade do Santuário Nacional de Aparecida à simplicidade da Capela da sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, também sob a invocação da padroeira do Brasil. Do grande encontro anual no Centro de Eventos Padre Vitor Coelho de Almeida à tela do computador ou do celular. Assim iniciava nesta segunda-feira, 12 de abril, a 58ª Assembleia Geral da CNBB. A Eucaristia, presidida por Dom Joel Portella Amado, bispo auxiliar do Rio de Janeiro e secretário-geral da CNBB, transmitida pelos canais católicos de TV do Brasil e pelas redes sociais da CNBB. contou com a participação de convidados e assessores da entidade. O bispo auxiliar do Rio de Janeiro fez um chamado a “nascer de novo”, e assim adquirir “essa coragem para anunciar a Palavra em meio a todas as dificuldades”. Com a celebração iniciou-se a primeira assembleia em formato totalmente remoto, onde são convidados os 475 bispos titulares e eméritos, além de representantes de organismos e pastorais. O tema central será a Palavra de Deus, seguindo a proposta das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (DGAE 2019-2023). Além disso, os bispos vão aprofundar também outros 30 assuntos previstos estatutariamente sobre a vida da Igreja e a evangelização no Brasil. Seguindo os estatutos da CNBB, será realizada uma Assembleia sem votações que impliquem alterações ou consequências de natureza legislativa para a Conferência. Só irão acontecer as votações de natureza pastoral. Após um momento de oração e as solenidades de abertura a cargo do presidente da CNBB, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, onde acolheu os presentes, especialmente os bispos nomeados nos dois últimos anos e lembrou as vítimas da pandemia, pedindo um momento de silêncio em homenagem, o novo Núncio Apostólico no Brasil, Dom Giambattista Diquattro, dirigia-se pela primeira vez ao episcopado brasileiro reunido em Assembleia, destacando a importância da tecnologia “a serviço da proclamação corajosa da Palavra de Deus”. A primeira sessão tem sido momento para apresentar o relatório bienal 2019-2020. Além disso, também foram apresentados o relatório econômico e o tema central. Os destaques do período da tarde ficam por conta das análises de conjuntura eclesial e social e a programação de atividades dos anos Amoris Laetitia e Josefino, em 2021. Todos os dias acontecerá uma coletiva de imprensa, onde serão tratados os temas mais relevantes de cada jornada. Falar da Palavra não é novo, segundo Dom José Antônio Peruzzo. Ele enfatizava que “na tradição bíblica, palavra também é pessoa”. Estamos diante de um tema que nunca será suficientemente esgotado, insistindo em que a palavra cria proximidade entre quem escreveu e quem lê, o que mostra a importância da Palavra de Deus, de partilhar aquilo que é fonte de vida. Dom Paulo Jackson destacava o “belíssimo movimento de leitura popular da Bíblia, no Brasil e América Latina” surgido da Dei Verbum, destacando a importância do Centro de Estudos Bíblicos – CEBI. Trata-se de fazer com que “a vida inteira da pessoa e das comunidades eclesiais missionarias, e também da própria pastoral e da missionariedade, tudo isso animado pela força da Palavra de Deus“. O bispo de Garanhuns falava sobre os desafios para semear a Palavra de Deus, destacando a necessidade de descobrir a Bíblia como fonte de mudanças estruturais. O objetivo é que “o povo tenha mais desejo da Palavra de Deus”, segundo Dom Armando Bucciol, que falava sobre os diferentes terrenos em que a Palavra de Deus deve ser semeada: na liturgia, destacando a importância da homilia, na ação missionária, na Iniciação Cristã- Catequese, na Piedade Popular, na família, nas juventudes, no diálogo ecumênico e inter-religioso, nos meios de comunicação, nos processos formativos, na presença nas periferias, dentre outros. Nas perguntas dos jornalistas surgiram algumas reflexões dos bispos. Um deles, cada vez mais presente na sociedade, é a polarização, que leva a refletir sobre os fundamentalismos, fruto das debilidades, visto