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Categoria: Palavra do Presidente

Cardeal Steiner pede a inspiração do Espírito Santo para dar à Igreja um Papa da paz, da esperança e da misericórdia

Um homem da paz, um homem da esperança, um homem da misericórdia. Esse é o Papa que o arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Ulrich Steiner gostaria fosse eleito no Conclave que inicia na quarta-feira 7 de maio. Uma eleição que está sendo preparada nas congregações gerais que acontecem até dia 6 de maio e onde participam os membros do Colégio Cardinalício. Um Papa para este tempo São 134 eleitores, depois da renúncia a participar do cardeal Antônio Cañizares, arcebispo emérito de Valência (Espanha), por motivos de saúde, e da renúncia definitiva do cardeal Ângelo Becciu, segundo foi confirmado por fonte vaticanas. Para eles, o arcebispo de Manaus e presidente do Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB Norte 1) pede a inspiração do Espírito Santo, para que “possamos dar à Igreja um Papa nesse tempo em que nós vivemos”. O cardeal Steiner disse que “as reuniões que antecedem ao Conclave estão caminhando muito bem”. Aos poucos os cardeais, tanto os eleitores, como os cardeais que já completaram 80 anos, que participam das congregações gerais, mas não entrarão na Capela Sistina na tarde de 7 de maio, vão partilhando suas reflexões em torno à situação atual da Igreja e à figura do futuro Papa. Amor de Papa Francisco pela Amazônia O arcebispo de Manaus participou das exéquias de Papa Francisco, realizadas na manhã do sábado 26 de abril, com a participação de 250 mil pessoas, além das mais de 150 mil que acompanharam o cortejo fúnebre no caminho da Praça de São Pedro até a Basílica de Santa Maria Maior, onde foi sepultado. Sobre a figura do último pontífice, o cardeal Steiner enfatizou mais uma vez, como ele vem fazendo desde o falecimento do Santo Padre que “Papa Francisco demostrou sempre um amor tão grande pela nossa querida Amazônia”. Igualmente, o cardeal brasileiro, um dos sete eleitores brasileiros do próximo Papa, disse que “no momento da celebração lembrei de todos e todos os queridos irmãos no episcopado, de todas nossas comunidades, que tanto receberam do Papa Francisco”. Finalmente, o arcebispo de Manaus pediu “que ele do céu nos acompanhe e que Deus abençoe a todos nós”.

Nota de Pesar do Regional Norte 1 pela morte de Papa Francisco

Ressuscitei e sempre estou contigo, Aleluia (Antífona Missa de Páscoa) O Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB Norte 1), em profunda comunhão com a Igreja no mundo inteiro e com a Sede de Roma, manifesta sua esperança na Ressurreição, não obstante o pesar por ocasião da morte do Papa Francisco. Nossas igrejas locais, as paróquias, áreas missionárias e comunidades acabam de celebrar a memória da paixão, morte e ressurreição de seu Senhor, e trouxeram ao tempo presente a grandeza do seu amor. Da mesma forma a páscoa de nosso querido Papa Francisco, nos remete a sua bondade. Hoje fazemos memória e agradecemos a Deus pelo pontificado extraordinário de um pastor igualmente extraordinário. A proximidade com os pequenos, vulneráveis e descartados convocou uma Igreja pobre para os pobres, uma Igreja sinodal, uma Igreja da escuta. A compreensão da grandeza da obra criadora de Deus, uma realidade muito presente em nossa Amazônia, conduziu uma espiritualidade de cuidado da casa comum, da conversão ecológica, do cuidado dos povos. A voz fragilizada nos últimos tempos não emudeceu o incansável grito pela paz e por uma nova ordem mundial. O pastor com cheiro das ovelhas, que peregrinou nas periferias do mundo, nos precede agora como o grande peregrino da esperança. A misericórdia foi a tonalidade de seu ministério petrino. Isto se evidenciou em seus gestos, seus pronunciamentos, no Ano Santo da Misericórdia e em seu programa pastoral expresso em seu brasão: “Miserando at que eligiendo” (Com misericórdia o elegeu)! Nossas Igrejas locais, com suas populações e bioma, são imensamente gratas pela sua particular predileção por esta região, pela convocação do Sínodo da Amazônia, com expressiva participação de agentes de nosso Regional, pela exortação pós sinodal em que nossa terra é chamada de querida, pela atenção ao grito de seus povos. Nos unimos aos sentimentos dos batizados, de mulheres e homens de boa vontade, dos povos indígenas da Amazônia, que encontraram em Francisco uma inspiração para viver solidariamente e não desistir da justiça, da paz e do bem viver. Perseveramos no anúncio de Jesus, o Senhor ressuscitado. A morte já não tem mais poder sobre ele. Todas as comunidades nas nove igrejas particulares do Regional Norte 1 da CNBB nos unimos em oração. Cardeal Leonardo Ulrich Steiner – Presidente Dom Adolfo Zon Pereira – Vice-presidente Dom José Altevir da Silva – Secretário

Cardeal Steiner: “Cristo ressuscitou! Esse anúncio chegue a todos, a cada casa, a cada família”

