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Dom Dirceu de Oliveira Medeiros: “É uma aventura ser bispo em uma Igreja sinodal, mas eu não vejo outro caminho”

Dom Dirceu de Oliveira Medeiros é um dos bispos que representam a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil na Assembleia Sinodal a ser realizada em outubro, algo que ele vive com alegria e responsabilidade. A Igreja do Brasil tem vivido o processo sinodal com participação e entusiasmo, uma Igreja que já vive em certo modo a sinodalidade. Segundo o bispo da diocese de Camaçari, aqueles que são contra o Sínodo, eles têm que “confiar na ação do espírito Santo”, que é “o protagonista do caminho sinodal”. Também se informar bem e descobrir o Sínodo como “caminho de responsabilidade, de partilha, onde a totalidade do Povo de Deus, pastores e o povo fiel se reúnem para perceber então o que a Igreja precisa fazer para se tornar mais fiel a Jesus Cristo, ao seu Evangelho, a construção do Reino de Deus que Ele pede de nós em nossos dias”. O bispo insistiu na importância das decisões sejam tomadas de modo sinodal. Ele vê o fato de ser bispo numa Igreja sinodal como uma aventura, mas insiste em que ele não vê outro caminho. Para isso Dom Dirceu faz um chamado à conversão, a uma mudança de estruturas, de mentalidade. Estamos próximos da Assembleia Sinodal e o senhor é um dos representantes da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil para participar nessa assembleia. O que representa para o senhor poder participar de um sínodo da Igreja universal? Primeiramente, uma alegria de poder servir à Igreja, de ser de certo modo porta-voz do episcopado, de todo o Povo de Deus e da Igreja que está no Brasil, e também uma grande responsabilidade. Por isso a importância desse encontro que nós estamos tendo aqui no sentido de compartilharmos as experiências e sairmos daqui também com uma visão comum, com um conhecimento mútuo já consolidado. O senhor foi secretário de pastoral da CNBB, conhece a vida pastoral das dioceses, como essa sinodalidade é vivida na Igreja do Brasil? Eu participei da Equipe de Animação Nacional como padre, no Brasil tivemos uma resposta bastante positiva, quase que a totalidade das dioceses realizaram a escuta da fase diocesana e isso nos alegrou muito. Participei também da confecção da síntese nacional e o que a gente percebe é que muitos apontamentos, muitas intuições que aparecem aqui, de certa forma na Igreja do Brasil já tem um caminho percorrido. As nossas assembleias diocesanas, quando fazemos nossos planos de pastoral, que são feitos também por meio de consultas das comunidades, das forças vivas das igrejas particulares, também o fortalecimento dos nossos conselhos, seja em nível pastoral ou em nível económico, e também outros. Isso tudo precisa ser aperfeiçoado, consolidado, mas podemos dizer que na Igreja no Brasil já temos um caminho percorrido. Tem muito a fazer, mas é preciso celebrar o que já foi feito. O senhor fala de sinais e apontamentos de sinodalidade na Igreja do Brasil, mas também não podemos negar que existem medos à sinodalidade. O que diria para aqueles que tem medo da sinodalidade? O primeiro ponto é confiar na ação do espírito Santo, porque diz o Instrumentum Laboris que o Sínodo deveria ser celebrado, tendo como uma fonte a Liturgia, porque o Espírito é o protagonista do caminho sinodal. Se nós temos fé, não há o que temer, é confiar na ação do Espírito que governa e inspira a Igreja, vai abrindo caminhos novos, abrindo estradas para a Igreja universal. O segundo ponto é você se informar bem, porque há muita desinformação e muita gente que ao serviço de Fake News, ou então de desinformação, vai abordando o Sínodo numa chave meramente parlamentar, ou simplesmente reivindicatória de pautas. É importante a gente entender como caminho de responsabilidade, de partilha, onde a totalidade do Povo de Deus, pastores e o povo fiel se reúnem para perceber então o que a Igreja precisa fazer para se tornar mais fiel a Jesus Cristo, ao seu Evangelho, a construção do Reino de Deus que Ele pede de nós em nossos dias. Sabemos que o Sínodo é Sínodo dos bispos, mas o senhor fala de reunião de pastores e do povo fiel. O que essa presença de não bispos, cada vez mais numerosa no Sínodo, pode aportar aos bispos no discernimento sinodal? Aqui é importante firmar, o Instrumentum Laboris deixa muito claro isso, que não se trata de um esvaziamento da autoridade, a autoridade á algo sadio. O cardeal Grech disse recentemente em um curso que eu participei, que o bispo tem a última palavra, mas não deve ter a única palavra. Essa frase é bem emblemática para entendermos esse casamento que deve haver, essa conjugação entre o princípio da autoridade, que é importante, que é um serviço, serviço da autoridade, que não é autoritarismo, e por outro lado também os conselhos, sejam consultivos ou deliberativos, que podem nos ajudar, nos auxiliar na tomada de decisões.  