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Cardeal Aguiar: “Tudo vai depender de colocar em prática o que estamos aqui dizendo que a Igreja deve ser”

Três cardeais, Schönborn, Aguiar e Aveline, e a Irmã Samuela Maria Rigon foram os participantes da primeira coletiva de imprensa da última semana da Assembleia Sinodal do Sínodo da Sinodalidade, que concluirá sua primeira sessão no próximo domingo com a celebração de uma Eucaristia na Basílica de São Pedro. Uma semana em que o trabalho está centrado no Documento de Síntese e na Mensagem ao Povo de Deus, cujo esboço foi apresentado à assembleia na segunda-feira e que será aprovado e publicado na quarta-feira. Fé, esperança e caridade como frutos O Cardeal Christoph Schönborn vê o Sínodo como o melhor de sua vida, devido à disposição dos participantes e porque está funcionando de forma muito positiva. Quanto aos frutos, ele espera que, seguindo o exemplo do Concílio Vaticano II, seja colhido um aumento na fé, na esperança e na caridade. Um Sínodo que, mais de 50 anos após a instituição do Sínodo dos Bispos, tem como objetivo como viver a comunhão na Igreja, uma comunhão com Deus que está aberta a todos os homens e mulheres. O Arcebispo de Viena enfatizou que “a sinodalidade é a maneira pela qual podemos viver a comunhão“. O ponto focal é a visão da Igreja na Lumen Gentium, onde se diz que a Igreja é Mistério, a Igreja é o povo de Deus, como anterior à hierarquia, insistindo que a base da sinodalidade é o Batismo. O Cardeal refletiu sobre como as Conferências Episcopais Europeias estão atrasadas nas estruturas de sinodalidade em relação a outros continentes, destacando a sinodalidade presente nas Igrejas Orientais, algo explícito neste Sínodo, que têm essa dimensão em seu coração, que é visível na assembleia dos fiéis. Um percurso sinodal que o Cardeal Carlos Aguiar abordou na perspectiva da transmissão da fé, recordando a sua primeira participação num sínodo, o da Nova Evangelização em 2012, a que se seguiram o Sínodo da Juventude e o Sínodo da Amazônia. Não se deixar abater por coisas pequenas O Cardeal Aveline, Arcebispo de Marselha, disse que chegou ao seu primeiro Sínodo com emoções diferentes, com um sentimento de curiosidade, diante de pessoas vindas de todo o mundo, mas que depois de um mês descobriram muitas coisas juntas. Um Sínodo em um mundo em crise, que neste mês se agravou. Em vista disso, ele conclamou a Igreja a não se prender a coisas pequenas, mas a assumir a responsabilidade e levar o amor de Deus ao mundo. O cardeal francês refletiu sobre a falta de participação no processo sinodal em seu país, sobre o método de conversação no Espírito, que mostra que temos uma responsabilidade comum no batismo, e sobre a importância de poder falar livremente. Enfatizando a importância desta última semana para chegar a um acordo sobre as questões restantes, ele pediu arregaçar as mangas e começar a trabalhar. Ele também insistiu na importância dos 11 meses entre as duas sessões da assembleia para que a semente germine, “um período em que temos que ser todos ouvidos, para escutar o que está brotando“, concluiu. A Ir. Rigon, apesar de sua resistência inicial, vê sua participação como “um chamado de Deus para servir à nossa Igreja. Fazer minha contribuição como mulher batizada e consagrada está me fazendo tocar com minhas mãos a universalidade da Igreja, a origem de situações que muitas vezes não são faladas, a experiência da universalidade”. Com humildade, ela disse sentir que “posso contribuir com meu grão de areia e estamos construindo um mosaico muito bonito”. De acordo com a religiosa, “estamos recebendo uma semente importante e Deus a ajudará a crescer em nós e por meio de nós“. Lembrando as palavras de São Francisco de Assis: “hoje começo a ser um cristão diferente”, ela disse que via isso como algo que nos ajudaria a transformar a face da Igreja e oferecer a face misericordiosa e amigável de Jesus. Colocando isso em prática O Cardeal Aguiar insistiu que “se colocarmos em prática o que já definimos, discutimos e vivemos aqui, há um caminho a seguir. Se não o fizermos, se apenas ouvirmos e não levarmos isso para o nosso cotidiano, para as nossas responsabilidades, nada acontecerá. Portanto, tudo dependerá de nós quando voltarmos às nossas dioceses e colocarmos em prática o que estamos dizendo aqui que a Igreja deve ser”. Na mesma linha, o cardeal Schönborn insistiu que esse método, com diferentes variantes, “são elementos-chave que mudam de maneira fundamental a situação da Igreja hoje“. Um método que ele propõe como uma maneira específica de resolver os problemas da guerra no mundo, pedindo que um método sinodal, com escuta e intercâmbio, seja adotado pelas Nações Unidas para avançar. A escuta é o ponto chave Um método no qual, de acordo com a religiosa italiana, “o cerne da questão é escutar“, um aspecto que não podemos negligenciar em todos os níveis da vida e da Igreja. Por esse motivo, ela disse que apreciou muito “o fato de que todos pudemos falar e ser ouvidos”, definindo-o como muito construtivo, sem esquecer que o primeiro mandamento da Bíblia é “Escuta Israel”. Um Sínodo no qual o Cardeal Schönborn não vê nenhum problema na participação de não-bispos, porque o Sínodo “é um exercício do Povo de Deus“, em comunhão com o Papa, com os bispos e com os fiéis da Igreja. Um exercício como Povo de Deus que está “enraizado na corresponsabilidade colegial para o bem da vida da Igreja”, uma experiência muito positiva. De fato, ele destacou que o sínodo sempre incluiu peritos leigos, lembrando as intervenções de peritos leigos que foram cruciais para o sínodo. O arcebispo de Viena disse que é uma pena que os cristãos não estejam unidos, mas sabemos que se os cristãos usassem bem a unidade, seria possível encontrar mais força. Uma unidade na qual, para o Cardeal Aguiar, não devemos nos surpreender com a diversidade, as formas, os contextos são diferentes, mas todos com o mesmo critério. Uma unidade que esteve presente na oração ecumênica do dia 30 de setembro, segundo o Cardeal Aveline, afirmando que o…