“Amados irmãos e irmãs, Feliz Páscoa, Cristo ressuscitou!” Com essas palavras iniciou o arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Steiner, sua homilia no Domingo da Páscoa. Ele recordou que “a Igreja hoje canta, clama: Jesus ressuscitou! Louvemos a Deus, Aleluia! Louvemos a Deus que fez por nós maravilhas. Louvemos a Deus que nos livrou da morte e devolveu-nos a vida. Aleluia!” Venceu a misericórdia Junto com isso, o presidente do Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB Norte 1), pediu que “esse anúncio chegue a todos, a cada casa, a cada família, especialmente aos que sofrem com a guerra, com os conflitos, o desemprego, a fome, onde há mais sofrimento, dor, desespero. Jesus ressuscitou, há esperança! Venceu o amor, venceu a misericórdia! A morte já não tem poder, o mal foi vencido pelo amor e pela bondade!” No relato do evangelho do dia, ele destacou que “Maria Madalena vai na madrugada escura ao encontro de Jesus no túmulo e o encontra vazio. Pedro e João correm ao sepulcro e, no vazio, encontram os sinais da presença. Nos sinais de sua presença passada, agora a sua ausência. Ausência, maior sinal de sua presença. Nova presença, a superação da morte! Esperança!” “Tiraram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde o colocaram. Sim o tiraram do túmulo. Não permaneceu no túmulo da morte, saiu da morte para vida! A vida venceu a morte! A morte já não tem poder sobre ele, por isso o túmulo vazio. No túmulo depositamos os mortos, para dar-lhes um lugar digno, como fizeram com o descido da Cruz. Ele agora verdadeiramente transfigurado, humano-divinizado, rompe a sepultura, abre o túmulo”, disse o arcebispo. O túmulo não guarda mais o corpo Segundo ele, “o túmulo guardava o corpo, já não guarda mais. O túmulo era ainda uma referência de presença, já não é mais. O túmulo era última recordação da presença do mestre, já não mais. Uma alma vazia, uma alma livre (Mestre Eckhart), está pronta para o encontro com o Amor que não é amado; uma alma livre, esvaziada, despojada, onde foi removida a pedra da entrada, que não guarda mais as exterioridades, que não mais vive dos sinais aparentes de faixa e panos, se apressa, corre na espera de que o amado venha, bata à porta e entre. A alma livre desejosa, amante, corre o risco do encontro.” O cardeal recordou que “na sua homilia da Páscoa Santo Agostinho diz a seus irmãos e irmãs: ‘amados, vamos celebrar cada dia da Páscoa e meditar assiduamente todas estas coisas. A importância que atribuímos a estes dias não deve ser tal que nos levará a negligenciar, senão a lembrança da paixão e ressurreição do Senhor, quando todos os dias sejamos nutridos com seu corpo e sangue; No entanto, nestas festividades a lembrança de Cristo é mais brilhante, mais intensa, e a renovação, mais alegre, porque a cada ano nos traz, diante dos olhos, a memória desses eventos. Celebrem, portanto, esta festa como uma transição e pensem que o reino futuro deve permanecer para sempre. Se nós, cheios de alegria nestes dias passageiros, nos lembramos com devoção da solene paixão e ressurreição de Cristo, – quão feliz nos fará o dia eterno quando vamos vê-lo e permanecer com Ele? Dia cujo desejo somente gera uma grande expectativa e nos dá alegria’” Diante da ressurreição, o cardeal questionou: “Mas se o Senhor ressuscitou, como existem essas situações deprimentes, esses desertos, essas violências, as mortes? Tantas desgraças, doenças, tráfico de pessoas, guerras, destruições, mutilações, vinganças, ódio? Onde está o Senhor? Vemos alastrar-se o deserto da guerra, da morte. Quantos desertos tem o ser humano de atravessar ainda hoje! Ao celebrarmos o Ressuscitado, cremos que Ele pode ‘fazer florir mesmo a terra mais árida, pode devolver a vida aos ossos ressequidos’ (cf. Ez 37, 1-14).” O amor de Deus é mais forte Em palavras do cardeal Steiner, “Jesus ressuscitou, significa que o amor de Deus é mais forte que o mal e a própria morte; significa que o amor de Deus pode transformar a nossa vida, fazer florir o deserto. O deserto dos corações, o deserto que se alastra na destruição da terra. Sim, o universo recebeu a graça da vida nova, pois o amor é transformativo, purificador. O amor de Deus que se fez nossa humanidade e percorreu o caminho da humildade, da dor, do sofrer, do dom de si mesmo, até a morada dos mortos, ao abismo da separação de Deus. O amor misericordioso inundou de luz e vida o corpo morto de Jesus e transfigurou-o, ressuscitando-o de entre os mortos. Jesus agora ilumina a nossa humanidade, abrindo-nos um futuro de esperança”, disse inspirado na primeira homilia do dia da Páscoa de Papa Francisco. Seguindo com a homilia do Papa na Vigília da Páscoa de 2020, o arcebispo de Manaus disse que “com a sua morte e Ressurreição “conquistamos um direito fundamental, que não nos será tirado: o direito à esperança. É uma esperança nova, viva, que vem de Deus. Não é mero otimismo (…). É um dom do Céu, que não podíamos obter por nós mesmos. Tudo correrá bem: repetimos com tenacidade nestas semanas, agarrando-nos à beleza da nossa humanidade e fazendo subir do coração palavras de encorajamento. Mas, à medida que os dias passam e os medos crescem, até a esperança mais audaz pode desvanecer. A esperança de Jesus é diferente. Coloca no coração a certeza de que Deus sabe transformar tudo em bem, pois até do túmulo faz sair a vida.” Deus é vida, somente vida Talvez, por isso Santo Irineu a nos dizer: “Eis o que é a Páscoa: é o êxodo, a passagem do homem da escravidão do pecado, do mal, à liberdade do amor, do bem. Porque Deus é vida, somente vida, e a sua glória somos nós: o homem vivo”, recordou o cardeal. Ele lembrou que “São Pedro memorava nos Atos dos Apóstolos (At 10,40-43) como Jesus se manifestou a ele e aos outros discípulos que conviveram com ele. Depois…