por alguns como refúgio seguro e que pode ser considerado irmão do fanatismo, segundo o Arcebispo de Curitiba. Ele insistia em que os fanáticos não dialogam, destacando o papel da religião como poderoso meio de fundamentalismo. Por isso, insistia na necessidade de despojar-se de convicções, na diferença entre experiência religiosa e experiência de fé. Segundo Dom Peruzzo, as agressões entre católicos têm como causa que eles ouvem pouco a Palavra e não se deixam inspirar nela. Dom Paulo Jackson vê a polarização como fruto da resistência aos valores da modernidade. Ele denunciava o esfriamento do trabalho bíblico no Brasil, tendo se deixado de realizar o Mês da Bíblia em muitos lugares. Diante disso, afirmava que a Palavra pode ajudar a formar comunidades eclesiais missionárias vivas, animadas, entusiasmadas. A partir da experiência pessoal, acrescentada durante a pandemia, insistia na necessidade dos bispos e a Igreja fazer mais presente a Palavra na internet. O abuso e mal uso da Palavra está muito presente na Igreja, segundo Dom Armando, que refletia sobre a homilia, que não é palestra. O bispo de Livramento de Nossa Senhora refletia sobre os pregadores que ignoram a Palavra, inclusive nas TVs católicas, insistindo para que o povo seja franco com os padres e bispos para dizer que não é por aí. O bispo dava um conselho não exagerar no tempo e preparar durante várias horas de reflexão. Junto com a Palavra, destacava a importância da Pastoral da Escuta, de multiplicar mentes e corações que saibam de verdade escutar. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Organizações indígenas e eclesiais preparam evento em defesa da Amazônia

O Papa Francisco considera que “a Amazônia é um banco de prova para a humanidade”. Daí a importância do que acontece no coração biológico do Planeta, que ganha escala e vem a ter um impacto gigantesco sobre toda a biosfera. Essa é uma realidade que cobra especial relevância na atual convergência de crises, que tornou a defesa da Amazônia tarefa central. A realidade que vive o Brasil, tem provocado uma reação, que será apresentada no próximo dia 15 de abril. Diferentes organizações eclesiais, sociais, indígenas, políticas tem organizado um evento onde é denunciada a grave crise que está vivendo e país e a Amazônia. Crise econômico-financeira, aumento descontrolado da pandemia, visão da Amazônia como território de saque, grilagem, corrupção, violência e impunidade. Tudo isso ameaça os equilíbrios climáticos, a proteção dos povos e a biodiversidade, com impactos planetários.  A crise tem provocado que os territórios protegidos sejam visados como local do extrativismo predatório e da expansão da fronteira produtiva. Diante disso a comunidade internacional está exercitando pressões e buscando caminhos de proteção da Amazônia. O escrito lembra as promessas do presidente Biden para a luta contra as mudanças climáticas, mas denunciam que sobre as reuniões entre o governo americano e o brasileiro não houve comunicação transparente a respeito do conteúdo destes diálogos institucionais.   A política anti-ambiental, anti-indígena, anti-democrática, negacionista da ciência, do governo brasileiro, está tendo especial impacto na Amazônia, onde está se dando a deliberada ausência do Estado e o desmonte ou o controle político-militar dos órgãos de proteção do meio ambiente e dos povos originários estão amplificando a impunidade, a violência, a criminalização e o assassinato de lideranças, como principal estratégia para afirmar a lei do mais forte. Algo que contrasta com a luta pela Vida promovida pelas organizações indígenas. Será denunciado que o acordo entre EUA e Brasil, negociado com celeridade e com baixa transparência, pode vir a causar um efeito contrário à intenção anunciada. Não estão claros em suas garantias de respeito aos direitos dos povos e da natureza, e o acordo pode se tornar uma legitimação da agenda de destruição da Amazônia, que avança no Congresso Nacional brasileiro, impulsionando a desregulação de legislações ambientais e fundiárias no Brasil.  