Av. Epaminondas, 722, Centro, Manaus, AM, Brazil
+55 (92) 3232-1890
cnbbnorte1@gmail.com

Autor: cnbbnorte1blog@gmail.com

Encerrada a Assembleia da CEAMA, desafiada a assumir compromissos para poder continuar sua missão com coragem

A Assembleia da Conferência Eclesial da Amazônia, que reuniu cerca de 70 pessoas em Manaus, de 23 a 26 de agosto, foi encerrada com compromissos que permitam caminhar juntos na presença de Deus. Em uma Igreja amazônica unida a Deus, como destacou o presidente da CEAMA, Cardeal Pedro Barreto, na Eucaristia de encerramento, ele ressaltou que a paz e a esperança devem marcar a vida e a missão, a partir dos compromissos assumidos diante de Deus. Fortalecendo a caminhada Diante dos muitos problemas, sofrimentos e preocupações, o Cardeal Barreto ressaltou que “a graça e a paz de Deus nos fortalecem em nossa caminhada”, e conclamou, como expressão do Reino de Deus, a “caminharmos juntos em sua presença, tendo em mente os irmãos e irmãs que vivem na Amazônia”. Seguindo o exemplo dos rios da Amazônia, ele convidou a buscar canais de comunhão, de participação de todos para anunciar a missão de Jesus na Igreja. Para isso, pediu a ajuda de Maria para caminharmos juntos e atitudes de coragem, coerência, compromisso como expressão de parresia nesse Kairos. Em vista dos compromissos que serão assumidos, a CEAMA foi chamada a ser um sinal de esperança, a partir da escuta e do serviço, para ter confiança em Deus, presente e atuante na Amazônia. Em uma atitude de escuta, de ser uma Igreja que cuida, acompanha e inclui, que discerne e oferece uma espiritualidade que ajuda a viver em sinodalidade, que reconhece a presença das mulheres e medeia a Revelação do rosto de Jesus. Uma Igreja que, a partir da Amazônia, quer ser uma inspiração para outras igrejas. Daí a necessidade de fortalecer a organização e a estrutura interna da CEAMA e sua comunicação e comunhão com a REPAM, promovendo processos, com um compromisso pessoal e comunitário de conversão, a partir de uma espiritualidade e vocação amazônica, em diálogo com as Conferências Episcopais, as igrejas locais e outras organizações, levando em conta a caminhada da Igreja em cada país, a partir da leitura da realidade, que leva a aprofundar o método da encarnação a partir da vida existente na Amazônia, assumindo o Observatório sócio pastoral, apostando na ecologia integral a partir do conhecimento dos povos amazônicos. Assumindo a matemática evangélica Partindo da parábola dos pães e dos peixes, o prefeito do Dicastério para o Desenvolvimento Integral, Cardeal Michael Czerny, analisando a matemática e a gramática, afirmou que “os discípulos pensavam que, para alimentar as pessoas, tinham que dividir cinco pães e peixes, e isso lhes parecia absurdo. Já a matemática para Jesus era o oposto: eles não dividiam, mas multiplicavam”. Trazendo isso para a vida da CEAMA, ele disse que achava que “há uma tentação constante de usar a matemática humana da divisão, pensando que há apenas um bolo”, porque “a matemática humana divide”, insistindo que “essa matemática fechada, precisa, científica, não funciona bem em nosso organismo eclesial. Temos que ter a matemática evangélica em nossa cabeça para reconhecer no outro aquilo que se multiplica”, assinalou, “que não me tira nada”. Na matemática evangélica “há outra lógica”, onde 100 mais 100 não são 200, mas 250 ou 300, porque “muitas vezes na Igreja caímos na tentação de planejar à luz da ciência humana e não da graça de Deus”. A graça da matemática evangélica foi descoberta pelo cardeal “na lógica do caminho sinodal”, onde “cada vocação se soma e precisa das outras vocações”. A missão não é um bolo a ser dividido e distribuído entre as várias vocações; pelo contrário, é quando cada vocação é realizada ao máximo que a missão prospera. A importância da gramática Falando de gramática, ele destacou que, durante a assembleia, “as palavras mais importantes são os verbos. Eles indicam o que está sendo feito e o que precisa ser feito”, enfatizando que “temos que prestar atenção aos verbos”. Esses verbos usados pela CEAMA “têm dois sujeitos, dois nominativos, o que é um pouco perigoso. Há o risco de usá-los em demasia”. Um deles, que é usado com muita frequência, é o sujeito “Ceama”. Uma conferência, seja eclesial ou episcopal, não deve ser o sujeito de tantos verbos, ou seja, não deve cair no que chamamos de autorreferencialidade. Refletiu também sobre o “nós”, referindo-se aos participantes da Assembleia, dizendo que “os sujeitos dos verbos deveriam ser as Igrejas locais, os povos, a Amazônia, à frente das frases”. Isso por uma razão eclesiológica e comunicativa, porque “eclesiologicamente, suponho que vocês reconheçam que o ‘nós’ não é, que a Ceama não é o nominativo, mas as pessoas, as instituições, os processos, o que precisa ser feito” para novos caminhos de evangelização e ecologia integral na Amazônia. Em termos de comunicação, “as pessoas querem ouvir que ‘elas’ são os sujeitos, o nominativo, os atores, os protagonistas”. Daí o apelo que ele fez para reduzir a palavra CEAMA, ou nós, para deixar mais espaço para a palavra você. Comunicação para unir o que está dividido Da comunicação vaticana, o prefeito do Dicastério para a Comunicação, Paolo Ruffini, em mensagem enviada à assembleia, disse que recordava o Sínodo para a Amazônia com emoção e gratidão, afirmando que “esta Assembleia da CEAMA nos diz que o caminho continua em frente, é importante estar juntos, caminhar juntos, traçar juntos o caminho de comunhão que nos une”. Em suas palavras, seguindo o pensamento do Papa Francisco, ele refletiu sobre a importância da comunicação que vem de um coração não endurecido, e sobre a necessidade de que a comunicação sirva para unir o que está dividido, porque a comunhão é um dom recíproco, que entrelaça nossas diferenças, que nos permite reconhecer e apreciar o outro. Daí a importância de encontros como essa assembleia “para a construção de um mundo melhor e de uma comunicação alternativa, um trabalho que estamos fazendo juntos”, ressaltou Ruffini, que pediu para “tecer uma narrativa diferente”, para realizar “um sistema de comunicação baseado na humanidade, e não na tecnologia das máquinas ou no cálculo de algoritmos”. Para isso, insistiu na urgência de recuperar bem viver dos povos amazônicos, “de uma visão pura capaz de…
Leia mais