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Missa Crismal em Manaus: “Somos ordenados para fazermos memória de Deus”

A arquidiocese de Manaus celebrou na manhã da Quinta Feira Santa a Missa Crismal, com a presença de grande parte do clero que trabalha nessa Igreja local, da Vida Religiosa e de numerosos fiéis que se uniram para participar de um momento importante na vida da Igreja. Enviado para animar, resgatar Uma celebração presidida pelo arcebispo local, cardeal Leonardo Steiner, que iniciou sua homilia lembrando as palavras do texto de Lucas lido no evangelho: “Jesus foi à cidade de Nazaré, onde se tinha criado. Conforme seu costume, entrou na sinagoga no sábado e levantou-se para fazer a leitura.” Segundo o arcebispo, “voltou à espacialidade onde fora concebido, gerado, crescido, criado, e na Palavra de hoje, onde leu a sua missão: ‘hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir’. Sente-se enviado pelo Espírito para animar, resgatar, reanimar no corpo e no espírito: o Reino da verdade, da justiça e da graça!” O cardeal Steiner lembrou aos presentes que “aqui estamos como igreja particular, como Arquidiocese: nossas comunidades, nosso presbitério, ministros e ministras não ordenados, vida consagrada, seminaristas; expressões do Povo de Deus em nossa igreja particular, para celebra o Santo Crisma.” Nazaré, lugar de criação de Jesus Analisando o texto, ele sublinhou que “Nazaré, pode significar ‘consagrar-se a Deus’, mas também ‘ramo’ ou ‘rebento’. Nazaré onde brotou o ramo do tronco de Jessé, pois o lugar do anúncio, da presencialização do Filho de Deus no ventre da Virgem. O lugar do sim da Virgem que abre a finitude humana para a presença humanada de Deus. Lugar da criação de Jesus, da maturação, do trabalho corpo a corpo com o pai operário. Nazaré onde cresceu em ‘sabedoria, idade, e graça diante de Deus e dos homens’ (Lc 2,52). Conforme o Evangelho proclamado, o lugar da escuta dos profetas, do encontro do Povo do Deus com a sua história. Nazaré a iluminação do Espírito que repousa unge e envia em missão: ‘hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir’!” Diante desse significado, o presidente do Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB Norte 1), disse que “somos convidados a voltar a Nazaré, o lugar do nascer da vida em Cristo Jesus. Voltarmos a Nazaré estarmos em casa com Jesus, Maria e José e participarmos do mistério amoroso, gracioso e salvífico que renova a face da terra, pois o Espírito a repousar, ungir e enviar. Voltamos a Nazaré e na escuta, deixar ressoar a vocação e a missão de discípulos missionários, discípulas missionárias. E de Nazaré somos enviados para anunciar o Reino da verdade, do amor e da salvação.” Voltar a Nazaré Nazaré, disse o cardeal, se dirigindo aos irmãos presbíteros e diáconos, “o ressoar da Palavra e da prece que ilumina a nossa vida e missão de ordenados. Voltamos a Nazaré e escutamos que o Espírito repousa sobre nós, pois O invocaram sobre nós, impuseram as mãos, fomos ungidos e enviados em Missão. Voltamos à Nazaré com o desejo de sermos continuamente gerados e crescermos, plenificarmos a nossa vida, missão, o nosso ministério. As nossas mãos, queridos padres, foram ungidas depois do Espírito repousar sobre nós, para abençoar, bendizer, ungir, jamais amaldiçoar! A ungir com o Espírito que concede rebento novo onde a vida parece ter secado, a esperança onde o sofrimento, a morte, parece destruir a nossa humanidade, a participação na redenção onde há sangue derramado e não recolhido; ungir a cegueira que não quer ver o cuidado amoroso de Deus, ungir os prisioneiros para que possam inspirar o desejo de liberdade, pois tantos encarcerados pelo mercado que sufoca, destrói as relações, o desejo de eternidade. O Espírito que unge para desestruturar a religião que não liberta, não oferece a verdade, a transparência da fé.” Em palavras do cardeal Steiner, “voltar a Nazaré, à espacialidade de nossa vida, missão e ministério, para escutarmos mais uma vez que o Espírito do Senhor está sobre nós, porque nos consagrou com a unção para sermos anunciadores, proclamadores da Boa-Nova transformante e redentora que traz esperança para os pobres; proclamar a boa-Nova que liberta os encarcerados, ensimesmados, presos no eu. Voltar a Nazaré e escutar a Boa-nova que abre horizonte e deixa ver, contemplar, admirar. Aquela boa-Nova que tomou conta do nosso ser presbítero e que liberta os oprimidos, os destruídos, os presos por espíritos mudos e desencaminhados. Voltar e escutar a palavra que o Espírito nos faz presença de graça, pois um verdadeiro jubileu de esperança.” Fazer memória “Em Nazaré nos encontramos para renovar as nossas promessas sacerdotais, pois celebramos o memorial de uma pertença”, afirmou o arcebispo, citando as palavras da celebração da Eucaristia: “Fazei isto em memória de mim”! Segundo ele, “o