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Sem a Amazônia, o futuro da humanidade se complica e muito

A humanidade tem futuro sem a Amazônia? Poderíamos dizer que essa pergunta se faz necessária diante da atual conjuntura planetária. Essa reflexão está presente no 35º Congresso Internacional da SOTER, a Sociedade de Teologia da Religião que está acontecendo nesta semana, e que aborda o tema: “A Amazônia e o futuro da humanidade”. O Sínodo para a Amazônia voltou os olhares da Igreja e da sociedade planetária para a região amazônica e ajudou a tomar consciência da necessidade de novos caminhos para uma ecologia integral, para o cuidado da casa comum, dos biomas, especialmente de um bioma com uma importância decisiva para o cuidado com a vida, como é o bioma amazônico. Por isso, podemos dizer que sem a Amazônia, o futuro da humanidade se complica e muito. As riquezas da Amazônia são enormes e uma Amazônia preservada é bem mais interessante do que uma Amazônia depredada, inclusive do ponto de vista econômico, uma ideia defendida recentemente por um dos grandes cientistas brasileiros, Carlos Nobre, mas algo que não é entendido por muita gente, inclusive por muita gente que mora na Amazônia. No Congresso da SOTER eu tive uma intervenção onde fazia um chamado a visualizar as riquezas, algo que pode ajudar a superar os preconceitos presentes em muitas mentalidades no Brasil e no mundo afora. A vida que encerra a floresta e os povos que a habitam podem nos ajudar a priorizar aquilo que é decisivo na vida e no futuro da humanidade. Isso é algo que não pode ser calado, escondido, invisibilizado. Esse também é um desafio para a Igreja que está na Amazônia, uma Igreja encarnada e libertadora, que acompanha a vida e culturas presentes na região desde a interculturalidade, uma atitude decisiva no futuro da região e em consequência da humanidade como um todo. Entender que a diversidade cultural, os distintos olhares e compreensões da realidade, enriquecem a vida de todos e todas os que se aproximam dessas realidades se torna um desafio cada vez mais urgente. O que fazer cada um de nós e todos juntos como sociedade, como Igreja? Como evitar o risco de entrar em dinâmicas que coloquem em grave perigo o futuro da humanidade? Como promover uma toma de consciência pessoal e comunitária em favor do cuidado? Quais os passos a serem dados para ter um olhar diferente, que fomente o cuidado em relação à Amazônia e aos povos que a habitam? É tempo de parar e juntos encontrar caminhos concretos que ajudem no futuro da humanidade. O tempo tem se tornado uma ameaça, que só será vencida com o empenho de todos, também com meu empenho, com seu empenho. Não podemos continuar olhando para o outro lado, e ainda menos apoiando iniciativas que coloquem em risco o futuro da humanidade, o teu futuro, o meu futuro, o nosso futuro. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1 – Editorial Rádio Rio Mar

Espiritualidade, ecologia, migração: Se conectar às raízes que vem das espiritualidades ancestrais e nos sonhos para as próximas gerações

Espiritualidade, ecologia e migração foram os pontos refletidos pela professora Márcia de Oliveira e o padre Dário Bossi dentro do 35º Congresso da SOTER que conta com a participação de mais de 600 congressistas presenciais e on-line e acontece de 11 a 14 de julho. Tendo como ponto de partida a migração venezuelana no território amazônico, uma realidade muito presente em Roraima, o Estado onde a professora Márcia mora, ela refletiu sobre o que essas mobilidades nos ensinam enquanto Igreja na região. A professora da Universidade Federal de Roraima enfatizou que “a migração não é um problema, são irmãos e irmãs que precisam de acolhimento, uma oportunidade para toda a Igreja repensar sua missão”. Não podemos esquecer o processo de deslocamento que envolve o mundo inteiro, um terço da humanidade vive fora de seu território de referência, enfatizou a professora, que também relatou o processo de migração interna na Amazônia, com um 46% da população indígena deslocada de seus territórios para a periferia das cidades. Um deslocamento que acontece de forma obrigatória, sem a pessoa ter o direito de escolher a decisão de migrar, segundo a professora. Diante dessa realidade chamou a ver o migrante como um lugar teológico, “acolhê-los não é uma escolha, é um mandato evangélico, sendo um desafio eclesial de grande relevância”, disse Márcia de Oliveira. Acolher na perspectiva cristã, como algo profundo, “não é apenas atender e mandar embora, acolher por amor e por cuidado, não por medo, por desprezo”. A professora fez um chamado a ter respeito pela dignidade do migrante, algo que pede o Papa Francisco, questionando os muros construídos que impedem os migrantes viver com dignidade mundo afora. A Amazônia é atualmente uma rota migratória, disse a professora, e seguindo aquilo que o Papa Francisco pede, a Igreja é chamada a ser “uma comunidade para acolher, proteger, promover e integrar”. Isso diante de uma sociedade onde o migrante é bem-vindo na medida em que ele esquece sua cultura e não queira ser diferente. Para isso, um ponto central é “acolher com compaixão, uma acolhida que brota da sinceridade do coração”. Márcia de Oliveira recordou o dito por Bauman, quando fala de interesses políticos e econômicos que não se importam com a vida das pessoas e da capacidade da sociedade moderna de produzir deslocamentos e não se responsabilizar por isso. Diante disso, a acolhida aos migrantes é um dever da sociedade, de rompimento do esquema capitalista e tudo o que gera essa injustiça. A Doutrina Social da Igreja mostra a necessidade do acolhimento como atitude de transformação, e nessa perspectiva lembrou a falta de cuidado da Casa Comum como causa da migração. Isso tem que levar a acolher com compaixão, a praticar a acolhida com solicitude que parte do próprio Jesus, refletindo