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Assembleia Sinodal conclui segundo módulo conclamando à paz e ao diálogo intercultural e inter-religioso

A Assembleia Sinodal do Sínodo sobre o Sinodalidade concluiu seu segundo módulo no dia 12 de outubro, tendo a comunhão como tema principal. Entre os principais temas das últimas horas estiveram a paz e o compromisso dos católicos com a busca da paz e a promoção do diálogo. Junto com isso, foi destacado o tema do diálogo inter-religioso e intercultural e, mais especificamente, um maior diálogo com os povos indígenas, denunciando o impacto do colonialismo nas comunidades indígenas. Destacou-se a importância de escutar os jovens e suas propostas, e expressou-se preocupação com a participação cada vez menor dos jovens na formação da Igreja. Da mesma forma, foi destacada a necessidade de uma maior inclusão das mulheres e foi abordada a necessidade de promover a pastoral da escuta nas paróquias e comunidades. Coletiva de imprensa Participaram da coletiva de imprensa Margaret Karram, presidente do Movimento dos Focolares, Andrew Nkea Fuanya, arcebispo de Bamenda e presidente da Conferência Episcopal dos Camarões, e Ir. Caroline Jarjis, irmã do Sagrado Coração de Jesus, que trabalha em Bagdá, onde é médica. A presidente do Movimento dos Focolares, árabe católica nascida em Haifa, iniciou o seu discurso expressando a sua dor pela guerra na Terra Santa, dizendo que se perguntou várias vezes o que poderia fazer para promover a paz. Nesse sentido, destacou o momento de profunda oração de todos os participantes da Assembleia Sinodal pedindo pela paz, ressaltando o poder da oração, a importância de aumentar a fé, e dizendo que está vivendo uma experiência que está lhe ensinando o que significa caminhar juntos, algo que não é fácil, pois é complicado deixar-se questionar, escutar, dialogar, chamando a levar isso a todas as áreas, para construir pontes de paz. Um Sínodo de consolação para a África Um Sínodo que foi definido por Dom Andrew Nkea Fuanya como um consolo para a África diante dos muitos problemas do continente. Para o presidente do episcopado camaronês, é uma oportunidade para a voz da África ser ouvida, para lançar luz com sua voz. O prelado destacou a importância da unidade como a base do tecido da Igreja. O Sínodo também vê isso como uma oportunidade para que todos trabalhem juntos pela paz, pois a guerra nunca deve ser a solução, para embarcar em caminhos para a paz. A sinodalidade faz parte da cultura da África, insistiu ele, porque “empreendemos caminhos de forma conjunta e coral“, dizendo que acredita muito nas comunidades cristãs de base, onde todos podem se expressar, uma estrutura que ajuda a Igreja africana a ser sinodal, o que torna fácil acolher a sinodalidade na África, “faz parte da nossa cultura”, enfatizou o arcebispo. Ser cristão no Iraque A irmã Caroline Jarjis, que leu o Evangelho em árabe na oração de abertura da Assembleia Sinodal na quinta-feira, enfatizou que conhecer outras pessoas sem tê-las encontrado antes “nos ajuda a reconhecer o papel de Deus, que nos preparou para estar aqui“. Nas palavras da religiosa, “cada um tem um papel, um papel preparado por Deus, e nesta assembleia nos sentimos como irmãos e irmãs”. Ela também pediu que se unissem as vozes em favor da paz. “A experiência de uma assembleia sinodal vai além de um documento, é a experiência dos primeiros cristãos“, disse ela. A religiosa compartilhou a vida dos cristãos no Iraque, um país em guerra, um país de minorias cristãs, diante do qual disse ter uma esperança: “Espero que nossa Igreja seja uma Igreja rica, porque os mártires nos dão força para continuar a jornada”, vendo na Assembleia Sinodal “uma Igreja que me acompanha”. Sofrimento e esperança Ela também falou sobre a realidade do sofrimento e da esperança, e como a visita do Santo Padre ajudou, o que ela vê como uma porta aberta para todos. Sobre o momento atual, ela disse que é um período um tanto delicado, que exige viver com dignidade. Com relação à vida dos cristãos em Bagdá, destacou que “hoje está tranquilo, mas devemos sempre trabalhar pela dignidade, porque somos cidadãos desta terra, não somos apenas uma minoria”. Para alcançar a paz na Terra Santa, Margaret Karram pediu ajuda internacional nas negociações entre os dois lados, algo que deve ser tratado com urgência para o bem do povo e para a causa da paz. Ela também defendeu a necessidade de que os direitos humanos de todos os povos sejam respeitados e que haja reconciliação entre todos. Contou algumas das iniciativas de paz que estão sendo realizadas, inclusive as do próprio Movimento dos Focolares, fazendo um apelo à oração. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Resolver o difícil e o complexo em uma Igreja sinodal: respeito, sensibilidade, acolhimento

A Igreja é chamada a responder a questões difíceis e complexas, a situações que provocam reações diferentes. Como responder a essas realidades em uma Igreja sinodal, como saber escutar, como entrar em diálogo com aqueles que pensam de forma diferente, mesmo com aqueles que pensam de forma muito diferente? As guerras religiosas, os confrontos de todos os tipos fazem parte da história, mas na Igreja que o Papa Francisco deseja, na Igreja sinodal, de comunhão, participação e missão, as decisões devem tomar caminhos diferentes. Respeito, sensibilidade e acolhimento O método de conversação espiritual com o qual as comunidades para o discernimento comunitário, os círculos menores, as mesas redondas, buscam responder às questões colocadas no Instrumentum Laboris, para que funcione, deve ser inundado por atitudes de respeito, sensibilidade e acolhimento. Somente dessa forma, e na medida em que todos se sentirem feridos e necessitados de reconciliação, poderão ser tomadas medidas para curar internamente e encontrar caminhos de cura para a humanidade. A diversidade é algo que enriquece, sempre enriquece, nos ajuda a ter perspectivas diferentes, o que nos leva