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Ver o outro como um irmão, o caminho para acolher quem chega perto de nós

A fraternidade deveria ser uma necessidade na vida de todo ser humano, na vida da sociedade como um todo. Uma atitude que nos leva a ver o outro como um irmão, como uma irmã, a acolher aquele que chega perto de nós, também aquele que é diferente, aquele que vem de longe, o estrangeiro, o migrante, tantas vezes vítima de exclusão, de desrespeito em seus direitos fundamentais. Estamos celebrando a Semana do Migrante, que nos desafia a alargar a nossa tenda, a criar espaços de acolhida em nossa vida, em nossas famílias, em nossas comunidades eclesiais. A migração é um fenómeno que tem diversas causas, e uma delas é as mudanças climáticas. Daí o tema da 39ª Semana do Migrante, que nos leva a refletir sobre o cuidado da casa comum. A migração forçada é uma realidade presente no mundo, são muitas as pessoas obrigadas, por diferentes motivos, a deixar tudo para trás e se aventurar numa nova experiência de vida, as vezes longe, muito longe de casa, de tudo aquilo que dava segurança na vida da pessoa. Se adentrar num novo modo de vida, numa cultura diferente, numa língua que custa entender e falar. Nessas situações, o perigo aumenta e o risco de se tornar vítimas das diversas explorações que fazem parte do tráfico de pessoas aumenta. As redes do crime organizado se aproveitam da vulnerabilidade dessas pessoas, exploradas sem escrúpulo por criminosos sem entranhas, sem a mínima empatia com os outros seres humanos. Combater essas situações é um dever para quem tem fé, mas ao mesmo tempo se faz necessário “acolher, promover, acompanhar e integrar”, segundo insiste o Papa Francisco. Um compromisso comum que vai além quando ele é assumido por todos, quando todo mundo se envolve e olha o futuro com esperança. Eu estou disposto arrimar o ombro? Descubro a necessidade de me comprometer para que a vida daqueles que passam por momentos de dificuldade possam melhorar? Em minha vida tem lugar para aqueles que procuram uma vida melhor, para aqueles que por diversos motivos foram obrigados a iniciar a vida longe de onde eles viviam? Nos questionarmos sobre essa realidade pode ajudar os outros a ter vida em plenitude, a evitar situações de sofrimento. Ser fraternos é o caminho para um mundo melhor, para concretizar o Evangelho, a proposta de Jesus, que sempre pensa nos últimos, naqueles que por diversos motivos sofrem, mas querem continuar caminhando e construindo um mundo melhor para todos e todas. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Pacaraima, a fronteira onde a Igreja alarga sua tenda cada dia

Foto: Cláudia Pereira    Pacaraima, uma pequena cidade na fronteira com a Venezuela, era um local desconhecido, que se tornou manchete dos jornais com o início da migração venezuelana. A cidade mudou o rosto, em dez anos sua população dobrou, e hoje 50 por cento são venezuelanos. Pacaraima é local onde a Igreja alarga sua tenda cada dia, se tornando casa de acolhida, mas ao mesmo tempo lugar de diversas formas de exploração, com episódios que são claros exemplos das dificuldades que enfrentam os migrantes em muitos lugares do planeta. Uma realidade de sofrimento e esperança A missão que a Comissão Episcopal Especial para o Tráfico de Pessoas da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), está realizando em Roraima, com visitas à Guiana e a Venezuela, permite conhecer uma realidade que encerra muitas macelas, situações de sofrimento que muitas vezes não aparecem, mas acontecem, provocando aflição em pessoas que carregam histórias de vidas feridas. Em Pacaraima, uma cidade marcada pelas filas, por pessoas deambulando nas ruas, a acolhida é realizada pelo poder público, principalmente pelo exército brasileiro, por organismos internacionais e por diversas instituições, dentre elas a Igreja católica. São diversos os espaços de acolhida, destinados a diversos públicos, dentre eles povos indígenas, mulheres com crianças, famílias, idosos. O refúgio dos povos indígenas abriga cinco povos diferentes chegados da Venezuela, fugindo da fome, da violência, do garimpo e de muitas outras situações adversas. No Brasil eles querem constituir comunidades indígenas, onde os diversos povos possam reconduzir sua vida. Foto: Cláudia Pereira    A Igreja acompanha os migrantes A Casa São José, abrigo para mulheres e crianças, foi criado em 2020 pelas Irmãs de São José de Chambery. As condições em que se encontravam as mulheres, que sofriam diversas formas de maltrato, exploração e tráfico de pessoas, levou as religiosas, sem nenhum recurso, nem ajuda, a iniciar uma verdadeira aventura. Aos poucos as ajudas chegaram, primeiro da Operação Acolhida do Governo Brasileiro, que até hoje fornece alimentação, e depois de muitas pessoas, de diversos lugares do Brasil e do mundo, sensibilizadas depois da invasão do abrigo em 2021. Um tempo de “muito sacrifício, muito choro”, diz nas lágrimas a religiosa que coordena o espaço, junto com voluntárias venezuelanas, que conhecem melhor a cultura das mulheres que lá chegam. Atualmente a passagem é mais rápida, no máximo um mês, no início algumas mulheres ficavam até seis meses, porque não tinham aonde ir. As irmãs de São José de Chambery também acompanham a primeira associação de migrantes venezuelanos no Brasil no ramo da panificação, a Padaria São José, um sonho de ter pão em todas as mesas, de levar o pão às comunidades mais necessitadas, mais distantes de Pacaraima. Um sonho que foi iniciado no salão da paróquia e onde depois de dois anos trabalham sete pessoas, que tem seu espaço de atendimento, ajudando os venezuelanos que cada dia entram pela fronteira. Criar essa associação não foi fácil, mas o apoio da diocese de Roraima fez possível sua legalização. Outros dois projetos da Igreja católica são o Projeto Porta Aberta, com capacidade para 50 pessoas, que acostumam ficar duas semanas, acolhendo aqueles que esperam a interiorização no Brasil. Oferece café da manhã, almoço e janta, e desde novembro de 2023 passaram mais de 120 famílias. Igualmente o projeto com idosos, que durante o dia oferece diversas atividades aos idosos, ambos projetos coordenados pelo padre Jesus Fernández de Bobadilla. Indiferença