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Cientistas de diferentes países entregam ao Sínodo, “marcos científicos para salvar a Amazônia”

Por Pe. Luis Miguel Modino “A Amazônia, a maior floresta tropical do mundo, está em grande risco de destruição e, com esta, o bem-estar da nossa e das gerações futuras”. Essas palavras servem como ponto de partida do documento preparado por um grupo de cientistas dos países amazônicos e parceiros globais, datado de 30 de setembro, com o título de “Marcos Científicos para Salvar a Amazônia”, divulgada em 9 de outubro, e que tem como objetivo auxiliar as discussões da assembleia sinodal do Sínodo para a Amazônia. O documento, assinado por 44 especialistas, afirma que “a Amazônia possui uma imensa diversidade natural, cultural e única”, enfatizando que “é o maior repositório de biodiversidade do mundo”, sobre o qual são fornecidos dados específicos e detalhados, referidos por Carlos Nobre, Prêmio Nobel em 2007, e um dos signatários do documento, no briefing que acontece todos os dias no Vaticano. Uma das conclusões do documento é que “hoje, porém, a Amazônia e seus habitantes estão ameaçados de extinção. Sua agonia representa uma ameaça dramática ao bem-estar humano”, o que é uma novidade porque, durante anos, “os países Amazônicos agiram com perseverança e coragem para preservar sua riqueza natural e cultural”, o que resultou em territórios indígenas e áreas protegidas, especialmente no Brasil, que hoje se tornou um dos países cujo governo se posiciona mais explicitamente contra os povos originários. Tudo isso em favor dos grandes vilões do desmatamento, uma das grandes ameaças da Amazônia, como a “expansão da pecuária ineficiente, da agricultura de baixa produtividade e mineração”, para as quais estradas, desenvolvimento de petróleo e gás, invasões ilegais, represas ou desmatamento, que em 2019 aumentou dramaticamente com os incêndios, que nos primeiros oito meses de 2019, apenas no Brasil, estimam ter atingido 87.000, dos quais 45.000 estão na Amazônia, de acordo com o documento. Isso resultou em “o mundo inteiro manifestou, com razão, preocupação”, passando a se qualificar como “emergência crônica”, o que exige, na opinião dos signatários, “uma estratégia sistemática urgente, e de longo prazo, para a prevenção, como parte de um plano de desenvolvimento sustentável para a região Amazônica”, que se tornaria um dos objetivos do Sínodo para a Amazônia, novos caminhos para uma ecologia integral. O documento fala de “impactos sociais”, que são especificados no aumento de homicídios, tráfico de drogas, grande sofrimento para as populações, através do tráfico de pessoas, trabalho forçado e assassinatos. Ele também faz uma declaração que parece não preocupar os detentores de poder político e econômico, “a Amazônia como um todo está perto do ponto de inflexão para seu colapso”. De fato, o documento observa que ” a segurança hídrica e energética, a produtividade agrícola, a segurança alimentar e a biodiversidade” estão sendo ameaçadas. O texto faz referências à Encíclica Laudato Si’, que fala de uma “dívida ecológica” com a Amazônia, uma consequência de más práticas históricas. Essa é uma manifestação de “uma globalização da indiferença”, que se traduz em “tráfico de seres humanos, escravidão moderna, trabalho forçado, prostituição e tráfico de órgãos”. Os cientistas que prepararam o documento, fizeram algumas recomendações, dirigiram-se “a governos, empresas, sociedade civil e povos de boa fé em todos os lugares, para que se juntem em um esforço comum em prol da humanidade e da Terra hoje e no futuro”. Essas propostas estão incorporadas em nove princípios, que falam de respeito à soberania nacional, dignidade e direitos dos povos, ajuda internacional, atenção ao conhecimento científico e tradicional, monitoramento, controle de recursos locais, reflexão e busca de caminhos alternativos para o desenvolvimento sustentável. Junto com isso, eles desenvolveram um arcabouço científico de onze pontos, que se refere ao controle de incêndios florestais, fim do desmatamento, apoio a agências de monitoramento, controle de impactos ambientais causados pelas infraestruturas, reativação e expansão do Fundo Amazônia, proteção de todos os povos e comunidades de todas as ameaças, controle do respeito pela sustentabilidade dos elementos da produção e, finalmente, proteção e expansão do monitoramento científico em tempo real das condições da floresta amazônica. O documento é um bom elemento para ajudar no trabalho da assembleia sinodal, bem como uma boa contribuição de dados que podem ajudar diferentes participantes em suas reflexões. Junto com isso, o documento do Sínodo poderá encontrar neste documento uma boa fonte de dados para sua elaboração, do ponto de vista técnico e científico. Veja aqui a íntegra do documento Marcos Científicos para Salvar a Amazônia.Leia abaixo as propostas do documento. “Nós, cientistas da Amazônia e cientistas que estudamos a Amazônia, apresentamos nossas recomendações com um apelo a governos, empresas, sociedade civil e povos de boa fé em todos os lugares, para que se juntem em um esforço comum em prol da humanidade e da Terra hoje e no futuro”, escreveram os autores do documento. Veja os 11 pontos para se preservar a Amazônia: 1. Ações imediatas e urgentes para deter a propagação de incêndios florestais e controlá-los através de intervenções científicas e técnicas de monitoramento. Ações imediatas e urgentes para prevenir a degradação florestal e apoiar atividades estratégicas de restauração. 