A gente sabe como é importante partilhar com o Povo de Deus, com aqueles que compõem a Igreja de Cristo, para que nossas decisões sejam pensadas, pesadas e sejam tomadas de modo sinodal. Parece um desafio, e é um desafio, mas é outro caminho para o serviço no mundo atual, sobretudo devido à complexidade que nós vivemos nos dias atuais. O senhor tem pouco tempo como bispos, poderíamos dizer que é um bispo do tempo da sinodalidade. É difícil ser bispo em uma Igreja sinodal? É uma aventura ser bispo em uma Igreja sinodal, mas eu não vejo outro caminho. Se nós buscamos respostas velhas para situações novas, certamente nós vamos errar e vamos também nos equivocar e tomar então caminhos que não nos levarão a uma fidelidade a Jesus Cristo. É preciso que haja uma conversão, uma conversão, uma mudança de estruturas, de mentalidade, uma conversão pessoal e pastoral para que nós entendamos que a Igreja é essa comunhão que radia, que favorece a participação de todos em vista da missão. Porque a Igreja existe para evangelizar e a missão é a pedra de toque, e o fundamento principal. É importante que…
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Marco Temporal: tentativa de acabar com quem sempre cuidou do território brasileiro

Um país que despreza sua origem está condenado ao fracasso. Podemos dizer que o Marco Temporal é um claro exemplo disso, pois despreza os direitos dos povos originários, primeiros habitantes de um território que hoje querem lhes tirar, passando acima dos direitos garantidos pela Lei Suprema no Brasil, a Constituição Federal, que mais uma vez quer ser desrespeitada sem escrúpulo. Não tem cabimento considerar invasores àqueles que são donos de suas terras, de territórios preservados secularmente, que tem garantido a conservação de espaços que querem ser invadidos para ser destruídos em busca do lucro, rejeitando todo sinal de vida. Como cristãos católicos temos que ser claros em dizer não ao Marco Temporal, pois sua aprovação vai representar o fim dos povos indígenas. Sem território, os povos originários vão perdendo seu espaço de vida, sua cultura, suas cosmovisões, sua espiritualidade, sendo condenados a se refugiar nas periferias das cidades onde correm o risco de morrer à mingua. O que fazer para poder parar uma lei que é claramente contra a vida? Como nos posicionarmos em defesa daqueles que sempre foram vistos como cidadãos de última categoria? Como ajudar a superar preconceitos que fazem parte do imaginário brasileiro? Como ser uma sociedade onde todos os habitantes do Brasil têm voz e vez e tem seus direitos respeitados? A desaparição dos povos indígenas como povos faz com que o Brasil possa perder elementos fundamentais em sua condição de país. Um país de tantos rostos não pode correr o risco de perder uma diversidade que lhe enriquece, que lhe faz crescer e ser uma nação com maior vitalidade. As elites políticas e econômicas, verdadeiros impulsores do Marco Temporal, sempre pensando em seu exclusivo benefício, não podem ser aqueles que marquem o rumo que a nação brasileira quer trilhar. Pequenos grupos que pretendem colocar na cabeça da sociedade novas dinâmicas de existência que em nada tem a ver com o cuidado da vida dos mais fracos e pequenos, daqueles que deveriam ser objeto de maior cuidado, colocando em risco sua condição de humanidade, pois a humanidade aprece quando estamos dispostos a cuidar daqueles que ninguém cuida. A postura da Igreja do Brasil é clara e coloca em evidência as graves consequências da aprovação do Marco Temporal. Essa é uma postura que tem sido defendida ao longo de décadas e que está sendo mostrada mais uma vez com posicionamentos em defesa dos povos indígenas, mestres no cuidado da casa comum. Sejamos conscientes disso, e na medida das nossas possibilidades façamos o que estiver ao nosso alcance para evitar que mais uma lei de morte e destruição seja aprovada no Brasil. Sua aprovação será o final dos povos indígenas, mas também colocará em risco a sobrevivência de todos, pois sem o cuidado da floresta a vida se complica e muito. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1 – Editorial Radio Rio Mar

Dom Dante Braida: “Quanto mais pessoas contribuírem com os seus talentos, melhor se realiza a missão”

Dom Dante Gustavo Braida é um dos escolhidos pelo episcopado argentino para integrar a assembleia sinodal que se realizará em Roma no próximo mês de outubro. O bispo de La Rioja, onde vive a herança de Dom Angelelli, afirma que “a sinodalidade é uma experiência que também estamos a aprender ao longo do caminho“. Numa Igreja muitas vezes centrada no ministro ordenado, apela a que se caminhe com os outros, porque “quanto mais pessoas contribuírem com os seus talentos, melhor se realiza a missão“. Para a assembleia sinodal quer levar elementos presentes na Igreja argentina, a opção pelos pobres, a criação de espaços de diálogo e a animação missionária. E espera encontrar irmãos e irmãs que estão em processo e uma maior valorização dos leigos como membros da Igreja. Sinodalidade é uma palavra e uma dinâmica antiga na vida da Igreja, que poderíamos dizer que durante algum tempo foi colocada em segundo plano. O Papa Francisco quer reavivar esta dinâmica, o que é que isso representa para a vida da Igreja? A primeira recuperação foi a do Concílio Vaticano II, procurando voltar às fontes, e a partir daí iniciou-se um processo que Francisco está agora a