a evitar visões únicas e monocromáticas nas quais alguns insistem, e continuam a fazê-lo, apesar do esforço que o Papa Francisco e a grande maioria dos batizados e batizadas estão fazendo para tornar a Igreja mais sinodal, superando divisões e unindo forças para avançar e ser uma Igreja mais crível, especialmente para aqueles que vivem afastados. Iluminados pelo Espírito para responder ao conflito É nos momentos de tensão, nas questões difíceis, que o nosso ser pessoas, mas também o nosso ser Igreja, está em jogo. Romper a unidade na diversidade nos afasta de Deus e permite que as ideologias se imponham em realidades que deveriam ser inundadas pelo Evangelho, com sentimentos de fraternidade e amor. Os irmãos, diante de posições diferentes, se deixam conduzir por aquilo que une e ajuda a criar caminhos comuns, e para uma Igreja sinodal esse deve ser sempre o modelo a seguir. Não se trata de fugir dos conflitos ou de deixar questões complexas sem resposta; trata-se de se deixar iluminar pelo Espírito de Deus e de crescer juntos naquilo que ajuda a vislumbrar caminhos comuns, uma Igreja sinodal. Na medida em que os principais temas presentes na Assembleia Sinodal – comunhão, participação e missão – forem assumidos, a resolução das questões difíceis e complexas se tornará mais fácil. Não é um caminho simples, mas é o caminho do Evangelho, o caminho de Deus, que, a partir da unidade na diversidade, a partir de seu ser trinitário, nos ajuda a entender que é isso que vale a pena. O fato de outros insistirem em caminhos contrários não é desculpa para continuarmos acreditando na necessidade de escutar, dialogar, respeitar, ter sensibilidade e acolher a todos, inclusive aqueles que veem a realidade de forma diferente. Afinal, quem disse que ser uma Igreja sinodal é fácil? Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Cardeal Lacroix: “Este caminho sinodal nos ajuda a descobrir a presença do Senhor em cada batizado”

A Assembleia Sinodal do Sínodo da Sinodalidade continua seu trabalho, agora com as chamadas congregações gerais, mas também com outros episódios que mostram o desejo do Papa Francisco de escutar a realidade. Como Paolo Ruffini destacou em coletiva de imprensa, Francisco e outros membros do Sínodo almoçaram nesta terça-feira em Santa Marta com um grupo de pobres, constituindo assim um novo círculo menor, uma nova mesa redonda. Em suas palavras, os pobres disseram que a única coisa que esperam da Igreja é amor. Uma Igreja com os pobres Nas congregações gerais 140 pessoas já falaram, o que representa mais de um terço dos membros da assembleia. Nelas, fios comuns estão sendo tecidos a partir de diferentes temas, sempre com uma visão do que é atual no mundo, com constantes apelos à paz diante de guerras e conflitos. Um chamado para ser uma Igreja humilde, em favor dos pobres, que têm muitos rostos. A questão dos abusos de todos os tipos também foi abordada, com um apelo para que se apoiasse as vítimas, incluindo o abuso a religiosas e a necessidade de protegê-las. Na realidade, a Assembleia Sinodal é um momento de debate e reflexão sobre muitas questões. Os convidados ao briefing de 11 de outubro foram o Card. Gérald Cyprien Lacroix, Arcebispo de Quebec (Canadá) e membro do Conselho de Cardeais, Grace Wrakia, de Papua Nova Guiné, e Luca Casarini, ativista italiano da “Mediterranea Saving Humans”, que é um convidado especial sem direito a voto. Uma atitude genuína de escuta No dia do 61º aniversário da abertura do Concílio Vaticano II, o cardeal canadense definiu a figura do Papa João XXIII, que convocou o Vaticano II, como profética, vendo este Sínodo como uma continuação do último concílio, que enfatizou a importância da Igreja como o povo de Deus. Esse caminho sinodal, de acordo com o arcebispo de Quebec, “nos ajuda a descobrir a presença do Senhor em cada pessoa batizada“, e ele disse que está vivendo a assembleia sinodal a partir de uma atitude de escuta autêntica, como uma experiência que lhe permite, a partir dessa escuta, “refinar, mudar meu pensamento”, como algo que nos torna “crentes mais críveis”. Em suas palavras, enfatizou que não somos completos, todos precisamos dos outros e os outros precisam de nós, e este Sínodo nos permite reconhecer a riqueza dos outros, como uma “orquestra sinfônica em que cada um tem seu próprio instrumento“, citando as palavras do Papa Francisco. Isso o levou a destacar “a beleza de ver tantas pessoas reunidas, de todos os cantos do mundo, um caldeirão de culturas, de tradições”. Isso significa que os círculos menores “ajudam a compartilhar, a partir da realidade da vida”, experiências pessoais que questionam “nosso modo de ser Igreja, de estar juntos”. A partir daí, observando que somos incompletos, ele pediu uma mudança de atitude para viver e irradiar a luz do Evangelho. Também para abrir espaço para os outros, para escutar uns aos outros à luz do Evangelho, de modo que “estaremos mais bem preparados quando voltarmos para casa para enfrentar os desafios que temos pela frente“. Um Sínodo que ajuda a entrar na realidade das guerras, da mudança climática, que deve levar a “oferecer ajuda como povo de Deus”, a caminhar juntos para discernir e ver como enfrentar os desafios e levar justiça e esperança ao mundo. Sinodalidade na vida cotidiana Vinda de Papua Nova Guiné, Grace Wrakia apresentou as múltiplas realidades de seu país e da Igreja local e o que marcou a espiritualidade e os ritos religiosos presentes em sua cultura antes da chegada do cristianismo, há 150 anos. Em seu testemunho, ela destacou que eles vivem em comunhão, a partir dos três pilares da sinodalidade, vendo-se como uma família com relações que vão além do sangue, uma vida de forma comunitária, com uma espiritualidade em que as relações com todos, com os diferentes, são muito importantes, e isso os torna parte de uma única família, a família do povo de Deus. Uma sinodalidade que é vivida na vida cotidiana, nas decisões nas aldeias, onde todos são escutados, inclusive