diante da migração e o tráfico de pessoas Dessa missão participam o bispo de Picos (PI) e membro da comissão, dom Plinio José Luz da Silva, que, diante do tráfico dos seres humanos, denuncia “a indiferença da sociedade, também da Igreja, em diversas regiões”. Diante disso, o bispo afirma que estamos diante de “algo que é escondido, mas que existe, e ele precisa ser considerado e combatido”. Um assunto que quando é falado, “não dá nenhum impacto, o pessoal não quer discutir sobre esse determinado assunto, entrar nos fatos”. Ele destaca que na própria CNBB não se fala nesse assunto, ele mesmo veio conhecer a comissão agora que foi convidado para fazer parte, “mas não tinha conhecimento desse trabalho que era feito”, sublinhando “o desconhecimento e por tanto desinteresse” sobre a temática. Diante dessa realidade, “eu vejo a necessidade da divulgação para prevenir”. Do mesmo modo que outras realidades que tem a ver com os pobres e a injustiça social são debatidas pelas Pastorais Sociais, o bispo de Picos insiste na necessidade de divulgação, de que nos subsídios da CNBB para as diversas campanhas, seja contado a realidade, como acontece em Roraima, onde “as pessoas ficam vulneráveis diante da migração, as pessoas ficam desfavorecidas de todos os recursos”, o que faz com que as organizações criminosas encontrem a oportunidade para usar os migrantes como mercadoria. Dom Plinio destaca a necessidade de a comissão conhecer a realidade para saber enfrentar os ataques à vida, essa chaga na vida das vítimas. Ele afirma que “esta missão, ela enriquece a gente com um conhecimento para que possa argumentar para a sociedade aquilo que a gente conhece”, o que demanda da comissão estar “permanentemente nessa investigação”, em vista de divulgar fatos nos meios de comunicação, o que ele considera fundamental, “as pessoas precisam tomar conhecimento do que está acontecendo e possam reconhecer em volta da realidade local, casos que são ocultos”. Foto: Cláudia Pereira    Defender a vida sempre Como Igreja, “nós precisamos defender a vida, desde a sua concepção até o fim último”, como missão da Igreja, segundo o bispo. Ele destaca que “essa vida, ela está realmente envolta na realidade”, afirmando que “o maior sofrimento do povo é gerado por uma sociedade da indiferença, da divisão de valores, da falta de oportunidades de viver dignamente, principalmente os mais pobres, os mais vulneráveis, que são os primeiros a sentir esse impacto”. Ele denuncia iniciativas dentro da Igreja católica que “praticamente excluem de sua missão essa parte de olhar a pessoa como um todo, na sua dignidade”. O bispo enfatiza que “há situações em que só…
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Dom Adilson Busin: “A xenofobia é o ápice da irracionalidade”

Foto: Cláudia Pereira    De 17 a 23 de junho de 2024, a Comissão Episcopal Especial para o Enfrentamento ao Tráfico Humano (CEPEETH) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), está realizando uma missão no Estado de Roraima, na fronteira com a Guiana e a Venezuela. Uma comissão que segundo seu presidente, dom Adilson Pedro Busin, bispo da diocese de Tubarão (SC), tem entre seus objetivos “a conscientização, a incidência política e eclesial”. Tráfico de pessoas, uma realidade escondida A missão ajuda a “trazer a temática do tráfico humano, que ele é escondido, inclusive as vítimas são escondidas”, ressalta o bispo. Estamos diante de um problema social mundial, que o Papa Francisco tanto insiste. A incidência deve ser dupla, segundo dom Busin, “ad intra da própria Igreja, para nós tomarmos consciência desse problema grave, dessa chaga da humanidade, como diz o Papa Francisco, e da sociedade”. Diante da realidade de Roraima, com uma ebulição migratória e tantas “fronteiras porosas”, a visita da comissão quer com que “essa temática do tráfico humano seja exibido, visibilizado, seja sentido, que chegue ao coração, à mente das pessoas, no mundo da política e na sociedade, com políticas públicas que venham a enfrentar o tráfico de pessoas”, destaca o presidente da comissão. Fronteira Brasil-Guiana: vulnerabilidades comuns Na fronteira entre o Brasil e a Guiana, o fluxo de venezuelanos, cubanos e haitianos é constante. Os migrantes chegam muitas vezes em situação de extrema pobreza, sendo muito grande a demora para conseguir documentação, que é tramitada em Boa Vista, com uma lista de espera de mais de cem migrantes em Bonfim, que pelo fato de não ter documentação são vítimas fáceis das redes de exploração. Tanto em Bonfim (Brasil), como em Lethem (Guiana), uma região com predominância de indígenas Wapichana, os povos originários não se submetem às fronteiras dos brancos, a Igreja católica dá assistência aos migrantes, sempre de portas abertas para dividir o pouco que eles têm. Na região de fronteira, as vulnerabilidades são comuns, uma delas é o tráfico de mercúrio, usado no garimpo ilegal, com vínculos estreitos com fações do crime organizado, que produz graves doenças e diversas explorações na população local e nos migrantes, e que nos leva a refletir sobre o tema da 39ª Semana do Migrante, “Migração e Casa Comum”. Para superar as diversas vulnerabilidades, a CEPEETH, fiel a Jesus de Nazaré, que quer vida em abundância para todos e todas, apresentou materiais que sistematizam o trabalho da Igreja do Brasil no enfrentamento ao tráfico de pessoas, que é crime e tem que ser denunciado, somando com diversas instâncias eclesiais, em vista de incidir nas mudanças estruturais que levem o poder público a assumir sua função, a criar políticas públicas, que muitas vezes surgem a partir da mobilização. São histórias de sofrimento, relatadas por aqueles que lhes acolhem e acompanham, que também são vivenciadas pelos migrantes que passam nesta fronteira, abandona pelo poder público. Diante disso, uma das demandas é a presença da Polícia Federal na fronteira, uma dificuldade diante da falta de pessoal no Estado, mais uma expressão do Estado mínimo, que quer ser instaurado em tantos países, segundo insistiu o bispo de Roraima, dom Evaristo Spengler. Se faz necessário estreitar laços transfronteiriços, juntar forças, buscar propostas concretas, gerar processos conjuntos, uma dinâmica que pode contar com a colaboração