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Cardeal Steiner: “A Igreja nascida de Jesus é hoje o testemunho vivo da presença de Deus na história”

Cardeal Steiner: “A Igreja nascida de Jesus é hoje o testemunho vivo da presença de Deus na história”

Na comemoração da Dedicação da Igreja do Latrão, a catedral do bispo de Roma, do Papa, o arcebispo de Manaus e presidente do Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, cardeal Leonardo Steiner, iniciou sua homilia recordando que “construída pelo imperador Constantino, no tempo do Papa Silvestre I, foi consagrada no ano 324. Ela é chamada ‘a igreja-mãe de todas as igrejas da Urbe e do Orbe’. Mãe de todas as igrejas de Roma e do mundo, símbolo das igrejas de todo o mundo, unidas ao sucessor de Pedro. No fontal da Basília pode-se ler: ‘Papa Clemente XII, no quinto ano de seu pontificado, dedicou este edifício a Cristo, o Salvador, em homenagem aos Santos João Batista e João Evangelista’. A Igreja do Latrão foi dedicada inicialmente a Cristo Salvador e somente séculos depois é que foi codedicada aos dois outros santos”.

A morada de Deus

“A Festa da Dedicação da Basílica de Latrão que se celebra no dia 9 de novembro, convida-nos a perceber que a Igreja nascida de Jesus é hoje, no meio do mundo, a ‘morada de Deus’, o testemunho vivo da presença de Deus na história dos homens. Ao celebrarmos a dedicação, a consagração, dessa igreja, renovamos a unidade, a comunhão e a sinodalidade da Igreja Católica. Na celebração de hoje expressamos a nossa comunhão com todas as comunidades em unidade com o Papa Leão XIV”, disse o cardeal Steiner. Segundo ele, “na Festa de hoje, meditemos as leituras que nos remetem para o templo: Igreja templo; nós como templo”.

A experiência de Israel

Na primeira leitura, ele enfatizou que “o profeta ‘vê’ brotar um rio de águas correntes, vivas. Símbolo de vida, de fecundidade, de abundância, de felicidade, a água tem sua fonte no templo na morda de Deus. Para o Povo marcado pela experiência do deserto, onde a falta água, a ervas são escassas, as frutas não abundantes, água traz vida, o verdor, a frutificação, a vida em abundância; é a experiência da vida, da terra da promessa.  O ‘rio’ de que o profeta fala brota da casa de Deus, a sua água evoca o poder vivificante e fecundante de Deus que, de Jerusalém, se derrama sobre o seu Povo, uma vez que transforma até as águas do mar morto”.

“O profeta nos anuncia a sua visão de vida: rio de água viva e abundante que brota do Templo de Deus desce para a região mais desolada e árida do país até o Mar Morto. A água do templo de Deus que desce caudalosa e viva, fecunda a aridez do deserto, a tudo de vida, faz frutificar. As águas fazem nascer o verdor nas margens, fazem crescer árvores de toda a espécie, carregadas de frutos saborosos e levam vida fazendo submergir a morte. Os seus frutos servem de alimento e suas folhas são remédios. As águas fecundam e transformam a vida em todas as partes”, comentou o arcebispo.

Continuando com a reflexão, ele ressaltou que “durante os anos sombrios da deportação, nas terras estrangeiras, esta promessa animou os exilados, despertando a esperança. De olhos postos em Jerusalém, no Monte do Templo, os exilados sonhavam de olhos abertos com esse novo templo prometido a partir do qual a vida de Deus voltaria a derramar-se abundantemente sobre toda a terra e em todo o povo. Do templo que renasce a vida, tudo se transforma, tudo é fecundado, e há abundância de bens, de vida e saúde” inspirado em Dehonianos, Festa da Dedicação.

Nós somos templo de Deus

São Paulo, na segunda leitura, segundo o cardeal, “a nos recordar que nós somos o templo de Deus, somos a casa do Espírito, Deus habita em nós. ‘Vós sois edifício de Deus… Veja cada um como constrói: ninguém pode colocar outro alicerce além do que está posto, que é Jesus Cristo. Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destrói o templo de Deus, Deus o destruirá. Porque o templo de Deus é santo e vós sois esse templo’ (1Cor 3, 9-17)”.