Rito Amazônico, Ministerialidade, PUAM e REIBA frutos da CEAMA no território

A Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA) nasceu como uma das propostas do Sínodo para a Amazônia, que no número 115 de seu Documento Final propõe “criar um organismo episcopal que promova a sinodalidade entre as igrejas da região, que ajude a delinear o rosto amazônico desta Igreja e que continue a tarefa de encontrar novos caminhos para a missão evangelizadora”, algo que mais tarde se tornaria uma conferência eclesial e não apenas um organismo episcopal. Na 2ª Assembleia da CEAMA, que está sendo realizada em Manaus de 23 a 26 de agosto de 2024, com cerca de 70 participantes, foram apresentados alguns dos passos que estão sendo dados sob a égide dessa organização, como o Rito Amazônico, a ministerialidade, o Programa Universitário Amazônico (PUAM) e a Rede de Educação Intercultural Bilíngue Amazônica (REIBA). O desejo de uma Igreja com rosto amazônico está presente na Amazônia desde a chegada da Igreja Católica no século XVI, mas especialmente a partir do Vaticano II e dos encontros dos bispos da Amazônia peruana, em 1971, em Iquitos, e da Amazônia brasileira, em 1972, em Santarém, tomando um impulso decisivo em 2019 com o Sínodo para a Amazônia, do qual surgiu o Rito Amazônico, como afirma o número 119 do Documento Final, algo que tem a ver com o território, mas também com os povos que o habitam. Segundo Agenor Brighenti, é um rito que quer ser muito mais do que um rito litúrgico, porque não pode se reduzir a inculturar a Liturgia ou o Missal Romano. A partir dessa perspectiva, está sendo feito um trabalho sobre os sacramentos e os sacramentais, a iniciação à vida cristã, a Liturgia das Horas, o Ano Litúrgico, os ministérios, o espaço litúrgico, as estruturas e a organização eclesial. O objetivo é que seja um rito que configure um modelo de Igreja para a Amazônia. O teólogo brasileiro insiste que um rito não se cria, mas se desenvolve a partir dos processos de inculturação do Evangelho e encarnação da Igreja, fruto de um longo processo de comunidades inseridas na realidade, algo que vem sendo feito desde a chegada dos primeiros missionários. Diante da imensidão e da diversidade da região, Brighenti questiona se é possível ter um único rito para toda a Amazônia. Nessa perspectiva, ele defende a necessidade de respeitar e promover a diversidade, de modo que, em uma Amazônia múltipla, seja possível encontrar um denominador comum, mas aberto o suficiente para que cada região possa expressar sua especificidade nesse rito. Desde 2020, foram dados passos com contribuições de vários especialistas e comissões de trabalho, que levaram ao Marco Geral do Rito Amazônico e à compilação de registros de experiências de inculturação, buscando criar os componentes do Rito Amazônico que levam à elaboração dos Rituais do Rito Amazônico. Esse processo se estenderá até março de 2025, com três anos ad experimentum para avaliar e ajustar o Rito Amazônico. A equipe do Rito Amazônico, composta por cerca de 30 pessoas, insiste na importância de reunir experiências de inculturação nas comunidades. As medidas tomadas na pesquisa até agora estão sendo usadas para o trabalho das comissões. Entre os desafios está a socialização do documento de trabalho “Pontos básicos de referência para um Rito Amazônico” em todos os níveis da Igreja interessados no processo do Rito. Junto com isso, a integração de outras pessoas que possam contribuir com as 13 comissões de rito, especialmente em espanhol. Com relação à ministerialidade, o núcleo de reflexão enfatiza que “todas as iniciativas das mulheres na Amazônia são uma fonte de inspiração nos processos de sinodalidade e nas mudanças que se desejam na Igreja Católica”. Insistem que “a voz das mulheres tem que ressoar, mas não para tirar espaço de ninguém, mas para nos incluir como membros desta Igreja e fazer ressoar as vozes das mulheres”. Algo que começa com o sacramento do batismo e a compreensão da Igreja como o povo de Deus. Entre os desafios está o fato de haver poucas mulheres no núcleo e não ser possível chegar a muitos lugares e realizar um processo de discussão e estudo sobre a ministerialidade da mulher nas comunidades. A partir do núcleo, pede-se que a CEAMA e as conferências episcopais reconheçam os ministérios das mulheres na Amazônia, que a CEAMA solicite formalmente a Roma a instituição do diaconato feminino e que se iniciem escolas de formação diaconal para mulheres na Amazônia. O Programa Universitário Amazônico (PUAM), que realizará sua assembleia nos dias 27 e 28 de agosto, em Manaus, apresentou sua natureza e a composição do programa, que inclui instituições de ensino superior, redes e atores globais, atores eclesiais, incluindo a CEAMA, e redes de cooperação fraterna. Também foram apresentadas a diretoria, os passos dados e os processos de formação técnica e tecnológica, com a construção de conteúdos e horizontes. A REIBA trabalha em comunidades indígenas na perspectiva da educação bilíngue e da ecologia integral, está presente em 11 dioceses e vicariatos na Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Peru e Guiana, acompanhando 12 povos indígenas. Presidida pelo bispo de Puerto Maldonado (Peru), dom David Martínez de Aguirre, conta com um coordenador geral e várias comissões, tendo sido iniciada em 2020, período em que deu vários passos. Um programa que conta com voluntários locais e de outros 10 países. A REIBA está dividida em vários núcleos: Amazônia e Igreja, Povos Indígenas, Formação Pessoal e Comunitária e Educação Intercultural Bilíngue. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Dom Leonardo: “Deus Humanado, era demais para aqueles homens e aquelas mulheres, e abandonam o caminho”