sobre a espiritualidade do exilio da Sagrada Família. Igualmente a superação das desigualdades para gerar pertencimento e a atitude de acolhida como algo que inclui todas as dimensões na Igreja. O padre Dário Bossi partiu da reflexão sobre algumas lições sobre a espiritualidade amazônica que podem nos ajudar a crescer na busca de sentido. Nesse sentido, defendeu a importância de se conectar às raízes que vem das espiritualidades ancestrais, perceber que na luta por resistência isso é garantia de vida, que as espiritualidades são a forças, pois vinculam com as forças ancestrais e nos sonhos para as próximas gerações. Nessas espiritualidades amazônicas colocou a escuta, indignação e a conversão e profecia como um tripé, colocando o exemplo de pessoas concretas em que o missionário comboniano vê essas atitudes. Como exemplo de escuta colocou Berta Cáceres, á líder ambiental indígena hondurenha, que afirmava que “eles estão com medo de nós porque nós não estamos com medo deles, e junto com isso: “venceremos, foi o rio que me disse”. Uma escuta ampla, que no Sínodo nos levou a entender o desaprender, reaprender e aprender, afirmou Bossi, uma escuta que se faz celebração e contemplação. Como referência de indignação colocou Edvard Dantas Cardeal, da comunidade de Piquiá de Baixo, no Maranhão, exemplo de uma pessoa anônima que lutou contra a mineração na Amazônia, que afirmava que “a beleza dessa luta é que a gente não cansa, e quando houver uma derrota a gente reage com mais ânimo e convicção!”. O padre Bossi fez um chamado a se Indignar diante do colapso da Criação, da falta de água, do lixo nos oceanos, do aumento constante das temperaturas. Uma necessidade em um tempo decisivo que deve levantar nossa indignação, vendo o papel das religiões, como um instrumento que “não pode ser uma fuga moral, as Igrejas não podem se distanciar dos gritos”. Finalmente, no campo de conversão e profecia colocou o líder indígena Ailton Krenak, que afirma que a conversão primeira é a apertura à pluralidade, fazendo ver que “nós não somos as únicas pessoas interessantes neste mundo”. A partir desse chamado, citou algumas atitudes de conversão: reverência diante do recebido; reconciliação, regeneração, rearmar vínculos, laços; volta à simplicidade, sobriedade feliz, bem-viver; conversão ao bem comum, para desmontar a doença da possessão individual acima do coletivo.  Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Cardeal Steiner: Amazônia, uma Igreja que se evangeliza a si mesma “na força laical, ministerial, da mulher, de indígenas, de missionários e missionárias”

O 35º Congresso Internacional da Sociedade de Teologia e Ciências da Religião – SOTER, que está sendo realizado na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais de 11 a 14 de julho, com o tema “A Amazônia e o Futuro da humanidade: povos originários, cuidado integral e questões ecossociais”, contou com a reflexão do cardeal Leonardo Ulrich Steiner, arcebispo de Manaus, tendo como tema: “Amazônia: Evangeliza-te a ti mesmo”. Uma reflexão que não pode ignorar o território e o bioma, mas também a atitude que está ou deve estar presente na Igreja da Amazônia: “A Igreja está na Amazônia, não como aqueles que têm as malas na mão para partir depois de terem explorado tudo o que puderam. Desde o início que a Igreja está presente na Amazônia com missionários, congregações religiosas, sacerdotes, leigos e bispos, e lá continua presente e determinante no futuro daquela área. Penso no acolhimento que a Igreja na Amazônia oferece hoje aos imigrantes haitianos depois do terrível terremoto que devastou o seu país”, recordando as palavras do Papa Francisco aos bispos brasileiros durante a Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro (2013). Uma oportunidade em que o Papa fez um chamado a buscar o “rosto Amazônico” da Igreja que está na Amazônia, com sacerdotes adaptados à realidade, corajosos, com parresia. Uma Igreja missionária, que assume a missão que Jesus confiou, destacou o cardeal, “uma Igreja que evangeliza e uma Igreja que se deixa evangelizar”. E para isso ele propôs alguns documentos para ser “uma Igreja aberta, responsável, servidora, samaritana, escutadora; uma Igreja atenta a toda a realidade onde se encontra”. Dom leonardo analisou o conceito de evangelização, destacando a importância da Exortação Pós Sinodal Evangelii Nuntiandi, de Paulo VI, que apresenta a evangelização como “levar a Boa Nova a todas as parcelas da humanidade”, e pergunta “quem é que tem a missão de evangelizar?”, respondendo que é o Povo de Deus, dado que “existe uma ligação íntima entre a Igreja, a comunidade, e a evangelização”. O cardeal mostrou uma dupla orientação na Igreja que é enviada a evangelizar: “evangelizar não é um ato individual e isolado, mas profundamente eclesial”, e junto com isso, “se cada um evangeliza em nome da Igreja, nenhum evangelizador é senhor da sua ação evangelizadora”. Uma evangelização que ele intui, “tem a dinâmica de sair e receber”. Na Igreja da Amazônia tem um papel fundamental, segundo o arcebispo de Manaus, o Encontro de Santarém, como momento decisivo no caminho para uma Igreja que evangeliza a si mesma. Uma oportunidade para a Igreja da Amazônia fazer um caminho próprio após o Concilio Ecumênico Vaticano II e a Conferência de Medellin. Em 1972, os bispos da Amazonia brasileira se encontraram para refletir e discutir, o que foi recolhido no “Documento de Santarém”, que segundo o cardeal, “ele deu impulso e vida à ação evangelizadora na Amazônia”, insistindo em que “Santarém firmou uma Igreja encarnada e libertadora!”