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A Assembleia Sinodal prepara a Síntese para onze meses de gravidez, de espera ativa

A primeira sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo da Sinodalidade está entrando em sua última semana, na qual a redação da Mensagem ao Povo de Deus e, sobretudo, do Documento de Síntese serão o foco dos trabalhos, que começaram com uma Eucaristia na Basílica de São Pedro e um momento de reflexão na Sala Paulo VI. Encarnando um caminho sinodal de fé A missa foi presidida pelo Cardeal Charles Bo, Arcebispo de Rangoon, Mianmar, e Presidente da Federação das Conferências Episcopais da Ásia (FABC). Em sua homilia, ele começou refletindo sobre a busca espiritual da humanidade desde que Adão e Eva escolheram “um caminho envolto em trevas”, insistindo que “Deus nunca abandona seu povo“. Na vida, “somos chamados a nos aventurar no desconhecido, guiados por nossa fé inabalável”, disse o Cardeal Bo, que vê Deus como “nosso guia, nosso roteiro e nosso companheiro”, e a Igreja, seguindo o exemplo de Abraão, como aquela que “é chamada a ser justa, a encarnar uma jornada sinodal de fé com a convicção de que Deus nunca erra“, pedindo inspiração em Moisés e para entender que “mesmo que não cheguemos ao destino pretendido, participar da jornada já é uma bênção”. Isso porque “essa jornada sinodal é intergeracional” e, pessoalmente e como Igreja, somos desafiados a nos alinhar com a vontade de Deus. Relembrando o chamado do Papa Francisco à reconciliação com Deus (Evangelii Gaudium), com a natureza (Laudato Si’) e uns com os outros (Fratelli Tutti), ele afirmou que “nosso caminho sinodal é sobre curar e reconciliar o mundo em justiça e paz”, definindo a sinodalidade global como a única maneira de salvar a humanidade e criar um mundo de esperança, paz e justiça. De acordo com o cardeal, “neste Sínodo, uma de nossas grandes preocupações é o legado que deixaremos para a próxima geração“, refletindo sobre a realidade da Ásia e suas consequências para o futuro. Preparando-se para o momento mais fértil do Sínodo O padre Timothy Radcliffe descreveu os onze meses entre as duas sessões do Sínodo como o período mais fértil do Sínodo, o período de germinação. Na primeira sessão, as palavras proferidas são vistas pelo dominicano como “as sementes que são semeadas no solo da Igreja“, que “quando chegar a hora, darão frutos”, afirmando que “se nossas palavras forem amorosas, elas brotarão na vida de pessoas que não conhecemos”. Onze meses que ele comparou a uma gravidez, “um tempo de espera ativa”, conclamando, com as palavras de Simone Weil, a não buscar os dons mais preciosos, mas a esperar por eles, algo que ele definiu como profundamente contracultural, em uma cultura “muitas vezes polarizada, agressiva e desdenhosa das opiniões dos outros”, de onde ele fez um apelo para não pensar de forma partidária, o que “não é o caminho sinodal”. Para que a semente germine, ele considera necessário que “mantenhamos nossas mentes e corações abertos para as pessoas que encontramos aqui, vulneráveis às suas esperanças e medos”, o que produzirá “uma colheita abundante, uma verdade mais plena. Então a Igreja será renovada. Para isso, será necessário falar, nesses onze meses, palavras que sejam férteis e cheias de esperança, e não palavras que sejam destrutivas e cínicas, palavras que sejam nutritivas e não venenosas. O pequeno como marca do estilo de Jesus Por sua vez, Ir. Maria Grazia Angelini refletiu sobre a necessidade de “narrar parábolas em vez de lançar proclamações“. Para isso, fez uma pergunta: “Como podemos falar hoje do Mistério do Reino, do crescimento surpreendente e dramático, narrando estes dias do caminho sinodal, com palavras de carne? Na semente lançada, que podemos dizer que o Sínodo lançará com o Documento Síntese, a monja beneditina vê “um mistério de geração, de aliança gratuita”, uma oportunidade para discernir os sinais do Reino a exemplo de Jesus. Para captar e dar espaço ao dinamismo da Palavra em si mesmo e na Igreja, a religiosa vê a necessidade do silêncio e da verdadeira humildade, insistindo que “o surpreendente sentido do pequeno como portador do futuro marca o estilo de Jesus”. A primeira sessão da Assembleia Sinodal, que ela definiu como um mês de semeadura, é vista por ela como “um ato profundamente subversivo e revolucionário“, a fim de “abrir um caminho para a reforma – uma nova forma – que a vida exige”, e para isso, como algo do Espírito, “captar e narrar semelhanças sem precedentes entre o Reino de Deus e as realidades mais simples, mínimas, frágeis e vitais da terra, semelhanças que abrem o futuro”. A religiosa fez um chamado a ver Deus “no que há de mais baixo” e, assim, “criar e alimentar narrativas concretas disso”. É um trabalho que “deve amadurecer a partir da formação da consciência”, exigindo “um distanciamento decisivo do cuidado pastoral de qualquer perspectiva estatística, eficiente, processual e sistêmica”. Por fim, disse que rezava “para que este Sínodo receba a arte de novas narrativas, a humildade radical de quem aprende a reconhecer a semelhança do Reino nos dinamismos mais verdadeiros e vitais do humano, dos vínculos primários, da vida que bate misteriosamente em todos os mundos e esferas da existência humana, em uma admirável harmonia oculta. Com tanta paciência. A capacidade de olhar para a noite”. Isso para relatar “novas parábolas, que dão alimento para o pensamento, para o crescimento, para a esperança, para caminhar – juntos”. Discernimento entre oportunidades e armadilhas Refletindo sobre a tradição, Ormond Rush, Professor Associado de Religião e Teologia do Instituto de Religião e Investigação Crítica da Universidade Católica Australiana, disse que o Concílio Vaticano II pode “conter algumas lições para este sínodo, já que agora eles realizam a síntese de seu discernimento sobre o futuro da igreja“. Para iluminar as discussões presentes no Concílio, ele se baseou nas palavras do perito do Concílio, Joseph Ratzinger, que observou que a fonte de tensão eram duas abordagens à tradição: uma compreensão “estática” da tradição, legalista, proposicional e a-histórica, relevante para todos os tempos e lugares, tendendo a se concentrar no passado, e uma compreensão “dinâmica”, personalista, sacramental e enraizada na história,…