No 21º Domingo do Tempo Comum, o cardeal Leonardo Steiner iniciou sua homilia dizendo que “depois de proclamar que Ele era o verdadeiro alimento, o pão descido do céu, Jesus oferece aos discípulos a oportunidade de segui-lo na liberdade e na liberalidade. Depois de não atinarem para a presença do Filho de Deus no Filho de José, de terem pensado que era demais aceitar o filho do carpinteiro, o filho de Maria, Jesus provoca os discípulos a uma decisão que possa despertar para a graça de seguimento.” Lembrando o texto evangélico: “a partir daquele momento, muitos discípulos voltaram atrás e não andavam mais com ele”, o arcebispo de Manaus disse que “ao se apresentar como Pão do céu, como alimento de eternidade, vários discípulos voltam atras. Diante do anúncio inesperado de Jesus, o Evangelho mostra a murmuração ‘de muitos discípulos’. Diziam: ‘Essa palavra é dura demais!’ Que o filho de Maria e José pudesse ser alimento de eternidade era incompreensível. Deus tornara-se próximo demais, Deus era palpável de mais, Deus era visível demais, Deus em nossa humanidade e fragilidade a dizer que Ele poderia conduzir para a vida eterna. Deus Humanado, era demais para aqueles homens e aquelas mulheres, e abandonam o caminho. Jesus deixou de ser o caminho, a verdade e a vida para aquelas mulheres e aqueles homens. Preferiam continuar errantes, desenraizados, sem fonte, sem água, sem comida que alimentasse as aflições, os assaltados, as desilusões.” “Jesus busca amasiar o coração endurecido, não os ofende, não agride, apenas mostra que para além da oferta do alimento verdadeiro, a vida do Reino, é ‘o Espírito é que dá vida, a carne não adianta nada’. Deseja indicar o caminho de nova vida, um novo Espírito, capaz de transformar a vida na carne, a finitude humana, a deshumanidade. O que impede os discípulos de ver Jesus Cristo como o Filho de Deus, o verdadeiro redentor, salvador, é o fechamento, estarem presos às próprias categorias, ao modo de pensar, interesseiro, fechado, mundano”, disse o cardeal.   “É isso que os leva à murmuração e os impede à adesão. O esforço de abrir a mente dos discípulos para perceberem na humanidade, no despojamento, que em Jesus havia uma proximidade, uma presença de Deus inusitada, admirável, sublime, encantadora: Deus comida e bebida. A nossa fome, a nossa sede pode ser saciada. É, sim palavra dura para os duros de corações. E abandonam o caminho. Não conseguem permanecem e caminhar com Jesus. Jesus não se tornou o caminho, a verdade e a vida para aquelas mulheres e aqueles homens. Preferiam continuar errantes, desenraizados, em fonte, sem água, sem comida que alimentasse as aflições, os assaltados, as desilusões”, destacou.   “E diante da dispersão, Jesus a questionar os doze: Também vós quereis ir embora? Simão Pedro respondeu: A quem iremos senhor? Não diz ‘para onde iremos?’, mas ‘para quem iremos?’. O ensinamento colocado pelo Evangelho na boca de Pedro não é ir e abandonar uma obra começada, seguir uma ideia, mas é ‘para quem ir’. A quem seguir, em quem crer?”, analisou o arcebispo de Manaus.    Segundo o presidente do Regional Norte1 da CNBB, “para Pedro e os que permaneceram são palavras que despertam, conduzem à vida verdadeira, à plena vida, à vida sem confim. São ‘palavras de vida eterna’. Seguir a Jesus, ser seu discípulo, ser sua discípula, permanecer na sua cercania, justamente quando não se percebe a clareza, não se tem a iluminação a respeito dos aconteceres. Pedro na sua pergunta-confissão a demonstrar estima, afeição, bem-querer, confiança. É que no amor, mais que conhecer, importa amar! No amar que se vem ao conhecimento, ao co-nascimento. No amar abrem-se dimensões e perspectivas que não conseguimos a partir de nós mesmos, mas somente a partir do Amor que é o amor.” “A partir desta interrogação de Pedro, compreendemos que a fidelidade a Deus é questão de fidelidade a uma pessoa, com o qual nos unimos para caminhar juntos pela mesma estrada. E esta pessoa é Jesus. Tudo o que temos no mundo não sacia a nossa fome de infinito. Precisamos de Jesus, de estar com Ele, de alimentarmo-nos à sua mesa, com as suas palavras de vida eterna! Acreditar em Jesus significa torná-lo centro, o sentido da nossa vida. Ele é o ‘pão vivo’, o alimento indispensável. Unir-se a Ele, numa verdadeira relação de fé e de amor, significa estar profundamente livre, sempre a caminho. Cada um de nós pode questionar-se: quem é Jesus para mim?”, disse, citando Papa Francisco.   “Jesus confronta a vida verdadeira, com a vida de vaivém; da vida do alimento que perece com a vida alimentada que conduz à eternidade; da vida que cuida de si com a vida que sai ao encontro dos outros; da vida que é vivida a partir de si com a vida que parte de Deus e nele encontra segurança, refúgio e liberdade”, sublinhou o cardeal Steiner.   Ele disse, seguindo as palavras de Fernandes e Fassini, que “o Evangelho a nos ensinar o encontro que a fé possibilita, ou o encontro que possibilita a fé, e que desperta para uma afeição e benquerença própria. Na pergunta-confissão de Pedro entrevemos o caminho da fé, do amor: primeiro vem a graça do encontro ou o encontro da graça, o nascer do encontro, que desperta a alma, o espírito do bem-querer único e insubstituível. Nessa relação nova e única tem início o seguimento. A partir da fé, abre-se uma fenda que leva à compreensão. A declaração de amor de Pedro: ‘Nos cremos firmemente e reconhecemos que tu és o Santo de Deus’, é uma nova visão, uma nova relação. ‘A fé traz consigo seu próprio saber. É um saber feito de experiência, de uma evidência que nasce e cresce do próprio encontro e da afeição que é graça desse mesmo encontro. Nessa fé e nesse saber, na mente de Pedro, dos Doze e de todos os que acolhem Jesus no Espírito, brilha esta evidência e alegria: ‘Tu és o Santo de Deus!’ Isso é: tu és a…
Leia mais

Agenor Brighenti: “Este Sínodo não quer ser um evento isolado”, porque “a sinodalidade é constitutiva da Igreja”