2. O fim imediato de todas as mudanças de uso da terra e do desmatamento legal e ilegal nas florestas tropicais em todos os países da Amazônia. Isso deve incluir a extração de madeira, mineração, agricultura e pecuária sob as legislações nacionais existentes. Também deve-se considerar a retirada de subsídios e outros incentivos indiretos para atividades predatórias, restringindo o acesso a crédito público e assistência internacional dos desmatadores ilegais e das empresas que se beneficiam diretamente ou compram de áreas desmatadas ilegalmente na Amazônia. 3. Um retorno do financiamento total para todas as agências nacionais de fiscalização e monitoramento. Não pode haver sustentabilidade sem o estímulo ao cumprimento das leis ambientais. 4. Promover a gestão baseada em evidências através do estabelecimento imediato de um “Painel de Ciência para a Amazônia” (PCA). Formas de conhecimento locais, tradicionais e indígenas devem ser integradas ao PCA. 5. Um relatório será produzido pelo PCA, até julho de 2020, com métricas, marcos e diretrizes detalhados para o gerenciamento sustentável da Amazônia, com base em…
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Encontro para Coordenadores da Infância e Adolescência Missionária no Distrito de Vila Cândida

No mês em que vivenciamos com profunda alegria, oração e esperança os dois momentos  da nossa  Igreja: o Mês  Missionário Extraordinário e Sínodo para Amazônia, no Distrito de Vila Cândida-Barreirinha aconteceu o primeiro Encontro para Coordenadores da Infância e Adolescência Missionária (ECIAM) que contou com a participação de 35 missionários e missionárias, vindos das regiões próximas como Cametá, Santa Maria e Barreirinha. O Padre Irineu, pároco em Barreirinha, participou todo o tempo das formações, assim como as Irmãs da Caridade,residentes em Barreirinha. Na missa de encerramento, após enviar as cunhantãs e curumins missionários, P. Irineu comunicou que os assessores, Jairo e Alciene serão referências das áreas, para animar e implantar a Infância e Adolescência Missionária (IAM), em todas as comunidades pertencentes à paróquia. Pois, ele acredita na obra e tem o desejo de reunir todos, que um dia fizeram a sua consagração e hoje não participam, para formar a juventude missionária,  famílias missionárias e “porque não os idosos missionários?” Fica o compromisso de continuar contribuindo com as formações, com os materiais; e a gratidão por mais uma significativa e bela experiência com IAM. De todas as crianças e adolescentes do mundo?! Sempre amigos!   Ir. Carla Danielle – Coordenadora do Conselho Missionário Regional (COMIRE) do Regional Norte 1

Homilia – Missa de Abertura do Sínodo para a Amazônia

Fonte:  Vaticano O apóstolo Paulo, o maior missionário da história da Igreja, ajuda-nos a «fazer Sínodo», a «caminhar juntos»; parece dirigido a nós, Pastores ao serviço do povo de Deus, aquilo que escreve a Timóteo. Começa dizendo: «Recomendo-te que reacendas o dom de Deus que se encontra em ti, pela imposição das minhas mãos» (2 Tm 1, 6). Somos bispos, porque recebemos um dom de Deus. Não assinamos um acordo; colocaram-nos, não um contrato de trabalho nas mãos, mas mãos sobre a cabeça, para sermos, por nossa vez, mãos levantadas que intercedem junto do Senhor e mãos estendidas para os irmãos. Recebemos um dom, para sermos dons. Um dom não se compra, não se troca nem se vende: recebe-se e dá-se de prenda. Se nos apropriarmos dele, se nos colocarmos a nós no centro e não deixarmos no centro o dom, passamos de Pastores a funcionários: fazemos do dom uma função, e desaparece a gratuidade; assim acabamos por nos servir a nós mesmos, servindo-nos da Igreja. Ao passo que a nossa vida, dom recebido, é para servir. No-lo recorda o Evangelho, que fala de «servos inúteis» (Lc 17, 10); expressão esta, que pode querer dizer também «servos sem fins lucrativos». Por outras palavras, não trabalhamos para obter lucro, um ganho nosso, mas, sabendo que gratuitamente recebemos, gratuitamente damos (cf. Mt 10, 8). Colocamos toda a nossa alegria em servir, porque fomos servidos por Deus: fez-Se nosso servo. Queridos irmãos, sintamo-nos chamados aqui para servir, colocando no centro o dom de Deus. Para sermos fiéis a esta chamada, à nossa missão, São Paulo lembra-nos que o dom deve ser reaceso. O verbo usado é fascinante: reacender, no original, significa literalmente «dar vida a uma fogueira» [anazopurein]. O dom que recebemos é um fogo, é amor ardente a Deus e aos irmãos. O fogo não se alimenta sozinho; morre se não for mantido vivo, apaga-se se a cinza o cobrir. Se tudo continua igual, se os nossos dias são pautados pelo «sempre se fez assim», então o dom desaparece, sufocado pelas cinzas dos medos e pela preocupação de defender o status quo. Mas «a Igreja não pode de modo algum limitar-se a uma pastoral de “manutenção” para aqueles que já conhecem o Evangelho de Cristo. O ardor missionário é um sinal claro da maturidade de uma comunidade eclesial» (BENTO XVI, Exort. ap. pós-sinodal Verbum Domini, 95). Porque a Igreja está sempre em caminho, sempre em saída; nunca fechada em si mesma. Jesus veio trazer à terra, não a brisa da tarde, mas o fogo. O fogo que reacende o dom é o Espírito Santo, dador dos dons. Por isso, São Paulo continua: «Guarda, pelo Espírito Santo que habita em nós, o precioso