da comissão. Ao mesmo tempo não é fácil enfrentar alguns problemas comuns, dada a legislação diferente em cada país, o que demanda maior mobilização popular que crie consciência e possibilite mudanças. Foto: Cláudia Pereira    Ir ao encontro dos invissíveis Olhando para dentro da Igreja, dom Adilson Busin insiste em “tomarmos consciência desse problema que faz parte da Igreja que vai ao encontro dos últimos e desses invisíveis, vítimas do tráfico humano”. Para a Igreja do Brasil, na perspectiva do enfrentamento ao tráfico humano, teve grande importância a Campanha da Fraternidade de 2014, “Fraternidade e Tráfico Humano”, um grande marco na conscientização das comunidades, paróquias e dioceses, que amadureceu a criação do grupo de trabalho que depois deu passo à comissão, a quem muitas vezes, dentro da Igreja, é delegado o enfrentamento dessa realidade. O bispo de Tubarão insiste em “não deixar esquecer, porque as vítimas são esquecidas”, mesmo sabendo que “o tráfico é presente, está na nossa sociedade em suas diversas modalidades”, citando o tráfico de órgãos, a exploração sexual de crianças e adolescentes, o trabalho análogo à escravidão. O bispo faz um chamado a nos conscientizarmos da Doutrina Social da Igreja, ver as vítimas do tráfico humano como “uma das tantas categorias que são vulneráveis, e ao mesmo tempo, uma das categorias mais invisíveis, porque ele é tão sutil, e é difícil de alcançar por causa de toda a problemática que envolve o tráfico de pessoas”. A tentação de culpar o estrangeiro Refletindo sobre a Campanha da Fraternidade 2024, “Fraternidade e Amizade Social”, que tem como lema “Vós sois todos irmãos e irmãs”, dom Adilson Busin afirma que “uma das tentações do mundo atual, não só no Brasil, é a polarização que nós vemos, as guerras, a violência, uma sociedade irada, onde nós nos sentimos acuados”. Lembrando que no decorrer da história encontramos os bodes expiatórios, o bispo ressalta que “neste momento em muitos países, e nós temos tentação também no Brasil, de culpar a quem é estrangeiro, quem vem de fora”. Nessa perspectiva, o presidente da comissão denuncia que “a xenofobia é o ápice da irracionalidade”, fazendo um chamado a olhar a Campanha da Fraternidade de 2024 e o convite do Papa Francisco ao cuidado da casa comum, que o leva a dizer que “não tem ninguém de fora, as fronteiras estão ali, como limites políticos, geográficos, mas é uma contradição do Evangelho olhar o irmão como um problema”. Nessa perspectiva, o bispo sublinha que “os problemas estão aí para que nós como Igreja, como sociedade, como governos e como Nações Unidas, tratemos os migrantes não com esse olhar infeliz de achá-los culpáveis, como causa dos problemas”. Frente a isso, afirma que “eles estão aí porque…
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Abertura da 39 ª Semana do Migrante em Roraima: “A migração é uma riqueza, que torna a sociedade mais plural, mais acolhedora”

A diocese de Roraima realizou nesta segunda-feira a abertura da 39ª Semana do Migrante, que em 2024 tem como tema “Migração e Casa Comum”, e como lema “Alarga o espaço da tua tenda” (Is 54,2). A migração é uma situação que marca a vida do Estado de Roraima nos últimos anos, até o ponto que atualmente 30 por cento da população de Roraima é formada por migrantes venezuelanos. Anualmente entram mais ou menos 200 mil venezuelanos por ano pela fronteira de Pacaraima. O bispo de Roraima, dom Evaristo Spengler lembrou que a população de Roraima é uma população migrante, chegada de diferentes estados do Brasil. A partir de 2017, a migração foi de venezuelanos, e “a Igreja foi a primeira que começou a dar uma resposta a essa situação, não vamos dizer problema, porque é a acolhida de irmãos”. A Igreja local, com a ajuda da Igreja do Brasil, foi dando passos, sobretudo com a Caritas, e hoje são muitas as estruturas da Igreja de Roraima, em parceria com outras instituições, que acolhem os migrantes. Dom Evaristo lembrou que cada dia a Igreja católica contribui pelo menos com 1.500 cafés da manhã e 1.500 almoços, fora do serviço de documentação, de acolhimento, com o projeto Sumauma. Segundo o bispo de Roraima, “todos os que chegaram aqui trouxeram a sua cultura, o seu jeito de ser, a sua história, e cada um trouxe um pouquinho mais de enriquecimento a nossa sociedade, a visão do mundo, a culinária”, algo que foi compartilhado durante a abertura da Semana do Migrante, realizada do lado da Rodoviária de Boa Vista. Ele insiste em que “a migração não é um problema, a migração é uma riqueza, que torna a sociedade mais plural, mais acolhedora, uma sociedade de fato aberta a todas as pessoas que possam aqui chegar”. Com relação ao cuidado da casa comum, tema da 39ª Semana do Migrante, o bispo de Roraima lembrou que “a mudança climática atingiu fortemente o nosso estado”, lembrando o longo período de seca de agosto de 2023 a março de 2024, o que demanda “maior cuidado com essa casa comum e com o planeta que Deus nos deu”, recordando que o clima da Amazônia afeta o Brasil inteiro, América Latina e o mundo. É por isso que “é necessário olhar com cuidado para essa questão do meio ambiente, olhar para recompor aquilo que de fato foi essa terra, hoje cada vez mais enfraquecida com as queimadas”. O bispo de Tubarão e presidente da Comissão Especial de Enfrentamento ao Tráfico Humano da CNBB, dom Adilson Pedro Busin, presente na abertura da Semana do Migrante, fez um convite a “alargar a tenda do nosso coração para acolher, para proteger, para cuidar”. O bispo lembrou a presença de 4.000 venezuelanos em sua diocese, afirmando que “nossa terra é onde nós vivemos, é onde nós encontramos pessoas para partilhar a família humana, onde somos acolhidos e ganhamos o pão”, pedindo que “o nosso coração, a nossa família, a nossa comunidade, a nossa Igreja e a sociedade possa sempre estender as estacas como sinal de acolhida, porque todos nós somos família de Deus”.   