as mulheres, considerando um verdadeiro prazer o fato de a Igreja e o Papa estarem abertos a pequenas regiões como Papua Nova Guiné, mostrando assim a importância de escutar, porque todos nós temos algo importante para contribuir, “podemos explicar como viver em comunhão, como tecer fios na estrutura da vida da família e da Igreja”. Ajuda mútua que deixa espaço para o amor Por sua vez, Luca Casarini começou denunciando o fato de que a morte no Mediterrâneo se tornou normal. A partir daí, ele disse que se sentia “privilegiado, porque em um mundo onde há uma competição para ver quem pode matar mais pessoas, um mundo onde o ódio predomina, salvar uma vida, abraçar um irmão, uma irmã no mar, é um presente infinito que muda a vida, que muda a minha vida”. No Mediterrâneo, ele disse que há duas formas de pobreza, uma pobreza material, que faz com que as pessoas pobres deixem a única riqueza que têm, sua terra e sua família, e uma pobreza espiritual, em que não somos capazes de chorar por uma criança que morre. Uma ajuda mútua que deixa espaço para o amor, dizendo que dessa forma encontramos Jesus e Deus, e que precisamos praticar o amor. Um Sínodo em que o protagonismo não está na doutrina, mas em aprender a caminhar juntos, nas palavras do Cardeal Lacroix, insistindo que se trata de enraizar esse modo de viver a Igreja e, assim, enfrentar as grandes questões com mais meios, buscando fazer das ideias de cada um o objeto de um discernimento comum. Nessa perspectiva, ele insistiu na necessidade de ter a humildade de pensar que não somos os únicos detentores da verdade, de buscar caminhos de convergência para não ficarmos estagnados, de ter uma atitude positiva que leve a ver a diversidade como algo importante e a ser acolhido. A missão da Igreja Quando perguntada sobre a prática missionária da Igreja, Grace Wrakia enfatizou que…
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Sem o “nós”, nunca haverá sinodalidade, nunca caminharemos juntos

Sinodalidade significa caminhar juntos e isso significa passar do “eu” para o “nós”, do individualismo para a comunhão, de pensar única e exclusivamente em mim, de mim e para mim, para pensar em nós, de nós e para todos nós. Uma tarefa complicada, mas na qual, com este Sínodo sobre a Sinodalidade, estão sendo dados passos importantes, pode-se até dizer irreversíveis, sem volta atrás. Sínodo, o modo de ser da Igreja O Papa Francisco insiste constantemente no fato de que o Sínodo é o modo de ser da Igreja, um caminho conjunto que pressupõe uma mudança de mentalidade, uma conversão pessoal, mas também uma conversão das estruturas, uma passagem de uma organização piramidal para o ser e o estar de modo circular, em mesas redondas, onde o progresso é colocado no centro, onde todos veem da mesma distância o que é fruto da comunhão, do nós. O “nós” também deve nos levar a refletir sobre as tentativas de idolatrar pessoas específicas, pessoas que querem, se aproveitando D´Ele, ofuscar o próprio Deus, tomar o lugar do Senhor. Um “nós” que se constrói mais facilmente na medida em que nos aproximamos de Deus e nos sintonizamos com ele para descobrir sua voz no outro. O discernimento comunitário, a conversa espiritual, que não são formas novas, mas incomuns para muitas pessoas na Igreja, ajudam a avançar no “nós”, no consenso. O Espírito como protagonista do Sínodo É a voz do Espírito, que é o protagonista do Sínodo, que se manifesta para a comunidade, para a Igreja. Ele fez isso no Pentecostes para aquele pequeno grupo de discípulos temerosos, tem feito isso ao longo da história e há sinais de que está presente na Sala Paulo VI, em meio àqueles homens e mulheres batizados que, em sua diversidade, estão construindo um nós eclesial, um reflexo do Nós Trinitário que revela a identidade de Deus. Essa necessidade de ser comunidade, esse “nós”, é o que faz com que os círculos menores e a Assembleia Sinodal como um todo consigam avançar em meio às tensões. A partir da partilha de uma experiência pessoal, uma peça comum é moldada com o cinzel da oração e o Instrumentum Laboris, fruto do fato de encontrar na palavra do outro, da outra, uma novidade que me confronta, que me desafia, que nos tira de nós mesmos e nos abre para a comunhão, para o nós. A diversidade é enriquecedora quando vista do ponto de vista do “nós”. As diferentes posições, que existem e é bom que existam, vistas a partir do “nós”, adquirem um sentido que enriquece e o faz porque é fruto de uma criatividade comum. É hora de sermos corajosos, e ganhamos coragem quando nos sentimos apoiados por um “nós” que sentimos ao nosso lado, uma coragem que leva a Igreja a parar de remendar as coisas e a entrar na dinâmica do Espírito, que, como Francisco disse muitas vezes, resolve as situações, inclusive os conflitos, transbordando, algo que não é fácil de fazer e que exige mais força quando se trata de dar certos passos. Essa é a maneira de superar os medos e as limitações que diminuem a Igreja, que a tornam mundana, que lhe permitem ser guiada por aquele Espírito que transborda e abre novos caminhos. É sobre questões complexas que a Assembleia Sinodal é desafiada a apostar, apostar como um nós irreversível na mudança, um desejo muito presente em Francisco. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Liliana Franco: No Sínodo, “não sinto que haja agendas ocultas”