bem que te foi confiado» (2 Tm 1, 14). E antes escrevera: «Deus não nos concedeu um espírito de timidez, mas de fortaleza, de amor e de prudência» (1, 7). Não um espírito de timidez, mas de prudência. Alguém pode pensar que a prudência seja a virtude «alfândega», que, para não errar, faz parar tudo. Mas não! A prudência é virtude cristã, é virtude de vida; mais, é a virtude do governo. E Deus deu-nos este espírito de prudência. Em oposição à timidez, Paulo coloca a prudência. Que é, então, esta prudência do Espírito? Como ensina o Catecismo, a prudência «não se confunde com a timidez ou o medo», mas «é a virtude que dispõe a razão prática para discernir, em qualquer circunstância, o nosso verdadeiro bem e para escolher os justos meios de o atingir» (n. 1806). A prudência não é indecisão, não é um comportamento defensivo. É a virtude do Pastor que, para servir com sabedoria, sabe discernir, sensível à novidade do Espírito. Então, reacender o dom no fogo do Espírito é o oposto de deixar as coisas correr sem se fazer nada. E ser fiéis à novidade do Espírito é uma graça que devemos pedir na oração. Ele, que faz novas todas as coisas, nos dê a sua prudência audaciosa; inspire o nosso Sínodo a renovar os caminhos para a Igreja na Amazónia, para que não se apague o fogo da missão. O fogo de Deus, como no episódio da sarça ardente, arde mas não consome (cf. Ex 3, 2). É fogo de amor que ilumina, aquece e dá vida; não fogo que alastra e devora. Quando sem amor nem respeito se devoram povos e culturas, não é o fogo de Deus, mas do mundo. Contudo quantas vezes o dom de Deus foi, não oferecido, mas imposto! Quantas vezes houve colonização em vez de evangelização! Deus nos preserve da ganância dos novos colonialismos. O fogo ateado por interesses que destroem, como o que devastou recentemente a Amazônia, não é o do Evangelho. O fogo de Deus é calor que atrai e congrega em unidade. Alimenta-se com a partilha, não com os lucros. Pelo contrário, o fogo devorador alastra quando se quer fazer triunfar apenas as próprias ideias, formar o próprio grupo, queimar as diferenças para homogeneizar tudo e todos. Reacender o dom; receber a prudência audaciosa do Espírito, fiéis à sua novidade; São Paulo faz uma última exortação: «Não te envergonhes de dar testemunho (…), mas compartilha o meu sofrimento pelo Evangelho, apoiado na força de Deus» (2 Tm 1, 8). Pede para testemunhar o Evangelho, sofrer pelo Evangelho; numa palavra: viver para o Evangelho. O anúncio do Evangelho é o critério primeiro para a vida da Igreja: é a sua missão, a sua identidade. Mais adiante, Paulo escreve: «Estou pronto para oferecer-me como sacrifício» (4, 6). Anunciar o Evangelho é viver a oferta, é testemunhar radicalmente, é fazer-se tudo por todos (cf. 1 Cor 9, 22), é amar até ao martírio. Agradeço a Deus por haver no Colégio Cardinalício alguns irmãos Cardeais mártires, que provaram, na vida, a cruz do martírio. De facto, como assinala o Apóstolo, serve-se o Evangelho, não com a força do mundo, mas simplesmente com a força de Deus: permanecendo sempre no amor humilde, acreditando que a única maneira de possuir…
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Iniciado o Sínodo: O maior missionário da história da Igreja, ajuda-nos a ‘fazer Sínodo’, a ‘caminhar juntos’

Fonte: Site Repam Brasil Com uma liturgia presidida pelo Papa Francisco, na Basílica de São Pedro, no Vaticano, teve início na manhã desse domingo (6), o Sínodo dos Bispos,  Assembleia Especial para a Região Pan-Amazônica. Participaram da missa todos os padres sinodais, peritos e auditores convocados para a atividade, além de lideranças de comunidades tradicionais, pastorais e movimentos da região  da Pan-Amazônia que estão em Roma. Já no início da homilia, o Papa recordou aos bispos o sentido do Sínodo, retomando a imagem de São Paulo. “O apóstolo Paulo, o maior missionário da história da Igreja, ajuda-nos a «fazer Sínodo», a «caminhar juntos»”, afirmou o bispo de Roma. Para Francisco, o Dom do Amor oferecido por Deus é fogo ardente para a missão. “O fogo de Deus, como no episódio da sarça ardente, arde mas não consome (cf. Ex 3, 2). É fogo de amor que ilumina, aquece e dá vida; não fogo que alastra e devora”, disse Francisco. “Quando sem amor nem respeito se devoram povos e culturas, não é o fogo de Deus, mas do mundo. Contudo quantas vezes o dom de Deus foi, não oferecido, mas imposto! Quantas vezes houve colonização em vez de evangelização! Deus nos preserve da ganância dos novos colonialismos”, alertou o papa durante a homilia. Ir. Maria Irene Lopes, diretora executiva da REPAM-Brasil e assessora da Comissão Episcopal Especial para a Amazônia da CNBB, é uma das auditoras convocadas para o Sínodo e participou da celebração de abertura. “A Basílica de São Pedro estava repleta de cores, de pessoas com rostos diferentes, rostos indígenas, quilombolas, ribeirinhos e tantos outros povos que participavam da celebração”, destacou Ir. Irene. Pe. José Boing, da Sociedade do Verbo Divino, também padre sinodal, diz ter sido um momento de muita emoção a celebração de abertura do Sínodo. “Me senti emocionado ao ver o carinho como o papa fez o seu grande destaque na homilia sobre o fogo do amor”, destacou o missionário. Após a missa, lideranças das comunidades tradicionais, peritos e auditores do Sínodo, na praça São Pedro, entoaram cantos e realizaram danças, num clima festivo de celebração pela abertura da assembleia.