. Se firmou um caminho que “proporcionou frutos de encarnação e de profecia na evangelização junto aos povos da Amazônia”, destacando “a audácia profética recolhida no Documento de Santarém”, inspirando a Igreja da Amazônia “no seu modo de ser e de agir”, com “Comunidades de Base onde as leigas e os leigos foram assumindo um protagonismo”. Reflexões que ele considera as sementes do Sínodo para a Amazônia, e que deu passo a sucessivos encontros onde “foi nascendo o desejo do encontro entre as Igrejas da Pan-amazônia”, um processo que levou ao Sínodo para a Amazônia, onde “percebe-se o desejo da Igreja que está na Amazônia assumir a missão de evangelizar a partir do chão em que ela se encontra”. 50 anos depois de Santarém, a Igreja da Amazônia se reuniu no mesmo local, assumindo as orientações da Querida Amazônia, mas também uma Igreja que evangeliza desde a encarnação na realidade e libertação da realidade, uma Igreja que para se evangelizar a se mesma “tem a grandeza da inculturação e da interculturalidade”, insistiu o cardeal Steiner, uma Igreja que “tem a marca da evangelização integral e libertadora”, que é servidora. Dom Leonardo analisou a Querida Amazônia desde a hermenêutica da totalidade, insistindo desde o conceito de rosto amazônico em “traços que pudessem visibilizar a Igreja que está na Amazônia”, buscando não impor e sim despertar para a fé, para a vida do Evangelho. Uma Igreja que tem a encarnação a “expressão das culturas, religiosidades, a relação com o meio ambiente e eliminação das exclusões”. O arcebispo vê na “hermenêutica da totalidade a possibilidade de uma Igreja evangelizar”, definindo os quatro sonhos da exortação pós-sinodal como “quatro dimensões da realidade amazônica, essenciais para uma Igreja frutuosa, misericordiosa, consoladora, inculturada, transformadora, libertadora, ilumina o todo da Amazônia ou a Amazônia na sua totalidade. Os sonhos apresentados ajudam a perceber a vida e o ser da Igreja que está na Amazônia”. O cardeal propôs alguns sinais para responder ao tema da conferência: “Amazônia: Evangeliza-te a ti mesmo”. O primeiro, uma Igreja discipular missionária e sinodal, com a missionariedade como fundamento; uma Igreja servidora, profética e defensora da vida; uma Igreja do cuidado da criação, sempre atenta ao clamor da obra criada, o cuidado com a Casa Comum; uma Igreja sinodal, com a participação dos batizados, das expressões de Igreja; uma Igreja da escuta, do diálogo, de uma realidade que na Amazônia é multirreligiosa, multicultural e multiétnica; Igreja dos mártires, expressão da fidelidade à missão recebida e a verdade do Evangelho vivida com radicalidade. O cardeal chamou a estar juntos a caminho, considerando a Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA), como elemento para a Igreja da região avançar nesse Evangeliza-se a si mesma. Dom Leonardo insistiu na necessidade de desenvolver “Linhas de Pastoral de Conjunto com rosto amazônico, tendo como horizonte a encarnação e libertação, a comunhão e a participação”. Ele insiste na necessidade de muita escuta no caminho para uma Igreja com rosto amazônico, vendo a busca do rito amazônico, como elemento que “deverá ajudar na visibilização do modo de ser amazônico”, chamando a ir além de um rito litúrgico, buscando “visibilizar as manifestações…
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Paulo Suess: Fomentar o protagonismo dos povos da Amazônia e com seu exemplo contribuir no futuro da humanidade

A Amazônia é o foco da reflexão do 35º Congresso da Sociedade de Teologia e Ciências da Religião (SOTER) que acontece em Belo Horizonte de 11 a 14 de julho, com mais de 600 participantes, entre os presentes na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), e aqueles que participam on-line. O tema em discussão é: “A Amazônia e o futuro da humanidade: povos originários, cuidado integral e questões ecossociais”. Uma reflexão que teve como ponto de partida o Sínodo para a Amazônia, diante do qual Paulo Suess questionou se tem sido uma oportunidade perdida. Ele, que foi perito na assembleia sinodal refletiu sobre como o Sínodo para a Amazônia pode contribuir para o futuro da humanidade, advogando pela descolonização das práticas e exigências pastorais e teológicas da Igreja, e o fomento do protagonismo dos povos da Amazônia e com seu exemplo contribuir no futuro da humanidade. Analisando a realidade, o teólogo afirmou que os povos da Amazônia ainda são tutelados pela Igreja, defendendo a necessidade de tirar essa tutela para fortalecer seu protagonismo numa nova civilização. O que deve se procurar, defendeu Suess, é junto com os habitantes da Amazônia contribuir para o futuro da humanidade a partir das reflexões durante o Congresso. Ele definiu a Amazônia como uma região multicultural e multirreligiosa, cobiçada pela sua beleza e riqueza, insistindo em que a defesa da vida na Amazônia exige proteção política e novos caminhos eclesiais onde seus destinatários sejam acolhidos como protagonistas. Afirmando a necessidade de na Amazônia passar do evento ao processo, Suess vê o Sínodo para a Amazônia como tentativa de repensar a presença da Igreja na Amazônia, uma Igreja que segundo o professor ainda não renunciou a seu centralismo. O Sínodo para a Amazônia é visto como um processo de reflexão sobre o passado, presente e futuro da Igreja católica na Amazônia e no mundo, retomando o que foi refletido nos encontros dos bispos da Amazônia, iniciados em 1952, se centrando nos dois encontros de Santarém, em 1972 e 2022. O primeiro incorporou na Amazônia as reflexões do Concílio Vaticano II e da Conferência de Medellín, com propostas retomadas 50 anos depois, insistindo na encarnação e libertação, para assim reforçar os caminhos traçados em 1972 e pelo Documento Final do Sínodo para a Amazônia: encarnação e libertação, protagonismo das lideranças leigas na Igreja da Amazônia, ampliar os espaços para uma presença feminina, que a voz das mulheres seja ouvida e participem na toma de decisões. Os dois encontros de Santarém fazem parte, segundo Paulo Suess, da gradualidade de uma reflexão eclesial e da prática sinodal que atravessa um país e um continente até envolver