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Ormond Rush: “Discernir a diferença entre oportunidades e armadilhas” na elaboração do Documento de Síntese

O Sínodo da Sinodalidade, que de 4 a 29 de outubro está realizando a primeira sessão da Assembleia Sinodal, está entrando em sua última semana de trabalho, na qual a principal tarefa é elaborar o Documento de Síntese. Para refletir sobre isso, Ormond Rush, Professor Associado de Religião e Teologia no Instituto de Religião e Investigação Crítica da Universidade Católica Australiana, ajudou os participantes do Sínodo a refletirem a partir da perspectiva do Concílio Vaticano II, que pode “conter algumas lições para este sínodo, à medida que agora é realizada a síntese de seu discernimento sobre o futuro da igreja“. O ensinamento do Concílio Vaticano II Em seu discurso, ele observou como um dos principais pontos de tensão no Vaticano II foi a “tradição“, contando como um texto preliminar sobre “as fontes da revelação” foi rejeitado, o qual “foi concebido nas categorias do neoescolasticismo, que falava de revelação, fé, Escritura e tradição de uma forma amplamente unidimensional: em termos apenas de declarações doutrinárias proposicionais”. O professor australiano lembrou as palavras do perito conciliar Joseph Ratzinger, que observou que a fonte de tensão eram duas abordagens à tradição: uma compreensão “estática” da tradição, legalista, proposicional e a-histórica, relevante para todos os tempos e lugares, tendendo a se concentrar no passado, e uma compreensão “dinâmica”, personalista, sacramental e enraizada na história, realizada no presente, mas aberta a um futuro ainda a ser revelado, que o Concílio definiu como “tradição viva”. Ratzinger falou de três maneiras inter-relacionadas pelas quais o Espírito Santo guia o desenvolvimento da tradição apostólica: o trabalho dos teólogos; a experiência vivida pelos fiéis; e a supervisão do magistério, onde Rush vê uma igreja sinodal. Diferentes abordagens à tradição Nessa perspectiva, “a tradição não deve ser vista apenas de forma afirmativa, mas também de forma crítica“, disse Rush. Relembrando as palavras do Papa Francisco, ele observou que “a tradição é uma realidade viva, e apenas uma visão parcial vê o ‘depósito da fé’ como estático”. O teólogo vê a revelação não apenas como “uma comunicação de verdades sobre Deus e a vida humana, articuladas nas Escrituras e em declarações doutrinárias”, mas como “uma comunicação do amor de Deus, um encontro com Deus Pai em Cristo por meio do Espírito Santo”. Uma revelação que na Dei Verbum, o que é importante para entender a sinodalidade e o próprio propósito deste Sínodo, é apresentada “como um encontro contínuo no presente, e não apenas como algo que aconteceu no passado“. Uma revelação que na Dei Verbum aparece basicamente como diálogo. A partir daí, ele definiu este Sínodo como “um diálogo com Deus”, que Rush vê presente nas “conversas no Espírito”. Por isso, “Deus está esperando sua resposta”. Para isso, apontou o Concílio de Jerusalém como uma possível inspiração, onde com “o Espírito Santo tiveram que se reunir para uma nova adaptação do Evangelho de Jesus Cristo com relação a essa nova questão, que não havia sido prevista antes”. Lembrando que “o Vaticano II exortou a Igreja a estar sempre atenta aos movimentos do Deus revelador e salvador presente e ativo no fluxo da história, prestando atenção aos ‘sinais dos tempos’ à luz do Evangelho vivo”, Rush vê o discernimento deste Sínodo como um chamado “para ver, com os olhos de Jesus, os novos tempos; mas também nos exorta a estarmos atentos às armadilhas, onde podemos estar sendo atraídos para formas de pensar que não são de Deus”. Essas armadilhas estão presentes em “nos ancorarmos exclusivamente no passado, ou exclusivamente no presente, ou não estarmos abertos à futura plenitude da verdade divina para a qual o Espírito da Verdade está conduzindo a Igreja”, desafiando todo o povo de Deus a “discernir a diferença entre oportunidades e armadilhas” e, para isso, ele os convidou a “fixar nosso olhar em Jesus“. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

À espera de um Documento de Síntese que instigue a ser, e não apenas a agir, Igreja Sinodal

A Assembleia Sinodal do Sínodo da Sinodalidade, que tem como principal objetivo trazer de volta o Concílio Vaticano II, está se preparando para enfrentar a última semana. As tardes de sábado e os domingos são dias sem trabalho na Sala Sinodal, mas isso não significa que tudo pare. Às vezes, grandes decisões são tomadas nos bastidores. Importância do Documento de Síntese Enquanto aguardamos uma semana que deve ser decisiva, porque, embora haja uma tentativa de negar sua transcendência, o Documento Síntese é de fundamental importância para que o processo continue e o faça com um senso de pertencimento por parte de toda a Igreja, estamos diante de sete dias, nem todos de trabalho na Sala Paulo VI, que podem fazer com que o Sínodo da Sinodalidade possa ou não ser visto como um instrumento de reforma na Igreja. Ao trazer de volta o Concílio Vaticano II, é de fundamental importância como combinar os capítulos 2 e 3 da Lumen Gentium, a relação entre o povo de Deus e a hierarquia, um ponto chave se quisermos falar de uma Igreja sinodal. Em alguns continentes, especialmente na América Latina, tem sido mais fácil combinar esse caminho entre a hierarquia e o povo de Deus. Outras igrejas parecem estar a caminho, há