A proposta das diferentes organizações tem como base a necessidade de debate com as populações amazônicas. Nesse sentido as organizações indígenas afirmam que “nossa voz e conhecimento deve guiar a política pública”, algo que não está sendo realizado, como mostra a celeridade no processo de negociação.   Pede-se incidência, vigilância e cooperação internacional no Brasil para: garantir vacina para a população amazônica; atenção à saúde; orçamento para os órgãos e instituições de fiscalização e controle ambiental; valorização do desenvolvimento sustentável; regularização fundiária de pequenas propriedades e demarcação dos territórios quilombolas; efetivas garantias dos direitos indígenas e demarcação urgente de todas suas terras.   Tudo isso tem provocado iniciativas de resistência, o que vai ser mostrado no dia 15 de abril, para dar visibilidade internacional à emergência amazônica e denunciar os perigos desse possível acordo. O horizonte está na Conferência das Partes em Glasgow (COP 26) a ser celebrada no mês de novembro, onde deverá ser assumida a defesa da Amazônia como fator estratégico e não poderá ignorar o protagonismo de seus povos na preservação desse bioma e dos equilíbrios climáticos globais.  No dia 15 haverá dois eventos públicos, envolvendo os povos amazônicos, a sociedade civil, os políticos e artistas. Um será transmitido a partir do Congresso dos EUA, à tarde, com participação do cardeal Pedro Barreto, presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM), outro a partir da Câmara Federal de Brasília, com participação de dom Erwin Kräutler, presidente da REPAM-Brasil. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1

Dom Mário Antônio: “Assembleia virtual é a melhor atitude de responsabilidade”

Uma assembleia diferente, mas que depois de ser suspensa no ano passado, devido à pandemia, vai acontecer na próxima semana, de 12 a 16 de abril, completamente virtual. “A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil está se preparando para realizar a sua 58ª Assembleia Geral ordinária”, afirma o segundo vice-presidente da entidade. Desde 2011, a Assembleia Geral da CNBB acontece em Aparecida – SP, junto ao Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil. Segundo Dom Mário Antônio da Silva, “verificamos que é impossível realizar a assembleia da nossa Conferência Episcopal neste ano de 2021 de maneira presencial, tendo em vista a questão da pandemia, porque de março do ano passado até este mês de abril, ainda não superamos a pandemia no Brasil, e olha que estamos numa situação de agravamento, numa situação muito crítica da pandemia em todo nosso país”, com vários dias com mais de 4.000 falecidos em 24 horas. O segundo vice-presidente afirma que “a nossa Conferência Episcopal achou por bem não adiar por mais um ano a realização da assembleia, mas que ela seja feita de maneira virtual”. Segundo o bispo de Roraima, “hoje temos instrumentos da tecnologia pela internet que nos favorece a tratar de assuntos, de maneira muito séria e mesmo prolongada, de maneira muito segura”. Nas últimas edições, a assembleia se realizava por dez dias, iniciando na segunda semana do Tempo Pascal. Desta vez, será no mesmo período que acostuma ser realizada, começando na segunda-feira, 12 de abril, tendo uma duração de cinco dias, até 16 de abril, sexta-feira. Dom Mário Antônio da Silva destaca que “iremos discutir assuntos muito importantes e necessários na nossa assembleia, inclusive sobre as Diretrizes Gerais sobre a Ação Evangelizadora na Igreja do Brasil, o aprofundamento sobre as indicações do objetivo geral, que terá como tema central a Palavra de Deus”. Junto com isso, o bispo diz que “outras discussões muito importantes surgirão no decorrer da semana e que vão nos ajudar no processo de evangelização, que traz com esse tempo da pandemia novos desafios, sejam eles pastorais e até mesmo econômicos para que a evangelização continue acontecendo”. Diante da realidade do episcopado brasileiro, formado por mais de 470 bispos, 309 titulares e 160 eméritos, tendo em conta a situação da pandemia no Brasil, “reunir mais de 400 pessoas, bispos e assessores, que vão se somar mais de 500 pessoas, num único lugar neste tempo de pandemia, não é sensato, não é atitude responsável”, insiste o segundo vice-presidente da CNBB.  