Roraima é um Estado marcado por uma realidade grave e diversificada, como é a questão yanomami, um território indígena onde o garimpo ilegal tomou conta, com quase 80 pistas de pouso clandestinas, controladas pelo narco garimpo. As fronteiras com os outros países, sobretudo Venezuela e Guiana, muitos vulneráveis, sendo fácil entrar e sair do país. O tráfico de pessoas é algo sobre o que se está começando a falar entre os povos indígenas, segundo Davi Kopenawa, que afirma ser algo antigo entre os brancos. Nessa perspectiva, o líder yanomami destaca que “é bom que vocês acordaram para falar com nós”. Ele denuncia a exploração das mulheres yanomami pelos garimpeiros, insistindo em que cada vez são mais as indígenas grávidas de garimpeiros. Os migrantes em Roraima são vítimas do tráfico humano, que se concretiza de diversos modos, no trabalho escravo, a servidão doméstica, o aluguel de crianças para mendicância, para as pessoas serem atendidas em primeiro lugar nas filas, a exploração sexual de crianças e adolescentes, inclusive o roubo de crianças do colo das mães. Pode ser falado abertamente de falta de respeito aos direitos das pessoas, muitas vezes com a conivência do poder público e da própria sociedade. Uma realidade que também se dá nos abrigos de acolhida, superlotados, com poucas pessoas para realizar o atendimento e cuidado, que em muitos casos tem se tornado territórios sem lei, tendo acontecido assassinatos dentro desses abrigos. De fato, muitos migrantes não querem entrar nos abrigos, preferem dormir na rua, até o ponto de que Boa Vista é a cidade com maior porcentual de população de rua do Brasil. Nessa realidade, a Igreja católica, a única instituição livre de fato para denunciar a violação dos direitos humanos, tem alargado sua tenda para acolher aqueles que chegaram no Brasil depois de enfrentar grandes e graves dificuldades. Com relação ao Projeto Sumauma, sediado na paróquia da Consolata de Boa Vista, seu pároco, padre Revislander dos Santos Araújo, destaca que esse trabalho, esse milagre da partilha, iniciou com a chegada dos primeiros venezuelanos em Boa Vista. A paróquia da Consolata é a mais próxima à rodoviária da cidade e lá os migrantes iam à procura de ajuda. O padre insiste em que “todo mundo tem o direito de ir para onde quiser”, ressaltando que “com nossa pobreza, a gente tenta dar todos os dias o melhor que temos para que eles se sintam bem entre nós”. Uma partilha que ajudou a combater a xenofobia e acolher o outro, destacou. No enfrentamento ao tráfico de pessoas, uma realidade muito ligada à migração, se faz necessário juntar forças para que as autoridades possam efetivar essa política, algo que não está acontecendo no Estado de Roraima, para descobrir luz para fortalecer nossa caminhada, segundo Socorro Santos, diretora do Programa de Direitos Humanos e Cidadania, da Assembleia Legislativa de Roraima. Ela reflete sobre a realidade do tráfico humano, que é…
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Dom Leonardo: “Atitudes de arrogância, de ambição desmedida, de poder a qualquer custo, não são sinais do Reino”

No 11º Domingo do Tempo Comum, o arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Steiner, iniciou sua homilia mostrando “Jesus a visibilizar o mistério do Reino de Deus na dinâmica da semente. A nos ensinar a beleza do Reino de Deus: grão de trigo lançado na terra, o grão de mostarda. A força da semente que germina e dá fruto; a semente pequenina que não se intimida e faz-se árvore”. Segundo o arcebispo, “o desejo de visibilizar a dinâmica e vivacidade do Reino de Deus na parábola é tanta, que não menciona o trabalho do agricultor, a sua luta, a sua semeação, o seu labor com a terra, o seu cultivo, a sua espera. Ele semeia, lança, espalha a semente e depois da vida amadurecida na força e na vivacidade da própria semente, que ele se faz colheita. Colheita porque a semente deixou-se conquistar pela terra, e dela recebeu toda a vida. Tudo para mostrar a autonomia da semente quanto ao seu nasce-morrer, seu morrer-nascer”. Dom Leonardo enfatizou que “a questão essencial não é o que o agricultor faz, mas a dinâmica vital que a semente guarda. Ela deseja vir à vida, deseja nascer, dar folhas, frutos. Ela deseja ser lançada! O resultado final não depende dos esforços e da habilidade do semeador, mas sim do dinamismo da semente que foi lançada, espalhada na terra”. “Somos hoje conquistados, despertados para o mistério de uma força e energia que silenciosamente e despretensiosamente se agita e se movimenta; que alegremente deixa que a terra venha em auxílio e gratamente recebe o cuidado da terra”, disse o arcebispo de Manaus. Segundo ele, “se fossemos ver na transparência de um vaso e na lentidão de uma câmera fotográfica, haveríamos de admirar esse mistério tomando corpo, se corporificando, até chegar o tempo de colheita. E o esparramador de sementes passa pelo campo à espera do milagre e se alegra ao perceber os primeiros sinais de vida da semente a desabrochar e na medida em que cresce e produz fruto, se anima e sente-se acolhido pela terra e pela semente”. “A força e a generosidade do Reino de Deus são como uma semente”, enfatizou o presidente do Regional Norte1 da CNBB. “É dizer o modo, o espírito, o ânimo, a disposição, o acontecer do Reino. E Jesus a nos deixar intuir que o modo, o espírito, que move o Reino de Deus é semelhante à animação da semente lançada na terra”, disse dom Leonardo. Citando Fernandes e Fassini, afirmou que “Não é difícil perceber na semente lançada na terra todo um mistério cheio de vigor, esperança e fé; um processo ininterrupto e repetitivo de morte e vida, vida e morte. Morrer para nascer, crescer, florescer, dar fruto; e, a partir daí, morrer de novo, para nascer de novo; vida que vem da morte, morte que serve à vida. Vida e morte como dois momentos do mesmo mistério. Assim como um pássaro não pode voar com uma asa só, do mesmo modo, o destino da semente só se cumpre conjugando estes dois verbos: morrer-viver. Eis o “como”, a alma, o espírito, a Lei da Terra.” “No Evangelho de hoje, o que importa, o que ilumina é o dinamismo, a vida que a semente guarda. O Reino de Deus, a vida de Deus que foi lançada, esparramada em nós. Pouco importa, pouco depende de nós, quase tudo na benevolência e dinâmica de Deus em nós. É Ele que atua em nós em nosso silêncio existencial, na nossa cotidianidade, quase distraída, no dia a dia, no dia e na noite, na noite e no dia, na ação e no sono, na atenção e desatenção, no tumulto do dia ou na turbulência da história, na imperceptibilidade de nossos