algumas que gostariam de chegar lá e estão tentando, e há aquelas que dizem abertamente que não querem andar nesse caminho. Modo de ser e não apenas de agir Nesta Igreja, a sinodalidade não pode continuar sendo um modo de agir, ela precisa ser assumida como o modo de ser da Igreja. E é aí que entra em jogo a questão da autoridade, que muitos entendem como poder. O medo é perder o poder, pois isso significaria perder uma autoridade que deveria se basear no Evangelho e nas atitudes evangélicas, e não no lugar que cada um ocupa. Não podemos esquecer que, em uma Igreja sinodal, o poder deriva do sacramento do Batismo e não do sacramento da Ordem, ninguém deve pensar que tem mais poder, embora esse pecado seja muito comum, pelo fato de ser um ministro ordenado. Mas isso é algo que é experimentado e sofrido em todos os níveis da Igreja, desde o conselho pastoral de uma comunidade ou paróquia até níveis mais amplos, onde a importância das decisões é mais abrangente. E, no final, há muitas pessoas que se cansam dessa maneira de ser Igreja e acabam vivendo sua fé nas catacumbas. Ferramentas para um debate aberto Abordar essas questões deve ser uma preocupação para uma Assembleia Sinodal que confiou a uma comissão a elaboração desse Documento de Síntese, mas que será votado e aprovado por aqueles que são membros da Assembleia Sinodal. São temas que devem constar no Documento de Síntese, temas teológicos, baseados na Tradição e no Magistério da Igreja, para que possam ser discutidos abertamente nos diferentes níveis da Igreja entre as duas sessões da Assembleia Sinodal, para que o processo seja alimentado. O processo de escuta sinodal abriu muitas expectativas, muitas pessoas se sentiram um pouco mais importantes na Igreja, não foram mais tratadas como crianças que não podem falar, mas apenas obedecer. Ficar no método, no agir, não determinará o ser, o fundamento da Igreja, e isso é algo que não pode ser perdido de vista se quisermos ter uma perspectiva de médio e longo prazo, se quisermos pensar em como ser Igreja quando em muitos lugares não somos a maioria, se quisermos dar respostas a muitos, especialmente mulheres e jovens, que hoje não estão encontrando isso na maneira atual de ser Igreja. Não vamos deixar a oportunidade passar mais uma vez… Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Cardeal Barreto: “Não estamos inventando nada, estamos reunindo o que o Espírito Santo deu às igrejas”

Um Sínodo que vem sendo preparado há dois anos em diferentes níveis, desde as paróquias até os continentes. É assim que o cardeal Pedro Barreto vê o atual processo sinodal, como disse em uma coletiva de imprensa no dia 21 de outubro. O presidente da Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA), insistiu que “não estamos inventando nada, estamos reunindo o que o Espírito Santo diz às igrejas“. Um Sínodo de todo o povo de Deus O arcebispo de Huancayo destacou que os bispos, responsáveis por um território, “também são corresponsáveis com o Papa Francisco para toda a Igreja universal“, por isso estão em “um Sínodo dos Bispos onde há irmãs, leigos e sacerdotes que estão participando ativamente das 35 mesas deste Sínodo, com a novidade de um método que é a conversa no Espírito”. Para o cardeal peruano, “não se trata apenas de reunir a experiência que estamos vivendo, mas também estamos vivendo de uma forma pequena o que é a Igreja universal, a diversidade de raças, culturas, diversidade de idiomas, mas unidos no mesmo Espírito”. Em suas palavras, ele enfatizou que “esse Espírito, de certa forma, tem como fonte a Santíssima Trindade, três pessoas distintas, mas unidas naquele vínculo indissolúvel de amor que é Deus”. A partir daí, afirmou que “Deus é comunhão, Deus é missão e Deus é participação”, o que o leva a ver essa experiência do Sínodo como algo que “nos abre a um horizonte impressionante de diversidade na unidade que Deus nos dá”. Uma Igreja a serviço de Cristo e da humanidade Reconhecendo a existência de tensões nas comunidades de discernimento, ele enfatizou que “há, de fato, algo que nos une a todos e nos entusiasma nesse caminho sinodal em que o Espírito Santo está nos guiando”. A partir daí, ele insistiu que “depois de 52 anos como padre e 23 anos como bispo, estou vendo como a Igreja, em meio às dificuldades que está enfrentando, tanto interna quanto externamente, está se abrindo e avançando para servir somente a Cristo e à humanidade”. O cardeal contou sobre o que está acontecendo na Amazônia, onde “estamos acompanhando todo um processo sinodal desde 2013“, lembrando que “em 2014 foi criada a Rede Eclesial Pan-Amazônica, uma rede que reuniu os líderes dos povos originários e todo o trabalho que vem sendo feito desde o início da evangelização nesse bioma”. O cardeal, que já foi vice-presidente e presidente da REPAM, falou da surpresa causada pelo fato de o Papa Francisco ter convocado o Sínodo para a Amazônia, com o tema “Novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”. Uma Conferência da Igreja que inclui todos os batizados Barreto destacou que uma das consequências desse Sínodo foi a criação da CEAMA, lembrando a assembleia realizada em agosto passado em Manaus com representantes dos povos originários, padres, irmãs e bispos, que ele vê como “uma experiência bem-sucedida com a criação da primeira conferência eclesial, que incluiu todos os batizados, absolutamente todos eles“, pedindo que essa experiência seja levada adiante e lembrando a realização da Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe em novembro de 2021, que enriqueceu o atual processo sinodal e o Instrumentum Laboris. O cardeal peruano disse que “a Amazônia, especialmente os povos originários, está caminhando junto com cada um de nós“. Em suas palavras, ele lembrou a experiência de Belinda Jima, do povo originário Awajún Wampis, que em uma mensagem ao Papa disse: “Papa Francisco, você está cumprindo o mandato de Jesus, você aceitou os mais pobres dos pobres e é por isso que os povos originários estão lutando com você para espalhar esta mensagem de paz, justiça e solidariedade”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Nas Catacumbas, Cardeal Maradiaga lembra Angelelli, “que derramou seu sangue por amor a Cristo e aos pobres”