Esse é o motivo para realizar a 58ª Assembleia Geral da CNBB de modo virtual, insiste Dom Mário Antônio, que ainda ressalta o fato de que “são pessoas que vem de muitos lugares do Brasil, ou seja, de todas as dioceses, de todos os nossos estados, e depois retornando para os seus lugares”. Por isso, “assembleia virtual é a melhor atitude de responsabilidade”. O Bispo de Roraima acrescenta que “ao mesmo tempo, queremos nós como Conferência Episcopal no Brasil, ser um exemplo para as nossas comunidades de que é possível levar adiante o processo de evangelização, de discussões de temas e de coisas que são necessárias hoje a través da tecnologia, via internet”. Ele pede o acompanhamento de todos “com as suas orações para que a nossa assembleia, nesta nova modalidade, seja exitosa e que consigamos como episcopado para o nosso povo brasileiro mensagens de esperança, de confiança, para que nos fortaleçamos na oração e na solidariedade para superar a pandemia e atender os mais pobres”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1

A Vida Religiosa na (Pós)Pandemia: “dar testemunho da vida que clama por Ressurreição”

A Vida Religiosa Consagrada no mundo (pós)pandêmico. Presença solidária onde a Vida clama. Esse foi o tema de reflexão da live organizada pelo Instituto Humanitas Unisinos. Três religiosas, Liliana Franco, Maria Inês Vieira Ribeiro e Márian Ambrósio, ajudaram com sua reflexão a descobrir luzes diante de uma realidade que nos supera. Liliana Franco começou por fazer um apelo para “reconhecer aquela presença de solidariedade onde a vida clama”. Uma pandemia que tem muitos rostos, que está tirando as vidas e oportunidades de muitos homens e mulheres. Uma crise que tem muitas facetas, a falta de alimentos, a falta de oportunidades de emprego, a escassez de recursos de saúde e uma oferta educativa deficiente. Crise migratória, que está dando forma a um novo rosto da sociedade. Crise de corrupção, que leva ao esbanjamento para o bem privado do que deveria ser o bem público. Crise de violência, que se manifesta em femicídios, assassinatos de líderes sociais, disputas sobre território, tráfico de droga, mineração, extrativismo. Crise de saúde, sendo “encurralados por um vírus que mudou o ritmo das nossas vidas”. Uma crise que nos transborda e cujas consequências negativas estão crescendo. Como nos situarmos diante desta crise, questionou a presidenta da CLAR, que partiu da ideia de que a realidade é complexa, perante a qual os homens e mulheres de fé são chamados a situar-se a partir de um olhar de fé e esperança, a ler os fatos a partir de uma atitude crítica e profética e de um compromisso construtivo, em discernimento, reconhecendo o que Deus nos indica, alertando que a vida religiosa é chamada a ir até às fronteiras, a denunciar, a sair em missão. A religiosa perguntou-se “onde é que nós, religiosos, temos estado nesta crise“, enumerando 10 cenários. O primeiro na confortável poltrona do espectador, com pouco sentido crítico; no fogão, acendendo a vela para que a panela comunitária fosse suficiente para todos; abrindo a porta da casa para que houvesse espaço para os outros; arriscando a vida na linha da frente dos que cuidam dos doentes; penetrando no profundo da terra, tentando responder com recursos para as comunidades amazónicas; participando em redes e correntes de solidariedade; gerando alternativas de formação, através da virtualidade; desenvolvendo a criatividade para continuar a missão, com novas metodologias e recursos; rezando e convencidos de que este é tempo; no lugar das vítimas, muitos religiosos e religiosas morreram pela Covid-19. “Não podemos ficar indiferentes, nem paralisados