valorizar mais, e isso está a ajudar-nos a assumir a vida da Igreja entre todos nós, e sobretudo a missão que a Igreja tem. A sinodalidade é uma experiência que também estamos a aprender ao longo do caminho. Estes dias em Bogotá estão a ajudar-nos a entrar em sintonia com o Espírito e a descobrir como ele se manifesta realmente em cada pessoa quando lhe damos espaço e quando o podemos partilhar com os outros. E como é que um bispo vive isto no governo pastoral de uma diocese? Em primeiro lugar, vive-o com grande esperança, porque hoje em dia está muito centrado no ministro ordenado na vida pastoral e isso implica um caminho com os outros, é como partilhar a tarefa, e isso é um alívio e uma responsabilidade maior, porque é preciso também discernir os carismas das pessoas, para que cada um possa dar o seu contributo à Igreja. É uma ajuda enorme, porque quanto mais pessoas contribuírem com os seus talentos, melhor se realiza a missão. É bispo de La Rioja, a diocese onde foi bispo Dom Angelelli, de quem, parafraseando as palavras de Francisco na Jornada Mundial da Juventude, podemos dizer que fez tudo o que estava ao seu alcance para criar uma Igreja em que todos tem lugar, uma Igreja sinodal. Como é que esse legado continua a estar presente nessa Igreja particular? É muito importante beber do legado que ele nos deixou, porque ele viveu o Concílio Vaticano II e, em 1968, quando assumiu a diocese, procurou aplicá-lo, e de uma forma concreta, incentivando os leigos na sua própria missão, sobretudo no mundo, e também ajudando a enfrentar as situações de pobreza que assolavam a vida de muitas pessoas. Formou também os conselhos pastorais, organizando a diocese por decanatos para a tornar mais participativa. Deu realmente a sua vida por uma Igreja sinodal e por isso, quando foi beatificado, o cardeal disse que ele era um mártir dos decretos conciliares. Ele procurou isso, uma pessoa que amava muito a Igreja e, embora não tenha sido muito bem compreendido no seu tempo por alguns sectores eclesiais, foi em frente, unido à Igreja e fiel à missão que lhe foi confiada. Hoje estamos a tentar ler mais as suas homilias, a voltarmo-nos mais para o seu testemunho, porque é uma enorme luz para aqueles de nós que querem viver a sinodalidade. O senhor é membro da assembleia sinodal em representação do episcopado argentino, o que é que quer levar em nome dos seus irmãos bispos a uma assembleia sinodal onde estão presentes igrejas de todo o mundo? Que contribuições pode dar o episcopado argentino à sinodalidade na Igreja universal? Na Argentina, como membro da América Latina, a opção pelos pobres é um acento forte na nossa Igreja e também na Argentina estamos a tentar vivê-la o mais fortemente possível. Estamos também a tentar gerar espaços de diálogo entre diferentes setores, que também estamos a tentar levar adiante numa sociedade muito polarizada. Depois, há também a animação missionária, estamos a tentar que cada comunidade tenha uma marca missionária, indo ao encontro dos que não estão cá, ouvindo os que foram embora. Seria bom que estas tentativas ressoassem na Sala do Sínodo. Falámos sobre o que quer trazer, mas também o que espera encontrar para a sua vida de batizado e de bispo nessa assembleia sinodal? Espero encontrar irmãos e irmãs que estão em processo, que, embora não tenhamos certezas, estão a caminho, procurando sintonizar-se com o Espírito Santo na vida interior. Irmãos e irmãs que procuram partilhar a riqueza do seu lugar e uma maior valorização dos leigos como membros da Igreja, que é um passo que temos de dar, e uma Igreja que procura que os pastores estejam ao serviço do povo, uma autoridade que nasce e está ao serviço do povo. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Leonardo Lima Gorosito: Ser facilitador no Sínodo, ver “como o Espírito está a falar entre as pessoas”

Na Assembleia do Sínodo 2021-2024 foi criada uma nova figura, a do facilitador. Um deles é o leigo uruguaio Leonardo Lima Gorosito, que vê a sua figura como alguém que “tem a bênção de poder ver de alguma forma qual é o processo, como o Espírito está a falar entre as pessoas”. Trata-se de chegar à harmonia, de ver a diversidade como “um dom e uma graça para a Igreja”, insistindo que “uma Igreja sinodal, sem dúvida, tem de ser diversa”. Uma Igreja em que se vive a circularidade, algo que é ajudado pela conversa espiritual, onde “não há hierarquia, há humanidade, há pessoas chamadas”, que estão “em volta de algo, mas ao mesmo nível”. “É um caminho que tem de ser percorrido, algo que terá de ser introduzido na vida das comunidades“, insiste Lima Gorosito, em que é necessário formar e dar passos concretos para que “a conversa seja o que dinamiza as organizações, as estruturas”. Uma das novidades da Assembleia Sinodal que se realiza em outubro é o trabalho nas chamadas comunidades de discernimento, nas quais haverá um facilitador. Como alguém que vai assumir esse papel, o que significa? Pessoalmente, a verdade é que é uma bênção poder participar como animador. É um papel de ajuda, de apoio à dinâmica do diálogo espiritual, e o que procuramos é que o método ajude as pessoas a encontrarem-se profundamente num clima