Bispo de Roraima visita comunidades indígenas da Raposa Serra do Sol

Na Comunidade Popó – Foto: Karina de Carvalho Inauguração de Igrejas, batizados, casamentos e crisma marcaram os quatro dias da visita de Dom Mário Antônio da Silva a comunidades indígenas da Raposa Serra do Sol Por Karina de Carvalho Sete comunidades indígenas da Raposa Serra do Sol receberam a visita do bispo diocesano de Roraima, Dom Mário Antônio da Silva, entre os dias 26 a 29 de setembro. Uma comitiva missionária de 24 pessoas, formada por padres Missionários da Consolata, leigas missionárias vindas de Manaus e Boa Vista, e lideranças das comunidades indígenas, acompanhou o bispo nas visitas, onde estavam programadas dedicações do altar de igrejas, inauguração de um auditório e de um malocão, batizados, casamentos e crisma. Em todas as comunidades visitadas (Maturuca, Caxirimã, Popó, Wilimon Tabatinga, Enseada e São Mateus), os missionários foram acolhidos pelas lideranças, pelo Tuxaua (o cacique) e pelas crianças e jovens, que cantavam e dançavam, vestidas com trajes típicos. A primeira atividade programada para Dom Mário Antônio foi a inauguração do auditório “Ou vai ou racha”. Um lugar construído ao lado da Igreja na Missão Maturuca, para ser um espaço de reuniões e encontros. O nome do auditório recorda a decisão histórica de 26 de abril de 1977, quando os líderes indígenas, chamados de Tuxauas, reuniram-se e tomaram uma decisão: “não à bebida alcoólica e sim à comunidade”. Na época, muitos indígenas, inclusive lideranças, estavam se perdendo no álcool e causando muitos problemas para a família e a comunidade, o que causava o enfraquecimento da própria comunidade indígena, ameaçada pelos fazendeiros e garimpeiros. Tal decisão, que é renovada ainda hoje, foi um marco na história das comunidades indígenas da Raposa Serra do Sol. Inclusive, a homologação das terras, ocorrida em 2005, só foi possível graças a união, organização e fortalecimento das lideranças indígenas. Tal união é simbolizada por um feixe de varas, significa que uma vara sozinha é facilmente quebrada, mas se estiver atada a outras é impossível de se quebrar. Comunidade do Caxirimã – Foto: Karina de Carvalho A comunidade do Caxirimã acolheu os missionários com júbilo, inclusive vestindo Dom Mário com trajes indígenas: um cocar, uma saia de palha e um cajado com chocalhos. A Igreja Nossa Senhora das Graças, no alto da colina, foi inaugurada e teve seu altar ungido. Na missa também foram batizadas oito crianças e dois casais celebraram o matrimônio. Em sua homilia, Dom Mário afirmou que ali naquela colina onde está construída a Igreja, Jesus continua a dizer as páginas do Evangelho das Bem-Aventuranças: “Aqui Jesus não teria dificuldade de sentar conosco e dizer: bem aventurados os pobres de espírito, bem aventurados os que lutam por justiça, bem aventurados os que cuidam das crianças, dos jovens e adolescentes, bem aventurados aqueles que cuidam dos adultos e dos idosos, bem aventurada a comunidade do Caxirimã, bem aventuradas as populações das terras indígenas da Raposa Serra do Sol, bem aventurada a Diocese de Roraima e a nossa Amazônia”, afirmou. As igrejas de São Miguel Arcanjo, na comunidade do Popó, e Nossa Senhora de Nazaré, na comunidade Tabatinga, também foram inauguradas e tiveram seus altares ungidos. Nas celebrações, antes de entrar na Igreja, Dom Mário fazia a aspersão com água benta e, junto com a comunidade, dava três voltas ao seu redor incensando com o Maruai, uma espécie de resina extraída das árvores da região. As comunidades indígenas da região da Raposa Serra do Sol estão divididas em 9 centros: Maturuca, Wilimon, Morro, Pedra Branca, São Mateus, Caraparu, Carapanã, Pedra Preta e Campo Formoso. Cada um deles abrange diversas comunidades indígenas de etnias: Macuxi, Wapichana, Patamona, Igarico, Tauripang. No centro Wilimon, na manhã do sábado, 28, foi inaugurado e celebrada uma missa no novo malocão Kamarakko. Mesmo com uma chuva intensa e constante, num breve momento de estiagem, o bispo e toda a comunidade fizeram a procissão subindo o morro, escorregadio devido a terra molhada. Ao chegar lá, Dom Mário abençoou a água e aspergiu o novo malocão e também as maloquinhas, onde acontecia uma feira de artesanatos. O bispo tirou as sandálias, atoladas pelo barro, e presidiu a missa com os pés no chão. Durante a homilia, fez uma alusão ao texto bíblico da criação do ser humano, brincando: “Deus deve ter usado um pouco de barro aqui do Wilimon para criar Adão e Eva”. Missa no Malocão – Foto: Karina de Carvalho O malocão é um espaço importante para as comunidades indígenas, lugar de reuniões, tomada de decisões, eventos, comemorações. O teto é feito de palhas de Buriti e os caibros com a madeira de várias árvores. O nome Kamarakko significa “casa de caba” (caba: marimbondo ou vespa), insetos que vivem unidos, onde se mexer com um, todos irão atacar. Trazendo esse significado, Dom Mário afirmou: “essa é a casa da união e do compromisso”. No domingo de manhã, 29, a comunidade da Enseada recebeu, pela primeira vez, Dom Mário Antônio e celebrou a crisma de 83 jovens. “A Paz de Cristo e bom domingo”, foram as primeiras palavras pronunciadas pelo bispo à comunidade. Os jovens crismandos estavam vestidos com uma camiseta vermelha estampada na frente com os dons do Espírito Santo e atrás com o nome da comunidade e a logo da CNBB. Dom Mário agradeceu e elogiou a homenagem inédita aos bispos do Brasil, por colocarem a logo da Conferência na camiseta. Sua homilia foi voltada para a juventude, convidando-os a serem o melhor que puderem para Deus, a comunidade e a sociedade. O bispo pediu ainda um presente para a comunidade: um padre para a Diocese de Roraima, e exortou os jovens a buscarem e assumirem a sua vocação cristã. Ao final da celebração, seu Jacir José de Souza, uma das lideranças mais importantes da região, convocou os jovens para lerem e assumirem o compromisso de “não às bebidas alcoólicas e sim à comunidade”. A última comunidade a ser visitada foi São Mateus, onde aconteceu a inauguração da Igreja Sagrada Família, a celebração de três casamentos e 32 batizados. Após cada celebração, as comunidades…