  A Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, que elegeu os membros das comissões de Síntese e de Informação, onde aos membros natos se juntou um representante de cada uma das sete regiões em que a Igreja universal foi dividida, continua seu curso, nas duas últimas sessões com o trabalho nos chamados círculos menores. Um processo muito importante Um Sínodo em que “não há agendas ocultas“, nas palavras de Liliana Franco, Presidenta da Conferência Latino-Americana e Caribenha de Religiosos e Religiosas, que, junto com o Cardeal Joseph William Tobin, Arcebispo de Newark (Estados Unidos), realizou uma coletiva de imprensa com jornalistas credenciados, Ele disse que estava gostando muito da experiência de participar da assembleia sinodal, insistindo que “como católicos estamos vivendo algo que é muito importante”, algo que é feito na Igreja Católica toda vez que professamos nossa fé em uma Igreja que é católica e apostólica. O cardeal americano lembrou que cresceu em uma família com muitos membros, sendo o mais velho de 13 irmãos, e que em sua infância era difícil para ele entender que os outros tinham idiomas diferentes, que comiam alimentos diferentes. Com o passar do tempo, ele disse que descobriu, ajudado pelo fato de ter crescido em um caldeirão de culturas diferentes, que “há maneiras diferentes de fazer as mesmas coisas“, insistindo que, nesses primeiros dias, “estamos falando em um nível muito alto de complementaridade, muitas pessoas encontram pontos em comum nas preocupações e enfatizamos a escuta”. O Espírito Santo no coração do Sínodo O objetivo de Liliana Franco é levar a voz do continente latino-americano e da Vida Religiosa que peregrina nesse continente. A religiosa colombiana insistiu em que “o protagonista do Sínodo está sendo o Espírito, no centro está a pessoa de Jesus e o desejo de explicitar os valores do Evangelho“, destacando o profundo desejo de viver à maneira de Jesus, “aquela maneira que eleva, que humaniza, que dignifica, que inclui, que torna possível que a Vida Religiosa viva à maneira de Jesus”, que inclui, que possibilita que o outro esteja na totalidade de sua dignidade”, tornando muito significativa a experiência de “um método de conversação no espírito, em mesas redondas, em que nos reconhecemos na dignidade comum que todos temos, em uma atmosfera de respeito, de comunhão, de apreciação mútua”. Uma experiência de encontro com diferentes linguagens, sensibilidades, diferentes formas de entender as coisas, que a religiosa define como “a experiência de construção coletiva, de sentir que todos temos algo a contribuir” e, acima de tudo, que “todos viemos habitados pelos territórios de onde chegamos”. No trabalho desses dias, ela destacou “o chamado para ouvir o grito dos pobres”, que está presente na migração, no tráfico de pessoas, naqueles que estão sendo mais excluídos, dizendo ter sentido o chamado para “ser uma presença profética, uma presença que se compromete” e, junto com isso, “unir forças, criar redes, fortalecer as redes que temos”. Liliana Franco destacou o sentimento de gratidão a uma Igreja comprometida com as questões sociais e ambientais, porque “não é possível seguir Jesus sem um compromisso também com o desenvolvimento humano integral“, algo que muitos missionários assumem e que possibilita que muitas pessoas vivam com mais dignidade. Na Assembleia Sinodal, o grito da Terra, das culturas e dos mais pobres também foi ouvido em “um construir de irmãos e irmãs, na mesa redonda que se assemelha à mesa de uma sala de jantar, onde há espaço para todos”. Ninguém é ignorado e nada é ignorado “Há uma forte vontade de colocar uma forte ênfase no que podemos fazer como Igreja, uma reflexão comum“, destacou o cardeal Tobin, que disse sentir que é muito forte que neste processo sinodal “ninguém é ignorado e nada é ignorado em nosso trabalho sinodal”, algo que ele acha que influencia o processo sinodal, destacando a escuta profunda realizada na América do Norte durante o processo sinodal, com reuniões on-line nas quais “o eco da Igreja local e das diferentes igrejas locais surgiu”. Nesse sentido, ele afirmou que o Instrumentum Laboris está seguindo o fio dessa tradição, “a beleza desse processo é que ele começa a partir da base e não do topo”. Um Sínodo que ecoa o que está acontecendo no mundo, as diferentes guerras, no mesmo grupo de discernimento há uma mulher russa e uma mulher ucraniana, mas também fala sobre o que está acontecendo na Igreja, destacando o Arcebispo de Newark que uma grande preocupação é que “muitas pessoas não se sentem em casa no âmbito da Igreja Católica“. A esse respeito, ele contou a anedota de que alguém que foi seu bispo auxiliar uma vez lhe disse que mais bonito do que a catedral como um edifício é o fato de suas portas estarem abertas, dizendo que esperava que “este Sínodo nos ajudasse a abrir as portas de uma forma mais significativa”. Opção pela fraternidade e sinodalidade Nesse sentido, a presidenta da CLAR destacou que “o Sínodo contextualiza a situação, com os pés no chão, abraçando os diferentes territórios“, o que faz ressoar com força a realidade de nosso mundo, no qual “a opção da Igreja é a opção pela fraternidade, é a opção pela sinodalidade, a disposição de entender que somos todos irmãos”, que abre espaço para todos, para os mais pobres de nosso mundo, os migrantes, as vítimas do tráfico de pessoas, os exilados, os deslocados, para aqueles para os quais não há lugar nesta sociedade. Isso nos chama a continuar unindo forças para tornar possível o acolhimento, a hospitalidade, a alimentação, a educação e uma vida digna, sendo, como Igreja, defensores dos direitos humanos, “uma voz profética que gera o questionamento necessário que nos torna mais conscientes da necessidade de trabalhar por um mundo melhor”. O cardeal Tobin recordou as palavras do Papa para ser “um Sínodo livre, um Sínodo que é livre para falar e enfatizar todas as grandes questões“, aceitando e acolhendo as tensões presentes na sala sinodal. Isso é em busca de uma única voz dentro da assembleia sinodal, apesar das diferenças, lembrando…
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Sinodalidade: A diversidade nunca é uma ameaça, os proscritos nos abrem para Deus