A memória é um elemento importante na experiência da fé, uma memória que muitas vezes remete às origens daqueles que iniciaram a jornada. Na história do cristianismo, as catacumbas foram um lugar de grande importância nos primeiros séculos, naquela Roma em que ser cristão não era fácil, pois representava um modo de vida totalmente contrário ao que a sociedade dominante tentava impor. As catacumbas um sinal de compromisso Na história recente, as Catacumbas de Santa Domitilla se tornaram um ponto de referência. Primeiro, em 16 de novembro de 1965, quando, poucos dias antes do encerramento do Concílio Vaticano II, um grupo de bispos assinou o Pacto das Catacumbas. Mais de 50 anos depois, em 20 de outubro de 2019, em meio ao Sínodo para a Amazônia, alguns dos Padres Sinodais e muitos outros homens e mulheres que os acompanharam renovaram um Pacto que agora se concentrava no cuidado da Casa Comum. No Pacto de 1965 estava presente Enrique Angelelli, o bispo argentino mártir, hoje beato, que foi assassinado por assumir o que havia assinado, por tornar realidade uma Igreja pobre e viver de maneira pobre. Em 2019, a Eucaristia anterior à assinatura foi presidida pelo Cardeal Claudio Hummes, que dedicou os últimos anos de sua vida ao cuidado da Amazônia e de seus povos. Quatro anos e um dia depois, um novo encontro nas Catacumbas de Santa Domitila relembrou as experiências de 1965 e do Beato Angelelli, e trouxe de volta à memória de alguns de nós, que estávamos presentes em 2019, o que vivenciamos naquela data significativa. Francisco, Angelelli, Hummes e Maradiaga Nesta ocasião, a presidência coube ao cardeal Óscar Andrés Rodríguez Maradiaga. É interessante observar essas três figuras e sua influência sobre o Papa Francisco. Em relação a Angelelli, a quem ele beatificou, sempre demonstrou grande respeito e admiração por seu compromisso e proximidade com o povo. Quanto a Hummes, pode-se dizer que ele é parcialmente responsável pelo nome de Francisco com sua frase agora famosa: “Não se esqueça dos pobres“. No caso de Maradiaga, que participou do Pacto de 2019, ele tem sido um dos cardeais mais relevantes do atual pontificado. Junto com o cardeal hondurenho, na celebração se fizeram presentes Dom Dante Braida, atual bispo de La Rioja, diocese de Angelelli, e Dom Shane Mackinlay, bispo de Sandhurst (Austrália), juntamente com alguns dos membros da Assembleia Sinodal, entre eles a Ir. Nathalie Becquart, subsecretária do Sínodo, foi uma oportunidade para lembrar Pepe Palacio, cujo centenário de nascimento está sendo celebrado este ano, e sua esposa Amalia, apresentados junto com o bispo mártir como modelos de sinodalidade. Entre os presentes estava também Emilce Cuda, secretária da Pontifícia Comissão para a América Latina. Uma diocese à imagem do Vaticano II Dom Dante Braida apresentou uma visão geral da figura de Angelelli, destacando sua sensibilidade para com o mundo dos pobres, que se manifestou sobretudo no acompanhamento dos trabalhadores, buscando unir o mundo universitário com o mundo dos trabalhadores. Dom Angelelli assumiu a diocese de La Rioja depois de ter vivido com grande intensidade o Concílio Vaticano II e começou a realizar assembleias onde era importante a presença de todo o povo de Deus, estabelecendo fortes linhas pastorais a partir de uma perspectiva missionária e da busca da justiça, onde os leigos viviam sua vocação no mundo, ordenando o que não estava bem e buscando seu crescimento. Como lembrou o atual bispo, seu antecessor promoveu a criação de cooperativas e sindicatos para exigir um salário justo para os trabalhadores. Em uma província com uma grande piedade popular, ele procurou conectar isso com a justiça social, com a construção de um mundo melhor. Em seu trabalho pastoral, ele abriu a Igreja para uma maior participação, o que trouxe alegria e esperança para muitas pessoas, especialmente aquelas que se sentiam negligenciadas ou sem um lugar na Igreja, mas também trouxe resistência, que ele tentou administrar em seu trabalho pastoral. Tensões internas como consequência da renovação conciliar que ele se comprometeu a realizar. O bispo Braida destacou que, nesse mesmo local onde ocorreu a celebração eucarística, o Beato Angelelli assumiu o compromisso de que a Igreja deveria se renovar e ser a casa de todos, buscando incluir aqueles que pensavam diferente. Por sua maneira de agir, foi identificado com o comunismo e o apoio à guerrilha, e muitos de seus colaboradores mais próximos foram presos, uma perseguição que se tornou mais dura com a chegada da ditadura. Ele nunca perdeu sua visão evangélica, o que o levou a tentar conversar com os detentores do poder, buscando mudanças. O assassinato de dois religiosos e um leigo foi o prelúdio de sua morte, destacou o bispo. A beatificação de Angelelli foi “um sinal de esperança para a Igreja argentina, somos gratos por seu testemunho porque nele temos uma fonte para beber“, concluiu o bispo de La Rioja. Um compromisso com grande repercussão O cardeal Maradiaga, que leu o texto do Pacto das Catacumbas de 1965, lembrou que não podemos nos esquecer, porque “esquecer seria esquecer todos os mártires e esquecer aqueles que assumiram esse compromisso aqui no final do Vaticano II“, lembrando Angelelli, Helder Cámara e Eduardo Pironio. Algo que hoje não parece tão evidente, mas em uma época em que os bispos usavam uma longa capa e os cardeais usavam arminho, esse compromisso, esse Pacto das Catacumbas, foi um sinal com grande repercussão, segundo o arcebispo emérito de Tegucigalpa. O importante, de acordo com o cardeal, é lembrar de tantos que derramaram seu sangue para serem testemunhas de Cristo, algo que continua a se repetir na Igreja hoje. Daí a importância de lembrar Angelelli, “que derramou seu sangue por amor a Cristo e aos pobres”, que ele vê como a palavra de ordem a ser seguida. Sem esquecer que Angelelli foi considerado um mártir do Concílio, o cardeal afirmou que “ainda hoje o Concílio Vaticano II não entrou em alguns e há outros que o rejeitam”. Por isso, concluiu que “o sangue dos mártires nos lembra que o Espírito Santo não tem…