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ARTIGO: O perigo da Globalização da indiferença

A Palavra de Deus neste 26º domingo do tempo comum, alerta-nos contra o pecado da indiferença diante do sofrimento humano. Na primeira leitura, o profeta Amós fala em nome de Deus e nos adverte: “Ai daqueles que são despreocupados … não se preocupam com a ruína de José” (6, 1a – 6). No Evangelho (Lucas 16, 19-31), temos Jesus que nos conta a parábola do rico e do pobre Lázaro. O homem rico era indiferente às necessidades do pobre e enfermo Lázaro. O Papa Francisco, em sua mensagem para o Dia Mundial dos Migrantes 2019, fala-nos sobre uma “globalização da indiferença”. Foi essa indiferença que levou o homem rico ao inferno. O homem rico, do inferno, pede ajuda: “Pai Abraão tem pena de mim” (v. 24). Mas foi dito a ele que o tempo de mudar, de converter-se, é agora, quando estamos ainda neste mundo. Aproveitemos deste alerta de Jesus por meio desta parábola e avaliemo-nos diante de Deus, como estamos vivendo o amor, a solidariedade com os pobres e excluídos dos bens necessários para viver dignamente, onde vivemos e em outros lugares do mundo. Devemos ser como Deus é, como nos apresenta o Salmo 145, Salmo Responsorial deste domingo: Deus faz justiça aos que são oprimidos, dá alimento aos famintos, liberta os cativos, ergue o caído, protege o estrangeiro, ampara a viúva e o órfão. Ou seja, nosso Deus é um Deus amor, Deus solidariedade. Acolhamos, também, o convite de Paulo na primeira carta a Timóteo: “Foge das coisas perversas, procura a justiça, a piedade, a fé, o amor, a firmeza e a mansidão” (6, 11). Assim sendo e fazendo, ajudaremos a construir o Reino de Deus já neste mundo, tornando-o mais fraterno e bom de se viver. Para o Dia Mundial dos Migrantes, que celebramos hoje, último domingo de setembro, o Papa Francisco escolheu o tema “Não se trata apenas de migrantes”. Este tema mostra nossas fraquezas e garante que ninguém deve ser deixado de fora da sociedade, seja ele um cidadão residente de longa data ou um recém-chegado. Gostaria de transcrever parte da reflexão do Papa Francisco em sua mensagem: 1. Não se trata apenas de migrantes: trata-se, também, de nossos medos. A violência e a maldade de nosso tempo aumentam “nosso medo” dos outros, dos desconhecidos, dos marginalizados, dos estrangeiros. 2. Não se trata apenas de migrantes: trata-se de nossa humanidade. A compaixão toca as cordas mais sensíveis da nossa humanidade, causando um impulso urgente de “fazer-se próximo” de quem vemos em dificuldade. 3. Não se trata apenas de migrantes: trata-se de não excluir ninguém. A “Igreja em saída” sabe tomar a iniciativa, sem medo de andar ao encontro, procurar quem está longe e chegar aos cruzamentos das estradas para convidar os excluídos. 4. Não se trata apenas de migrantes: trata-se de colocar os últimos em primeiro lugar. E quantos últimos temos em nossa sociedade! Entre eles, penso, sobretudo, nos migrantes, com o peso das dificuldades e do sofrimento que enfrentam todos os dias na busca, às vezes desesperada, de um lugar para viver em paz e com dignidade. A resposta ao desafio colocado pelas migrações de nossos dias, pode ser resumida em quatro verbos: acolher, proteger, promover e integrar. Mas estes verbos não se aplicam apenas aos migrantes e refugiados. Expressam a missão da Igreja para com todos os habitantes das periferias existenciais, que devem ser acolhidos, protegidos, promovidos e integrados. Se colocarmos esses verbos em prática, contribuiremos para a construção da cidade de Deus e do homem, promoveremos o desenvolvimento humano integral de todas as pessoas e ajudaremos, também, a comunidade mundial a se aproximar dos objetivos do desenvolvimento sustentável que foram estabelecidos. Dom José Ionilton Lisboa de Oliveira, SDVPrelazia de Itacoatiara – Amazonas

Comissão para o Enfrentamento ao Tráfico Humano aposta em articulação regional

Foto: CNBB/Luiz Lopes Jr Articulação é a palavra forte no planejamento da Comissão Especial Pastoral para o Enfrentamento ao Tráfico Humano da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Reunidos na Casa de Retiros Assunção, em Brasília (DF), nestes dias 24 e 25 de setembro, os membros partilharam sobre o trabalho desenvolvido pelos grupos representados, pensaram em sugestões para levar ao Sínodo para a Amazônia, elaboraram contribuições para a continuidade do trabalho e indicaram pistas para fortalecer a relação com redes que atuam na realidade do tráfico de pessoas e da migração. “A comissão agora está em processo de rearticulação para ter uma incidência maior em nível nacional e também nos regionais da CNBB, nas Pastorais Sociais, nas fronteiras, com alguns enfoques específicos, como as crianças, adolescentes, jovens, as mulheres”, resumiu o bispo da prelazia de Marajó (PA), dom Evaristo Spengler, que a partir de novembro assumirá a presidência da Comissão. A busca de maior incidência está no horizonte de atuação do grupo que atua na prevenção ao tráfico humano, na incidência política e na denúncia e responsabilização dos culpados. De acordo com a irmã Eurides Alves de Oliveira, representante da Rede Um Grito Pela Vida, o contexto atual apresenta aumento na mobilidade humana com fluxos intensos, “a miséria bate à porta com muita força” e as crianças são as maiores vítimas. Irmã Eurides | Foto: CNBB/Luiz Lopes Jr Neste “cenário desolador”, o papel da Comissão é dar visibilidade às realidades, sobretudo nos processos de evangelização da Igreja, “que muitas vezes são doutrinários, catequéticos, mas não abordam essas questões”, aponta a religiosa. A ideia é fazer uma sensibilização eclesial para os diversos organismos e pastorais pautarem essas problemáticas, para que alertem a sociedade e deem visibilidade. O grupo deve se empenhar para descobrir iniciativas que existem nos regionais e tentar agregar força para uma atuação mais efetiva em rede, além de buscar ter uma palavra profética diante dos desmontes das políticas públicas e também incentivando as