memorial que antecede à cruz salvadora: ‘fazei memória de mim’. Na participação do memorial, somos ordenados para memorar, para fazermos memória de Deus.” “O memorial que fazemos com as comunidades, é ao mesmo tempo memória da história da salvação, história do Povo de Deus, mas também pessoal, pois benevolência de Deus para conosco. A memória do encontro com Deus que toma a iniciativa, que cria e salva, que nos transforma; a memória da Palavra que inflama o coração, salva, dá vida, purifica, cuida e alimenta. Na nossa vida e ministério fazemos memória no serviço, proclamando Deus no seu amor, na sua fidelidade, na sua compaixão. A nossa vida e missão e ministério como expressão do memorial na conformidade do Reino plenificado na Cruz”, refletiu o arcebispo de Manaus. O cardeal Steiner ressaltou: “irmãs e irmãos, somos os seguidores e seguidoras de Jesus que fazem memória, deixando-nos guiar pelo Memorial em a nossa vida, e buscamos despertar para esse memorial do amor o coração dos irmãos e irmãs”. Diante disso, ele questionou: “Somos nós memória de Deus? Procedemos verdadeiramente como animadores esperançados que despertam nos outros a memória de Deus, que inflama o coração? Ou está Ele esquecido porque preocupados demais com uma religião de normas e preceitos?”, respondendo que “Jesus, memória da Trindade é caminho, verdade e vida!” Isso porque, “todo discípulo…
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Cardeal Steiner: “Ao contemplarmos crucificado, contemplamos os crucificados dos nossos dias”

No Domingo de Ramos, o arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Steiner, iniciou sua homilia dizendo que “hoje entramos com Jesus na cidade de Jerusalém. Ele montado num jumentinho e nós o acompanhamos com cantos, palmas e aclamações. Iniciamos a Semana Santa que nos toca com a nobreza do amor que redime, salva, transforma.” Caminhamos com Jesus O presidente do Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil recordou que “caminhamos com Jesus, entramos na cidade de Jerusalém, para participar da mesa da bondade, de sua morte e ressurreição. Hoje iniciamos as celebrações que nos conduzem para a verdade da fé, a morte foi vencida; vida nova!” O arcebispo de Manaus disse que “a liturgia que abre a Semana Santa nos oferece a leitura da Paixão como itinerário, como caminho de seguir Jesus. Condenado à morte e morte de cruz, Ele per-faz o caminho da dor, do sofrimento, da morte. Experimenta toda a finitude humana e, por isso leva à plenitude a finitude humana. Na dor, no sofrimento consola, perdoa, aponta na morte a eternidade, o paraíso.” “No caminho do calvário Jesus não está só. Simão o Cirineu segue a Jesus no levar a cruz.  Ele vai ‘atrás de Jesus’, segue a Jesus (cf. Lc 23,26). No levar, carregar, a cruz, Simão de Cirene segue a Jesus, como se estivesse a nos ensinar o modelo do seguimento de Jesus: seguir, ir atrás, carregando a cruz. Nos recorda a palavra de Jesus: ‘se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz dia após dia e siga-me’ (Lc 9,23; cf. 14,27). Seguir, tomar a cruz, entregar da vida, o dom da vida aos irmãos e irmãs”, afirmou o cardeal Steiner. No caminho da cruz, Ele não está só Segundo ele, “no caminho da dor, do sofrimento, no carregamento da cruz, Ele não está só. O seguem as mulheres que choram, lamentam, e ele a consolar. Ele volta seu olhar: ‘Filhas de Jerusalém, não choreis por mim, chorai por vós mesmas e por vossos filhos…’. Sim quanta dor e quanto sofrimento na maternidade. Filhos perdidos, mortos, rejeitados pela sociedade, amputados, destroçados pelas guerras, mortos pela inanição, pela fome. Se nos fosse dada a possibilidade de escutar o choro das mulheres que perdem os seus filhos e filhas somente na guerra, seria ensurdecedor. Talvez, a dor já tenha secado as lágrimas. E no carregamento da cruz, na subida do calvário, caminha com Jesus a multidão dolorida e sofrida.” E no final do caminho, pendido da cruz oferece a misericórdia, disse, inspirado nas palavras de Papa Francisco no Domingo de Ramos de 2019: “’perdoa-lhes não sabem o que fazem’! Num momento específico: durante a crucifixão, quando sente os cravos perfurar-lhe os pulsos e os pés. Tentemos imaginar a dor lancinante que isso provocava. Na dor física mais aguda da Paixão, Cristo pede perdão para quem o está perfurando. Jesus no ser rasgado, despedaçado, lacerado, suplica: Perdoa-lhes, Pai. Não repreende os algozes nem ameaça castigos em nome de Deus, mas reza pelos ímpios. Cravado no patíbulo da humilhação, aumenta a intensidade do dom, que se torna ‘per-dão’.” Jesus não se limita a perdoar O cardeal ressaltou que “a súplica perdoativa de Jesus na cruz nos revela o sentido, a cor de fundo que sustenta a nossa vida de seguidores e seguidoras de Jesus. ‘Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem’. Jesus não se limita a perdoar, ultrapassa a si mesmo e indica o Pai como a fonte da misericórdia, do perdão, do amor. O irromper do amor e do perdão não está n’Ele, mas no Pai. Ele é o intercessor, o suplicador, o ofertador do perdão no amor.” Segundo ele, “a misericórdia benfazeja e redentora ressoa nas palavras dirigidas ao ladrão que lhe suplica para que não seja esquecido: ‘lembra-te de mim’! Nasce, então a palavra da misericórdia, da mansidão, da esperança, do aconchego que faz do ladrão crucificado o ‘bom ladrão’: ‘Em verdade te digo: ainda hoje estarás comigo no Paraíso’. É no alto da Cruz que está fonte da misericórdia!” “Depois do consolo, do perdão, da misericórdia, no extremado da dor, no dilaceramento, no sofrimento, Ele está só. Sente-se abandonado por todos e por tudo. Onde estão os discípulos, onde as multidões saciadas de pão, onde os cegos agora com olhos, onde os surdos, agora ouvintes, onde os leprosos purificados e reinseridos? Onde os pássaros do céu, os lírios do campo… Ele está só”, refletiu o arcebispo de Manaus. Ele na cruz com todas as cruzes! Aprofundando no texto, o cardeal Steiner destacou que “Ele na cruz com todas as cruzes! Desalentado, só, suspenso entre a terra e o céu; quase desesperançado! Sem terra e sem céu! Foi suspendido de tudo e de todos. Pode haver angústia maior, pode haver dor maior que a solidão, o abandono? Não espinhos, os cravos, a cruz, mas o abandono.” Ele citou as palavras de Harada, um místico que meditando o abandono de Jesus, ensina: “Tudo isso, esse total abandono e fracasso, na visão da Fé, nos mostra totalmente outra paisagem: tudo de repente se vira pelo avesso: o extremo abandono é, na realidade, plenitude de amor: a profunda solidão se converte em unidade total. No momento em que parece mais desamparado, está mais do que nunca identificado com o querer divino, transparente ao Pai. Nessa fraqueza sem fim, Jesus se acha, sem reserva, ‘entregue’ ao Poder do Pai, totalmente aberto ao ato criador da Ressurreição.” “Nasce, então a declaração de amor que escutávamos na leitura da Paixão: ‘Pai nas tuas mãos eu entrego o meu espírito’. Nessa entrega, sem reservas, sem condicionamentos, sem porque, sem para que, apenas gratuidade de amor, lemos e vemos a salvação que nasce da cruz.  A cruz torna-se elo. Revela unidade. É o ponto de salto da nova criação, do novo Céu e da nova Terra. É o vir à luz da unidade primordial entre o Divino e o Humano. A cruz é a fenda, onde tudo se entrecruza e tudo se ilumina. Percussão que…
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Cardeal Steiner: “O amor, não interroga, não tira satisfação, não cobra”

“Um dos textos mais tocantes e extraordinariamente amorosos que acabamos de escutar. Na quaresma, tempo de conversão, volta à casa do Amor, São Lucas a nos encantar com o Pai de dois filhos”, disse no início da homilia do quarto domingo da quaresma o arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Ulrich Steiner. Ele lembrou que “ao ver o filho ao longe vindo para casa o pai, ‘correu-lhe ao encontro, abraçou-o e cobriu-o de beijo’. Beija efusivamente o filho, esquecido do estado de impureza em que ele se encontra. Ouvíamos como viveu sem poder alimentar-se do que comiam os porcos. O amor não espera, corre, abre os braços, cobre de beijos, mais que o amado à sua amada, a amada ao seu amado. São beijos, conforme o Evangelho, de ternura paterno-materna, pura compaixão. Seus gestos são mais de uma mãe do que de um pai. E os beijos e abraços maternos, nascidos das entranhas, são, diante de todo o povoado, sinais de acolhimento, perdão e, ao mesmo tempo, proteção e defesa.” O arcebispo de Manaus destacou que “ao voltarmos nossos olhos para a cena, vemos o filho colocando a sua vida aos pés do pai. Ali, na nudez de si mesmo, coberta pelos abraços e beijos paternos, sente-se novamente um homem livre. Diante de tanto afeto, abraços e beijos, diante do acolhimento e da paternidade recebida, está nu diante do pai: ‘pequei contra Deus e contra ti, trata-me somente como um empregado teu’. Sente-se coberto, recoberto pelo manto do amor paterno.” “Não ouve da parte do pai nenhuma afirmação como: finalmente você reconheceu, finalmente você voltou! Não. Nada. Nenhuma palavra de interrogação, nenhum por quê, nenhuma satisfação, nenhuma cobrança, nenhum sinal de desgosto, nenhuma repreensão, nenhuma expressão de desapontamento, nenhuma interjeição, nem mesmo qualquer coisa que pudesse insinuar: por que fizeste isso?… Também não: como é bom vê-lo!… Nada. Nem mesmo diz: eu aceito você, que bom que você voltou, eu te perdoo…. Nenhuma palavra, mas silêncio acolhedor. Aquela espacialidade de um encontro de amor. É que o amor, não interroga, não sabe do porquê, não tira satisfação, não cobra, não repreende, não expressa desapontamento. O amor é gratuidade, não tem tempo para a interrogação”, segundo o cardeal Steiner. Ele insistiu em que “todas as palavras seriam superficiais demais para dizer, expressar, proclamar, cantar o transbordamento do coração do pai saudoso. O coração cheio de misericórdia, o coração que era só paternidade. Ele, o velho ancião, nada diz ao filho. No amor, na gratuidade do amar a presença, a proximidade é tudo: aquece, reconcilia, transforma, liberta, cobre a nudez.” “A palavra vem depois do silêncio, do encontro, depois do face a face, depois de olhos nos olhos. Só então, depois de tudo acolhido, recolhido, tudo abraçado, tudo beijado, tudo reconciliado, tudo acarinhado, tudo ser amor-liberdade, ser gratuidade amorosa, rompe-se o silêncio”, sublinhou o arcebispo, que citou o texto