Lembrando que “a liturgia nos devolve à meditação o Evangelho de Marcos, depois de nos ter oferecido os textos extraordinários de São João que nos conduziram a Jesus e a fazermos com Pedro a confissão: ‘A quem iremos? Só tens palavras de vida eterna’. Fomos acordados para seguirmos a Jesus, a nos alimentarmos do Pão descido do Céu”, iniciou o arcebispo de Manaus e presidente do Regional Norte1 da CNBB, cardeal Leonardo Steiner, sua homilia do 22º Domingo do Tempo Comum. “O Evangelho que acaba de ser proclamado nos convida à escuta da palavra como quem deseja espírito e vida; nos convida a estarmos dispostos a nos deixarmos tomar pelo espírito da palavra e não impormos na palavra, normas que acabam tolhendo a liberdade e a beleza do encontro com Deus”, destacou o arcebispo. Ele lembrou que “no diálogo com alguns fariseus e escribas, Jesus confronta o legalismo que escraviza e mata, porque leva à tristeza do egoísmo individualista. Opõe e propõe a graça da Boa Nova, que orienta, protege e salva, porque leva ao encontro com o outro e com Deus”. Comentando o texto, o cardeal destacou que “as prescrições antigas compreendiam não apenas os preceitos que Deus revelara a Moisés, mas uma série de regras que desejavam indicar o significado da lei mosaica. Os fariseus e escribas aplicavam tais normas de uma forma muito escrupulosa, estreita, moralista, e as ensinavam como uma expressão de religiosidade verdadeira e autêntica. Por isso, questionam a Jesus e aos seus discípulos pela transgressão das normas, e como ouvimos, daquelas relacionadas com a purificação exterior do corpo.” “A resposta de Jesus se manifesta de modo transparente, profético, límpido”, destacou, citando o texto e lembrando as palavras de Papa Francisco: “São palavras que nos enchem de admiração: sentimos que em Jesus há verdade e que a sua sabedoria nos liberta de preconceitos, fechamentos, estreiteza e nos conduz à liberdade da fé, dos filhos e filhas de Deus”. A discussão, segundo o presidente do Regional Norte1, “se refere ao valor da ‘tradição dos antigos’ e Jesus, recordando o profeta Isaías, ensina que são ‘preceitos dos homens’, e que não deve substituir o ‘mandamento de Deus’ (v. 8). Ele a nos dizer que manter a observância exterior da lei não é suficiente para ser cristão, ser discípulo missionário, discípula missionária. Observar a ‘exterioridade’ do mandamento, corre-se o perigo de nos considerarmos melhores do que os outros pelo simples fato de observar as regras, as tradições, mesmo não amando o próximo, sendo duros de coração, autossuficientes, sem compaixão. A lei pela lei, a norma pela norma, o mandamento pelo mandamento, é estéril, pois não muda o coração na busca de justiça, da paz, na ajuda aos pobres, aos fracos, aos oprimidos. Os mandamentos indicam a direção, a orientação de uma vida digna, compassiva, santa, pois nos oferece a graça de nos abrirmos ao encontro com Deus e à Sua Palavra.” Citando o texto da primeira leitura: “Israel, ouve as leis e decretos que eu vos ensino, para que vivais e entreis na posse da terra prometida. Vós os guardareis e os poreis em prática, porque neles está vossa sabedoria e inteligência (cf. Dt 4,6-8), o cardeal disse: “sim os mandamentos de Deus, as leis de Deus, oferecem sabedoria, a graça de permanecer na terra da promessa, o Reino de Deus. Permanecer na fidelidade do caminhar de nossos pais. Em outras palavras, permanecer na sabedoria e na inteligência de viver: Espírito e vida!” “Jesus, no Evangelho nos admoesta”, afirmou, citando o texto do Evangelho: “O que torna o homem impuro não é o que entra nele vindo de fora, mas o que sai de seu interior” (Mc 7,15). Diante disso, ele disse que “sublinha a primazia da interioridade, ou seja, a primazia do ‘coração’. Não são coisas exteriores que nos fazem santos ou não santos, mas é o coração que expressa as nossas intenções, as nossas escolhas e o desejo de fazer tudo por amor a Deus.” Com palavras de Papa Francisco, disse: “As atitudes exteriores são a consequência do que decidimos no coração, mas não o contrário: com as atitudes exteriores, se o coração não muda, não somos verdadeiros cristãos. A fronteira entre o bem e o mal não passa fora de nós, mas sim, dentro de nós. Podemos nos perguntar: Onde está meu coração? Jesus diz: “O teu tesouro é onde está o seu coração”. Qual é o meu tesouro? É Jesus, a sua doutrina? É o coração bom ou o tesouro é outra coisa? Portanto, é o coração que deve ser purificado e convertido. Sem um coração purificado, não se pode ter mãos verdadeiramente limpas e lábios que pronunciem palavras sinceras de amor – tudo é duplo, uma vida dupla – lábios que pronunciam palavras de misericórdia, perdão. Somente isso só pode fazer o coração sincero e purificado.” “As impurezas e todas as maldades são de nossa responsabilidade, de nosso modo de relacionar-nos com a vida, com as pessoas, com a história, com Deus. Podemos relacionar-nos de modo sadio ou perverso, fraterno ou dominador, irmanado ou destruidor. Sadio, fraterno, irmanado quando as vemos e tratamos como graça, favor, bênção, benefício, sacramentais, presença do Deus vivo e verdadeiro. Perverso, quando as tratamos como se fossem apenas coisas ou quando as tomamos fazendo-nos donos e dominadores e, pior ainda, explorando-as e destruindo-as, sem respeitar-lhes a dignidade”, sublinhou o arcebispo. Segundo ele, “a relação com as criaturas irmãs, de que fala o Evangelho, nos leva a perceber o modo como nos relacionamos, como dominadores, como destruidores, quando no coração mora o desejo do lucro, da riqueza e não da fraternidade, da irmandade. Vemos essas maldades que nascem de dentro com os garimpos, com desmatamento, o fogo criminoso, o desregramento em relação à nossa Amazônia. O desejo desenfreado em busca de riqueza e dinheiro fazem das criaturas inimigas, destruindo-as, dominando-as; destruindo a casa que é de todos. Tudo porque do coração saem maldades: cobiça, más intenções, imoralidades, roubos, assassínios, adultérios, ambições, desmedidas, maldades, fraudes, devassidão, inveja, calúnia, orgulho,…
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