denúncias. Na dinâmica da “chuva de ideias”, facilitada pela consultora Rogenir Costa, os membros da Comissão indicaram as realidades que devem ser tocadas pelas ações do grupo (veja abaixo), com reforço à questão da articulação e fortalecimento de iniciativas. Irmã Marie Henriqueta | Foto: CNBB/Luiz Lopes Jr Para irmã Marie Henriqueta Cavalcante, da Comissão Justiça e Paz do Regional Norte 2 da CNBB, estas proposições consideram que o tráfico de pessoas “é um crime extremamente organizado, silencioso, invisível”. “Então nós pensamos que nos regionais a gente ainda precisa falar muito mais desse tema em outros espaços e articular e fortalecer a Comissão nos outros regionais”. Irmã Marie também pontua para a necessidade de incidir politicamente e integrar os trabalhos que já existem nas áreas de fronteira. Sínodo para a Amazônia A Comissão para o Enfrentamento ao Tráfico Humano da CNBB tem entre seus membros três participantes do Sínodo para a Amazônia convocados pelo Papa Francisco. Eles terão a oportunidade de reforçar a importância da temática na assembleia sinodal. Dom Evaristo | Foto: CNBB/Luiz Lopes Jr Dom Evaristo reforça que o tema já está posto para o debate, uma vez que já está presente no documento de trabalho. “Nós queremos agora que haja algum compromisso formal no documento sinodal em relação a esta chaga humana que tem sido denunciada em todo o mundo”, afirma o bispo. Para o prelado, é importante dar relevo à questão do tráfico humano, da exploração sexual, do abuso sexual, “que é uma prática encontrada no Brasil inteiro, mas de modo especial a Amazônia sofre muito com isso”. “São corpos de crianças, adolescentes, meninas e meninos que são degradados, não são vistos como um ser humano, mas como um objeto de lucro, como objeto de prazer. E a pessoa humana tem que ser valorizada. E o sínodo vai dar uma palavra importante na defesa das crianças, adolescentes, na defesa da vida dos mais fragilizados”. Articulação com redes Para ao planejamento de 2020, a Comissão deverá aprimorar a relação com redes que já atuam no enfrentamento ao tráfico. “O grande desafio é esta articulação da Comissão com essas outras redes que já tem um trabalho de enfrentamento ao tráfico de pessoas em nível de Brasil. A gente tem fortalecido essas articulações com as redes que tem nas regiões de fronteira que já fazem um trabalho tanto de prevenção, de incidência política e relação com as redes que trabalham com os migrantes”, conta a irmã Rose Bertoldo, que atua na Rede Um Grito pela Vida e no Eixo de Fronteiras da REPAM. Entre as ações na parceria com as redes o grupo colabora na formulação de políticas públicas voltadas para a realidade da migração e do tráfico de pessoas, na formação de lideranças nos regionais e na articulação destes regionais com as redes locais que existem. Tudo isso tem sido promovido até o momento por meio de Seminário de formação e capacitação de lideranças. São algumas das redes que já atuam neste campo: Rede Clamor, do Conselho Episcopal Latino Americano; a REDEMIR, articulada pelo Instituto Migrações e Direitos Humanos para a realidade de Migrantes e Refugiados, o Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados, a rede da Tríplice Fronteira (Brasil, Peru e Colômbia), a rede internacional Thalita Kum, articulada pelas Superioras Gerais de congregações religiosas, além da REPAM entre outras. As prioridades da Comissão para os próximos anos: Incidência nos Regionais e nas pastorais sociais para uma agenda comum para enfrentamento ao tráfico de pessoas Inclusão da temática nas prioridades das Pastorais Sociais no plano 2019-2023 Articulação com as organizações que estão atuando com educação para sensibilização e prevenção Fortalecimento do papel de articulação da Comissão em todo o país Incidência política e profética na temática do enfrentamento ao tráfico de pessoas Aproximação das iniciativas nas fronteiras Dar ênfase ao tema do enfrentamento ao tráfico de pessoas na Semana Social Brasileira Ampliação da articulação entre organizações nacionais que atuam nos temas afetos à comissão em plano nacional e internacional Aproveitar o ambiente do Sínodo para incidência da temática Ampliação do olhar e do…
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“O Sínodo pode ajudar na passagem de uma sociedade colonialista para uma sociedade plural, que respeita a todos”.

Entrevista com Felício Pontes, Procurador Regional da República Por Pe. Luis Modino O Papa Francisco, em Laudato Si, diz que tudo está interligado, uma afirmação que se constata nas palavras de Felício Pontes, Procurador Regional da República. Nascido numa família de origem ribeirinha na Amazônia, ele é um dos grandes defensores dos povos da região, combatendo o modelo predatório que destrói o bioma amazônico e a vida de seus povos. Em virtude disso, ele foi convocado pelo Papa Francisco para fazer parte da assembleia do Sínodo para a Amazônia, que vai acontecer de 6 a 27 de outubro, no Vaticano. Para estranheza de alguns, “Nós estamos num caminho dentro da Igreja que coincide muito com caminho que a área jurídica está trilhando na Pan-Amazônia.”, afirma o procurador, numa tentativa de reconhecer a importância dos aportes das populações locais, depois de 500 anos de um modelo europeu. “A Igreja agora se deu conta de que não há como buscar um rosto amazônico sem levar em consideração aqueles pensamentos, tradições, a cultura, das sociedades que vivem na Amazônia”, algo que teve um impulso significativo com o Sínodo para a Amazônia. Na opinião de Felício Pontes, “se o Sínodo conseguir dar esse passo, de fazer com que as propostas que vieram da base sejam incorporadas pela Igreja Católica, o processo de transição de uma sociedade hegemônica e colonialista para uma sociedade plural, que respeita a todos, será mais célere”. Dentro do processo sinodal, o Procurador Regional da República destaca o processo de escuta, “que foi uma das coisas mais extraordinárias que se passou na Igreja nos últimos anos”, até o ponto de afirmar, “que desde o Concílio Vaticano II não se tem algo tão participativo dentro da Igreja”. O senhor sempre trabalhou na defesa dos povos da Amazônia desde seu trabalho como Procurador da República. O que significa para alguém que sempre trabalhou nisso e que além disso é cristão, católico, que agora a Igreja convoque um Sínodo para ter como foco principal a defesa da Amazônia e de seus povos?  