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Uma Síntese profunda, honesta e clara do Sínodo para que ninguém pule do barco

O desafio a ser enfrentado nos próximos dias é captar de forma profunda, honesta e clara o processo vivido pelo Sínodo da Sinodalidade. Para isso, a Secretaria do Sínodo previu a elaboração do que foi chamado de Documento de Síntese, insistindo que “será breve e estará a serviço de um processo que continuará, será um texto de transição que conterá os pontos de consenso e aqueles em que não houve acordo”, bem como as questões em aberto a serem respondidas. Um instrumento para avançar As palavras de Paolo Ruffini, prefeito do Dicastério para a Comunicação da Santa Sé e presidente da Comissão de Informação do Sínodo, em uma das últimas coletivas de imprensa, um dos poucos canais pelos quais se sabe alguma informação sobre o que está acontecendo na Sala Sinodal, enfatizam que “a Síntese não é um Documento Final e nem o Instrumentum Laboris da próxima assembleia” e terá uma redação simples. A questão é como isso tomará forma e que impacto poderá ter na vida da Igreja universal nos próximos meses, bem como até que ponto será um incentivo para que os católicos de todo o mundo continuem envolvidos em um processo que, não nos esqueçamos, está longe de terminar, pois durará pelo menos até outubro de 2024, quando ocorrerá a segunda sessão da Assembleia Sinodal, que começou em 4 de outubro. Sem novas contribuições, a sinodalidade perde sua riqueza Esse é um ponto decisivo, pois se não houver novas contribuições das igrejas locais nos próximos meses, o Sínodo será reduzido a uma reflexão de um pequeno grupo. No final das contas, 365 membros, sem subtrair a importância daqueles que estão participando como tais na Assembleia Sinodal, é um número muito distante de todos os católicos, e sinodalidade significa caminhar juntos, todos nós. Na medida em que conseguirmos nos aproximar dessa totalidade, a sinodalidade se enriquecerá cada vez mais. Não podemos esquecer que uma das grandes riquezas do atual processo sinodal, algo que já pôde ser experimentado no Sínodo para a Amazônia, são as múltiplas contribuições que são fruto de um processo de escuta que reuniu uma diversidade cultural e eclesial que nos ajudou a entender melhor o que significa catolicidade. Como Dom Tarcisio Isao Kikuchi, Arcebispo de Tóquio, destacou em uma coletiva de imprensa, “sinodalidade não significa uniformidade, sinodalidade significa caminhar juntos a partir de nossas diferentes culturas“. Abrir horizontes Mas, para isso, é decisivo reunir a riqueza da diversidade e propor elementos nos quais aqueles que terão esse Documento de Síntese em suas mãos se verão refletidos, sabendo, como disse o próprio bispo japonês, que não se pode esperar que uma solução funcione imediatamente para todos. O que ajudará a manter muitos no barco é abrir horizontes que permitirão o próximo passo, que é de grande importância, uma recepção esperançosa nos próximos meses por parte daqueles que, em suas Igrejas locais, estão atentos ao que está acontecendo na Sala Paulo VI. Sem devolver ao povo de Deus, sujeito fundamental de uma Igreja sinodal, cujo modo de ação é a circularidade, os frutos e os progressos alcançados, estando aberto a todas as contribuições que possam surgir, o processo se esvaziará. Daí a importância de um Documento Síntese que consiga envolver todos na preparação da segunda sessão da Assembleia Sinodal, que deve ser o ponto culminante dessa reforma eclesial, que só será tal se for vista como fruto do discernimento comunitário de toda a Igreja. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Em uma Igreja Sinodal, “quem exerce autoridade deve fazê-lo descalço”

A Assembleia Sinodal do Sínodo da Sinodalidade, que está trabalhando no último módulo do Instrumentum Laboris, que tem como tema “Participação, responsabilidade e autoridade”, refletiu nas últimas horas sobre o exercício da autoridade, enfatizando, nas palavras de Paolo Ruffini, que “quem exerce autoridade deve fazê-lo descalço“. Corresponsabilidade em todos os níveis da Igreja O Prefeito do Dicastério para a Comunicação destacou o impacto da oração pelos migrantes e refugiados realizada na Praça de São Pedro na noite de quinta-feira. Ele também enfatizou a necessidade da participação de todos aqueles que fazem parte da Igreja no exercício da corresponsabilidade em todos os níveis da Igreja, insistindo que “o bispo tem a última palavra, mas não a única“. Na mesma linha, Sheila Pires, secretária da Comissão para a Comunicação do Sínodo destacou a experiência na Sala Sinodal, o compromisso de erradicar o clericalismo entre o clero e também entre os leigos. Com relação a todos os tipos de abuso, algo que fez com que a Igreja perdesse a autoridade, foi enfatizada a necessidade de exercer medidas de controle, algo em que a sinodalidade pode ajudar. Também foram abordadas a necessidade de maior controle das estruturas financeiras, a revisão do Código de Direito Canônico, o fortalecimento das estruturas sinodais existentes, sem cair no parlamentarismo, e a necessidade de ver o ambiente digital como território de missão, dada a necessidade de chegar às pessoas onde elas estão, de encontrar tantos jovens que estão nas redes sociais. Dois bispos e duas religiosas na coletiva de imprensa Dois bispos, Dom Gintaras Grušas, Arcebispo de Vilnius (Lituânia) e Presidente do Conselho das Conferências Episcopais Europeias, e Dom Tarcisio Isao Kikuchi, Arcebispo