Compreender uma diversidade que nos enriquece, que não é uma ameaça, é um dos grandes desafios em uma sociedade, também em uma Igreja onde o diferente é quase sempre visto como uma ameaça. Fazer isso é ser discípulo, pois não nos esqueçamos de que a atitude de Jesus era a de se relacionar com todos, mesmo com aqueles que eram diferentes, com os proscritos, incluindo as mulheres e os samaritanos. Sempre dispostos a abraçar No encontro de Jesus com a mulher samaritana, uma cena que ilumina a reflexão do Módulo B1, que está sendo trabalhado nestes dias pela Assembleia Sinodal, aparece a atitude do Senhor que nos questiona e deve nos levar a refletir sobre como nos aproximamos dos outros, se “com as unhas” para atacar, ou com os braços abertos para abraçar. A Assembleia Sinodal está mudando de cara, pode-se ver isso nas atitudes daqueles que chegam à sala sinodal, dispostos em mesas redondas na Aula Paulo VI do Vaticano, mas também se pode ver isso nos momentos que antecedem o início dos trabalhos. Nós, jornalistas, conseguimos entrar no momento da oração e, da posição que ocupamos, podemos ver os participantes da Assembleia em sua totalidade. Aos poucos, a formalidade, até mesmo na maneira de se vestir, foi se perdendo, as pessoas estão ganhando confiança, as saudações deixaram de ser formais e se tornaram mais fraternas. Ouvem-se risadas, provavelmente como resultado de piadas ou comentários que alegram o coração daqueles que veem no outro um companheiro, um companheiro de caminho, com quem construir juntos a Igreja sinodal que o Papa Francisco indica e da qual todos nós precisamos, embora alguns insistam em negá-la, embora alguns a enfrentem com toda a força e com artimanhas vis e desonestas. Comunidades com um lugar para os “indesejáveis” Voltando à cena do Evangelho, em que aquela mulher de um povo indesejável e de uma vida supostamente questionável diante de um olhar sem misericórdia, podemos dizer que é ela quem liberta Jesus. Isso nos desafia como Igreja, ainda mais se quisermos apostar em uma Igreja sinodal. A grande questão é se essas pessoas têm lugar em nossas comunidades eclesiais, que devem ser a presença de uma Igreja que quer ser expressão de comunhão, que é o grande tema do Módulo B1, de unidade na diversidade, uma Igreja que não é para os saudáveis, mas para os doentes, também de espírito, que precisam recuperar uma dignidade que lhes foi negada. É com essas pessoas que nós batizados e batizadas, a Igreja sinodal, devemos ser um instrumento de unidade para toda a humanidade, algo que a pergunta que orienta esse módulo nos leva a refletir. Para isso, cinco temas diferentes serão discutidos nas comunidades para o discernimento, nos círculos menores ou, para resumir, nas mesas redondas, pois este é o “Sínodo das mesas redondas”: serviço de caridade, compromisso com a justiça e cuidado com a casa comum; encontro entre amor e verdade; troca de dons entre as igrejas; compromisso ecumênico; e diálogo com culturas e outras religiões. O tempo de teste já passou, as mesas redondas, nas quais desde ontem houve algumas mudanças, estão marcando o objetivo, indicando o caminho para ser uma Igreja sinodal. Um caminho que será mais fácil e mais suportável na medida em que a escuta for honesta e profunda, se for descoberto que, na voz do outro, da outra, as mulheres têm uma delicadeza diferente que sempre ajuda, Deus nos fala, se faz presente em nossas vidas de batizados e batizadas, e no caminho de uma Igreja que deve ser comunhão, na qual deve ser cada vez mais fácil passar do eu para o nós, escutar a voz que vem das periferias. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Inicia o Segundo Módulo da Assembleia Sinodal: “Todos são convidados a fazer parte da Igreja”

A primeira sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre Sinodalidade entrou em seu segundo módulo. E o fez com uma missa no rito ortodoxo, na qual “pudemos saborear a riqueza de um dos ritos de nossa Igreja única e multifacetada”, nas palavras do Cardeal Hollerich, Relator Geral do Sínodo, que enfatizou que “no primeiro módulo, nos reconectamos com a experiência do ‘caminhar juntos’ do Povo de Deus nos últimos dois anos. Trabalhamos para focar melhor a Igreja sinodal como uma visão global”. Passando do “eu” para o “nós Lembrando que até agora os membros da assembleia ganharam experiência no uso da metodologia da Conversação no Espírito, começaram a tecer relacionamentos e a criar vínculos, passando do “eu” para o “nós”. Ele lembrou que nesse Módulo a composição dos Círculos Menores está mudando, insistindo na questão prioritária: “Como ser mais plenamente sinal e instrumento da união com Deus e da unidade de toda a humanidade?“. O cardeal partiu da premissa de que “a Santíssima Trindade é a base de todas as comunhões”, refletindo sobre as dificuldades de viver a comunhão em um sentido prático, ao que insistiu que “todos são convidados a fazer parte da Igreja“, algo que o Papa Francisco insistiu na JMJ de Lisboa e em sua homilia na missa de abertura. A partir daí, ele fez várias perguntas aos participantes, mostrando a necessidade de partir de experiências concretas, em nível pessoal e como Povo de Deus. Para isso, ele explicou como trabalhar nos próximos dias e, assim, mostrar que em diferentes contextos a pergunta feita neste módulo tem ressonâncias diferentes, valorizando a importância da pluralidade. Um Deus que tem sede de nós “Como podemos nos formar todos para uma comunhão que transborde em missão?” foi a pergunta a partir da qual o Pe. Timothy Radcliffe OP iniciou sua reflexão sobre o texto que narra o encontro de Jesus com a samaritana junto ao poço, que passou de figura solitária a primeira pregadora do Evangelho. Algo que parte das palavras de Jesus: “Dá-me de beber”, insistindo que “todo o Evangelho de João se articula em torno da sede de Jesus”, e que “Deus aparece entre nós como alguém que tem sede, especialmente por cada um de nós”. Nas palavras do frade dominicano, “nossos pecados, nossos fracassos, muitas vezes são tentativas equivocadas de encontrar o que mais desejamos. Mas o Senhor espera pacientemente em nossos poços, convidando-nos a ter ainda mais sede”. É por isso que a formação para “uma comunhão que irradia”, o tema deste módulo, “consiste em aprender a ter sede e fome cada vez mais profunda“. Isso porque “o que nos isola é ficarmos presos a pequenos