de oração, de abertura ao Espírito. O animador tem a bênção de poder ver, de alguma forma, qual é o processo, como o Espírito está a falar entre as pessoas, e nós também temos a graça de ver que dons são dados na conversa espiritual. Como é que o Espírito ajuda a fazer avançar a sinodalidade? O Espírito é, sem dúvida, o grande arquiteto de tudo isto, porque, naquilo que eu vi nos casos de conversa espiritual, conseguir chegar à harmonia, não necessariamente concordando em tudo ou apontando as coisas na mesma direção, mas conseguir chegar à harmonia, chegar à fraternidade, a fraternidade é alcançada muito rapidamente, vê-se como a ação do Espírito faz com que isso aconteça. A Palavra de Deus diz-nos que há uma diversidade de dons, mas o mesmo Espírito. A diversidade é uma coisa boa, o Papa Francisco insiste muito nisso. Porque é que é tão difícil para nós, na Igreja, aceitar aqueles que são diferentes e têm opiniões diferentes? Eu acolho bem a diversidade. O Sínodo aponta-nos para a igual dignidade de todos os batizados e isso desarma qualquer outra pretensão de que possa haver alguns que vão ser acolhidos e outros que não, alguns que vão ser salvos e outros que não vão ser salvos. Essas coisas não têm nada a ver com o Espírito, nem com o Espírito de Jesus, nem com o Espírito do próprio Deus. A diversidade é um dom e uma graça para a Igreja, e uma Igreja sinodal tem certamente de ser diversa. Por vezes há resistência, as pessoas não compreendem bem qual é o papel das pessoas ou o que somos chamados a fazer, mas a sinodalidade também nos mostrou que, na medida em que é um processo, temos de o percorrer e isso ajudará e curará. Fala da igual dignidade do Batismo. É um leigo e vai animar um grupo em que a maioria são bispos, com outras vocações e ministérios. Podemos dizer que esta dinâmica que o Papa Francisco quis promover neste Sínodo reforça essa dignidade batismal, reforça uma Igreja em que o sacramento fundamental é o Batismo? Sem dúvida, a partir dos textos preparatórios do Sínodo e das experiências continentais e diocesanas, aquilo que se viveu muito na Etapa Continental, a igual dignidade teve uma expressão que para mim foi bonita, não sentimos o carácter piramidal da Igreja, mas sentimos muita horizontalidade, eu diria, até circularidade, no sentido de que estávamos todos no mesmo plano, reunidos à volta de qualquer coisa e não havia um nível hierárquico. É o que acontece na conversa espiritual, quando se está no momento da conversa espiritual não há hierarquia, há humanidade, há pessoas chamadas, e experimenta-se algo muito circular, que estamos todos à volta de algo, mas ao mesmo nível. Nos encontros regionais da etapa continental do Sínodo, esta circularidade foi experimentada nos círculos de discernimento: é possível viver e caminhar assim, é possível construir a Igreja a partir desta circularidade? Sem dúvida, a experiência foi maravilhosa, pessoalmente eu estava muito cheio do Espírito, no sentido de que foi um momento de graça. É um caminho que tem de ser percorrido, algo que terá de ser introduzido na vida das comunidades. O diálogo espiritual é um grande instrumento e temos de apostar nele, é o momento de o fazer e estamos a caminho. Diz que o diálogo tem de ser introduzido na vida das comunidades, que passos têm de ser dados para isso? Precisamos de identificar, porque em todas as comunidades há pessoas que facilitam o diálogo, precisamos de identificar as pessoas que tornam isso possível nas comunidades e, depois, talvez formá-las para serem facilitadoras, para ajudar a que a conversa seja o que dinamiza as organizações, as estruturas. Que, nos conselhos diocesanos, nos conselhos paroquiais, pudesse haver este tipo de instância, facilitaria muito a tarefa. Precisamos de ser treinados para isso e de abrir espaço para isso. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Giacomo Costa: Assembleia Sinodal, “amassar a experiência e a Palavra de Deus para descobrir o que o Espírito está a dizer”

A Primeira Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo 2021-2024, que se realizará em outubro próximo, é definida pelo padre Giacomo Costa, secretário especial da Assembleia Sinodal, como um tempo de mudanças na continuidade. De fato, estamos perante um Instrumento de Trabalho diferente, que ele define como uma ajuda prática para trabalhar em conjunto com base em tudo o que foi feito nas assembleias continentais. O Povo de Deus como ponto de partida e de chegada O Sínodo dos Bispos tem evoluído nos últimos anos e a Episcopalis Conmunio, que pela primeira vez será aplicada na íntegra num sínodo, segundo o padre Costa, desempenha um papel importante nesta dinâmica.  