a Igreja universal. Ele analisou brevemente quatro documentos presentes nesse processo sinodal: Documento preparatório, Instrumentum Laboris, Documento Final e Querida Amazônia, vendo a essência do Sínodo nos novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral, algo definido pelo Papa Francisco na convocatória do Sínodo em outubro de 2017. Isso numa realidade determinada pelos desafios das distancias geográficas e a diversidade cultural, fazendo um chamado a evitar generalizações injustas, discursos simplistas e conclusões a partir das nossas mentes. Se faz necessário assumir as perspectivas dos direitos dos povos e das culturas, algo que está no Concílio e não aconteceu ainda, segundo Suess. Ele vê uma clara diferença entre os três primeiros sonhos da Querida Amazônia e o sonho eclesial, afirmando que a exortação pós-sinodal é uma carta de amor, que não propõe conversões como o Documento Final, e sim sonhos, e que no sonho eclesial não encontram repercussão os encaminhamentos do Documento Final do Sínodo para a Amazônia, que criou uma nova modalidade com um ministério compartilhado entre o Papa e os delegados no Sínodo. Com relação aos resultados do Sínodo, Paulo Suess abordou a Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA) e o Rito amazônico. A CEAMA foi uma proposta do Papa Francisco diante do pedido da assembleia sinodal no Documento Final de criar um organismo episcopal permanente para dar continuidade ao Sínodo, sendo fundada para transformar desafios pastorais em respostas práticas, segundo o professor. Ele insistiu na necessidade de envolver as comunidades e refletiu sobre a lentidão para tomar decisões o que faz com que tudo fica em sonhos. Com relação ao Rito amazônico, buscando uma pastoral menos colonial, ele vê uma dificuldade, dada a não homogeneidade de culturas e ritos na Amazônia. Para isso defendeu a presença e protagonismo de ministros locais, e fez ver a falta de ampla participação dos povos. Daí a necessidade de ritos amazônicos que respondam à diversidade cultural, questionando se um Rito amazônico não significa repetir um novo colonialismo, uma espécie de nova língua geral, que foi criada para facilitar a catequese. Igualmente refletiu sobre a Primeira Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, uma proposta do Papa diante do pedido de uma VI Conferência Geral do Episcopado, com ampla participação do povo de Deus de toda América Latina y Caribe, querendo retomar propostas não realizadas de Aparecida, com uma maior participação do conjunto do povo de Deus. Algo que não se concretizou segundo Paulo Suess, pois não teve participação substancial do povo de Deus, questionando a ausência de um Documento Final, uma marca registrada na Igreja da América Latina y Caribe. Concluindo, o assessor teológico do Conselho Indigenista Missionário defendeu não ter sido em vão os desafios experimentados por ocasião do Sínodo para a Amazônia e da Primeira Assembleia Eclesial de América Latina e do Caribe. Mesmo com as dificuldades que surgem do Direito Canônico para a recepção da eclesiologia do Vaticano II, a sinodalidade vai além do exercício da colegialidade episcopal, questionando as reservas episcopais que faz “do sensus fidei fidelium um processo de consultações sobre consultações”, afirmando fazer “do Espírito Santo um placebo (paliativo) sem consequências pastorais palpáveis”. É por isso, que “as discussões, nestes dias, podem mostrar que o Sínodo para a Amazônia não foi oportunidade perdida”, respondendo assim à pergunta planteada por ele mesmo. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Encontro de secretários e secretárias dos regionais da CNBB em Belo Horizonte: formação, confraternização, convivência

Os secretários e secretárias executivos dos 19 regionais em que se divide a Conferência Nacional dos Bispos de Brasil (CNBB) estão reunidos de 10 a 14 de julho na Casa de Retiro Santíssima Trindade, em Belo Horizonte (MG) para um encontro de formação e partilha. Em representação do Regional Norte1 participa a Ir. Rose Bertoldo, secretária executiva do nosso Regional. Segundo a religiosa, “o encontro dos regionais com a CNBB Nacional sempre é um momento muito forte de troca de experiências, e este encontro que acontece sempre no mês de julho tem uma dinâmica de conhecer o Regional que recebe e fazer alguns estudos mais específicos da realidade da CNBB naquilo que diz respeito ao papel das secretárias e dos secretários regionais”. Este é o primeiro encontro com a nova presidência da CNBB, que é representada por Mons. Ricardo Hoepers, bispo auxiliar de Brasília e secretário geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que irá assessorar os momentos de formação. Sua presença no encontro é vista pela secretária executiva do Regional Norte1 como “um momento para ver as demandas que cada regional tem, e alinhar algumas questões que são pertinentes com relação aos regionais”. Dentre os elementos a serem abordados, a Ir. Rose Bertoldo cita “a questão da prestação de contas, relatórios, enfim aquilo que é específico de cada regional”. Junto com isso destaca no encontro o fato de ser “um momento de celebração, de confraternização, de convivência entre os secretários e secretárias”. Finalmente, a religiosa destaca como objetivo específico do encontro, “o aprofundar nosso papel, mas também celebrar e conviver”. Os participantes do encontro conheceram em um primeiro momento a realidade do Regional Leste2, formado pelas dioceses do Estado de Minas Gerais, e da própria arquidiocese de Belo Horizonte que os acolhe, contando com a presença de Dom Walmor Oliveira de Azevedo, que até o mês de abril deste ano foi presidente da CNBB. Ao longo do encontro, os participantes irão conhecer diferentes pontos da Arquidiocese de Belo Horizonte, como é o Santuário Arquidiocesano São Francisco de Assis, o Mercado Central, a Basílica Nossa Senhora de Lourdes, o Santuário Nossa Senhora do Rosário, em Brumadinho, onde será abordado o tema da Ecologia Integral e Mineração, tendo um contato com os atingidos pelo crime ambiental, que tirou a vida de 270 pessoas e irreparáveis danos socioambientais, onde estará presente Dom Joel Maria dos Santos, bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte. No programa também aparece uma visita à cidade histórica de Sabará, que contará com a presença de Dom Geovane Luís da Silva, bispo da Diocese de Divinópolis e referencial para a Comissão Bens Culturais da Igreja do Regional Leste 2. Os secretários e secretárias também terão oportunidade de partilhar sobre seu trabalho nos 19 regionais da CNBB. Tudo isso em um encontro que será encerrado no dia 14 com uma celebração eucarística. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