desejos, a pequenas satisfações, como vencer nossos adversários ou ter status”. Sinodalidade: aprendendo a ser pessoas apaixonadas A partir daí, ele definiu a formação para a sinodalidade como “aprender a ser pessoas apaixonadas, cheias de profundo desejo”, perguntando, especialmente aos seminaristas: “como se tornar pessoas apaixonadas – apaixonadas pelo Evangelho, cheias de amor mútuo – sem desastres?” É por isso que “uma Igreja sinodal será aquela em que somos formados para um amor sem posses: um amor que não foge nem se apodera da outra pessoa; um amor que não é abusivo nem frio”. “Devemos nos treinar para encontros profundamente pessoais uns com os outros, nos quais transcendemos os rótulos fáceis. O amor é pessoal e o ódio é abstrato”, enfatizou Radcliffe. O dominicano ressaltou que “muitas pessoas se sentem excluídas ou marginalizadas em nossa Igreja porque lhes demos rótulos abstratos”, concluindo que “nosso papel como sacerdotes é, muitas vezes, apoiar aqueles que já começaram a colher a safra antes mesmo de acordarmos”.  Comunhão: vivendo juntos em Cristo A reflexão continuou com a professora Anna Rowlands, que começou lembrando a pergunta do padre Radcliffe: “Podemos ter a coragem de encarar a realidade como ela é?”, refletindo assim sobre a comunhão a partir da passagem das Bodas do Cordeiro. A professora de Pensamento e Prática Social Católica destacou que o módulo, que está sendo lançado, “nos leva ao coração desse paradoxo cristão básico: esperança e dificuldade, a beleza e a liberdade do chamado de Deus e os desafios de crescer em santidade“. Um texto que recupera a linguagem da Lumen Gentium e nos leva a descobrir que “a vida de comunhão nos é oferecida como a maneira abençoada de vivermos juntos em Cristo, aprendendo a ‘suportar’ a realidade, com doçura, generosidade, amor e coragem, para a paz e a salvação do mundo inteiro”, compreender que a comunhão é “o fundamento da realidade e a fonte do ser da Igreja”, e que “participar da vida de comunhão é a honra e a dignidade de nossas vidas”, chamando a pensar “na comunhão como a primeira e a última palavra de um processo sinodal”. Comunhão: a beleza da diversidade na unidade Uma comunhão que é “a beleza da diversidade na unidade“, superando a homogeneidade do mundo moderno. Uma comunhão que, citando São Boaventura, nos leva a refletir sobre “como a pluralidade da criação permite que todas as diferentes cores da luz divina brilhem”. Diante da competitividade do mundo, “Deus nos atrai para uma comunhão de humildade e serviço”, destacou a professora do Departamento de Teologia e Religião do Centro de Estudos Católicos da Universidade de Durham (Reino Unido). Portanto, essa seção B1 “nos convida a crescer em comunhão, refletindo com humildade com aqueles que são vulneráveis, sofredores ou fracos e sobre as vulnerabilidades e fraquezas da Igreja”, disse ela. Uma seção que nos leva a nos perguntar corajosamente “como podemos estar mais próximos dos mais pobres, mais capazes de acompanhar todos os batizados nas várias situações humanas, despojados de falsos poderes, mais próximos de nossos irmãos e irmãs cristãos e mais comprometidos com nossas culturas particulares”. Isso porque “a Igreja nasceu inseparável do drama humano”, uma comunhão que “existe em realidades concretas e tangíveis”, e que encontra na Eucaristia “as diferentes dimensões da comunhão”. Uma comunhão que se traduz no acompanhamento de vítimas de abuso por parte do clero, de migrantes e refugiados,…
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Sônia Gomes de Oliveira: “Igreja sinodal é a que não deve ter medo de caminhar juntos

O segundo módulo da primeira sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, que busca responder à pergunta sobre “Como podemos ser mais plenamente sinal e instrumento da união com Deus e da unidade do gênero humano?”, iniciou com uma Missa no Altar da Cátedra em rito greco-bizantino, presidida por Sua Beatitude Rev. Youssef ABSI, Patriarca de Antioquia dos Greco-Melquitas, Presidente do Sínodo da Igreja Católica Greco-Melquita, com a homilia de Sua Beatitude Eminência Card. Béchara Boutros RAÏ, O.M.M., Patriarca de Antioquia dos Maronitas, Chefe do Sínodo da Igreja Maronita, que pode ser considerado um passo a mais no caminho da unidade. O processo sinodal na Igreja do Brasil Na Congregação Geral os participantes da Assembleia Sinodal escutaram diversos depoimentos, dentre eles o partilhado por Sônia Gomes de Oliveira, presidente do Conselho Nacional do Laicato Brasileiro e uma das mulheres membros da Assembleia. A leiga brasileira iniciou suas palavras lembrando que “viver o processo sinodal na Igreja do Brasil foi uma continuidade do caminho iniciado na Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe”, destacando o processo de escuta realizado, mesmo com a pandemia. Ela destacou a importância da Equipe Nacional no trabalho de animação do processo sinodal chegando nas bases, onde foi importante a participação do laicato, uma prática que ajudou a conhecer a realidade em diferentes níveis e dos leigos e leigas se descobrir como corresponsável na missão. Também uma oportunidade para iniciar processos de formação, lembrando as palavras do relatório realizado no Brasil para a fase continental: “o Sínodo caiu, no mundo dos leigos e leigas, como um oceano a ser explorado e valorizado e, por isto a partir de agora não deve ser só um momento, mais uma prática da Igreja”. Uma Igreja sinodal na prática Sônia Gomes de Oliveira insistiu na necessidade de uma Igreja sinodal na prática “onde todos os batizados são chamados a participar, não só como colaboradores, mas reconhecido e conscientes da responsabilidade pela missão”, mas também afirmando que “nem todos compreenderam o processo”. Ela disse ter compreendido que “Igreja sinodal é a que não deve ter medo de caminhar juntos com aqueles que querem viver a unidade, respeitando os diversos carismas e vocações”, destacando a necessidade de “colocar os chinelos e os pés no caminho, ouvir o povo que grita e a Igreja precisava ouvir”. Segundo a presidenta do laicato brasileiro é necessário “exercer o meu papel de batizada no meu ambiente de Trabalho com um jeito e forma de ser Igreja”, que a leve a “unir a minha profissão com o meu ser cristã”. Ela destacou a importância das escutas, de fazê-las do jeito de Jesus, relatando duas experiências marcantes, uma com uma prostituta, que disse: “agora entendi, a Igreja e o Papa Francisco querem saber como estou”, afirmando carregar um fio de esperança, e agradecendo ter chegado até ela, o que fez com que ela se sentisse aliviada, mas dizendo, “pena que o povo da Igreja não faz isto sempre!”