sentidos”, destacou o arcebispo de Manaus. Ele disse que “Deus vai transformando o nosso existir, os nossos dias, como a terra faz geminar a semente. O Reino a acontecer, a crescer, a dar furtos e nós, no não saber da ação de Deus. Como é extraordinário o modo de Deus em nós. O Reino verdadeiro, aquele de Deus, a nos transformar e nós, sem o perceber. No apenas do desejo da vida de Deus em nós cresça e dê muito fruto”. “Jesus a nos ensinar que devemos ser dóceis, e afáveis com o reino de Deus, a vida de Deus. Não se trata do rigor, da penitência, do jejum, da busca de resultados, de forçar o tempo de Deus, de nos colocar na busca de metas pessoais, de um projeto pessoal. Tudo apenas na docilidade do Espírito que conduz e faz a história. Tudo na graça da confiança e da serenidade de que o espírito jamais dorme, para ele não há dia e noite, nem noite e dia, apenas o cuidado amoroso a nos tornar à semelhança de Jesus, filhos e filhas de Deus”, ressaltou dom Leonardo. “O Evangelho a nos ensinar o mistério da vida que vem à luz, vem à graça dos olhos, na semente de grão que mais parece um nada. A delicadeza do grão que na sua pequenez é frágil, quase invisível”, destacou, citando o texto evangélico: “a menor de todas as sementes da terra”! Segundo o arcebispo, “pequenina, sem importância, mas cheia de vida! Insignificância, mas semente; uma só, mas semente. Quem apenas olha, vê a semente. Mas o semeador conquistado pela semente nela confia e a lança na terra, sabedor da vida que nela está desejosa de explodir. Lançada na terra ela mostra toda a sua força, vigor, vivacidade e acolhimento”. “A imagem do grão de mostarda a nos abrir os olhos para a simplicidade e pequenez!”, disse, citando o texto de Marcos: “Apesar de ser a mais pequenina de todas as sementes, está cheia de vida e cresce até se tornar ‘a planta mais frondosa do horto’” (Mc 4,32). “É assim o Reino de Deus: uma realidade humanamente pequena e de aparência irrelevante. Para fazer parte dele é preciso ser pobre de coração; não confiar nas próprias capacidades, mas no poder do amor de Deus; não agir para ser importante aos…
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Dois novos diáconos na diocese de Coari, para “visibilizar o mistério da vida de Jesus”

A Igreja da Amazônia, que durante muitos anos contou com grande número de missionários chegados de fora da região, vai aumentando seu clero local. A diocese de Coari deu neste sábado 15 de junho de 2024 um passo a mais nessa direção, com a ordenação diaconal de Leonardo Rufino da Silva, que escolheu como lema: “Fala Senhor que teu servo escuta”, e Willian da Silva Aragão, com o lema: “Permanecei no meu amor”. Na presença de familiares, amigos, fiéis da diocese de Coari, a vida religiosa, os colegas seminaristas e os padres, dom Marcos Piatek, bispo diocesano, ordenou na catedral de Sant´ana e São Sebastião, àqueles que nos próximos meses devem ordenados presbíteros. Uma celebração que contou com a presença de dom Zenildo Lima, bispo auxiliar de Manaus, que foi reitor do Seminário São José no tempo em que os novos diáconos realizaram seu processo formativo, e do padre Pedro Cavalcante, atual reitor do Seminário Arquidiocesano de Manaus, onde se formam os seminaristas das nove igrejas locais que fazem parte do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Após a apresentação dos candidatos, o bispo diocesano disse que “nós como Igreja não estamos separados, estamos rezando, vivendo, celebrando em comunhão com toda a Igreja do mundo, com o Papa Francisco, em comunhão com a Igreja do nosso Regional Norte1 da CNBB, em comunhão com a nossa diocese de Coari”, lembrando a caminhada vocacional daqueles que iam ser ordenados diáconos, agradecendo a presença do atual reitor do Seminário São José e de dom Zenildo Lima, que fez a homilia. O bispo auxiliar de Manaus iniciou dizendo que “é sempre a vida de Jesus que nos alegra e é sempre a vida de Jesus que vai se tornando evidente para nós”. Segundo dom Zenildo, “na nossa Igreja, nós experimentamos sinais da vida de Jesus por meio de sinais que a Igreja nos oferece, eu são os sacramentos”, definindo o sacramento da Ordem como aquele que “visibiliza na vida de pessoas, de homens, esse mistério da vida de Jesus”. Segundo o bispo, “porque mergulham neste sacramento da Ordem, na vida deles, eles vão tornar muito evidente, muito visível para o povo de Deus o Mistério Pascal de Jesus”. No tempo do diaconato, primeiro grau do sacramento da Ordem, “eles vão se aprofundar neste sacramento, porque a vocação deles é para o ministério presbiteral”. Lembrando a presença missionária a diocese de Coari durante longos anos, afirmando que “o Evangelho chegou a nós com sotaque”, ele destacou que agora o rosto da Igreja local, “esse rosto vai se fazendo a partir de nós”. Refletindo sobre o fato dos padres ter o mesmo rosto, linguagem, cultura do povo, dom Zenildo insistiu em que quando o povo os procura, procura algo a mais, “a inesgotável presença de Jesus, o povo busca sempre em nós o sagrado,  comunicação da própria presença de Deus”. Uma presença que, segundo o bispo auxiliar de Manaus, “nós comunicamos pela sua Palavra”, algo próprio do ministério do diácono, que ele vê como “grande animador da Palavra nas comunidades”, destacando igualmente seu serviço ao altar, “servidores da presença de Deus que é experimentada toda vez que o povo se reunir para festejar e para celebrar a sua fé”, pedindo zelo, esmero, cuidado, “para que a beleza da nossa celebração, atinja, alcance ao nosso povo e o povo possa exclamar: Deus está perto de nós”. Igualmente, dom Zenildo refletiu sobre a caridade, chamando a “viver de tal modo que as pessoas se sintam cuidadas por nós”. Comentando as leituras, o bispo auxiliar de Manaus destacou, na vocação do profeta Samuel, que “quem diria que no pequeno Samuel, Deus iria responder ao seu povo”, insistindo em que “em alguém tão pequeno, Deus iria romper seu silêncio”, comparando a passagem bíblica com a vida dos novos diáconos, considerando algo bonito que “na história vocacional da gente tenha interlocutores, tenha intermediários”, inclusive através de ferramentas frágeis, refletindo sobre o papel dos padres no acompanhamento do chamado vocacional. Comentando a segunda leitura, na