Nós estamos num caminho dentro da Igreja que coincide muito com o caminho que a área jurídica está trilhando na Pan-Amazônia. Nós também recebemos o Direito europeu para ser implantado as Américas. Esse Direito não levou em consideração os povos originários. Ao contrário, era um Direito que no primeiro momento escravizou esses povos e promoveu o genocídio. Num segundo momento, esses povos foram tutelados, considerando que não tinham desenvolvimento mental suficiente para serem sujeitos de direito. Somente no fim do Século passado, é que a legislação, por luta dos povos da floresta, se deu conta de que todas essas pessoas são sujeitos de direitos, e possuem o direito à autodeterminação. Eles têm o direito de traçar os seus próprios destinos e não seus destinos serem traçados por outras pessoas. O Sínodo da Amazônia propõe uma nova relação da Igreja Católica para com os povos originários, comunidades quilombolas e demais povos e comunidades tradicionais que habitam a região. Esses novos ventos amazônicos encontram eco não apenas na Igreja Católica, como também nas instituições jurídicas, onde esse processo é chamado de interculturalidade. Em resumo, não se pode mais impor nossa cultura quando se está diante de uma cultura diferente. É necessário reconhecer a importância desses grupos minoritários para as decisões estatais. É necessário internalizar as diversas cosmovisões nas estruturas institucionais do Estado. É necessário valorizar o conhecimento desses grupos como dádiva à humanidade. Em verdade, trata-se da consagração do pluralismo político, que é a tal ponto importante no sistema jurídico brasileiro que a Constituição o elencou em seu artigo 1º como um dos fundamentos da República, ao lado da dignidade da pessoa humana. Nós estamos num caminho dentro da Igreja que coincide muito com caminho que a área jurídica está trilhando. Ela está pela primeira vez levando em consideração as opiniões, crenças, tradições e espiritualidade dos povos originários, dos povos e comunidades tradicionais. O Direito já deu passos à frente. Temos decisões judiciais hoje, tanto nos tribunais do Brasil, da Colômbia, do Peru, da Bolívia, como da Corte Interamericana de Direitos Humanos sobre a Pan-Amazônia que estabelecem que deve ser, antes de tudo, levado em consideração a opinião e os modos de vida dessas comunidades. Isso já é jurisprudência, não é só lei. Então, o que nós vivemos é um processo de transição. Foram quase 500 anos sobre uma mesma doutrina, que não levava em conta o direito e a opinião das comunidades que vivem na Amazônia, com maneiras muito peculiares de viver. A partir de agora se inicia um novo processo. Os povos da floresta têm direitos. E não se pode impor nada sem levar em consideração opiniões, crenças, tradições dessas comunidades que aqui moram. Mas de fato, a gente vê que desde muitos governos, essa política é considerada como um empecilho. O caso mais recente foi o que aconteceu no Equador com as petroleiras, que a justiça deu a razão aos povos indígenas contra o governo, e o governo prometeu rever essa decisão. Por que entre os governos da Pan-Amazônia, em geral, existe essa tentativa de tirar dos povos indígenas os direitos conquistados?  Estamos num tempo de transição. Nós ainda não consolidamos a nova doutrina, que eu chamo de doutrina pluralista, ou doutrina da autodeterminação dos povos. Há muitas pessoas ainda que consideram que os planos de desenvolvimento deveriam ser feitos apenas pelas pessoas que estão na cidade, ou que tiveram alguma educação formal dentro da universidade. Essas seriam as pessoas indicadas para isso, e as outras pessoas, outros saberes, não seriam levados em consideração. Trata-se de “colonialidade”. Os conquistadores europeus fizeram isso com os ameríndios. E, hoje, os neoconquistadores, pessoas do próprio país mesmo, fazem isso com a população amazônida. São, normalmente, oriundos de outras regiões desses países, que se sentem como únicos conhecedores dos processos de desenvolvimento. É um grave erro. Sei que não é fácil para aquelas pessoas que estudaram a vida toda no sentido de que é a sociedade hegemônica que deve estabelecer os projetos de desenvolvimento.…
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Comire realiza assembleia e elege nova coordenação

O Conselho Missionário Regional (Comire) do Regional Norte 1 realizou sua Assembleia anual nos dias 20 e 21 de setembro, com a presença de aproximadamente 25 pessoas das Igrejas do Alto Solimões, Tefé, Coari, Manaus, Borba, São Gabriel da Cachoeira, Roraima. O evento foi sediado no Centro de Treinamento Maromba, na Arquidiocese de Manaus. A programação iniciou dia 20 com a Eucaristia às 18he finalizou com a missa de envio no sábado, dia 21, às 18h, e partilhou-se os seguintes temas: o Mês Missionário Extraordinário; o Sínodo para a Amazônia; o programa Missionário Nacional; as notícias sobre o Congresso Missionário Nacional em 2022, a ser sediado em Manaus, o Congresso Missionário Americano (CAM VI) em 2023. No sábado, pela manhã, os missionários do Conselho Missionário dos Seminaristas (Comise), incluindo leigos e leigas, participaram da Assembleia e acompanharam o tema “A missão ad gentes e a territorialidade amazônica’, apresentado por padre Raimundo Gordiano, como parte do último momento formativo antes do envio à Semana Missionária de outubro (em Beruri, diocese de Coari). Houve a partilha das experiências missionárias das Igrejas locais e o envio da nova coordenação eleita para esse serviço: Irmã Carla Porfírio (coordenadora); Pe. Raimundo Gordiano (vice-coordenador); o jovem Alex – da Arquidiocese de Manaus (secretário); o seminarista Matheus (tesoureiro); e Pe. Marcelo Gualberto e Francinete (membros de apoio). Batizados e enviados, somos missão no mundo. Por Pe. Gordiano.