No número 7 deste documento fica claro que “o processo sinodal tem o seu ponto de partida e também o seu ponto de chegada no Povo de Deus, sobre o qual devem ser derramados os dons da graça infundidos pelo Espírito Santo através da assembleia dos Pastores”. Neste processo sinodal, algumas questões foram levantadas: como é que este “caminhar juntos” que permite à Igreja anunciar o Evangelho, de acordo com a missão que lhe foi confiada, está a ser realizado hoje a vários níveis (do local ao universal)? Que passos é que o Espírito nos convida a dar para crescermos como Igreja sinodal? Estamos perante um processo, sublinhou o jesuíta, em que “o trabalho se baseia nos temas que emergiram da escuta do Povo de Deus, apresentados no Instrumentum Laboris e recolhidos em documentos anteriores”. Por isso, insiste que o trabalho da Assembleia pretende ser um caminho de oração, de discernimento espiritual, porque o verdadeiro protagonista é o Espírito Santo. De 30 de setembro a 29 de outubro Um processo que começa a 30 de setembro com a Vigília Ecuménica de Oração, um retiro de três dias e a missa de abertura a 4 de outubro. Durante os trabalhos da assembleia, que serão acompanhados por momentos de oração e celebrações litúrgicas, o ponto de partida será uma experiência integral que ajudará, ao longo de quatro dias, a ter uma visão global do que é uma Igreja sinodal, o que constitui o primeiro segmento. Durante 13 dias, de 9 a 21 de outubro, serão trabalhados os três temas prioritários para a Igreja sinodal: comunhão, missão, participação, designados segmentos 2, 3 e 4. Finalmente, o segmento 5, que será o momento das conclusões e propostas, de 23 a 28 de outubro, com a missa de encerramento a 29 de outubro Características e comportamentos fundamentais de uma Igreja sinodal O objetivo é aprofundar as características e os comportamentos fundamentais de uma Igreja sinodal, a partir da experiência do caminho em conjunto vivida pelo Povo de Deus. O objetivo é identificar passos práticos significativos a dar para crescer como Igreja sinodal através do discernimento sobre os três temas prioritários que emergiram da consulta ao Povo de Deus. Trata-se de perguntar como ser mais plenamente sinal e instrumento de união com Deus e com os outros, como partilhar dons e tarefas ao serviço do Evangelho, e como procurar as estruturas e instituições necessárias numa Igreja sinodal missionária. Ao apresentar a dinâmica de cada segmento, o padre Costa disse que cada segmento seguirá o mesmo padrão, ajudando a construir consenso sem esconder as diferenças. Para tal, haverá uma introdução em que se contextualiza a realidade através de testemunhos e contributos bíblicos, um trabalho em grupos linguísticos, utilizando o método da conversa no Espírito, sessões plenárias, onde se fará a síntese do trabalho realizado nos grupos, com um debate aberto e uma recapitulação nos grupos, com base nos frutos recolhidos em plenário que ajudarão a formular um relatório final com propostas para os próximos passos. Articulação de perspectivas, dimensões e níveis Este trabalho será efetuado com base em fichas de trabalho, começando por uma breve contextualização, enquadrada pelas reflexões decorrentes da consulta ao Povo de Deus. Para o efeito, serão propostas algumas intuições e questões que articulam várias perspectivas, dimensões e níveis. Trata-se, nas palavras do padre Costa, de “amassar a experiência e a Palavra de Deus para descobrir o que o Espírito está a dizer“. Quanto às conclusões e propostas, ficou claro que o resultado não será um documento final, porque esta é a primeira sessão. Um novo documento surgirá para devolver o que foi trabalhado a toda a Igreja e para ver como aprofundar o que saiu da assembleia. Seguindo o que foi dito na Episcopalis conmunio, que afirma que “o consensus Ecclesiae não é dado pela contagem dos votos, mas é o resultado da ação do Espírito, a alma da única Igreja de Cristo”. Por isso, ele insistiu que “ou ganhamos todos ou não ganha ninguém”, afirmando que é inútil formular de qualquer maneira se não refletir o consenso. Uma experiência continental única de Igreja sinodal Aos participantes na Assembleia Sinodal em representação das Igrejas da América Latina e do Caribe, o secretário especial salientou a sua grande responsabilidade, “porque aqui têm uma experiência continental única de Igreja sinodal“. Daí a importância destes dias de encontro, que ajudam a tomar consciência dos dons da Igreja na América Latina e no Caribe, a reconhecer os dons das outras Igrejas e a aprender a caminhar juntos. O objetivo é ajudar toda a Igreja a crescer como Igreja sinodal missionária. Uma Assembleia sinodal em que a conversação no Espírito desempenha um papel fundamental, que Mauricio López vê como a práxis do discernimento. Nesta metodologia, ele vê a necessidade de uma atitude orante, que ajuda na busca progressiva do que o Espírito nos está a dizer. Reconhecendo que não é um método perfeito, insiste que o passo mais importante é passar do “eu” para o “tu”, para descobrir no que os outros partilharam a presença do Espírito. Algo que dá lugar à procura do “nós”, do sentimento comum de cada grupo, da presença do Senhor em cada um dos grupos. Algo que será realizado durante estes dias como preparação para o que será vivido em outubro. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Dom Leonardo: O Marco Temporal “será um marco de continuidade de morte dos povos indígenas”