passagem do Livro dos Atos dos Apóstolos, dom Zenildo Lima destacou o papel da comunidade como cuidadora das pessoas mais pobres, das viúvas, que aos poucos deixaram de ser suficientemente cuidadas pela comunidade, definindo o serviço como “o médio privilegiado pelo qual a comunidade consegue romper suas tensões”, vendo o serviço e o cuidado dos pobres como algo que pode ajudar a resolver as diferenças nas comunidades, afirmando que “o serviço dá equilíbrio à vida comunitária”, animando os novos diáconos a ajudar a comunidade a “se abrir a uma dinâmica do cuidado”. O bispo auxiliar ressaltou que o que nos torna capazes de responder a Deus é o amor, não segundo as nossas medidas, e sim “um amor mais profundo, que transcende até as nossas sensibilidades, as nossas sensações, as nossas corporeidades”, refletindo sobre a vida celibatária, em vista de uma vivência mais profunda do amor, homens que “apresentam para nós até onde a profundidade do amor pode chegar”, que leva a agir a partir do outro, pedindo aos novos diáconos que tenham “um espaço que ajuda a sustentar este amor”, evitando a arrogância e se deixar machucar pelas próprias culpas, algo que afasta dos outros presbíteros. Diante disso, ele chamou os novos diáconos a estar unidos ao presbitério da diocese de Coari, em todo momento. No final da celebração foi rezada a oração pelas vocações para a Igreja de Coari, fazendo os novos diáconos seu agradecimento, destacando sua alegria, não só deles, mas de toda a Igreja diocesana de Coari, diante do chamado do Senhor, que “chama porque nos ama e porque cada um de nós é uma escolha de Deus”, que chama “a partir da nossa história, a partir do que somos, a partir da experiência que temos”, mostrando sua disposição a fazer a vontade do Pai. Eles pediram apoio e orações por eles e pelos padres e bispos presentes, “para que todos nós possamos nos manter fieis ao ministério que a Igreja nos confia”, depois de anos de dedicação, estudos…
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Manaus acolhe encontro do Projeto Cuidar da Vida, prevenção ao suicídio de adolescentes e jovens

O Projeto Cuidar da Vida, prevenção ao suicídio de adolescentes e jovens, chega neste final de semana em Manaus, onde 26 representantes dos Regionais Noroeste e o Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), participam do segundo encontro dos seis em que a Comissão Episcopal para a Juventude da CNBB está realizando em todo o Brasil. O primeiro foi em Cuiabá (MT), e depois deste de Manaus, estão previstos mais quatro encontros em Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ), Imperatriz (MA) e São Paulo (SP). O projeto, criado por um grupo de 6 psicólogos e 1 suicidólogo, todos envolvidos na evangelização das juventudes, diante do aumento do suicídio entre adolescentes e jovens, até o ponto de ser a segunda causa de morte entre jovens de 18 a 29 anos, pretende capacitar Agentes de Pastoral acerca da Prevenção do suicídio com o intuito de formar líderes que possam, posteriormente, serem multiplicadores da formação de outras lideranças locais. O trabalho deve ser realizado nos ambientes em que os adolescentes e jovens se encontram. Estamos diante de “um tema tão delicado, que é a questão da saúde mental de nossos adolescentes e jovens”, segundo o assessor da Comissão Episcopal para Juventude da CNBB, padre Antônio Gomes de Medeiros Filho, SDB. Segundo o salesiano, “já era uma situação desafiadora antes da pandemia da Covid19, e depois da pandemia da Covid19 se tornou um imperativo, tem preocupado muito nossos pastores essa questão da saúde mental, e então, a partir de um grupo de um grupo de trabalho de psicólogos, suicidólogos e pastoralistas nasce o Projeto Cuidar da Vida”. O encontro que está sendo realizado em Manaus neste final de semana, “vai tentar ajudar as pessoas que estão participando a tentarem identificar em seus trabalhos alguns sinais desta situação, pessoas que estejam com a saúde mental fragilizada, numa perspectiva de decorrência para a questão da tentativa de suicídio e perceber também toda uma rede de apoio que deve se gerar em torno das pessoas”, segundo o assessor da CNBB. Ele insistiu em “identificar nos poderes públicos a questão da importância de uma rede de apoio para os jovens. Nessa busca, a gente quer ajudar nossos agentes de pastoral a entrar nessa dinâmica também”. A organização das comunidades é vista pelo padre Antônio Gomes como um desafio grande, tendo em vista que “a gente possa ter uma qualidade de vida melhor”. Diante do aumento do suicídio, o assessor fala de questões sociais e estruturais na sociedade brasileira, marcada por “desigualdades gritantes no nosso país”, ressaltando a “separação entre empobrecidos e gente que se enriquece”, o que demanda “sonhar com um mundo melhor, um mundo mais igualitário, mais fraterno, mais solidário”. Geslane Dourado é uma jovem da Pastoral da Juventude da diocese de Roraima, considera importante o curso dado a ansiedade, depressão, que sofrem muitos jovens na sociedade atual. Ela reconhece que “ainda é um tabu falar sobre a questão da saúde mental”. Nessa perspectiva afirma que “trabalhar essas questões com as juventudes é bom porque são os principais públicos que são afetados com relação a isso, e aí muitos jovens se sentem sozinhos e acabam se suicidando”, dentre eles jovens que participam da Igreja, insistindo em trabalhar na prevenção. A jovem diz conhecer jovens que tentaram suicídio, e hoje se encontram num estado de saúde melhor. Inclusive amigos de amigos próximos dela que já se suicidaram, “jovens que a gente menos espera, que estão dentro da caminhada pastoral, que estão conversando com a gente ali, que a gente pensa que está tudo bem, mas que no fundo, a gente não conhece como está a saúde de todos”. Ir. Zaira Borges, religiosa das Irmãzinhas da Imaculada Conceição, que faz parte da coordenação de pastoral da arquidiocese de Porto Velho (RO), considera que “é um tema muito gritante a saúde mental dos nossos adolescentes e jovens, e tem sido esse grito dentro dos nossos grupos, da sociedade como um todo”. A religiosa ressalta que “depois da pandemia parece que aflorou ainda mais a questão do suicídio, da saúde mental”, considerando “pertinente buscar mais recursos sobre a temática e prevenir para que os nossos jovens e adolescentes não acabem entrando também nessa situação”. Isso demanda, afirmou a religiosa, que nas bases aumente o número de “multiplicadores, pessoas que conheçam sobre a temática para estar repassando para as comunidades e depois buscar ajuda”, indicando essa ajuda para as pessoas que sofrem adoecimento mental. Ao longo do minicurso será abordada a questão da prevenção do suicídio, definindo o que é o suicídio; os mitos e tabus; os dados atuais; os fatores de risco: violência física, homofobia, bullying, cyberbullying, ansiedade, depressão; a doutrina eclesial e suicídio; ações preventivas: fortalecimento de redes; importância da espiritualidade. No programa também aparece a questão do pósvenção, as tentativas não concretizadas e concretizadas (luto), sequelas físicas, depressão, recorrência; lidar com quem sofre: família, o grupo de jovens, colegas da escola. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Uma Igreja que luta por políticas públicas, pelo bem-viver de todos e todas

Ser uma igreja que sabe dar respostas diante do que acontece no cotidiano do povo é um desafio a ser enfrentado pela Igreja católica. Uma Igreja que vai ao encontro das pessoas e oferece luzes para poder tomar decisões à luz da fé e do Magistério, à luz da Doutrina Social da Igreja. No último final de semana acontecia o Seminário das Pastorais Sociais do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, um momento importante para poder refletir sobre tudo aquilo que tem a ver com o trabalho realizado pela Igreja católica fora do templo. Um dos temas mais destacados durante o encontro foi a reflexão em torno às eleições municipais que serão realizadas no próximo mês de outubro. Entender a importância do voto é um dever de todo cidadão, ainda mais de quem se diz cristão. O fato de caminhar na Igreja católica tem que nos levar a refletir sobre as consequências do voto, que sempre deve ter como foco principal o bem comum. Daí a importância de refletir sobre situações que estão presentes na conjuntura política brasileira, como é a compra de votos, e outras situações que devem ser combatidas, pois a Lei brasileira diz que isso constitui um crime. O trabalho das Pastorais Sociais tem que ser fundamental para a Igreja católica e é a essa realidade que a Igreja deve dedicar os maiores esforços. Jesus participava da vida do Templo e da sinagoga, considerados os espaços litúrgicos da religião judaica, mas ele realizou sua missão no meio do povo, especialmente entre os pobres, os vulneráveis, os descartados por um sistema político e religioso que ignorava esses grupos sociais. O foco do agir da Igreja tem que estar fora do espaço sagrado, tem que centrar seu esforço para que as políticas públicas sejam garantidas para todos e todas. Nesse sentido, as eleições têm que ser uma oportunidade para eleger os candidatos e candidatas, no Brasil as mulheres também são colocadas para trás na vida política, que mais se empenhem na garantia dessas políticas públicas, que garantem o bem-viver. No meio de nós nos deparamos com católicos que assumiram o exercício da política e desempenham ou tem desempenhado cargos políticos em diferentes níveis. O fato de ser católicos deveria garantir seu compromisso com o bem comum e seu empenho em defender a vida e os direitos dos mais pobres. Não podemos esquecer que manifestamos nossa fé no compromisso, pois essa dimensão não é algo teórico e sim uma prática que nos leva a estar do lado daqueles que mais sofrem. Mas ninguém pode esquecer que todos e todas somos chamados a exercer a política, pois política é o cuidado do que é comum a todos. Preocupar-se pelo que é de todos, ainda mais numa sociedade cada vez mais individualista, onde tantos se preocupam com garantir os interesses pessoais ou de pequenos grupos de poder, é uma urgência cada vez maior, ainda mais se nós nos dizemos seguidores de Jesus de Nazaré, alguém que é presença do Deus da Vida para todos no meio do povo. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1 – Editorial Rádio Rio Mar

39ª Semana do Migrante: “Sair do nosso mundo egoísta e fechado, alargando o nosso coração para a Fraternidade Universal”

Inicia o próximo domingo 16 de junho a 39ª Semana do Migrante, que vai até dia 23 de junho. Em 2024, o tema é “Migração e Casa Comum” e o lema, em sintonia com o Sínodo sobre a Sinodalidade, “Alarga o espaço da tua Tenda” (Is 54,2). Uma oportunidade para uma “tomada de consciência, como Igreja e como Sociedade, frente à uma realidade que provoca migração forçada e não promove a acolhida digna”, segundo o bispo de Primavera do Leste – MT, e presidente do Serviço Pastoral dos Migrantes, dm João Aparecido Bergamasco, SAC. O bispo insiste no convite “a alargar o nosso coração para uma acolhida afetiva e efetiva, como família de Deus que busca e promove a ‘amizade social’, para romper as barreiras que impede a solidariedade, a promoção e a integração de todos os irmãos e irmãs que buscam um novo lugar ou uma nova pátria. Somos chamados a fazer a experiência da Fraternidade Universal através do acolhimento, do afeto e do cuidado buscando o Bem Viver Fraterno”. Entre as causas da migração, dom Bergamasco coloca “a falta do cuidado com a Casa Comum, a polarização, a violência, a guerra, a fragilidade das relações entre as pessoas e as políticas que geram exclusões têm agravado a situação, sobretudo dos mais pobres”. Isso demanda “cuidar desta Casa Comum como espaço acolhedor da criação, sem exclusões, pois, estamos todos conectados e somos todos irmãos e irmãs”, segundo o bispo. Ele vê a Semana do Migrante como “um momento oportuno para sair do nosso mundo egoísta e fechado, alargando o nosso coração para a Fraternidade Universal”, o que demanda “uma profunda conversão no cuidado, no afeto, na amizade e na incidência política”, se fazendo necessário superar a cultura da indiferença. A reflexão para a Semana do Migrante 2024 tem como base a Laudato Si´, a Laudate Deum, a Fratelli tutti e a Campanha da Fraternidade 2024, com o tema Amizade Social. A Laudato Si´, uma ideia que é reforçada na Laudate Deum, faz um chamado ao cuidado da casa comum, algo que também tem a ver com o fenómeno da migração. Os pobres e excluídos