A Assembleia da Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA), que acontece em Manaus de 23 a 26 de agosto de 2024, abordou o atual processo sinodal e a contribuição da CEAMA e da REPAM para a Segunda Sessão da Assembleia Sinodal. Um processo que, de acordo com Agenor Brighenti, é um momento especial na Igreja, já que “por iniciativa do Papa Francisco, estamos fazendo a transição do Sínodo dos Bispos para uma Igreja sinodal”. A sinodalidade é um estado permanente de ser Em sua opinião, “este Sínodo não quer ser um fato isolado”, pois “a sinodalidade é constitutiva da Igreja, é um estado permanente de ser de toda a Igreja”, buscando “implementar uma Igreja de comunhão e participação para a missão, na corresponsabilidade de todos os batizados”. Para o teólogo brasileiro, o objetivo é resgatar um princípio que imperou na Igreja no primeiro milênio: “o que diz respeito a todos deve ser discernido e decidido por todos”. Brighenti fala de fatos paradigmáticos, como a Constituição Apostólica Episcopalis Communio, que afirma que o Sínodo dos Bispos precisa ser “um canal mais voltado para a evangelização do mundo de hoje do que para a autopreservação da Igreja”, o que exige escutar o povo de Deus. Em segundo lugar, o Sínodo para a Amazônia, com seu amplo processo de escuta, a participação de não-bispos, inclusive mulheres, e um Documento Final oficial. Junto com isso, a Primeira Assembleia Eclesial, com um processo de participação de baixo para cima, começando pelas Igrejas locais, com os bispos como membros da Assembleia e não como um corpo sobreposto a ela. O atual Sínodo iniciou o processo de baixo para cima, depois em assembleias continentais, a Assembleia Sinodal e o retorno às igrejas locais. Tudo como parte do processo, com todos os membros tendo o direito de votar, inclusive as mulheres. Ele também destacou como eventos providenciais a Conferência de Aparecida, que retomou o Vaticano II, e a eleição do Papa Francisco, que relançou o Vaticano II e, na Evangelium Gaudium, universalizou Aparecida, promovendo uma Igreja sinodal. Antes disso, como fatos geradores, o Vaticano II, que supera uma Igreja de cristandade, e a Conferência de Medellín, que promove uma nova evangelização, tendo nas comunidades eclesiais de base “a célula inicial da estruturação eclesial”, uma Igreja pobre e para os pobres. Jesus não veio para uma visita rápida Birgit Weiler, abordou a questão dos lugares no Instrumentum Laboris do Sínodo, valorizando sua relação com a cultura e os contextos, o que nos leva a falar de encarnação, seguindo as ações de Jesus, que se tornou um de nós. “Jesus não veio para uma visita rápida, Ele entrou em um contexto e de lá anunciou o Reino de Deus”, afirmou. Segundo a religiosa, a sinodalidade requer experiências, mostrando que dar importância ao lugar não significa ceder ao particularismo ou ao relativismo, destacando a pluralidade das manifestações de Deus e uma unidade que não é uniformidade, pois o catolicismo é unidade na diversidade. Na mesma linha, ele enfatizou que a diversidade não é uma ameaça ao catolicismo, mas um enriquecimento. Isso porque, segundo Querida Amazonia, não existe um modelo cultural único para o cristianismo. Uma das consequências da globalização é a grande mobilidade humana, algo presente na Amazônia, o que nos leva a dizer que o lugar não pode mais ser entendido em termos puramente geográficos e espaciais; é uma rede de relações. Da mesma forma, a importância do mundo virtual, algo muito presente no mundo urbano. Weiler refletiu sobre o lugar da Igreja local como espaço de articulação e a necessidade de identificar caminhos e dar respostas nas Igrejas locais e em sua relação com o Bispo de Roma, apresentando a CEAMA como “uma escola de sinodalidade”. Chamado para a renovação do Povo de Deus As implicações do Sínodo sobre a Sinodalidade para a Amazônia a partir do Instrumentum laboris, segundo a presidente da Confederação dos Religiosos da América Latina e do Caribe, Liliana Franco, são descobrir o chamado à alegria e à renovação do Povo de Deus, aprender da realidade relida a partir da Palavra, da Tradição, dos testemunhos e dos erros. Os fundamentos seriam a Igreja Povo de Deus como sacramento da Unidade, o significado compartilhado da sinodalidade, a unidade como harmonia nas diferenças, ser irmãs e irmãos em Cristo em uma reciprocidade renovada, e o chamado à conversão e à reforma. Junto com isso, Liliana Franco enfatiza a existência de relações de solidariedade, baseadas na conversão relacional, e de itinerários, na formação, no discernimento, na tomada de decisões e na transparência. Daí nasce uma formação integral e compartilhada, com testemunhas, homens e mulheres, capazes de assumir a missão da Igreja em corresponsabilidade e em cooperação com a força do Espírito, em uma contínua conversão de atitudes, relações, mentalidades e estruturas, o que leva a ver a Eucaristia como lugar fundamental de formação à sinodalidade, a família como lugar de educação na fé e na prática cristã e a necessidade do diálogo intergeracional. Discernimento a partir da escuta e da Palavra de Deus A presidenta da CLAR, sobre as características da formação, disse que ela não deve ser puramente teórica, e sim com experiências vitais, integrais, acompanhadas, encarnadas nas culturas e que deve incorporar a cultura digital, para o que apresentou uma série de propostas. É uma questão de buscar novos caminhos, de saber que o discernimento implica compartilhar a perspectiva da missão comum, e é por isso que o discernimento se articula com a comunhão, a participação e a missão. O ponto de referência para todo discernimento é a escuta da Palavra de Deus, sabendo que o discernimento não é uma técnica, mas uma prática que qualifica a vida e a missão da Igreja. A partir daí, destaca que Deus fala de muitas maneiras e há diferentes níveis de discernimento, sabendo que é algo que requer disposições, formação, critérios teológicos e metodologias sinodais, ampliando os cenários de participação. As decisões devem estar de acordo com a vontade de Deus, respeitando e valorizando cada membro, em vista de…
Leia mais

Assembleia da CEAMA: Entender as conectividades na Amazônia para mitigar os ataques ao bioma e seus povos