evangélico: “trazei depressa a melhor túnica para vestir meu filho. Colocai-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. Trazei um novilho gordo e matai-o, para comermos e festejarmos. Pois este meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi encontrado.” Em suas palavras reparou em que “faltava o filho mais velho. Chegou à casa, depois de um dia cumprindo fielmente seu trabalho. Ao ouvir a música e as danças e saber da volta do irmão, fica desconcertado. A volta do irmão não lhe traz alegria como a seu pai, mas ressentimento. Nunca tinha saído de casa como o irmão, mas agora se sente um estranho diante da família e dos vizinhos reunidos para acolher o irmão que voltara. Não havia se perdido num país distante, mas se encontra perdido na sua filiação.” Nessa tessitura, mostrou que “incomodado com a medida sem limites do pai em relação ao irmão, rejeita o convívio amoroso e livre. Rejeita o amor do próprio pai e começa a reivindicar. Mora com o pai, mas não tem magnanimidade do pai. Todos os anos passados na intimidade do pai não foram suficientes para torná-lo como o pai, na pulsação, na vibração de um amor-liberdade, na gratuidade, na cordialidade, que enche e pervade todas as coisas, todos os seres e todos os momentos de encontro e desencontro.” “O pai, mais uma vez, deixa a casa, corre ao encontro e convida o filho para que entre em casa, participe da festa da família e da aldeia.  Não grita, não dá ordens. Como uma mãe, mais uma vez, abraça e o cobre de beijos, suplicando para que entre e participe da festa. Abraça e beija a estreiteza, a não-liberdade do filho mais velho”, disse o cardeal. Diante disso, “o filho, no entanto, não se deixa tomar pela medida do amor, da gratuidade, da misericórdia paterna. Rejeita, reclama, acusa”, enfatizou o arcebispo, citando as palavras do filho: “Eu trabalho para ti há tantos anos, jamais desobedeci a qualquer ordem tua. E tu nunca me deste um cabrito para eu festejar com meus amigos. Mas, quando chegou esse teu filho que esbanjou teus bens com prostitutas, matas para ele o novilho gordo”. Ele insistiu em que “espanta-nos a explosão de rancor, a dureza, o fechamento, a mesquinhez do mais velho, apesar de trabalhar e participar cotidianamente da vida do pai. Passou a vida cumprindo ordens do pai como um escravo, não sabendo, como filho, admirar a beleza do amor paterno. A vida de trabalho sacrificado, a dedicação cotidiana endureceu o coração. Denuncia e rejeita o irmão, ao lançar no rosto do pai a vida do irmão que acabara de chegar”, citando o texto de Lucas: “esse teu filho, que esbanjou teus bens com prostitutas”. Não o reconhece como irmão, pois insiste com o pai: “teu filho”…, “teus bens”…. É por isso, que segundo o arcebispo de Manaus, “não o aceita mais como irmão. Humilha o pai e descredencia o irmão, denunciando sua vida libertina com prostitutas. Apesar de tão certinho em tudo fazer, carece da alma paterna. Não entende o amor do pai em relação ao irmão desaparecido e morto. Ele…
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Cardeal Steiner: “Não se trata de procurar culpas, pecados, mas de abrir todo o nosso ser à graça da cruz e da ressurreição de Jesus”

No terceiro domingo da quaresma, o arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Ulrich Steiner, iniciou sua homilia dizendo que “na caminhada quaresmal o Evangelho a indicar uma vida cheia frutos, uma vida frutuosa; evitar a esterilidade, a inutilidade de existir. É o movimento de conversão que leva à libertação, à salvação. A transformação da escravidão do egoísmo e do pecado, em mulheres e homens novos, livres para que em nós se manifeste a vida em plenitude, a vida do Reino de Deus. O convite a uma transformação da existência, a uma mudança de mentalidade, viver a graça do Evangelho, a Boa Nova. O caminho da vida e não da morte, o caminho da conversão, da frutificação. No tempo da quaresma, quando meditamos fraternidade e ecologia integral, a conversão ecológica.” Ele lembrou que “o assassinato de alguns judeus no templo por Pilatos e a queda de uma torre perto da piscina de Siloé, é o início do ensinamento de Jesus neste terceiro domingo da quaresma. Jesus a dizer que aqueles que morreram nestes desastres não eram piores do que os que sobreviveram. Afasta o ensinamento de que a pessoa atingida por alguma desgraça, era consequência por pecado grave cometido. O justo, a pessoa justa, estava livre morte violenta.” “Após cada uma das mencionadas circunstâncias de morte, Jesus a ensinar”, disse o cardeal, citando o texto evangélico: “se vós não vos converterdes, ireis morrer todos do mesmo modo”. Segundo ele, “nos leva compreender que todos estamos necessitados de conversão, de mudança de vida. Sim, ‘se não vos arrependerdes perecereis todos do mesmo modo’. Perecer, não chegar à plenitude da vida, à realização plena, permanecer no caminho que conduz à morte. Jesus a convidar redirecionar os nossos passos no caminho da salvação. A mudança de vida, a conversão que conduz à existência maturada e plenificada. Permanecer no caminho do descuido, conduz à morte.” “Diante de tantas situações dramáticas que atingem o ser humano, somos convidados a uma maior vigilância sobre nós