35º Congresso da SOTER debaterá sobre a Amazônia e o futuro da humanidade

A SOTER (Sociedade de Teologia e Ciências da Religião), realiza nesta semana, de 11 a 14 de julho seu 35º Congresso Internacional, que tem como tema: “A Amazônia e o futuro da humanidade: povos originários, cuidado integral e questões ecossociais”. Fundada em 1985, com sede na PUC Minas de Belo Horizonte (MG), e dividida em seis regionais, a SOTER busca incentivar e apoiar o ensino e a pesquisa no campo da Teologia e das Ciências da Religião, tendo como perspectiva a opção preferencial pelos pobres. Conta com 650 membros e desde sua fundação organiza seu Congresso Internacional anual, considerado um fórum privilegiado para o debate. O 35º Congresso quer se inspirar no poeta amazonense Thiago de Mello, falecido em 2022, considerado um “incansável defensor da vida e da dignidade do povo da Amazônia”. Exilado no Chile durante a ditadura militar, saiu do país em consequência de sua luta pela liberdade. “Homem que encarnava a coragem e a bravura dos nossos povos originários e quilombolas, tão enraizados na Amazônia e que ainda resistem a despeito de tanta violência, perseguição, negação de direitos fundamentais, falta de políticas públicas”, afirmam os organizadores do Congresso.  “A Amazônia, com seu simbolismo, com sua relevância ecológica enquanto ecossistema complexo, frágil e interligado com os demais, com suas incontáveis nascentes, chuvas e rios, plantas, florestas e animais, com sua rica diversidade de povos sábios, criativos e resistentes, com suas graves ameaças pela voracidade incontida e inconsequente da avidez humana por riquezas e lucros, é nossa fonte maior de inspiração e reflexão”, é o objeto de debate ao longo do Congresso. Isso tendo em conta, como a própria SOTER afirma, que “revela-se decisivo conhecer com profundidade a Amazônia, a riqueza de suas possibilidades e a gravidade de sua exploração irresponsável, de seu desequilíbrio e de destruição para o presente e o futuro do nosso país e da humanidade”. O Congresso acontece em formato híbrido, presencial, no Auditório João Paulo II da PUC Minas, e on-line, com transmissões que serão realizadas pelo site do Congresso da SOTER, sendo exclusiva aos participantes inscritos. As temáticas abordadas serão o Sínodo para a Amazônia; comunicar a Amazônia; evangelização na Amazônia; espiritualidade, ecologia e migração; a história do Cehila; a contribuição dos povos da Amazônia para o futuro da humanidade; os desafios para a ecologia integral e a eco espiritualidade; e as perspectivas teológico-sinodales y territoriales para o futuro da Amazônia. Entre os conferencistas aprecem os nomes de Paulo Suess, Luis Miguel Modino, Dom Leonardo Ulrich Steiner, Márcia de Oliveira José Oscar Beozzo, Patrícia Gualinga, Moema Miranda e Maurício López. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

A fascinante Missão da Boca do Tefé

1897, ano da chegada dos primeiros missionários espiritanos à Amazónia. Para um feliz e sábio encontro com a História, nada melhor que ouvir o Dr. Claudemir Queiroz, autor de várias obras sobre Tefé. Em conversas à mesa de almoço, explicou-me como foi formado pelos Espiritanos, no Seminário, e depois estudaria Direito, estando sempre ao serviço da Igreja. Falou-me da coragem enorme dos primeiros missionários que gastavam meses e meses rio acima e abaixo, sendo vítimas das febres (o ‘paludão’ era terrível!). Muitos deles morreram jovens, como me mostrou, no Cemitério, o P. Firmino Cachada, Superior da Missão da Boca do Tefé, lugar escolhido para a realização do Capítulo com a presença de todos os Espiritanos que trabalham na Amazónia. Fiz, por isso, duas idas e voltas de barco da cidade até à Missão que está na Boca do Lago Tefé com o Rio Solimões. Numa delas, só com o P. Firmino. A outra congregou, no barco da Diocese, todos os Espiritanos, ali juntinhos, a rezar para que não houvesse naufrágio, caso contrário não sobraria ninguém para contar a história e continuar uma Missão mais que centenária! Voltemos à História, ajudados agora pelo P. Firmino que continua a escrever e a publicar escritos e diários de missionários dos tempos mais antigos. O Bispo do Amazonas, D. José Costa Aguiar, esteve a 1 de Março de 1897 na Casa Mãe dos Espiritanos em Paris com o objetivo de pedir Missionários para a Amazónia, ‘para organizar a Missão dos índios’. O ‘sim’ foi imediato e os primeiros quatro saíram de Lisboa a 13 de Abril para chegar a Manaus a 23 de Maio. No dia de Pentecostes (6 de Junho) tomaram conta da Paróquia de S. Sebastião, onde eu fui rezar, situada na grande praça da Ópera. A 10 de Junho, subiram o Rio Solimões até Tefé, parando na Boca do Lago, local escolhido para construir a Missão. A partir de 1901, Tefé será a única Missão espiritana na Amazónia. É tempo de enchentes e o barco pára junto às escadarias da Missão. Feita a ginástica necessária com as cautelas para não cair á água, há 89 escadas a subir, quase a pique e encontramos o edifício da Missão e, mais à esquerda, o cemitério e a