“Se aprovado será um marco de continuidade da destruição”. Assim vê o cardeal Leonardo Steiner o julgamento do Marco Temporal no Supremo Tribunal Federal, que será retomado nesta quarta-feira 30 de agosto. Até o momento três ministros já votaram, se posicionando um a favor e dois contra o Marco Temporal. O Regional Norte1 da CNBB tem entre suas prioridades a defesa dos povos indígenas, uma defesa que dom Leonardo Steiner assumiu em sua missão como cardeal, empenhado em preservar os direitos da Amazônia e dos povos que a habitam. Daí sua denúncia da destruição que provocaria a aprovação do Marco Temporal, “destruição da natureza, do meio ambiente, destruição das culturas”. É por isso que o presidente do Regional Norte1 afirma que “será um marco de continuidade de morte dos povos indígenas, de desrespeito em relação aos povos indígenas”. Um marco que fará, segundo o arcebispo de Manaus, “não levarmos em conta enquanto Federação nenhum dos direitos”. Caso contrário, “se não aprovado será um grande marco, um marco de justiça, um marco de preservação dos nossos povos indígenas, será um marco para podermos ajudar os povos a se erguerem, mas também dizerem que eles são realmente brasileiros. E são brasileiros que eles têm direito a suas terras, que tem direito a viver do modo que eles desejam, que eles têm direito a exercer a sua cidadania”, ressalto o cardeal Steiner. Ele deixou claro que “nós esperamos que o Marco Temporal não seja aprovado”. Dom Leonardo Steiner comparou a situação que vivem os povos indígenas do Brasil com a situação que seria vivida “se um empresário tivesse a sua empresa invadida, que é que isso significaria. Imagine se as nossas pessoas do agronegócio se tiverem as suas fazendas invadidas, o que que haveria de acontecer?”. Diante disso, o arcebispo de Manaus denunciou que “nós estamos invadindo as terras indígenas, nós estamos destruindo as terras indígenas, nós estamos matando os povos indígenas”. O cardeal pediu que “o Marco Temporal não seja aprovado e que nós possamos ir ao encontro dos povos indígenas, ajudá-los a retomar a sua cultura, as suas línguas, a sua religiosidade”. Ele afirmou sem reservas que “nós como Igreja queremos sempre estar do lado dos povos indígenas, especialmente neste momento do julgamento do Marco Temporal”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Dom Jaime Spengler: No Sínodo, “estamos envolvidos na grande questão do presente e do futuro da Igreja”

O Conselho Episcopal Latino-americano e Caribenho (Celam), realiza de 29 a 31 de agosto o encontro com os representantes das igrejas do continente na primeira sessão da Assembleia Sinodal que acontecerá em Roma no mês de outubro. Mais ou menos 50 pessoas, bispos, religiosos e religiosas, leigos e leigas, presbíteros, membros da assembleia e facilitadores, estão reunidos na sede do Celam em Bogotá (Colômbia). Seguindo aquilo que a Liturgia da Palavra do dia apresentou, fazendo um chamado a não ter medo, a ir adiante, dom Jaime Spengler, na homilia da Eucaristia de abertura, relacionou as palavras da Escritura com aquilo que vai ser feito ao longo dos próximos dias, “dar continuidade ao caminho iniciado em vista da celebração da primeira sessão da Assembleia do Sínodo dos Bispos”, destacando a presença do padre Giacomo Costa, secretário especial da Assembleia Sinodal que será realizada no mês de outubro. O presidente do Celam insistiu em que “o Sínodo tem como tema a Igreja”, lembrando o desejo de fazer um Sínodo sobre essa temática, mas que não se sabia como fazer. Segundo o arcebispo de Porto Alegre, “o Papa Francisco assumiu essa tarefa e propôs um caminho que já de alguma forma está produzindo frutos, e também ácidas críticas”. Aqueles que foram escolhidos para representar os episcopados do continente e as igrejas com suas comunidades, têm “uma oportunidade única, é graça, é benção, é também uma responsabilidade, pois de algum modo estamos envolvidos na grande questão do presente e do futuro da Igreja”, ressaltou dom Jaime Spengler. Diante da atual realidade, onde “o cristianismo parece encontrar dificuldades de se apresentar com uma palavra crível e autorizada”, o presidente do Celam disse que “há quem afirme que a adesão à fé e Tradição está com os dias contados”. Ele lembrou as palavras do cardeal Martini, que dizia que “a Igreja está 200 anos atrasada”, questionando o porquê isso não nos incomoda e afirmando que “temos medo, medo ao invés de coragem”. “O ponto central não é a Igreja de hoje, não é a Igreja do passado, o ponto é a Igreja que virá, isto é, a Igreja que queremos deixar de herança às futuras gerações”, segundo o arcebispo de Porto Alegre. Ele destacou que “a questão é a capacidade do cristianismo e da Igreja de ser eloquente para todas as culturas e de ser compreendida na sua essência”. Isso porque “em alguns setores parece estar desaparecendo a figura do praticante e começando a surgir a figura do nômade e do peregrino”, em relação à Igreja. Ela “precisa ser ajudada e sustentada em seu caminho de verdade e liberdade, mais que uma Igreja que tem sempre algo a dizer, e que é sempre pronta a dar indicações e receitas”, enfatizou. Dom Jaime Spengler definiu a situação atual da Igreja numa palavra: “estamos em crise, e isso é bom, isto é salutar, isto é esperançoso, a crise tenta evitar que aconteça o pior. A Igreja está sempre em crise, ou ao menos deveria estar, o seu mais grande