mesmos. Meditarmos, confrontarmos a nossa condição humana que um dia chegará ao fim, mas que, naturalmente, busca a plenitude. Sondar, descobrir a nossa fragilidade, despertar-nos e voltar para Aquele que concede sentido à nossa própria fragilidade e infertilidade. Não se trata de procurar culpas, pecados, mas de abrir todo o nosso ser à graça da cruz e da ressurreição de Jesus. Ele a nos indicar o caminho da conversão como uma vida aberta, liberta, pascoal. Ele a suscitar em nós o desejo da vida, não a morte. Deseja a frutificação não a esterilidade”, afirmou o arcebispo de Manaus. “Tão como o Evangelho nos ensinar como pode acontecer a mudança de vida, a conversão”, disse o cardeal Steiner. Citando o texto: “Disse ao vinhateiro: Já faz três anos que venho procurando figos nesta figueira e nada encontro. Corta-a! Por que está ela inutilizando a terra? Ele, porém, respondeu: Senhor, deixa a figueira ainda este ano. Vou cavar em volta dela e colocar adubo. Pode ser que venha a dar fruto. Se não der, então tu a cortarás”, ele deduz que “somos gerados, destinados a frutificar, a dar frutos! Uma vida frutífera, cheia de frutos! A esterilidade de uma vida, conduz à morte.” Uma realidade que o leva a dizer que “a conversão como percepção de que a fraqueza pode transformar-se em frutos quando houver cuidado, disponibilidade, receptividade à vida que tem sua fonte na cruz e ressurreição.” Ele lembrou as palavras de Santo Agostinho falando da fraqueza como tristeza e que a tristeza pode tornar-se motivo de alegria: “Por isso, diz o Apóstolo: quem mais me dará alegria se não aquele que por mim é entristecido? E em outra passagem: a tristeza que é segundo Deus produz um arrependimento salutar incapaz de voltar atrás. A pessoa que se entristece segundo Deus se entristece dos seus pecados com a penitência, por causa da tristeza causada da própria culpa que produz a justificação. Então te arrependes de ser o que és, para ser o que ainda não és.” (Santo Agostinho, Sermão 254, 2-3) “Quaresma a pedir conversão, cavar e adubar nossos dias com a esmola, o jejum e a oração, para frutificar, superar a inutilidade de viver. Quaresma tempo de floração, despertação dos frutos que podem surgir da cruz e da ressurreição do Senhor. Quaresma tempo de graça e maturação na fé. Tempo para sondar a dimensão da dor e do sofrimento, da própria morte, como caminho de vida nova, com frutos abundantes. Quaresma convite à conversão, a mudar mentalidade, de tal modo que a vida encontre a sua verdade e beleza mais em dar que possuir, mais em semear o bem e partilhar que o acumular. Esse tempo pleno de graça quando deixamos fecundar e transformar a nossa fraqueza em vida pascal”, destacou o arcebispo de Manaus. Ele recordou o ensinamento de São João Crisóstomo: “Cristo deixou-nos na terra a fim de que nos tornássemos faróis que iluminam, doutores que ensinam; a fim de que cumpríssemos o nosso dever de fermento; a fim de que nos comportássemos como anjos, como anunciadores entre os homens; a fim de que fôssemos adultos entre os menores, homens espirituais entre os carnais a fim de os ganharmos; a fim de que fôssemos semente e déssemos frutos numerosos. Nem sequer seria necessário expor a doutrina, se a nossa vida fosse irradiante a esse ponto; não seria necessário recorrer às palavras, se as nossas obras dessem um tal testemunho. Não haveria mais nenhum pagão, se nos comportássemos como verdadeiros cristãos” (Sermão 10, in 1Tm.). Isso porque “uma vida fecunda, frutuosa, cheia de frutos; graciosa a espargir bondade e semear o bem. Aqueles frutos que nascem da graça e do amor da cruz e da ressurreição.” O cardeal recordou que a Campanha da Fraternidade, ‘Deus viu que tudo era muito bom’, “nos envia para a conversão ecológica, na busca de uma fraternidade também com as criaturas. A ecologia integral ensina que a casa em que habitamos não pode ser compreendida de maneira fragmentada, compartimentada. Ela nos indica o caminho da contemplação para uma…
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Dom Leonardo: “Compaixão, antes e acima de tudo, é amor às pessoas que encontramos”

O Evangelho do 16º Domingo do Tempo Comum, “a nos ensinar que Jesus que busca um lugar deserto para descanso, pois havia tanta gente saindo e entrando que não tinham nem tempo para comer”, disse o arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Steiner. Segundo ele, “a agitação acontece depois das narrativas da missão realizada: pregação, curas, libertação. Os discípulos enviados para o anúncio do Reino de Deus para curar de espírito impuros, voltam da missão e são tomados pela necessidade de narrar tudo o que haviam feito e ensinado. É no meio do burburinho e agitação da missão realizada e da missão que continua com sua quase fadiga, Jesus convida os discípulos para o deserto para a solidão”. “Deserto, solidão!”, disse dom Leonardo, vendo a solidão como “uma palavra cheia de significado: soli-tudo. O estar na harmonia do todo, o ser aceito pelo todo que dá vida. O Tudo que nos faz ser todo por inteiros, íntegros, transparentes. Íntegros, por inteiros, pois a sós com Aquele que deixar ser todas as coisas e todos os seres do universo. Nesse sentido solidão se