Igreja. Tive direito a visita guiada. Começamos pela Missão, continuamos na Igreja (dedicada ao Espírito Santo), fomos até 2 das comunidades indígenas e terminamos no Cemitério. O P. Firmino chamou-me a atenção para a parte ocupada pelos Missionários: são 23, muitos deles falecidos com 20, 30, 40 e tais anos de vida, na flor da idade, derrubados por febres malárias, pestes diversas, acidentes de barco ou vítimas de animais ferozes. Foram duros os primeiros tempos aqui, como o foram em toda a África, bastando ver os cemitérios da Huíla (Angola) ou Bagamoyo (Tanzânia), como exemplos de muitos outros. Na sua obra ‘À sombra da Missão’, o P. Firmino escreve uma pequena biografia de cada um destes 23 heróis da Missão, aqui sepultados. Já durante o Capítulo, alertei os Espiritanos aqui presentes para um dado comum e profundamente simbólico: eram 10 da França, 4 de Portugal e da Alemanha, 2 da Holanda e 1 da Itália, Suíça e Brasil. Ou seja, de sete países diferentes. Hoje, o Grupo da Amazónia tem Espiritanos de Portugal (2), Nigéria (2), Porto Rico, Brasil, Paraguai, Cabo Verde, Tanzânia e Madagáscar, estando a chegar um de Angola…ou seja, de 9 países diferentes! É a riqueza da diversidade, imagem de marca de uma congregação intercultural! O Capítulo rasgou novas perspetivas ao futuro da presença Espiritana aqui na Amazónia. E foi boa, profundamente simbólica, a escolha deste local. Viemos ao encontro de uma história rica, plural, corajosa, cheia de fé e de risco, ontem como hoje. Tudo isso, com a convicção profunda de que o Evangelho é um valor acrescentado à humanidade e abre portas a vidas e sociedades mais humanas, mais justas, mais fraternas, mais solidárias e mais salvas. Vou iniciar 18 longas horas de barco, rio acima, até Fonte Boa, sentado na minha rede. Ali, levado pelos confrades, visitarei diversas comunidades ribeirinhas que são animadas pelos Espiritanos. É uma Igreja de barco sempre à procura de novos remadores. Pe. Tony Neves – Fonte: Vatican News / Fotos: Pe. Firmino Cachada

Dom Leonardo: “O olhar dos simples, dos pequeninos, é em geral mais límpido. Eles vão diretamente ao essencial”

“Qual o segredo dos pequeninos que desperta louvor, oração, ação de graças? Os pequeninos, as crianças, os de pouco estudo? Quem são os pequenos que abrem as portas da admiração, da louvação? Quem são os sábios e entendidos a quem Deus esconde ou se esconde; para quem Ele permanece velado?”, se perguntou o cardeal Leonardo Steiner no início de sua homilia do 14º Domingo do Tempo Comum, após citar o texto do Evangelho do dia. Segundo o arcebispo de Manaus, “Deus esconde as coisas, as belezas, as preciosidades, as sutilezas, os encantos do Reino dos Céus aos ‘sábios e entendidos’, mas as revela aos pequeninos. Deus nega-se aos doutos ensoberbecidos pela aparência do próprio de saber, e se revela aos simples, os que não sabem que sabem, os pequeninos”. “Sábios e entendidos, aqueles que já sabem, sabem demais. Os que pensam tudo saber, já não necessitam saber, pois fundados no próprio entendimento. Os sábios e entendidos, fechados em si mesmos. Ao saber do já sabido, nada mais pode ser revelado; nada mais para o qual possa ser despertado. Mas é do encantamento, da admiração, da surpresa, da revelação que nasce a gratidão, a abertura de novos horizontes, novas compreensões, sonhos, verdades”, refletiu Dom Leonardo. “Os sábios e entendidos, os autossuficientes, os fechados; os que compreendem, mas pouco sabem. Os entendidos que acumulam saber, sem sabedoria; que pensam ter-se apropriado da sabedoria, mas permanecem na ignorância. Aqueles que por ‘saberem demais’, pouco espaço sobra para o outro com suas fraquezas e necessidades. O mistério da fraqueza, da finitude, não os atrai, não os toca. Existe uma espécie e autossuficiência, auto asseguramento. Justificam a finitude, o limite, fecham-se ao Mistério da salvação”, insistiu o cardeal. Em palavras do arcebispo de Manaus, “as pessoas que pensam entender do céu e da terra, tudo verificam pouco entendem; tudo comprovam, pouco percebem; tudo interrogam com respostas já sabidas. Esse tipo de saber baseado no cálculo, na soma, esquecido da receptividade de deixa-se tomar pelas manifestações admiráveis dos céus, da presença dos pássaros do céu, das ervas dos prados, dos lírios do campo. Tantos seres que manifestam a graciosidade da presença de Deus. Esses que se sentem espertos, inteligentes, na acumulação e devastação, apenas para a cumulação. Pouca admiração e reverência para com o Mistério que tudo deixa surgir, emergir, que tudo guarda e recria”. “Os grandes e poderosos, os sábios e inteligentes do Evangelho de hoje, não percebem a presença do Reino de Deus e não acolhem o seu horizonte, o seu sentido. O Reino se esconde, resiste aos soberbos, por mais santos que imaginam ser”, disse o arcebispo, citando as palavras de Santo Hilário, onde diz: “estão ocultos aos sábios os segredos e as virtudes da Palavra de Deus e para os pequeninos estão abertos: aos que são pequenos em malícia, mas não em inteligência; aos que são sábios aos olhos da presunção, mas não aos da prudência”. “E porque pensam tudo compreender e saber, tudo dominar e assegurar, dificilmente experimentam o que nos disse Jesus”, afirmou Dom Leonardo citando o texto do Evangelho: “vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos, e eu darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vós encontrareis descanso. Pois o meu jugo é suave e meu peso é leve”. Segundo o cardeal, “o saber que pensa saber é um fardo, perde a suavidade das revelações e manifestações do Espírito: a Bondade, a Misericórdia, a gratuidade. Desaparece aquela abertura e disponibilidade própria da receptividade, do acolhimento. Os sábios e entendidos correm o risco de estarem assentados sobre os seus saberes e passam a vida sem perceber que Deus deseja oferecer o seu amor paterno-materno. O caminho da fé tem outra tonância: tem suavidade, leveza, mesmo na dor e no sofrimento. É a vida dos pequeninos”. Com as palavras de Santo Agostinho: “Sábios e prudentes, se entende os soberbos, segundo manifesta o Senhor com as palavras: ‘Revelaste estas coisas aos pequeninos’. E quem são os pequeninos, senão os humildes?”, Dom Leonardo disse quem são “os pequenos, os humildes como nos ensinava a primeira leitura: ‘Eis que vem teu rei ao teu encontro; ele é justo, ele salva; é humilde e vem montado num jumentinho!’”