limite está em não tomar consciência desta situação”. Segundo o arcebispo de Porto Alegre, “a pluralidade é enorme e a vitalidade surpreendente, é o Evangelho”, lembrando que o Papa Francisco percebeu esta situação, e pedindo que “o Espírito divino nos inspire e nos guie, e que o diálogo franco entre irmãos e irmãs nos fortaleça”. Sobre o encontro que se realiza na sede do Celam de 29 a 31 de agosto, onde participa o cardeal Leonardo Steiner, presidente do Regional Norte1, dom Jaime Spengler colocou três pontos: rezar juntos, a final é o Espírito de Deus que nos inspira; nos conhecer, saber quem somos, de onde viemos, o que fazemos, quais são as nossas expectativas; iniciar um trabalho de diálogo em torno de aquilo que é o tema deste Sínodo, a própria Igreja com seus diversos aspectos. O presidente do Celam insistiu em que “uma oportunidade como esta, estes dias aqui junto à sede do Celam se torna um tempo privilegiado para realmente nós buscarmos sintonizar o nosso discurso”. Uma sinodalidade que “já está presente em muitos âmbitos da vida eclesial”, enfatizou dom Jaime Spengler, que disse que “desejamos avançar nesse modo de trabalhar”, citando diferentes exemplos dessa sinodalidade na vida eclesial presente nos conselhos existentes em todos os níveis de Igreja, que segundo o arcebispo de Porto Alegre é “o espírito que o Santo Padre pede que retomemos por assim dizer numa nova tonalidade”. Ele insistiu em pegar a mesma tonalidade, “pegar a sintonia do que o Santo Padre está nos pedindo neste momento”. Nesse sentido, disse que “não são bandeiras, é a identidade da Igreja segundo os critérios que vem, seja do Evangelho, seja da Tradição dos Santos Padres, seja também da bela Tradição da Igreja”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Encontro dos participantes da América Latina y Caribe no Sínodo: Partilhar as vivências de uma Igreja sinodal

A sede do Conselho Episcopal Latino-americano e Caribenho (Celam), em Bogotá (Colômbia), acolhe de 29 a 31 de agosto o encontro daqueles que irão participar da Assembleia Sinodal em outubro no Vaticano como membros e como facilitadores. Quase 50 participantes, bispos, leigos e leigas, representantes da Vida Religiosa, presbíteros, chegados das 22 conferências episcopais que fazem parte do Celam. O cardeal Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus e presidente do Regional Norte1 da CNBB é um dos cinco bispos eleitos pelo episcopado brasileiro para o representar em Roma. Dom Leonardo destaca a importância de ouvir, “nós não queremos que o Sínodo seja uma participação, então ouvir quem vai participar, deixar repercutir, naquilo que cada um traz, cada uma traz”. Ele insiste em que “isso é sinal de comunhão da América Latina que deseja participar”. Estamos diante de um momento de muito encontro, segundo o cardeal, “para ajudar também a preparar as nossas falas, as nossas participações, mas sempre em vista da Igreja que está na América Latina”. Essa Igreja da América Latina e do Caribe, marcada pela sinodalidade em seu caminhar nas últimas décadas é uma Igreja da qual a Igreja universal espera seus aportes. Nesse sentido, o presidente do Regional Norte1 da CNBB não duvida em defini-la como “uma Igreja que evangeliza, uma Igreja que leva em conta todos os ministérios, vocações e serviços, as pastorais da Igreja”. Uma Igreja que dom Leonardo vê como missionária, “mas que só será missionária quando todos os membros, todos os batizados forem ativos”. Ele insistiu em que “nós temos uma belíssima experiência na Amazônia, nossa Igreja já respira há muito tempo, dadas as iniciativas do passado, uma Igreja sinodal, as nossas assembleias são sinodais, as nossas assembleias diocesanas são sinodais, no Regional são sinodais, mas também das igrejas que estão na Amazônia, nós vemos a participação de todos”. Uma dinâmica fundamental é “trazermos os leigos para participar”, lembrando que nos Atos dos Apóstolos, “eles estão lá participando ativamente e também fundam igrejas”, o que dom Leonardo define como muito bonito. É por isso que ressalta que “se nós pudermos como América Latina, como Brasil, levar isso para o Sínodo, para que nossa Igreja seja cada vez mais sinodal, será uma grande contribuição”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Assembleia do CNLB Roraima reflete sobre a profecia e elege novo conselho

A diocese de Roraima realizou de 25 a 27 de agosto a Assembleia formativa e eletiva do Conselho de Leigos e Leigas da Diocese – CNLB Roraima. O tema de reflexão ao longo do encontro foi “Não deixemos morrer a Profecia”. A assembleia contou com a participação de representantes de diferentes paróquias da diocese, de dom Evaristo Spengler, bispo diocesano, e de Francisco Meirelles, presidente do Conselho Nacional do Laicato Brasileiro Regional Norte. Ao longo da Assembleia foram abordados diferentes temas, dentre eles a formação em preparação ao Mês da Bíblia, que se inicia no dia 1º de setembro e que neste ano de 2023 realizará o estudo da Carta aos Efésios. Também foi refletido sobre o tema central da assembleia: “Não deixamos morrer a Profecia”, sendo realizado um trabalho em grupos com a seguinte pergunta: “quem são os profetas e profetizas hoje na diocese?”