desvencilha da compreensão de que estamos sós, perdidos, sem ninguém”. Pelo contrário, afirmou o cardeal, “estamos com ‘Aquele que me dar forças’, na expressão de São Paulo; Aquele que é ‘Meu Deus e meu Tudo’, na oração de Francisco de Assis”. “Solidão que deixa de lado o isolamento para estar com Aquele que constitui o nosso TUDO. Soli-tudo: só com o Tudo, Todo. Dirigir-se para o deserto é bem mais que dirigir-se a um lugar geográfico, inóspito, de desolação”, ressaltou o arcebispo de Manaus. Segundo ele, “é a busca do Mistério que recolhe todas as realidades de síntese, de contradição, de reconciliação. Nesse sentido Jesus conduz os discípulos para um lugar onde possam perceber que nele há salvação, Ele a graça do tudo, do todo. Ele a razão da pregação e da cura! Para que os discípulos percebessem que a pregação e a liberdade não partiam deles era necessário busca o Todo, o Tudo”. “Ao chegar ao Tudo, ao Todo, a presença dos mesmos necessitados, dos mesmos desesperos, das mesmas desilusões, das mesmas doenças, das mesmas necessidades, dos mesmos desfigurações, das mesmas frustrações, dos mesmos desejos, esperanças e buscas”, afirmou o cardeal Steiner. “Ali novamente uma humanidade necessitada de cuidado, de cura e libertação. Ali na solidão, no lugar afastado, a percepção de que no Tudo e do Todo se percebe melhor a fragilidade humana, a humanidade fragilizada”, segundo dom Leonardo. Citando o texto: “E ao desembarcar, Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor”, dom Leonardo destacou que “Viu! Buscava solidão e viu! O olhar de Jesus que não se fecha diante da multidão que procura enquanto ele busca a solidão. Olha e fica comovido. As pessoas não incomodam a Jesus. Ele percebe a procura, a desilusão no rosto daquelas mulheres e daqueles homens. Percebe o abandono no qual vivem. Ele capta o sofrimento, a solidão, a confusão, o abandono que experimentam. Jesus viu a necessidade mais profundas daquelas pessoas: “eram como ovelha sem pastor”. Homens e mulheres, sem destino, sem cuidado, sem orientação. Vivem sem que ninguém cuide delas. Homens e mulheres sem quem defenda e guie. Foi tomado de compaixão, teve compaixão, tornou-se compadecido. As necessidades, os necessitados, os fragilizados, dos desencaminhados, os tomados de maus espíritos, ali estavam e ele vendo-os todos é tomado de compaixão”. Novamente a partir do texto: “Teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor”!, o cardeal enfatizou, inspirado no Dicionário Etimológico: “compaixão, compadecer-se, ter compaixão, se compadecer de alguém. Com-paixão: com estar junto de, ser lançado para a proximidade de, estar na companhia de alguém; paixão, patior, o padecer uma ação, ser tocado pela dor, pelo sofrer; ser atingido pelo sofrer do outro”. Segundo ele, “a pessoa que sente compassio, compaixão, é atingida pelas necessidades do outro que sofre e, por isso, sai-lhe ao encontro. No evangelho de Lucas lemos: “Um samaritano que estava viajando, chegou perto de ele e, ao vê-lo, moveu-se de compaixão. Aproximou-se dele tratou-lhe as feridas, derramando nelas azeite e vinho.” (Lc 10,33-34) O samaritano é atingido pela dor, pela necessidade, pela quase morte do que fora assaltado. Porque atingido, é movido para a proximidade, o quase morte o atrai, e é que é atingido pela paixão, pela dor e por isso faz, misericórdia, próximo, pois, tornou-se compadecido”. “Ao ensinar a partir da compaixão de Deus pela nossa fraqueza”, disse, lembrando as palavras de Papa Francisco, em O Nome de Deus é Misericórdia: “O Deus feito homem deixa-se comover pela miséria humana, pela nossa necessidade, pelo nosso sofrimento. O verbo grego que traduz essa compaixão é splanchnízomai e deriva da palavra que indica as vísceras do útero materno… É um amor visceral… Jesus não olha para a realidade do exterior sem se deixar tocar, como se tirasse uma fotografia: ele se deixa envolver. É dessa compaixão que precisamos hoje, para vencer a globalização da indiferença. É desse olhar que precisamos quando nos encontramos diante de um pobre, um marginalizado, um pecador. Uma compaixão que se nutre da consciência de que também somos pecadores.” Neste sentido a compaixão, lembrou citando Walter Kasper: “transcende o egoísmo e o egocentrismo e não tem o coração centrado em si mesmo, mas centrado nos outros, em especial nos pobres e nos afligidos por todo o tipo de misérias. Transcender-se a si mesmo até aos outros, esquecendo-se assim de sua pessoa, não é debilidade, mas fortaleza. Nisso consiste a verdadeira liberdade. Essa autotranscedência é, por isso, muito mais do que enamoramento de si mesmo na entrega ao próprio eu: pelo contrário, trata-se da livre autodeterminação e, por conseguinte, de autorrealização. É tão livre que pode ser livre inclusive em relação a si mesmo, pode superar-se, esquecer-se de si e ultrapassar, por assim dizer, os seus próprios limites.” Voltando ao texto do Evangelho “Começou a ensinar-lhes muitas coisas”!, o cardeal Steiner disse que “o Evangelho a iluminar a compaixão. a nos oferece, insinua um sentimento de alegria e gratidão. Em sendo tocado, em sendo atingido pela compaixão, isto é, pela…
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