. Ele insistiu que “o verdadeiro encontro acontece na humildade, no ainda não saber. Os pequeninos, os simples, os humildes, os disponíveis, os abertos, os procurantes, os caminhantes, os que não sabem, mas desejam saber, os do não-saber, abertos às revelações que Deus oferece”. “Os pequenos, os despojados, os abertos ao porvir, os que não vivem de estruturas pré-fabricadas, os que são abertos, livres diante da vida, do futuro. Os reverentes diante dos sofrimentos, da dor; os escutantes da Fonte da gratuidade da Água viva. Os pequenos, os que não entram em desespero, mas se recolhem para descobrir o mistério presente no desconforto do viver, no mistério do embate da vida. Os pequenos são como criança. Criança-criança, na sua originalidade, na sua espontaneidade, no seu límpido dar-se, no ser apenas criança, sem as amarras e sonhos de adultos. Nesse sentido, no pequenino se manifesta a humildade. Humildade como o húmus, como o lugar do nascer, do vir à luz, da possibilidade de plenifica a vida”, refletiu o arcebispo de Manaus. Segundo ele, “o olhar dos simples, dos pequeninos, é em geral mais límpido. Eles vão diretamente ao essencial. Não há muitos interesses tortuosos, mesquinhos. Sabem do sofrer, do sentir-se mal e do viver sem segurança. Não teorizam, não complicam, conseguem viver na insegurança, e na necessidade. Vivem conduzidos pela esperança! São os primeiros a entender o Evangelho. Pessoas de coração simples, pessoas próximas de Deus. Mulheres e homens sem grande possibilidade de estudo, outras com alto grau de acadêmico, que transpiram simplicidade, humildade, limpidez, transparência, disponibilidade”, destacando que “os pequenos, os humildes, os do não-saber, despertam, buscam a sabedoria, as belezas e nobrezas do Reino de Deus: a liberdade e liberalidade, o amor e a gratuidade, a esperança e…
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Encontro da Coordenação Regional da PJ: “Uma juventude profundamente encarnada, que sabe das problemáticas e não se faz ausente”

A Coordenação da Pastoral da Juventude do Regional Norte1 está reunida na sede da Faculdade Católica do Amazonas em Manaus de 7 a 9 de julho com representantes das dioceses de Coari, Borba y Roraima, a prelazia de Tefé e a arquidiocese de Manaus, um encontro que contou com a presença do cardeal Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus e presidente do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB Norte1). Os representantes das diferentes igrejas locais mostraram ao cardeal a realidade dos 700 grupos que fazem parte da PJ no Regional Norte1, uma pastoral que quer ser presença junto aos jovens e ajudá-los em seu projeto de vida e se inserir na Igreja. Eles relataram as dificuldades que muitas dioceses enfrentam pelas grandes distâncias e o alto custo dos deslocamentos. Diante disso, Dom Leonardo afirmou a necessidade da PJ retomar algumas questões no Brasil, dado sua importância em seus 50 anos de caminhada, marcando a vida de jovens que hoje tem uma alta responsabilidade no país, citando o exemplo do ministro Flávio Dino, que constantemente destaca a importância da PJ em sua vida, algo que também faz parte da vida de pessoas que participaram da PJ e hoje são uma presença no mundo da justiça e da política. A Pastoral da Juventude, segundo o arcebispo de Manaus, tem como vocação “viver o Evangelho na comunidade”, fazendo um chamado a refletir sobre a importância de seguir ligada à comunidade e de ter uma caminhada em comunhão com os agentes de pastoral. Em sua caminhada como PJ um elemento importante tem sido a Palavra de Deus, enfatizou Dom Leonardo. Ele vê na PJ “uma juventude profundamente encarnada, que sabe das problemáticas e não se faz ausente, se faz presente a partir do Evangelho”. Daí que ele veja “a realidade como ponto de partida e participar do debate como como missão da PJ”. O cardeal Steiner insistiu em levar em consideração a necessidade da PJ se fazer mais presente entre os indígenas, “ajudá-los a despertar para a grandeza do Evangelho, não como ideologia, mas como vivência existencial a partir de sua cultura, lhes ajudando a não perder sua cultura, sua língua”, insistindo em não impor. Para isso se faz necessário ânimo e coragem, pois “Jesus nos ensinou que o Reino de Deus é algo extraordinário e queremos anunciar esse Reino”. A PJ quer fazer memória dos 50 anos de caminhada, segundo a Ir. Maria Couto, assessora regional da Pastoral da Juventude, buscando assim ressignificar o rosto que tem a caminhada da PJ. Finalmente, Dom Leonardo refletiu sobre a realidade da droga e das fações, uma situação extremamente difícil que está muito presente na vida da juventude. São as fações que mandam, que controlam a vida do povo, e diante disso se faz necessário se questionar sobre como ir ao encontro dos jovens que são cooptados por esses grupos. Uma realidade marcada pelo assassinato dos jovens, em muitos casos sem ser informado na mídia. É por isso que a juventude é desafia a pensar nisso, sem medo de refletir sobre essas questões, sobre a violência, se perguntando “o que nós como Igreja estamos fazendo”, concluiu.  Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Encontro da Pastoral Vocacional Regional: “A vocação nunca é para mim, a vocação é para o povo de Deus”