A Assembleia da Conferência Eclesial da Amazônia, que está sendo realizada em Manaus com a presença de cerca de 70 pessoas, iniciou seus trabalhos com uma análise da conjuntura na região. Esse conhecimento ajuda a conversa no Espírito a discernir os passos a serem dados como CEAMA para o futuro. Diferentes formas de conectividade O ponto de partida foi uma leitura da Amazônia a partir das diferentes formas de conectividade, algo que está presente na região há milênios. A conectividade natural, como a água, mas também a conectividade humana, estabelecida pelos habitantes da região amazônica ao longo dos séculos, criando estratégias de adaptação ao ecossistema, segundo Fernando Roca, que mostrou a influência de algumas regiões da Amazônia sobre outras. De acordo com o jesuíta peruano, muitas das formas de conectividade desenvolvidas pelos seres humanos representam uma ameaça, citando como exemplos a mineração ilegal, os madeireiros ilegais, o tráfico de drogas, o tráfico de pessoas, os grandes projetos de infraestrutura, o crescimento acelerado das cidades, a pecuária, o petróleo e o extrativismo desenfreado. Junto com isso, a existência de projetos de restauração ambiental foi destacada como um elemento positivo. Diante dessa realidade, destacou que “a CEAMA tem o desafio de assumir um papel articulador na chave do Sínodo da Amazônia com governos, autoridades políticas, empresas, organizações multilaterais, povos indígenas, para proteger, ajudar a restaurar e mitigar ações que ameaçam o bioma e a vida de seus habitantes”. Testemunhos do território Do território, vários atores testemunharam a situação vivida pelos povos amazônicos. A região do Vicariato de Pando, na Amazônia boliviana, nas palavras de José Antônio Achipa Samanaca, foi marcada pela extração da borracha e da castanha e, atualmente, pela invasão de madeireiros, pecuaristas e garimpeiros ilegais, que causaram um grave desastre ambiental. Os povos indígenas estão perdendo sua cultura, sua língua, como resultado da miscigenação com aqueles que chegaram de outras regiões do país. A Igreja acompanha a vida das comunidades indígenas, com os leigos desempenhando um papel de liderança, dada a escassez de padres. Marva é uma mulher indígena da Guiana, que falou sobre a dificuldade de chegar às comunidades, a invasão de mineiros e madeireiros, com o apoio do governo, e a falta de educação, “que nos deixa sem voz”, uma educação que não leva em conta o mundo indígena, o que levou à perda da língua e da identidade. Para combater essa situação, foi promovida a educação bilíngue em inglês e wapichana, com resultados positivos. A Amazônia brasileira é marcada pela incapacidade do Estado brasileiro de atender às disposições da Constituição de 1988, especialmente no que diz respeito ao território, o chamado Marco Temporal. Essa situação está causando grande insegurança aos povos indígenas, tendo em vista a lei aprovada pelo Congresso Nacional que impede a demarcação de terras indígenas. Junto a isso, a proposta de uma mesa de negociação, que não é aceita pelos povos indígenas, pois “os direitos originários não podem ser negociados”, segundo a irmã Laura Vicuña Pereira Manso. Isso tem levado a ataques orquestrados contra os povos indígenas em todas as regiões do Brasil, com um alto número de mortos e feridos, além de perdas materiais e grave insegurança alimentar e jurídica. Nessa situação, há sinais de resistência, como a retomada de terras e mobilizações permanentes em nível nacional e internacional, ecoando as ameaças. Educação na escuta e a partir dos territórios Falando sobre a educação no território amazônico, Patricia Correa defendeu a necessidade de a Igreja Pan-Amazônica ter um diagnóstico que lhe permita ter impacto e liderança a partir das comunidades indígenas. De acordo com a ex-ministra da Educação do Peru, a Igreja pode dizer aos governos que existe uma proposta educacional enraizada na cultura. Dada a diversidade de expressões da educação bilíngue intercultural e a dinâmica sinodal, ela afirma que isso abre uma maneira de ver como construir propostas baseadas na escuta e a partir dos territórios, do conceito e da experiência. Um caminho compartilhado, baseado em certos pressupostos, como a longa presença da Igreja no território, sua organização, a construção da proposta educacional a partir do nível local e a ideia de que todo projeto educacional é cultural. Daí surge uma pergunta: “Como podemos construir uma proposta educacional sinodal que inclua 377 povos indígenas que falam mais de 250 línguas nativas?” Essa é uma questão da qual os sistemas educacionais governamentais desistiram e para a qual a Igreja Sinodal pode dar uma resposta, que já aparece na Querida Amazônia quando fala da necessidade de levar em conta as experiências locais que contribuem com as cosmovisões. Para isso, propõe-se um caminho compartilhado e articulado, com uma rota compartilhada que construa cenários para estratégias de educação bilíngue intercultural. Entre os diversos projetos presentes na Amazônia, Martín Fariña apresentou o projeto de reflorestamento em Madre de Dios (Peru), uma resposta à Laudato Si’ baseada nas capacidades e possibilidades locais, buscando fazer diferente, aprendendo com os erros, com o objetivo de restaurar a Amazônia. Conversa no Espírito para construir caminhos de futuro Seguindo o método de conversa no Espírito, os participantes da assembleia fizeram uma memória agradecida a partir das memórias da primeira assembleia, que pedia o diálogo entre os núcleos temáticos com a experiência das igrejas locais, maior interação entre os núcleos e a criação do núcleo da Casa Comum e da Ecologia Integral a partir de diferentes fundamentos. Pediu-se para conhecer a realidade de cada povo, escutar, dialogar e acompanhar os processos, com vistas a criar uma identidade amazônica para a CEAMA e promover uma Pastoral de Conjunto em um caminho compartilhado. A CEAMA, fruto mais concreto da sinodalidade, é desafiada a superar as distâncias com as igrejas locais, a se perguntar como a CEAMA chega às igrejas locais e vice-versa. Para avançar na conversa espiritual, os participantes foram convidados a responder a uma pergunta: Desde a Assembleia do ano passado (agosto de 2023) até hoje, quais foram os principais frutos e desafios que resultaram de nossa caminhada como CEAMA durante esse tempo? Das respostas dependem os caminhos para o futuro, uma construção…
Leia mais

Representantes do Laicato e CEBs, junto com bispos referenciais, participam de 17º Seminário em Brasília

A Casa dom Luciano Mendes, em Brasília, acolhe de 22 a 25 de agosto de 2024 o 17º Seminário com bispos referenciais dos regionais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), para as CEBs e para o laicato, que contou também com a participação do bispo auxiliar de Brasília e secretário geral da CNBB, dom Ricardo Hoepers. É uma atividade da Comissão Episcopal para o Laicato da CNBB, que reúne mais de 80 pessoas. Além dos bispos referenciais se fazem presentes os presidentes dos conselhos regionais do laicato, representantes das CEBs e dos diversos carismas e movimentos que fazem parte da comissão. O Regional Norte1 está representado pelo presidente do laicato, Francisco Meireles, que vê o encontro como “um grande momento de aprofundamento, estudo, escuta e partilha, para animar nossos regionais”. Segundo a presidenta do Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNLB), Sônia Gomes de Oliveira, “é um encontro de estudo, reflexão, propor atividades e alguns indicativos para a Igreja do Brasil que está sendo construído”. O ponto de partida tem sido uma análise de conjuntura, analisando temas eclesiais, políticos, que teve posteriormente uma iluminação bíblica, ajudando a trazer um olhar sobre toda essa conjuntura apresentada previamente. O tema central do encontro tem sido uma análise do Relatório da Primeira Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, onde participa a presidenta do CNLB, abordando as discussões e novidades, mas ao mesmo tempo como é que o laicato brasileiro pode estar contribuindo com esse processo para realmente poder trazer essa dinâmica sinodal. Posteriormente, foram apresentadas algumas experiências sinodais presentes na Igreja do Brasil e “como o laicato brasileiro pode se adaptar ou recuperar esse modelo de Igreja sinodal”, segundo Sonia Gomes de Oliveira. Nessa perspectiva, cada expressão laical partilhou como tem participado do processo sinodal e como essa participação se expressa. Igualmente os participantes do encontro apontaram caminhos para receber as definições do Sínodo sobre a Sinodalidade e transformá-las em prática pastoral na Igreja no Brasil, inserindo essa temática no planejamento das ações para 2025. No programa do encontro se fez presente um estudo sobre a Campanha da Fraternidade 2025: “Fraternidade e Ecologia Integral”, uma abordagem às Novas Diretrizes da CNBB, ao Jubileu da Esperança, a COP30, que será realiza em Belém (PA) em novembro de 2025, assim como uma partilha sobre os investimentos que podem ser realizados em vista da missão do Laicato. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Inicia em Manaus a 2ª Assembleia da CEAMA: “Oportunidade de crescermos em comunhão com Deus, uns com os outros e com a Amazônia”