são as principais vítimas da devastação dos biomas e florestas, da desertificação do solo, da contaminação do ar e das águas, do aquecimento global. As catástrofes climáticas, muitas vezes provocadas pela ação humana, são causa de migração. Os refugiados climáticos constituem um grupo em constante aumento. Diante disso, a Semana do Migrante faz um apelo: “Alarga o espaço da tua tenda”, inspirados no chamado do Papa Francisco a preparar a casa para todos os seres humanos e para todas as formas de vida, onde todos todos e todas possam tornar-se irmãos e irmãs no espaço dessa casa, numa vizinhança sadia e saudável. O convite é passar do viver bem egocêntrico e egoísta ao bem viver fraterno e solidário, a descobrir a riqueza da diversidade presente nas pessoas, nas culturas, nas religiões. A Semana do Migrante nos mostra que os migrantes são portadores das sementes do verbo, são artífices e protagonistas de novos tempos. Isso porque toda pessoa, grupo ou cultura cresce e se enriquece no encontro com o outro. Daí a necessidade de “passar da globalização da indiferença” para a “cultura do encontro, da fraternidade e da solidariedade”. Para isso somos chamados a tecer o fio das relações humanas, um grande desafio diante do crescimento da extrema direita, que impulsionam a divisão, que faz com que os migrantes sofram com o preconceito e a discriminação, com o racismo e a xenofobia. Diante disso, a Pastoral do Migrante faz um chamado a ver o migrante não como perigo ou ameaça e sim como oportunidade de encontro, de diálogo e de solidariedade. Um chamado a não criar guetos e sim comunidades, e assim alargar o espaço de nossa tenda em direção à amizade social com todos os povos e nações, como caminho para construir em bases firmes e sólidas a nossa casa comum. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Encerrado o Seminário Regional das Pastorais Sociais: Formar lideranças atuantes de forma qualificada na realidade

“A Amizade Social e o compromisso sociopolítico da fé na construção do bem viver dos povos”, foi o tema do Seminário Regional das Pastorais Sociais realizado na Maromba de Manaus de 07 a 09 de junho de 2024, com a participação de 50 representantes das igrejas locais do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Um seminário que tinha como objetivo principal, “contribuir na formação de lideranças para atuarem nas pastorais sociais, organismos e igrejas locais de forma mais qualificada, fortalecendo as mesmas, bem como as iniciativas no cuidado da vida a partir da fraternidade e amizade social”. O Seminário que o Ir. Danilo Bezerra considera “de fundamental importância para nos fortalecer enquanto Regional na luta pela justiça, pela fraternidade, pela solidariedade”. O irmão Marista, que trabalha na diocese de Roraima, destacou a importância de ir para as bases para “trabalhar essa formação sociopolítica”, de ir às ruas, de “ajudar às pessoas a viver de fato o Jesus de Nazaré, a viver de fato o Jesus do Evangelho, aquele Jesus que testemunha a Palavra de Deus, testemunha a amizade, a fraternidade, a justiça e o amor, e ao mesmo tempo anuncia tudo isso e denuncia os opressores”. O religioso, que foi um dos representantes do Regional Norte1 na 6ª Semana Social Brasileira, ajudou, junto aos outros participantes, a ecoar as reflexões desse “Mutirão Nacional pela Vida, por Terra, Teto e Trabalho. O Brasil que queremos: O Bem Viver dos Povos Rumo ao Projeto Popular”, sendo apresentado como as Pastorais Sociais no Regional têm se envolvido e os passos a serem dados daqui para frente, buscando algo concreto que chegue na base. Igualmente, foram colocadas sugestões para construção do Grito dos Excluídos, assim como compromissos a ser levados para as igrejas locais em vista de realizar escolas de Fé e Política e as eleições municipais de 2024. A articuladora das Pastorais Sociais e Organismos no Regional Norte1, Ir. Rosiene Gomes, destacou que “as Pastorais Sociais integram a Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil”, considerando de suma importância esses momentos de formação, “para que as lideranças sejam atuantes de forma qualificada na nossa realidade”. A religiosa ressaltou que “em nosso Regional, a Igreja caminha com a disponibilidade desses homens e mulheres que fazem parte, que integram essas pastorais, e são multiplicadores na base”. Falando sobre os desafios, cada vez maiores, a Ir. Rosiene Gomes disse que depois das dificuldades vividas durante a pandemia, “agora estamos tentando fazer com que haja um re-encantamento com esse trabalho que era feito antes, quando as lideranças eram mais ativas, mais comprometidas”, considerando o Seminário como uma forma de “reanimar essa ação evangelizadora, essa ação pastoral que foi ficando aos poucos fria”. Para isso, a religiosa fez um chamado a dar continuidade entre todos e todas a dar continuidade a esse trabalho, “continuar a levar esperança, alegria”, caminhar juntos como lideranças, em vista de uma Igreja com um rosto de alegria, de esperança para todos. O Seminário foi concluído com o encaminhamento de propostas com relação ao trabalho das Pastorais Sociais e Organismos que fazem parte do Regional Norte1. Com relação às eleições municipais do mês de outubro, foi tirado como compromisso que cada igreja local e as Pastorais Sociais contribuam na reflexão nos grupos de base com relação à questão política, em vista de contribuir para eleger pessoas que possam representar aquilo que as pastorais, as dioceses e prelazias trabalham no cuidado e defesa da vida. Igualmente foi incentivado o trabalho em rede das diversas pastorais e organismos, preparando a celebração do Jubileu 2025, algo que será abordado na Assembleia Regional Norte1 no mês de setembro, em vista da realização de uma grande celebração, tendo presente o Jubileu da Esperança. Nessa perspectiva, o arcebispo de Manaus e presidente do Regional Norte1, cardeal Leonardo Steiner, motivou as Pastorais Sociais para trazer presente algum marco que ajude a ver o tempo do Jubileu como esperança a partir das pastorais e organismos do Regional. Dom Leonardo agradeceu muito a participação de todos, reforçando alguns encaminhamentos feitos durante o Seminário. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1