. Uma segunda experiência foi num presidio, onde experimentou o consolo levado até os detentos, e como “somos chamados a consolar”. Experiências de escuta Em suas palavras, Sônia Gomes de Oliveira foi partilhando diversas experiências vividas nas escutas, querendo assim ressaltar que “falar de uma experiencia sinodal é falar de uma Igreja que tem que ser aberta para acolher, aberta para escutar”, pois, “existem muitos lugares de dor, sofrimento, é importante a presença da Igreja”, chamado a todos e todas a estar ali, “ainda temos muitos lugares que não conseguimos chegar”. É por isso que temos que “ser Igreja no coração do mundo”, uma Igreja que acolhe a todos, e ter um coração fraterno que acolhe os crucificados de hoje, refletindo sobre o sofrimento das mulheres e a necessidade de entender que “fazer o caminho sinodal é ser pobre com os pobres e não para os pobres”. Diante de tantas coisas bonitas que existem na Igreja, a presidenta do laicato no Brasil fez um chamado a ser cireneus, a “criar ou fortalecer uma rede da sinodalidade que acolhe, que reza, que ajuda”. Uma Igreja que respeita a cultura dos povos indígenas e comunidades tradicionais, com uma liturgia mais próxima de sua realidade, com uma presença mais acolhedora para com aqueles que são descartados. Finalmente, mostrou a necessidade de “uma Igreja que precisa que cativemos mais pessoas, Igreja do encantamento que leva a entender que eles também são testemunhas do Ressuscitado, Igreja da Esperança, Igreja profética que entra nos porões onde a vida está ameaçada, Igreja da partilha da Eucaristia, Igreja da Pertença. “A Igreja que o Espírito nos impele a mostrar Jesus”, destacou. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Cardeal Steiner preside Eucaristia na Paróquia São Leonardo de Porto Maurizio, sua Igreja em Roma

  O cardeal Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus e presidente do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) presidiu a celebração da Eucaristia na paróquia São Leonardo de Porto Maurizio na Acilia, sua paróquia em Roma. O Santo Padre encomenda a cada um dos cardeais eleitores, aqueles que têm menos de 80 anos, uma paróquia de Roma, sendo considerados o clero do Papa. O arcebispo de Manaus, que é cardeal presbítero, lhe foi entregue essa paróquia, que fica na periferia de Roma, em 27 de agosto de 2022, dia em que ele foi criado cardeal. O purpurado mostrou sua alegria e gratidão por poder presidir a Eucaristia e iniciou sua homilia dizendo levar uma saudação da Arquidiocese de Manaus, “uma saudação de quase mil comunidades, uma saudação de 70 mil indígenas que estão na arquidiocese, uma saudação das nossas comunidades ribeirinhas, uma saudação das nossas comunidades da cidade de Manaus, uma cidade de dois milhões e sessenta mil habitantes, uma saudação das nossas comunidades da periferia, que são comunidades novas, que agora estão iniciando suas comunidades com pessoas que vem do interior procurando um modo de viver, saúde e educação, uma saudação de todos”. Dom Leonardo lembrou a realização do Sínodo Arquidiocesano, quando as comunidades da Arquidiocese de Manaus mostraram o que pensam, o que sonham para o futuro da nossa Igreja, sendo escolhidas diversas linhas para a arquidiocese. Ele disse estar participando da primeira sessão do Sínodo sobre a Sinodalidade, que definiu como “um momento belíssimo, porque estamos sentados em torno a uma mesa redonda”, lembrando que são 35 mesas onde estão irmãs, padres, leigos, bispos, cardiais, “todos pensando em uma Igreja sinodal, onde todos nós estamos em caminho, onde todos nós vamos buscando aos poucos o Reino definitivo, onde todos nós pensemos o que fazer que todos possam participar da graça do Evangelho”. Segundo o cardeal “aos poucos vamos chegar naquilo que quer o Papa Francisco, ser uma Igreja sinodal, todos participando, todos anunciando, todos vivendo o Evangelho de Jesus”. O arcebispo de Manaus destacou como “o Evangelho se encarna aos poucos em diversas culturas”, algo que se faz presente nos grupos para o discernimento, com presença de diversos países e continentes no mesmo grupo, destacando a beleza que representa os diversos modos de pensar, de viver o Evangelho, “mas todos com a força e a iluminação do Espírito que aponta o Reino de Deus”. Analisando as leituras da Liturgia da Palavra do 27º Domingo do Tempo Comum, o cardeal Steiner destacou que a primeira leitura mostrava um sonho de amore, que se transforma numa realidade e uma relação de amor. Já no Evangelho, ressaltou os frutos que não deram, falando sobre os frutos que nascem da relação de Deus conosco, o modo de Deus estar no meio de nós, em Jesus Cristo Crucificado. Um texto que mostra que Deus quer que nós demos frutos porque Ele tem dado seu amor em Jesus. Após destacar alguns elementos da segunda leitura, o cardeal pediu que o Evangelho, que é um sonho amor, possa dar frutos de perdão, de reconciliação, do amor, da justiça, da familiaridade, que esses dons e esses frutos façam disfrutar da vida e experimentar o sabor da vida, que não é para se tornar insuportável e sim para desfruta-la. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Cardeal Ramazzini: “A primeira coisa que eu diria àqueles que desprezam os migrantes é que eles não deveriam se considerar cristãos”