A 2ª Assembleia da Conferência Eclesial da Amazônia (Ceama), que está sendo realizada em Manaus de 23 a 26 de agosto de 2024, com o tema “Cristo aponta para a Amazônia: Comunhão, Missão e Participação”, e o lema “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2,5), teve início com uma celebração eucarística e a abertura oficial do evento. Na Eucaristia, o arcebispo local, Cardeal Leonardo Ulrich Steiner, comparou o Reino de Deus com “um modo de ser, um modo de conviver, um modo de amar, um modo de servir”, destacando na pessoa humana, “essa capacidade de estabelecer relações livres, recíprocas e solidárias”. Um Reino de Deus que “não conseguimos definir, mas que nos atrai”, afirmou. Segundo ele, nessa assembleia, “o Reino de Deus há de nos guiar, há de nos iluminar, perceber o como somos atraídos, não por uma organização, mas pelo Reino que fala”, insistindo em que “a beleza do Reino de Deus que nos atrai, que ele possa atingir os nossos passos nesses dias, as nossas discussões, as nossas reflexões, as nossas buscas”. Na abertura da Assembleia, onde participa o prefeito do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, Cardeal Michael Czerny, após dar as mais cordiais boas-vindas em nome da presidência, o Cardeal Pedro Barreto, inspirado em Karl Rahner, afirmou que “estamos vivendo um tempo de graça, um Kairos, o tempo de Deus, o momento certo e oportuno para consolidar nossa identidade como CEAMA, expressão de uma Igreja Sinodal em Missão na Amazônia”, lembrando as palavras do Relatório Síntese da Primeira Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre Sinodalidade, que afirma: “em todos os contextos culturais, os termos ‘sinodal’ e ‘sinodalidade’ indicam um modo de ser Igreja que articula comunhão, participação e missão. Um exemplo disso é a Conferência Eclesial Amazônica (CEAMA), fruto do processo missionário sinodal naquela região”. Uma referência que, nas palavras de seu presidente, motiva a CEAMA “a continuar caminhando junto e empenhada em fortalecer nossos laços em uma Igreja Sinodal em Missão”. Para isso, o cardeal Barreto vê a assembleia como “a oportunidade de crescermos em comunhão com Deus, uns com os outros e com a Amazônia”, vendo como necessária a participação de todos e de cada um. Para isso, pediu que, a exemplo de Maria, “escutemos, discirnamos e coloquemos em prática o que o Espírito nos inspira para sermos uma Igreja sinodal em Missão que peregrina na Amazônia” e, junto com isso, que “o Espírito Santo seja o protagonista”. Junto com o presidente, falaram os vice-presidentes, que definiram a assembleia como “um momento significativo para nossa Igreja aqui na Amazônia, aonde cada vez mais vamos buscando novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”, como destacou a irmã Laura Vicuña Pereira Manso, que recordou a metodologia de conversa no Espírito utilizada para preparar esta assembleia, “um momento de fortalecermos, de consolidarmos esses novos caminhos que tanto buscamos aqui na Amazônia, e também fortalecer nossa caminhada na defesa da terra, na defesa da vida e na defesa dos direitos”. Mauricio López convidou a assembleia a trazer “este Povo de Deus a caminho em cada lugar onde se encontrem, para que possam trazê-lo aqui presente”. Em um momento em que “as coisas não estão melhores para a Amazônia”, com a violência presente, ele chamou a mantê-la presente na assembleia. A partir da responsabilidade de cada um, questionou “o quanto temos feito essa semente frutificar”, chamando a não enterrar os talentos de cada um para que a CEAMA dê vida em abundância, para produzir e espalhar vida, com o pouco ou muito que temos. Olhando para a segunda sessão da Assembleia Sinodal, ele disse que tem o mesmo desafio que a CEAMA: “buscar respostas concretas e substanciais que deem razão à nossa esperança e que façam o importante chamado que temos como CEAMA, uma pequena semente que cresce pouco a pouco, mas que pode continuar avançando para dar mais frutos”. Finalmente, o bispo auxiliar de Manaus e vice-presidente da CEAMA, dom Zenildo Lima, disse que a CEAMA “é mais experimentada do que conceituada, é uma experiência em construção, e porque uma experiência em construção, por vezes até temos necessidade de maior clareza”, uma dinâmica presente desde o Sínodo para a Amazônia, que diante da “necessidade de uma experiência que pudesse expressar a comunhão de todas as igrejas pan-amazônicas, não tínhamos muita clareza conceitual do que propor à Assembleia Sinodal, mas tínhamos uma certeza da experiência da qual nós tínhamos necessidade”. Por isso, a assembleia “vai trazendo mais solidez a nossas compreensões, aos conceitos, a nossa autocompreensão”, mas acima de tudo, “vai ficando mais nítida a experiência”, vendo a assembleia como momento em que “a continuidade da experiência, vai nos tornando cada vez mais conscientes do papel da Igreja nessa construção de novos caminhos para a evangelização e para uma ecologia integral”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Cardeal Czerny escuta a realidade das igrejas do Regional Norte1, “para descobrir exatamente o que podemos oferecer para ajudar”