perante esta realidade“, insistiu a irmã Liliana, que perguntou “que nova humanidade está emergindo“. A presidenta da CLAR convidou a dar pequenos passos: ter uma atitude aberta para perceber a densidade da vida que nos rodeia, que permita “saber conviver com as incertezas”, transformar as dificuldades em possibilidades, insistindo que “cabe-nos a nós dar testemunho de esperança perante a adversidade”. Para isso é necessário assumir os valores do Evangelho, como horizontes de ser e agir, apostando em caminhar com outros, abraçando a situação dos pobres e excluídos, cada vez mais numerosos, empenhados na formação de uma consciência crítica e de responsabilidade social, deixando ressoar as propostas de Fratelli tutti. É tempo de gerar utopia, de aproveitar as oportunidades para gerar redes que ajudam a cuidar da vida, da terra e das culturas. “Fazer desta crise um laboratório de aprendizagem, que nos permita desvendar novos caminhos, despertar uma sensibilidade que nos permita a todos nós envolvermo-nos e exercitar a compaixão”. Seguindo as palavras do Papa Francisco, apelou à criação de espaços em que haja lugar para a diferença e universalidade, afirmando que “como vida religiosa somos construtores desta mudança que não pode ser adiada”. Reflexão desde a dimensão pessoal, como eu me preparo para a pandemia, se questionava a irmã Maria Inês. Fazia isso a partir do sofrimento das pessoas, de pessoas próximas, conhecidas, denunciando “os desmandos intoleráveis do governo do nosso país, é triste ver que o povo está pagando com a vida as irresponsabilidades dos nossos governos”, criticando a falta de planejamento governamental e o negacionismo, uma atitude presente inclusive entre os religiosos, segundo a presidenta da CRB, “que nos machuca muito, porque vemos que há pessoas que estão surdas, cegas e mudas”. Ela definia o momento atual como “o tempo de cuidar”, de nos focarmos no essencial, lembrando que no carisma de muitos fundadores está o chamado a “ser uma resposta onde a vida mais clama”.   A religiosa citava exemplos concretos, como Frei Mariano, o jovem franciscano que trabalhava no Barco Hospital Papa Francisco, no Estado do Pará, e que faleceu vítima da Covid-19; o testemunho da vida religiosa em Roraima, onde todas as comunidades, de 25 congregações, estão envolvidas de alguma maneira com os migrantes. O confinamento tem sido “oportunidade para compreender melhor o nosso ser”, afirmava a irmã Maria Inês, percebendo a necessidade de “sermos mais coerentes, mais autênticas, mais radicais”, entendendo que estamos todos no mesmo barco, o que tem que nos levar a nos ajudarmos, refletindo sobre o que significa a vida em comunidade para a vida religiosa. A pandemia tem sido um tempo em que “estamos reaprendendo a viver a proximidade”, de valorizar o olhar, o sorriso, a escuta, de não deixarmos abater pela desesperança, pela tristeza, pelo negativismo. Um tempo para entender que o ritmo das coisas nem sempre é aquele que esperamos, com muitas coisas indo devagar, até paradas. Um tempo que a presidenta da CRB vê como “uma experiência pedagógica”, que transforme o chronos em kairós, que ajude a entender a sobriedade. Estamos ante um tempo de refletir e um tempo de agir, de se perguntar o que buscamos, de se colocar diante do Mistério.   Um chamado a profetizar e testemunhar, esse foi o chamado que fez à vida religiosa a irmã Márian Ambrósio, fazendo que “a nossa vida seja um mistério, seja um lugar onde as pessoas toquem e digam Deus existe, a esperança existe”. Ela falava de questões de fundo, que jamais podem ser esquecidas na Vida Religiosa, “a nossa identidade e o nosso significado”, neste tempo de pandemia, o que a Vida…
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CPT realiza sua 33ª Assembleia Geral e reelege Dom Ionilton como vice-presidente