Em setembro de 2023, o Cardeal Álvaro Ramazzini foi eleito presidente da Rede Clamor, uma organização da Igreja Católica que acompanha migrantes e refugiados na América Latina e no Caribe. O Papa Francisco pede para acolher, proteger, promover e integrar, a fim de enfrentar “uma realidade dolorosa por causa de tudo o que vimos acontecer”, nas palavras do Bispo de Huehuetenango, que já se perguntou repetidamente “como colocar em prática esses quatro verbos que o Papa nos propõe”. O desafio é promover O cardeal afirma que “alguns deles já estamos fazendo, o que continua a ser um desafio, pelo menos pessoalmente, é a questão da promoção, como conseguir inserir muitas pessoas em uma nova sociedade, onde muitas vezes os empregos exigem um alto nível de qualificação profissional”. O Cardeal fala da realidade de seu país, a Guatemala, onde muitas pessoas nem sequer têm a educação formal necessária e, portanto, vão fazer os trabalhos, no caso dos Estados Unidos, onde há uma imigração muito forte de guatemaltecos, o que os norte-americanos não fazem. Diante dessa situação, ele pergunta: “Como podemos realmente garantir que essa recepção também seja dada por sociedades nas quais o que importa é que você tenha dinheiro e produza dinheiro? O presidente da Rede Clamor responde que “os quatro verbos ainda são desafiadores e continuarão a exigir políticas migratórias abrangentes“. Ele também questiona qual país está atualmente colocando os quatro verbos em prática, mesmo que eles possam justificar que isso vem do Papa. Uma questão de sofrimento humano Na realidade, “os quatro verbos implicam ações que poderiam realmente ajudar a enfrentar e confrontar a questão da migração de uma forma humana”, insistindo que “é aqui que temos que continuar fazendo esforços para entender que não é uma questão de lei, mas uma questão que vai muito além das leis, é uma questão de sofrimento humano, de deficiências humanas, de problemas humanos, que devem ser vistos de uma perspectiva humana”. Reconhecendo que o que é legal deve existir, o cardeal guatemalteco afirma que “nos esquecemos de que, abaixo da legalidade, deve sempre haver um espírito no qual a humanidade é respeitada”. Um desprezo pelos migrantes, uma xenofobia que está presente em pessoas que se dizem cristãs, católicas. Diante disso, o presidente da Rede Clamor afirma que “a primeira coisa que eu diria àqueles que desprezam os migrantes é que eles não deveriam se considerar cristãos”. Isso porque a essência da identidade cristã é “viver o Evangelho, porque para nós não é apenas a norma que deve reger nossas vidas, mas é a palavra que nos dá vida”, lembrando que “foi isso que disseram ao Senhor Jesus, só você tem as palavras de vida eterna”, algo que o cardeal considera “uma consideração que muitas vezes esquecemos”, e que seremos julgados no final de nossas vidas “se acolhemos ou não o migrante”. Compromisso baseado na fé em Jesus Cristo Segundo o cardeal guatemalteco, “uma pessoa que não se coloca diante do Evangelho e não questiona o que o Evangelho propõe e exige para ser verdadeiramente cristão, certamente não será capaz de entrar em um processo de conversão que ajude não apenas a acolher, mas também a promover uma pessoa migrante”, o que ele considera lógico “a partir de uma lógica do mundo no sentido joanino, de uma lógica do dinheiro, de uma lógica do que importa para mim o que acontece com os outros se eu estiver bem”, o que ele considera “nada cristão”. Para o presidente do Clamor Vermelho, o desafio é que “se alguém realmente quer se comprometer com os migrantes, deve fazê-lo a partir da fé em Jesus Cristo e do desejo de ser um discípulo de Jesus Cristo“. Com relação à assembleia sinodal que iniciou sua primeira sessão em 4 de outubro, ele disse que gostaria de “poder ir juntos buscando a aplicação nos vários níveis da sociedade em geral daquilo que sempre dissemos: todo migrante é meu irmão, todo migrante é minha irmã, ninguém na Igreja deve ser estrangeiro“. Em suas palavras, ele reflete sobre a clara separação em muitos estados entre a Igreja e o Estado, afirmando que “o desafio não é tanto que, para nós cristãos, o Evangelho seja a palavra que dá vida, mas, acima de tudo, retornar verdadeiramente às raízes de quem somos”. Tratar o outro como uma pessoa O cardeal insiste que “somos seres humanos e, na medida em que eu me considero um ser humano e considero os outros seres humanos, logicamente deve haver uma reação, e a reação é que estamos no mesmo barco, estamos no mesmo planeta, por que não deveríamos ajudar uns aos outros”. Em sua reflexão, ele lembrou “O Drama do Humanismo Ateu”, de Henri de Lubac, em que aborda a questão da perda do verdadeiro humanismo, afirmando que os ateus viam nos outros um próximo para ajudar, algo que ele considera que estamos perdendo, “estamos perdendo essa valorização dos outros como pessoas, e que eles esperam que eu os trate como pessoas, que os respeite como pessoas e que os ajude como pessoas”, enfatizando que “estamos em uma fase de esquecimento de quem somos nesta terra”. Algo que ele critica nos Estados Unidos, questionando “como é possível que, em um país como os Estados Unidos, que geralmente é considerado cristão, protestante e católico, como é possível que a essência do cristianismo: ‘Eu era um estrangeiro e você me acolheu’, não seja vivida”. Nesse momento, ele reconhece a existência da separação entre Igreja e Estado, mas afirma que “temos um sistema legal que, em um país que se diz cristão, no entanto, os fundamentos dessa essência do cristianismo são deixados de lado porque estamos em uma sociedade totalmente secular, secular no sentido estrito da palavra”, algo que ele diz não entender. Cristãos que não se comportam como cristãos Nesse sentido, ele diz que denunciou em seu país “como é possível que deputados que se dizem cristãos, católicos e não católicos, atuem de tal maneira no Congresso quando se trata de elaborar leis nas quais se…
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