de Tóquio e Presidente da Caritas Internacional, e duas religiosas, Mary Teresa Barron, da Irlanda, Presidente da União Internacional das Superioras Gerais, e Houda Fadoul, da Igreja Católica Grega na Síria, foram convidados para a coletiva de imprensa. Mons. Grusas destacou a importância da Etapa Continental no processo sinodal, uma novidade na Europa, uma experiência que está ajudando na Assembleia Sinodal, onde se insiste na importância da formação nesse modo de ser Igreja. Esse trabalho em nível continental como Igreja e a compreensão de como funcionam as estruturas eclesiais nesse nível é fundamental, assim como a necessidade de conversão do coração, “chegamos com a nossa mentalidade e a partilha nos ajuda a crescer, a mudar o nosso ponto de vista, a rever a nossa vida, é um processo muito forte que nos permitirá crescer como Igreja”. Experimentando a unidade na diversidade à Ir. Houda Fadoul, que agradece ao Santo Padre, a quem define como um homem de oração, pela iniciativa, a Assembleia Sinodal a ajudou a transmitir a experiência de sua Igreja Greco-Católica às outras igrejas, afirmando que “estamos experimentando a unidade e a diversidade“, e que a partilha e a oração ajudam a superar as dificuldades. Um caminho que ele espera que dê frutos para a Igreja e para o mundo inteiro. Uma sinodalidade que tem muito a ver com a cultura, de acordo com o arcebispo de Tóquio, que trabalhou como missionário na África. Em suas observações, ele enfatizou que “nós, japoneses, não falamos muito, gostamos do silêncio, que é fundamental, para nós é difícil nos expressarmos”, o que torna a experiência dos círculos menores, algo que ele diz estar funcionando, de grande importância. Isso ajuda a experimentar a unidade na diversidade da Igreja Católica, que é universal, afirmando que não se pode esperar que uma solução funcione imediatamente para todos. “Sinodalidade não significa uniformidade, sinodalidade significa caminhar juntos a partir de nossas diferentes culturas”, enfatizou, definindo a Caritas como uma organização sinodal, envolvendo todos. Sinodalidade a partir da experiência de vida “Ninguém lê o mesmo livro que o outro, cada um lê a vida a partir de sua própria experiência”, disse Ir. Barron. A religiosa irlandesa considera que sua experiência missionária na África foi sua primeira experiência de sinodalidade, uma nova Igreja, onde havia uma comunidade de fé muito forte. “Ouvíamos uns aos outros, tomávamos decisões juntos“, destacando como vantagem em uma Igreja jovem o fato de que “as pessoas se aproximam da fé quando já são adultas, tornam-se discípulos missionários de uma forma muito consciente”. Uma experiência que ela diz ter revivido nos círculos menores, afirmando que o fundamental é decidir como viver a fé em comunidade e agir concretamente. Na África, “decidíamos juntos e cada voz tinha o mesmo peso, que é o que tenho experimentado nos círculos menores”, insistindo que é necessário escutar mais as igrejas mais jovens. A vida religiosa pode contribuir com a sinodalidade com “a maneira como vivemos como pessoas consagradas no mundo“, disse a irmã da Igreja Greco-Católica. Ela vê como uma contribuição notável o testemunho que vem de seu relacionamento com o Senhor, especialmente em momentos difíceis, quando as pessoas veem que são levadas à oração, que estão ao seu lado e que são atendidas em suas necessidades. Por sua vez, a Irmã Barron destacou o trabalho que está sendo feito pela União das Superiors Gerais para que a Vida Religiosa possa se envolver no processo sinodal, com muita formação, em colaboração com a Secretaria do Sínodo, porque “é fundamental saber o que significa ser uma Igreja sinodal, como viver essa experiência“. Nesse sentido, referindo-se à sua congregação, “as irmãs são convidadas a trabalhar nas paróquias”, uma formação que também é realizada on-line, o que permite ampliar o alcance, algo que ela também considera sinodalidade, pois permite construir comunidade e adquirir ferramentas para a missão. Buscando ser Igreja de uma maneira diferente Uma assembleia em que um dos tópicos em pauta é o diaconato feminino, algo que está sendo discernido. A esse respeito, a Ir. Houna Fadoul destacou sua experiência como superiora de uma comunidade de homens e mulheres, enfatizando a importância de cada pessoa, homem ou mulher, viver seu papel usando seus dons. O Sínodo leva a uma discussão muito mais ampla, de acordo com o Arcebispo de Vilnius, sem se concentrar em tópicos específicos e buscando viver a Igreja de uma maneira…
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Se o Sínodo não der passos concretos, se não aterrissar, corre o risco de morrer

A primeira sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade está vivendo um momento decisivo nestes dias: é hora de concretizar. Desde o início, insistiu-se que este Sínodo é uma oportunidade para colocar a sinodalidade em prática, para caminharmos juntos, mas não podemos negar que um avião não pode estar sempre voando, que tem que chegar um momento em que ele aterrissa. Se demorar muito para fazer isso, o risco de cair e todo mundo morrer se torna cada vez mais evidente. Um momento fundamental do discernimento comunitário Enquanto se aguarda a elaboração do Documento de Síntese, que deve ser o trabalho fundamental durante a última semana, os círculos menores estão chegando ao ponto culminante do discernimento comunitário, e para isso é necessário, fundamental, decisivo, passar do eu para o outro, que é o exercício realizado na segunda rodada do processo de discernimento comunitário, e assim chegar a uma clareza absoluta do sentimento comum. O módulo B3, o quarto e último módulo do Instrumentum Laboris, tem como tema “Participação, responsabilidade e autoridade” e busca refletir sobre os processos, as estruturas e as instituições necessárias em uma Igreja sinodal missionária. Um dos grandes desafios enfrentados pelo Sínodo sobre a Sinodalidade é