  Em modo virtual, com a participação de 77 delegados e delegadas, a Comissão Pastoral da Terra – CPT, realizava de 6 a 8 de abril sua 33ª Assembleia Geral. Foram discutidas as prioridades de ação da Pastoral para os próximos três anos e, também, foram eleitas a nova diretoria e coordenação executiva nacional da entidade. Dom José Ionilton Lisboa de Oliveira, bispo da Prelazia de Itacoatiara, continuará sendo o vice-presidente. Num cenário marcado pela pandemia da Covid-19, a análise da conjuntura marcou o início das atividades, determinada pelo cenário político e social, fortemente influenciado pelo avanço ultraliberal, que no Brasil se faz realidade no avanço do agronegócio, celeiro de futuras pandemias e causa de precarização das condições de trabalho no campo. Diante disso o desafio é encontrar sinais de esperança. As prioridades da CPT para o próximo triênio serão: apoiar a luta pela terra e território, águas, alimento, biodiversidade, pela autonomia e pela proteção, comprometidos e comprometidas com o combate aos impactos ao meio ambiente, diante da crise global que vivemos; aprimorar estratégias e práticas de formação, comunicação e articulação, em especial no trabalho com as mulheres e jovens, no combate à violência de gênero e sexualidade, bem como reforçar o autocuidado e segurança nesses casos; e adequar a estrutura organizativa da CPT aos desafios da realidade atual, fortalecendo setores e funções imprescindíveis, garantindo sua sustentabilidade. Para o período de 2021 a 2024 foram reeleitos para a direção nacional da CPT, como presidente Dom André de Witte, bispo emérito de Ruy Barbosa (BA), e como vice-presidente, Dom José Ionilton, bispo de Itacoatiara (AM). Para a coordenação executiva nacional, foi reeleita Isolete Wichinieski, da CPT Goiás, e eleitos José Carlos Lima, da CPT Alagoas; Ronilson Costa, da CPT Maranhão e Andréia Silvério, da CPT Pará. Dom José Ionilton afirma que “é uma alegria poder me colocar ao serviço desse trabalho tão importante na igreja, que é o trabalho em defesa da terra e das águas, em defesa dos pequenos agricultores, dos ribeirinhos, dos quilombolas, para que eles possam ter o direito à terra e à água preservados e não sejam prejudicados pelo olho grande”. O bispo de Itacoatiara destacava a importância da luta pela terra, que é parte da missão da CPT. O bispo se diz disposto a colaborar naquilo que é possível com o presidente, também reeleito, Dom André de Witte. Ele destaca a importância de contar com mais bispos para esse trabalho da CPT. Para isso, tanto Dom Ionilton como Dom André vão falar na próxima Assembleia da CNBB, que acontecerá de 12 a 16 de abril, mostrando “a importância do apoio que cada bispo, na sua diocese, prelazia, arquidiocese, deve dar à Comissão Pastoral da Terra, e em cada regional”. O bispo de Itacoatiara espera “poder contar com o apoio dos meus irmãos no episcopado no Regional Norte 1, para a gente avançar com a presença da CPT em todas nossas dioceses e prelazias, e na nossa Arquidiocese de Manaus onde já vem funcionando”. No final da Assembleia foi lançada uma carta onde foi manifestada “nossa solidariedade às famílias das mais de 340 mil vítimas da pandemia da Covid-19, em consequência, principalmente, da ação criminosa de um governo genocida, que calculadamente não tomou em tempo as medidas eficazes para impedir este morticínio diário e crescente”. A carta denuncia que “a crise sanitária atual está profundamente relacionada à crise ambiental”, o que tem como consequência, que a nossa Casa Comum “dá crescentes sinais de cansaço e esgotamento”, o que ameaça com “outras pandemias, mais avassaladoras, estão decretadas, se não mudarmos esse sistema”. O texto também denuncia os efeitos trágicos da pandemia sobre os pobres, da necropolítica e do desmonte das políticas públicas, ao tempo que repudia a violência estatal e privada, apoiada por setores do judiciário. A CPT denuncia a postura conivente do Congresso Nacional e das igrejas fundamentalistas, vendo tudo isso como um desafio e um chamado ao compromisso e a retomar o trabalho de base, tendo como base “a esperança, nesse tempo de desesperança”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1