A escuta é uma atitude muito importante no Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral. Ouvir as igrejas locais para estar perto dos territórios e poder acompanhá-las melhor é algo comum, que teve mais um episódio na reunião entre o prefeito do Dicastério, Cardeal Michael Czerny, a coordenadora regional para as Américas, Cecilia Barja, e as igrejas locais do Regional Norte1, onde estavam presentes alguns dos bispos, a secretária executiva do Regional, o coordenador pastoral da Arquidiocese de Manaus e o reitor do Seminário São José. O ponto de partida foi uma pergunta: O que impede uma vida digna para as pessoas em suas dioceses? Os participantes da reunião descreveram a situação em cada igreja local. Uma realidade marcada pela presença de uma grande diversidade de povos indígenas, dos que muitos agradecem à Igreja por ter lhes ajudado em seu processo educativo, que hoje lhes permite ser estudantes universitários, mas também com muitos deles ameaçados pelo drama da bebida alcoólica, que cria dependência entre os jovens, destruindo a vida das comunidades. Nessas comunidades, como acontece na diocese de São Gabriel da Cachoeira, o suicídio, sobretudo dos jovens, é uma realidade muito presente. Igrejas com dificuldades financeiras, com insuficiência de clero e Vida Religiosa, que tem grande participação do laicato, com uma experiência dos ministérios muito positiva, que acompanha as periferias, os migrantes e os povos indígenas, cada vez mais ameaçados pelo Marco Temporal, que nega os direitos reconhecidos na Constituição brasileira. Uma região onde as mudanças climáticas têm impactado cada vez mais no povo, provocando o empobrecimento do povo e dificuldade para a Igreja se fazer presente nas comunidades. Uma região onde o narcotráfico exerce um controle cada vez maior, aumentando o uso de drogas, de álcool e a violência contra mulheres e crianças. No Regional Norte1 é cada vez mais evidente e estado mínimo por parte do poder público, pudendo se falar de governos truculentos, manipulados por grupos de poder, que acabam enfraquecendo todas as políticas públicas. Isso se traduz em condições de moradia muito precárias, ocupações nas periferias dominadas pelo narcotráfico, sucateamento da saúde, e talvez de modo proposital, um sucateamento da segurança pública. A mobilidade humana é muito grande e muitas pessoas vivem nas ocupações em condições inumanas, tendo se dado um aumento dos pedintes, da população de rua, da fome, do trabalho informal, motivado pelo esvaziamento do poder público sem serviços sociais. O garimpo ilegal é uma ameaça, difícil de ser combatido, cooptando os indígenas e as comunidades ribeirinhas. Um fenómeno ligado ao narcotráfico, ao tráfico de mulheres, a exploração sexual. Além disso, a contaminação provocada pelo garimpo provoca problemas neurológicos. Os migrantes sofrem violência nos centros de acolhida governamentais, muitas mulheres não querem ficar mais lá, muitos vivem na rua, e são vítimas de situações análogas ao trabalho escravo. Em algumas regiões, o turismo está ligado à exploração sexual e biopirataria. As queimadas, motivadas pelo grande avanço do agronegócio, é outra realidade presente. As igrejas do Regional Norte1 têm se empenhado em acompanhar as crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual, existindo grande comunhão das dioceses para acompanhar e superar essa situação. Nos próximos messes, será inaugurada em Manaus uma casa de acolhida com essa finalidade de atendimento, onde também serão atendidas crianças das outras igrejas locais. Os bispos insistem em que as igrejas estão muito engajadas em dar sua contribuição para superar esse problema. Diante dessa conjuntura, o Cardeal Michael Czerny afirmou que o peso dos problemas é muito grande. O prefeito do dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, afirmou que, do ponto de vista do dicastério, “não estamos lá para resolver os problemas, mas para acompanhar os processos que, em última análise, devem ser resolvidos pelo povo”. Do ponto de vista do Dicastério, o desafio é realizar um acompanhamento adequado e criativo. Em vista das enormes necessidades, o Cardeal Czerny destacou que é algo que “me deixa sem palavras”, agradecendo aos participantes pelo que compartilharam. Nesse sentido, “esperamos poder ajudar de alguma forma e descobrir precisamente o que podemos oferecer para ajudar no trabalho pastoral de acompanhar essas pessoas para que possam viver uma nova realidade”, destacou. Relembrando sua presença no Panamá nos últimos dias, onde participou de um encontro regional para uma pastoral migratória coordenada da Colômbia ao Canadá, ele enfatizou que foi “uma reunião positiva por causa da possibilidade de ajudar além das dioceses e dos países”. Uma oportunidade para aproveitar a realidade, para ser uma Igreja que colabora mantendo a diversidade, um ponto-chave da reforma do Papa Francisco. Nesse sentido, ressaltou que “escutar uns aos outros já ajuda nesse sentido”, destacando a possibilidade de caminhar juntos, tornando a sinodalidade uma realidade. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Dom Tadeu: Em Itacoatiara, “a gente vai para somar, com as pessoas que estão aí, nessa perspectiva de ser uma Igreja sinodal”