. As reflexões nos diferentes grupos foram partilhadas em plenário. A mesma temática foi abordada em nível regional e nacional, tendo como ponto de partida os vídeos de dom José Ionilton Lisboa de Oliveira, bispo da Prelazia de Itacoatiara e referencial do laicato em nível regional, e Sônia Gomes de Oliveira, presidenta do Conselho Nacional do Laicato. A eleição do novo conselho, seguindo o regimento, aconteceu no domingo 27 de agosto, dia em que dentro do Mês Vocacional se reza pelas vocações laicais e se celebra o Dia do Catequista, um ministério onde o laicato tem um papel fundamental. Após a celebração da Eucaristia, presidida pelo padre Mauro Maia, foi realizada a eleição entre as duas chapas concorrentes, sendo eleito Lincoln, leigo engajado na Caritas Roraima e nas Pastorais Sociais. Os participantes encerraram a assembleia com a benção indígena, uma realidade muito presente no Estado de Roraima, e o gesto de lava-pés da ex-presidente do CNLB da diocese de Roraima aos novos eleitos para coordenar o laicato nos próximos anos. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Cultura e espiritualidade marcam encontro transfronteiriço do Povo Magüta

Um encontro para refletir sobre os quatro pilares da nação Magüta: Maü (origem), Naé (território), porá (cultura), fá (espiritualidade). Este foi o objetivo do encontro realizado na reserva indígena de Nazaré (Colômbia), de 25 a 27 de agosto de 2023, baseado na reflexão ancestral sobre a cultura, espiritualidade e identidade Magüta. Conforme relatado pelo Padre Ferney Pereira Augusto, sacerdote diocesano do Vicariato Apostólico de Letícia, indígena Ticuna, pároco da Sagrada Família de Nazaré (Colômbia), membro da coordenação do Projeto Igreja Sinodal com rosto Magüta, projeto implementado por um grupo de missionários da Tríplice Fronteira Brasil-Colômbia-Peru, o projeto contou com a participação de avós sábios (xamãs), médicos tradicionais, jovens, avôs, catequistas e agentes de pastoral das reservas indígenas de El Progreso, Arara, Nazaré, na Colômbia e de Umariaçu e dos Lassalistas de Tabatinga, na diocese de Alto Solimões. Grimaldo Ramos Bautista, autoridade Magüta e sábio da comunidade de Nazaré, refletiu sobre a importância da cultura da nação Magüta, especialmente a tradicional festa da puberdade (pelazón), sua importância na harmonia que os membros do povo Magüta devem ter com a natureza, com Deus e consigo mesmos. Outro membro da comunidade de Nazaré, Celestino Careca, médico tradicional (xamã), ajudou a aprofundar o território da nação Magüta, os lugares sagrados, as estradas, a cartografia Magüta e o grande território Magüta que atravessa a Tríplice Fronteira Brasil – Colômbia – Peru, mostrando que o povo Magüta não tem limites, que a terra é de todos e por isso deve ser cuidada como uma única casa comum. A origem do povo Magüta foi o ponto central da reflexão do xamã Javier Ramos, professor da reserva indígena de Arara, que enfocou a criação do mundo, a origem do homem Magüta, os clãs, refletindo sobre a importância de conhecer e praticar as tradições ancestrais para uma boa convivência na comunidade e sua relação com o mundo ocidental. O nascimento e o batismo tradicional, o rito da puberdade, a origem dos médicos tradicionais e a medicina ancestral como alternativa de cura espiritual e corporal do povo Magüta, foram elementos presentes na reflexão de Robinson Ríos, um jovem aprendiz de xamã, que destacou a importância dos xamãs na sobrevivência espiritual do povo Magüta e no cuidado com o meio ambiente. O encontro cultural e espiritual foi desenvolvido em torno do diálogo ancestral e da prática espiritual, destacando a importância da vida espiritual para o povo Magüta. São espaços onde o povo Magüta se encontra para a cura física e espiritual, um espaço para os avós e médicos tradicionais, onde curam e protegem o povo das suas doenças corporais e problemas espirituais. O encontro foi uma oportunidade para o xamã Magüta Sixto Ramos, da reserva indígena de Progreso, tratar pacientes com dores no corpo, especialmente as causadas por uma maldição de bruxaria. Humberto Pascual, xamã do povo Magüta da reserva indígena de Nazaré, especialista em tratamento de maldições de feitiçaria, proteção e cuidado do mundo espiritual, recomendou aos participantes a preservação da cultura, da espiritualidade ancestral, através da prática cultural e da conservação da casa do saber (maloca), que é o lugar sagrado mais próximo que a nação Magüta tem para cuidar do povo Ticuna ou Magüta. Um encontro em que os participantes foram nutridos espiritual, corporal e cognitivamente pelas reflexões e diálogos com os pajés, que lhes deram recomendações sobre o cuidado com o mundo natural, o mundo sobrenatural, o mundo espiritual e o mundo terreno. Foi sublinhado que estes mundos estão hoje quebrados devido à não prática e à não transmissão dos conhecimentos ancestrais à nova geração do povo Magüta, que está impregnada pela contaminação do mundo exterior (Korí, ocidental), o que tem enfraquecido a força espiritual, cultural e social do povo Magüta atual. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1