As palavras de Maria Madalena que vai cedo ao sepulcro: “Tiraram o Senhor do túmulo, e não sabemos onde o colocaram”, foram destacadas pelo Cardeal Leonardo Steiner no início de sua homilia no Domingo da Páscoa. O Arcebispo de Manaus afirmou que “ainda de madrugada deixa a casa e busca consolo junto ao túmulo do Amado. Mas o túmulo vazio estava! A pedra retirada e o corpo ali já não jazia. E no vazio do túmulo não mais o via. Não que a incomodasse a morte, mas pelo desconsolo de nem sequer o corpo do Amado ter. Visita inútil na madrugada na busca de consolo. Nem o corpo lhe deixaram”. “E enquanto corria na busca de Pedro e João, Maria Madalena passa em seu coração a razão de seu desconsolo. Eu o tinha como a um Filho amado, era do meu agrado, me agradava, me era agradável, o perdi na cruz e agora o perdi no túmulo vazio”, continuou Dom Leonardo em sua reflexão. “Ele razão de minha vida, Ele amor de minha, Ele minha vida, vida da minha vida. ‘Retiram o meu Senhor e não sei onde o colocaram!’ Eu dele ouvi, mas a Ele não via, tão ocupada estava com os homens da minha vida. Apenas ouvia falar do Homem de Nazaré. Mas um dia eu o vi, rosto suave e forte, era quase como a dos outros que me visitavam e me buscavam. Continuei com meus amores e desamores”. Aprofundando nos sentimentos de Maria Madalena, o Cardeal disse que “depois que a Ele vi sobreveio o desejo de ouvir. Me inquietava, me interrogava, e já não tinha tanto tempo para os meus desamores. A sua voz era como a dos outros homens, mas não as suas palavras. Elas penetravam as entranhas, o fundo de minha alma. Ele fala de Deus, falava e balbuciava a palavra Pai. As palavras se aninharam, se calaram, silenciaram nas minhas entranhas. E de lá não mais se desaninharam”. “E quando Ele comigo se encontrou, nada de mais forte e suave, nada de mais suave e violento, nada de mais puro e transparente! Me senti completamente nua, despida, mas não envergonhada. Não me cobiçava, não me desejava, apenas me amava. Nenhum homem havia me despido assim. Tão despida, tão desvestida, tão…, sim tão eu, eu mesma, como se estivesse só diante de Deus. Foi então que vi meu coração, tão desejoso, tão amoroso, tão sedento de liberdade, de verdade, de amor”, disse Dom Leonardo, querendo interpretar os sentimentos da apóstola dos apóstolos. O Cardeal foi relatando o caminho da Madalena com Jesus, “caminhos percorri, estradas andei, não descansei e o encontrei. Na casa do fariseu entrei. Entrei sem bater, sem me conter e aos seus pés me aninhei. A ele toquei, acariciei, lavei com as lágrimas os seus pés. E ele sem desprezo nem constrangimento se deixava tocar, se deixava lavar os pés com meu arrependimento. Ao tocá-lo, ao acariciá-lo, a mim mesma tocava, acariciava e me senti perto de Deus. E desse encontro sai renascida, filha querida. Sim, me senti amada como uma Filha e esposa. E em mim vida nova, pessoa nova, nova mulher, mulher inteira; tudo novo, novo mundo, nova terra um novo céu. Mas ainda não sabia que eu tocara e acariciara o próprio Deus”. Um caminhar onde, em palavras do Arcebispo de Manaus, “eu o ouvia, com ele convivia, o servia. E sempre mais livre, sempre mais mulher, sempre mais filha, sempre mais serva, sempre mais criança, mais forte, com tanta sorte de parecer tocar a morte”. Sentimentos de dor que inundam o coração de Maria Madalena, porque “três dias faz o perdi na dor, na cruz, na morte. Perdi o amor, perdi o Pai, perdi o esposo, perdi o filho. Destruíram o meu céu e a minha terra. Restou apenas o túmulo onde guardamos seu corpo frio e inerte. O túmulo fechado ainda guardava meu consolo. E hoje ainda não amanhecido, na madrugada, no silêncio, na dormência de tudo, vi o túmulo aberto. Rompeu-se o segredo, o lugar do consolo: “Retiram o meu Senhor e não sei onde o colocaram”! Também os sinais de sua presença perdi; nem mais o corpo de meu Senhor. E ao chegar perto de Pedro e João, esbaforida, sofrida, descontida, apenas sussurrei: ‘Tiraram o Senhor do túmulo, e não sabemos onde o colocaram’. Sim, sem nosso Senhor”. Mas também relatou o encontro com o Ressuscitado: “E outro dia no jardim esperando, chorando, no jardim me desesperando, me consolando ouvi: Maria!… Maria? No meu nome vi o meu Senhor e Deus. Só agora vi o meu Deus e Senhor. Nem teu corpo preciso, de nada mais preciso, necessito, só agora a ti Vida nova, Vida da vida, Vida escondida, suavidade de vida, germe pronto a brotar, seiva que tudo penetra, todo o universo santifica e vivifica. Tu meu Senhor e Deus; Vida em que agora abito! Como encontrar-te num túmulo se em tudo e por tudo agora estás?” Palavras em que a Madalena, segundo o Cardeal Steiner, nos diz: “quanto tempo Senhor contigo convivi, te servi, te vi, te ouvi, mas não vi que eras meu Deus. Foi preciso perder-te, foi preciso esvaziar o túmulo das minhas seguranças, foi preciso o vazio completo de tudo, foi preciso a liberdade onde meu nome ressoava para que cresse em ti meu Senhor e Deus. Somente agora creio, quando tudo perdi e te ouvi, razão do meu viver, vida de todo ser que vive. Aleluia!”. A partir do que Dom Leonardo imagina foram os sentimentos de Maria Madalena, ele afirmou que “como Maria Madalena estamos a caminho na busca do consolo e encontramos tantos túmulos abertos, encontramo-nos tão expostos nos nosso peregrinar. Somos a Igreja feita da experiência da ressurreição. Há necessidade de retirarmos a pedra e deixar que a esperança do Ressuscitado nos encontre e nos devolva vida em meio a tantas incertezas, sofrimentos, mortes. Ele nos concede a dádiva da esperança. Assim como Igreja saímos como Maria Madalena a procura “retiraram o Senhor…
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