Retomar as vocações na Igreja, retomar as vocações no Povo de Deus foi o desafio que Dom Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus e presidente do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil apresentou aos mais ou menos 30 representantes das dioceses e prelazias do Regional que participam do Encontro da Pastoral Vocacional que se realiza no Seminário São José de Manaus de 7 a 9 de julho. Um encontro que já acontece no mês de julho por mais de 30 anos, segundo Dom José Albuquerque de Araújo, bispo de Parintins e bispo referente da Pastoral Vocacional no Regional Norte1 da CNBB, que é momento de formação, de avaliação da caminhada feita e de planejamento, um momento para compartilhar o que pode ser compartilhado o que as dioceses e prelazias estão preparando para o Mês Vocacional, que acontece todo ano no Mês de Agosto. Um momento para revitalizar a Pastoral Vocacional nas dioceses e prelazias, segundo Dom José, para acolher os novos, um dado importante dado a muita mobilidade na região, principalmente no interior, insistindo na importância da participação dos leigos “para garantir que vai haver continuidade, que cada diocese vai ter alguns leigos que façam depois esse repasse para as paróquias e comunidades”. Um encontro que “neste ano tem um sabor especial”, segundo o bispo de Parintins, dado que o Brasil está vivendo o 3º Ano Vocacional, compartilhando o que se fez desde a abertura do Ano Vocacional em novembro de 2022, buscando “se animar e contagiar outros, sempre com essa proposta de que o Serviço de Animação Vocacional, ele quer ser uma forma da gente concretiza a sinodalidade da Igreja”, pois a vocação está presente na vida de todos aqueles que fazem parte da comunidade, e tudo o que SAV realiza é “sempre com esta convocação de que todo mundo possa caminhar juntos”. Ele insistiu em “não reduzir a reflexão vocacional a simplesmente promover as seminários e as casas religiosas”, e sim para que “todo mundo se sinta chamado, vocacionado, para ser cristão e para que na comunidade possa colocar em prática os ensinamentos de Cristo”. Pertencemos todos ao povo de Deus e se faz necessário conceber a Igreja como povo de Deus destacou o cardeal Steiner, afirmando que “nós somos descendência do Verbo Encarnado, nós somos descendência de Jesus Crucificado, Ressuscitado”. Segundo o presidente do Regional Norte1, “nós todos somos chamados a viver o discipulado”, lembrando que o Documento de Aparecida nos chama a todos de discípulos e discípulas missionários, algo que nasce do Batismo, que é o primeiro chamado, pelo fato de pertencermos ao povo de Deus. Um modo de ser discípulos missionários que tem uma diversidade muito grande dentro da Igreja. Segundo o cardeal, “para que o povo de Deus caminhe, para que o povo de Deus se dinamize, para que o povo de Deus seja povo de Deus, o Espírito Santo vai suscitando dentro da Igreja ações e vai suscitando ministérios diferentes, serviços pastorais diferentes”. Por isso, ele chamou aqueles que trabalham na Pastoral Vocacional a ajudar “as nossas comunidades a refletirem, a pensarem, a rezarem as vocações a que cada um, cada uma é chamado, mas para o bem do povo de Deus”. Ele insistiu em não ver a vocação como algo em benefício próprio, afirmando que “a vocação nunca é para mim, a vocação é para o povo de Deus”. Isso todas as vocações, que são “para visibilização do Reino de Deus”, chamando a abordar a questão das vocações “para que o povo de Deus seja servido, para que o povo de Deus seja mais dinamizado, para que nossa Igreja seja cada vez mais uma Igreja em saída, para que a nossa Igreja seja cada vez mais uma Igreja samaritana, para que nossa Igreja seja cada vez mais misericordiosa, para que nossa Igreja seja cada vez mais consoladora”. O trabalho vocacional tem que olhar não só o chamado, mas a missão dentro do povo de Deus, segundo Dom Leonardo. Ele relatou sua experiência de vida na infância, numa “comunidade que tinha consciência de ser comunidade”, uma comunidade que mais de 60 anos atrás, não tendo presbítero, a comunidade se reunia para a oração e a leitura da Palavra de Deus, “sempre com a consciência de que eles pertenciam à Igreja e que eles tinham um papel importante dentro da Igreja”, até o ponto de enviar alguém para se formar para ser professor e catequista, e de rezar sempre no final das celebrações pelas vocações. Quando chegou o primeiro padre para aquela região, ele não tomou conta da comunidade, ele percebeu que era uma Igreja organizada e ele entrou dentro da dinâmica, fez ver o cardeal. É por isso que ao falar de vocação, “nós estamos falando de vocação do Batismo, essa responsabilidade de se sentir Igreja, leigos e leigas que se sentem Igreja, celebram como Igreja”, destacando a importância dos muitos ministérios presentes hoje na Igreja, “que ajudam as nossas comunidades a se sentirem comunidade, a se sentirem povo de Deus”, chamando a mostrar como Pastoral Vocacional em primeiro lugar que “nós somos povo de Deus e que como povo de Deus, o ser leigo, leiga dentro da Igreja é uma vocação”. O ponto mais essencial do serviço de acompanhamento vocacional é mostrar “esse aspecto de responsabilidade da comunidade, do batizado, da batizada, esse ser Igreja”. Nesse sentido, pensando na sinodalidade, o cardeal Steiner, que será membro da Assembleia Sinodal do Sínodo da Sinodalidade, destacou “a importância que tem a vocação laical”. Uma toma de consciência de ser povo de Deus que faria com que cada batizado fosse muito mais atuante dentro da sociedade, muito mais presentes na questão da justiça, da política, mas como Igreja. Toda vocação tem como base o ser Igreja, “nós primeiro somos batizados, depois que vamos assumindo as vocações para a qual Deus vai nos chamando”, ressaltou Dom Leonardo. O Sínodo ajuda a perceber, afirmou o cardeal, que “a nossa Igreja, ela só é Igreja na medida em que todos nós vamos participando ativamente, assumindo…
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