No dia 22 de agosto de 2024, o Papa Francisco nomeou dom Edmilson Tadeu Canavarros dos Santos novo bispo da prelazia de Itacoatiara. Durante sete anos e meio foi bispo auxiliar de Manaus, que diz ter sido uma escola para se inserir dentro da Igreja na Amazônia, para sentir o cheiro das ovelhas, tendo como prioridade a família, os jovens e os padres. Em sua nova missão na prelazia de Itacoatiara vê como desafio a questão das vocações, e para isso destaca a importância da Iniciação à vida Cristã e de acompanhar os jovens. Para a Igreja de Manaus, ele deixa uma mensagem de gratidão, “me senti realmente em casa”, afirma. Em Itacoatiara, “a gente vai para somar, com as pessoas que estão aí, com as lideranças, sobretudo com os padres que aí se encontram, nessa perspectiva de ser uma Igreja sinodal, uma Igreja de comunhão, participação e a missão que se desenvolve para que realmente o Reino de Deus aconteça”. Depois de sete anos e meio como bispo auxiliar de Manaus, o Papa Francisco acaba de lhe nomear bispo da prelazia de Itacoatiara. Qual a leitura que o senhor faz desse tempo que tem servido na arquidiocese de Manaus? É impressionante essa experiência como bispo auxiliar, verdadeiramente é uma escola, porque a gente, por mais que tenha formação, nunca está preparado para ser bispo. Esse período que eu estive aqui na arquidiocese me ajudou muito, primeiro a me inserir dentro da Igreja na Amazônia, de conhecer profundamente, porque eu venho de uma outra realidade. E depois, também conhecer a dinâmica de como é que é viver como bispo, atuar como bispo. O senhor fala que aprendeu a ser bispo, o que aprendeu nesse tempo? Perceber exatamente o que é que significa ser um pastor, e sobretudo agora, nessa perspectiva, nesse ensinamento do Papa Francisco, com o cheiro das ovelhas, que significa realmente estar nos meios populares, estar mais inserido no meio do povo. O pessoal, quando eu cheguei, me perguntava quais erão minhas prioridades, e eu continuo ainda com elas, que é exatamente, a família, os jovens e os nossos padres. Agora que inicia um novo caminho na prelazia de Itacoatiara, quais podem ser os maiores desafios a enfrentar? Na realidade da prelazia, a questão das vocações. Nós temos um clero bastante pouco, ainda contamos com muitos padres vindos de fora, que tem o seu tempo, tem o seu prazo, e falta exatamente fazer crescer as vocações, e não simplesmente para o âmbito sacerdotal, mas também não temos nenhum diácono, a Vida Religiosa, que a gente precisa dinamizar mais, e a vocação para o matrimonio. O senhor afirma que entre suas prioridades está a família e os jovens, âmbitos onde a vocações são cultivadas. Quais os passos a ser dados nas famílias, entre as juventudes, para que essas vocações possam aflorar? Na perspectiva da vida de família, ajudar os novos casais, os jovens também, a se despertar para uma vida matrimonial que realmente aposta nesse projeto de vida, E daí exatamente a questão da fecundidade, da geração de novos filhos, esse cuidado que se tem de como passar a fé aos filhos, essa experiência que se dá também na comunidade. E para isso tem ajudado muito na nossa Igreja aqui, o processo de Iniciação à Vida Cristã a partir das famílias. Sobretudo como acompanhar mais os grupos de jovens, fomentar mais esses grupos a partir da experiência das pequenas comunidades onde estão inseridos e onde realmente pode despertar as vocações. Agora que já está próxima sua saída da arquidiocese de Manaus. Qual a mensagem que o senhor deixaria para o povo da arquidiocese? Uma coisa muito clara é agradecer, agradecer todo tipo de acolhida que eu tive, a experiência da convivência com dom Sérgio, um homem com quem aprendi muito. Também a questão da renúncia, sobretudo pelo limite da saúde em que ele viveu pela doença que o consumiu depois até os últimos dias da sua vida. Mas exatamente, a minha mensagem é de gratidão, de gratidão exatamente porque a Igreja aqui de Manaus é muito viva, nos acolheu de uma maneira muito excepcional e nessa acolhida, eu me senti realmente em casa, pela circunstância das relações que foram se criando e os trabalhos que foi desenvolvendo, e ao mesmo tempo conhecendo e se dando a conhecer as diversas realidades que nós temos. Desde as comunidades ribeirinhas mais distantes até o grande centro, aquilo que desafia hoje a nossa cidade de Manaus. E ao povo de Itacoatiara que já lhe espera como seu pastor, qual a mensagem que quer enviar? Em primeiro lugar, estou não para começar algo novo, mas dar continuidade. Nós temos a presença de pelo menos cinco prelados que antecederam a minha presença, e que construíram a Igreja de Itacoatiara, e levaram para frente. Alguns que contribuíram em uma área e outros que contribuíram em outra área. A gente vai para somar, com as pessoas que estão aí, com as lideranças, sobretudo com os padres que aí se encontram, nessa perspectiva de ser uma Igreja sinodal, uma Igreja de comunhão, participação e a missão que se desenvolve para que realmente o Reino de Deus aconteça. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Igreja na Amazônia: compromisso para avançar juntos e sem medo

A Igreja católica na Amazônia não é uma Igreja fechada dentro dos templos, ela se preocupa com a vida dos povos, com a realidade que ela tem em volta. Isso foi mais uma vez comprovado no V Encontro da Igreja na Amazônia, realizado em Manaus de 19 a 22 de agosto com o tema “A Igreja que se fez carne, alarga sua tenda na Amazônia: Memória e Esperança”. Bispos, presbíteros, religiosos e religiosas, leigos e leigas, reunidos para encontrar caminhos, na formação, na ministerialidade, na participação das mulheres, no cuidado da Casa Comum, na corresponsabilidade e sustentabilidade, na caridade e a profecia. E para isso dar passos, sem medo, confiantes na força que vem de Deus e que nos dá o fato de caminhar juntos, em sinodalidade. Uma Igreja de homens e mulheres, que não querem e não podem continuar sendo consideradas de segunda categoria, ainda mais quando elas são a grande maioria e assumem a maior quantidade de trabalhos nas comunidades e paróquias. Mas que também querem participar dos processos de decisão, pois elas também encerram dentro de si a luz de Deus e podem iluminar o caminhar da Igreja. Uma Igreja que quer a “garantia de políticas públicas que atendam principalmente os empobrecidos”, e que por isso pede a todos e todas “identificar e escolher bem os candidatos e as candidatas” que ajudem na “consolidação da democracia e o avanço da justiça social nos municípios”. Candidatos com “um compromisso irrenunciável com a defesa integral da vida”, dos direitos humanos, da Casa Comum. Uma Igreja que quer caminhar em sintonia com os povos e as culturas da região, olhando para aquilo que ajuda os homens e mulheres a se relacionar de modo melhor, mais pleno, com o Deus que está no meio de nós. Uma Igreja que a partir dos processos de inculturação do Evangelho, que tem se dado ao longo de séculos, quer celebrar segundo seu rito, o Rito Amazônico, como acontece em outros lugares do mundo, em que a Igreja tem seus próprios ritos. Uma Igreja que mostra para os povos indígenas e para as comunidades tradicionais, para os empobrecidos, que eles têm nela uma aliada, uma mãe, uma companheira de caminho, de vida, de lutas por um mundo melhor para todos e todas, de luta pelo Reino, essa causa que levou a muitos profetas e profetizas na Amazônia a dar a vida, a ser sementes de Deus neste chão amazônico. Uma Igreja de esperança, comprometida, samaritana, cuidadora da vida em todos os níveis, onde todos e todas têm espaço, onde ninguém fica do lado de fora. De portas abertas para que todo mundo possa entrar, também sair, mas também voltar quando sente a necessidade do Pai, mesmo tendo pensado em outros momentos que longe dele a vida seria melhor. E essa Igreja está aqui, no meio de nós, como fruto de tudo o que tem sido vivido ao longo de tantos anos, na vida de tantos homens e mulheres que descobriram e testemunharam, que descobrem e testemunham, que vale a pena ser comunidade de fé neste chão, nestas águas, onde Deus está presente em tantas pessoas que foram lhe conhecendo e se apaixonando por Ele. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1 – Editorial Rádio Rio Mar