Seminários sobre o Tráfico Humano são celebrados na Amazônia

Por Pe. Luis Miguel Modino O combate à exploração sexual e ao tráfico de pessoas tem se tornado uma das prioridades da Igreja católica nos últimos anos, uma bandeira que tem no Papa Francisco um dos seus principais portadores. Com motivo do Dia Internacional contra a Exploração Sexual e o Tráfico de Mulheres e Crianças, que acontece todo 23 de setembro, tem acontecido diferentes seminários ao longo deste final de semana na Amazônia brasileira. Dentre eles cabe destacar o celebrado em Tabatinga e Manaus. Muitas vezes essa problemática é vista como algo distante, mas devemos nos questionar, se fosse alguém que você ama? uma pergunta que tem sido ponto de partida do 4º Seminário de Enfrentamento ao Tráfico de Mulheres e Crianças para fins de Exploração Sexual, organizado pela Arquidiocese de Manaus e a Rede um Grito pela Vida, com o apoio da Caritas Manaus, que contou com mais de cem participantes. Isso deve nos levar a assumir as palavras de Dom José de Albuquerque, bispo auxiliar de Manaus, que insistia em que “não podemos ficar indiferentes, temos que nos sensibilizarmos”. Para isso, o bispo fazia a proposta de que esses assuntos estejam “entrem nas pautas de nossas instituições e paróquias, são coisas que acontecem bem perto de nós”. No mesmo sentido, o coordenador de Pastoral da Arquidiocese, Padre Geraldo Bendaham, via a necessidade de “não tornar as pessoas mercadoria”, numa sociedade que não respeita a dignidade da pessoa. Por isso, se faz necessário segundo o padre, a importância de “descobrir os esquemas de exploração para denuncia-los”. Nessa luta, a Rede um Grito pela Vida, tem um papel em destaque. Dela faz parte a vida religiosa e, cada vez mais, um bom número de leigos e leigas, como afirmava a Ir. Rosineuda Rocha, que faz parte da coordenação do núcleo de Manaus. Falar de tráfico é dizer que essa é uma problemática além fronteiras, por isso a importância do Seminário da Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas da Tríplice Fronteira, que reuniu mais de 50 participantes do Peru, a Colômbia e o Brasil, os dias 20 e 21 de setembro, em Tabatinga – AM. Como também foi reconhecido em Manaus, Verónica Rubi, uma das coordenadoras da rede, mostrava aos presentes o que é o tráfico humano e como essa é uma realidade oculta, mas que merece nossa atenção, pois “se fechamos os olhos nos tornamos cúmplices”, o que levou os participantes a identificar as situações de morte presentes na região. Como entender uma sociedade de gente vendendo gente, perguntava a Ir. Eurides Alves de Oliveira na contextualização da realidade do tráfico humano. A religiosa definia o tráfico de mulheres e crianças com fins de exploração sexual como uma “mercantilização dos corpos e da dignidade”, afirmando que a pessoa se tornou mercadoria de consumo. Desde o ponto de vista histórico, numa perspectiva amazônica, a professora Iraildes Caldas Torres, enraizava essa realidade no tempo da conquista portuguesa, um tempo em que a exploração sexual das mulheres indígenas se tornou instrumento de dominação, assumido pelos próprios nativos, relatando situações de homens que oferecia suas filhas e inclusive suas esposas aos portugueses. Isso foi criando uma consciência de que a mulher não existe e que elas eram as culpadas da situação, o que desembocou em que atualmente muitas mulheres, vítimas dessa situação, não denunciem. A Igreja está desenvolvendo tanto em nível mundial como local o combate dessa realidade. A Seção Migrantes e Refugiados, que faz parte do Dicastério do Vaticano para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral, publicou Orientações Pastorais sobre o Tráfico de Pessoas, como apresentava a Irmã Rose Bertoldo, que em abril participou em Roma de um seminário sobre essa temática e que, coincidindo com a data deste seminário, tem sido nomeada auditora do Sínodo para a Amazônia pelo Papa Francisco, em consequência de seu trabalho e conhecimentos sobre o tráfico humano. Ela dizia que “nós mulheres somos quem mais cuidamos da vida na Amazônia, da vida humana e do meio ambiente”, questionando aos presentes com a pergunta: como é que o ser humano pode se satisfazer a partir da dor de outra pessoa? Ela denunciava que “muitas vítimas não confiam nas autoridades, na polícia, que muitas vezes acusa em vez de defender”. A religiosa fazia referência ao encontro que vai ser celebrado em Roma nesta semana em ocasião dos 10 anos da Rede Talitha Kum uma das muitas redes eclesiais que favorecem o trabalho de prevenção, se referindo ao trabalho da vida religiosa e da Cáritas nos programas de reintegração das vítimas do tráfico humano. Em nível local, a Igreja católica na região vem desenvolvendo um importante trabalho, como reconhecia Dom Edson Damian, presidente do Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, e bispo de São Gabriel da Cachoeira, destacando o grande trabalho da Rede um Grito pela Vida. Ele parabenizava as muitas mulheres presentes no seminário, de quem destacava sua coragem, que etimologicamente significa agir com o coração. O bispo falava da sua diocese, “uma região de fronteira onde tudo é permitido, onde tudo é possível”, recordando muitas palavras do Papa Francisco em referência ao tráfico e destacando um grande número de mulheres que estarão presentes na assembleia do Sínodo para a Amazônia, dentre elas várias representantes do combate a essa problemática. Nesse trabalho local, o Padre Geraldo Bendaham, destacava a importância da Campanha da Fraternidade de 2014, com o tema: Fraternidade e Tráfico Humano, que provocou um ampla ressonância dentro e fora da Igreja. Algumas consequências dessa campanha foi o Seminário Internacional celebrado em Manaus em 2015 ou o conteúdo da X Assembleia Pastoral da Arquidiocese, em 2018, que faz um planejamento para quatro anos, onde aborda essa questão ao falar sobre a superação da violência. Desde a Cáritas Arquidiocesana de Manaus estão se desenvolvendo, em parceria com a Rede um Grito pela Vida, ações de prevenção, sensibilização e combate ao tráfico humano, como relatava Rosivane Souza dos Anjos, psicóloga da instituição, especialmente a través do projeto Iça. Esse fenómeno “reveste-se de…
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