a mudança de estruturas, algo que algumas pessoas não gostam muito. De fato, sentar-se em uma mesa redonda, como iguais, não é algo que todos gostem. Conversão pastoral para uma revolução estrutural Essa estrutura eclesial em que todos escutam, dialogam, não repreendem o outro porque ele disse algo que não me agrada, especialmente se ele ou ela está abaixo de mim na escada eclesiástica que formei em minha cabeça, é uma revolução estrutural, que exige aquela conversão pastoral que Francisco vem pedindo desde que lançou seu programa de pontificado na Evangelii Gaudium, inspirado no Documento de Aparecida, do qual o então cardeal Bergoglio coordenou o comitê de redação. Essas estruturas de articulação em todos os níveis da Igreja são uma das grandes questões quando falamos de uma Igreja sinodal. É uma questão complexa e na qual a Igreja terá que avançar com paciência, seguindo o tempo de Deus, se quiser evitar cismas que, em vez de nos levar a uma Igreja sinodal, nos levem a uma Igreja dividida, como já aconteceu em outros momentos da longa história do cristianismo. Concentrar-se, conectar posições e seguir em frente Quando conseguimos pensar a partir do “nós”, quando permitimos que Deus trabalhe e que o Espírito Santo esteja presente, é muito mais fácil nos concentrarmos, conectarmos posições e seguir em frente. Não se trata apenas de buscar o consenso, mas de chegar a pontos que façam com que todos se sintam em paz, pois há a certeza de ter chegado aonde Deus esteve indicando ao longo do caminho. Há um senso de pertencimento, um sentimento de que vale a pena seguir em frente. Nas próximas horas, a Assembleia Sinodal enfrenta o desafio de reagir ao que está sendo expresso pelos vários círculos menores, de não se perder em discursos ideológicos preparados, que continuam a responder a interesses pessoais, locais e de grupos de pressão, algo que é perceptível até mesmo nas perguntas das coletivas de imprensa. Aí aumenta o risco de ruptura e é improvável que a Assembleia Sinodal consiga aterrissar. É hora de escrever para chegar no concreto, o que é complexo, mas que será o que fará avançar em um caminho sinodal que vai e quer ir muito além de outubro de 2024. É um sonho, um sonho de outra Igreja, com espaço para todos e todas. Essa é a pista de pouso. Esperemos que a Assembleia Sinodal, onde o piloto é o “nós”, a encontre. Luis Miguel Modino, assessor de comunicção CNBB Norte1

Francisco convoca a Assembleia Sinodal a caminhar com os mais vulneráveis

Os participantes da Assembleia Sinodal do Sínodo da Sinodalidade, que está sendo realizada na Sala Paulo VI do Vaticano de 4 a 29 de outubro, rezaram na tarde do dia 19 de outubro pelos migrantes e refugiados aos pés da imagem que os lembra, na qual está representada a Sagrada Família e que foi colocada na Praça de São Pedro anos atrás. Um sinal da necessidade de nos conscientizarmos, como Igreja, de uma das realidades que hoje causam mais dor à humanidade. Rezando pelo sofrimento dos migrantes e refugiados Com a presença do Santo Padre, a oração foi uma oportunidade para rezar por todos aqueles que perderam suas vidas ao longo das várias rotas migratórias, por suas famílias, por aqueles que sobreviveram e por todos os refugiados e migrantes que ainda estão a caminho. Na oração, Francisco pediu ao Senhor, “para quem ninguém é estrangeiro e ninguém está longe da ajuda”, que “olhe com bondade para os refugiados e exilados, para os homens e meninos separados, para que lhes conceda o retorno à sua terra natal e nos dê uma caridade eficaz para com os necessitados e estrangeiros”. A relevância da parábola do Bom Samaritano À luz da parábola do Bom Samaritano, que está no centro da encíclica Fratelli tutti, o Papa Francisco lembrou que “a estrada que levava de Jerusalém a Jericó não era um caminho seguro, assim como as muitas rotas migratórias não são seguras hoje”, questionando os muitos viajantes de hoje que se assemelham à parábola, que “partem enganados por traficantes inescrupulosos“. Lembrando os sofrimentos pelos quais passam, ele insistiu que “as rotas de migração de nosso tempo são povoadas por homens e mulheres feridos e abandonados que estão meio mortos; por irmãos e irmãs cuja dor clama pela presença de Deus”. Diante deles, “hoje, como naquela época, há aqueles que veem e passam, certamente procurando uma boa desculpa”. Para Francisco, a chave, o ponto de virada, é que “a compaixão é a marca de Deus em nossos corações“, algo que se concretiza na fraternidade. Tornando-nos próximos Seguindo o exemplo do Bom Samaritano, ele nos convidou a “nos tornarmos proximos de todos os viajantes de hoje, para salvar suas vidas, curar suas feridas, aliviar sua dor“. Nessa atitude, o Papa encontra “o significado dos quatro verbos que resumem nossa ação com os migrantes: acolher, proteger, promover e integrar”, que ele define como “uma responsabilidade de longo prazo”, pedindo que nos preparemos adequadamente para “os desafios da migração hoje, compreendendo suas criticidades, mas também as oportunidades que ela oferece, com vistas ao crescimento de sociedades mais inclusivas, mais belas e mais pacíficas”. Por fim, ele pediu para “multiplicar os esforços para combater as redes criminosas“, para “trazer as políticas demográficas e econômicas para o diálogo com as políticas de migração” e para “colocar os mais vulneráveis no centro”. Essa reflexão foi seguida por um momento de silêncio para oração pessoal e pedidos para fazer o bem e construir o Reino de Deus. Eles oraram pela Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos; por uma Igreja fiel à sua missão de Bom Samaritano e hospital de campanha para todos; pelas vítimas das rotas migratórias, para que os refugiados e migrantes não precisem mais embarcar em viagens perigosas e encontrar portas fechadas; e pela paz. Em seguida, após rezar o Pai Nosso e os participantes receberam bênção papal. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1