“Somos templos em Cristo! Pela sua morte e ressurreição nos tornamos templos, morada! Fomos atraídos por Cristo, pertencemos à comunidade dos redimidos, dos libertados, dos esperançados. A comunidade que recebe o seu corpo e seu sangue, fonte abundante que conduz sempre à vida.  Fazemos parte de um Corpo do qual Cristo é a cabeça (cf. Rm 12,5; 1 Cor 12,27; Ef 1,22-23), a fonte que tudo transforma e vivifica. Somos templos que podem visibilizar o rosto bondoso e terno de Deus. Na partilha, solidariedade, serviço, reconciliação, consolo, gratuidade, se manifestam as águas que saem do templo e transformam os vales desérticos e secos em fertilidade, verdor, saúde! Fecundam com a justiça, a paz e o amor os desertos existenciais dos homens”, sublinhou o presidente do Regional Norte 1 da CNBB.

Lugar de negócio

Na passagem do Evangelho, ele destacou que “Jesus encontra os vendedores de bois e ovelhas no templo e os expulsa; convida os vendedores de pomba a retirarem seus animais. Limpa o templo, não deseja que o templo seja um lugar de comércio, de negócios. O templo tornara-se um lugar de compra e venda. O lugar do encontro, da oferta, da oferenda, transformada em negócio, em lucro. A templo de Deus, lugar da doação, do encontro, feito lugar de negociação. O lugar das águas fecundas e abundantes transformado no deserto da compra e venda”.

Ele recordou que “Mestre Eckhart comentando a expulsão dos vendilhões do templo ensina”, citando o texto: “Quem eram as pessoas que compravam e vendiam, e quem eram elas? (…) todas elas são pessoas que compram (…) que desejam ser pessoas boas e fazem as suas boas obras como jejuar, dar esmolas e rezar e tudo o mais possível de boas obras (…) para que o Senhor lhes dê algo em troca ou Deus lhes faça alguma coisa que para eles fosse bom: Esses são compradores” (Deutsche Predigten und Traktate).

É por isso que “a purificação do templo, a desobstrução do templo, possibilidade ser apenas morada de Deus e a espacialidade do encontro dos filhos e filhas com seu Pai. O templo deve ser o lugar da liberdade, da gratuidade, da receptividade. No templo não se negocia, se oferece, se encontra. Como nos ensina Jesus na parábola do publicano e fariseu: o publicano volta para casa reconciliado, pois não foi negociar, apenas se apiedar. No seu gemido contrito e humilde se apresentou à misericórdia de Deus e sai reconciliado, ajustado”, disse o rcebispo de Manaus.

Não negociar com Deus

Segundo ele, “a expulsão dos vendilhões do templo nos recorda o modo de estarmos diante de Deus: na liberdade, na cordialidade, na convivialidade, na gratuidade. É estar diante de Deus como diante de uma fonte que continuamente, dinamicamente, cada vez mais responsável, generosa, cuidadosa e cordialmente se doa, para o bem de seus filhos e filhas. Então diante de Deus não negociamos, mercantejamos, cobramos, apenas estamos ali na graça e gratuidade de quem sabe que está diante da fonte da vida, cujas águas levam fecundidade, verdor, frutificação, saúde no corpo e no espírito, como ouvíamos na primeira leitura. Esse remédio e salvação que recebemos na graça da fonte do pão e do cálice”.

Nessa perspectiva, o cardeal Steiner afirmou que “esse modo de estarmos no templo e sermos o templo de Deus, como no dizia São Paulo, nos oferece o gosto de viver, o sabor da vida, a fecundidade de nossas ações, a receptividade e gratuidade de nossas relações. As nossas preces, esmolas, nossa caridade se tornam uma manifestação do amor, uma fonte de vida para os irmãos e irmãs. Entramos para a liberdade, a autonomia, a sensibilidade, tão gratificante de sermos amados, acolhidos, recolhidos, embalados, por Deus. Recebemos novo entusiasmo, vigor, força que nos leva a buscar, a sempre transformar a vida e o mundo, como o fez Jesus! Sonhamos como novo céu e nova terra, diante das violências e destruição, apenas pelo poder do dinheiro. Recebemos a graça do bom humor diante das dificuldades e defeitos pessoais e dos outros; vivermos guiados e iluminados pela esperança!”

Finalmente, ele concluiu enfatizando que “as nossas comunidades são a Casa de Deus, o templo onde toda a pessoa, todo filho e filha de Deus pode encontrar a libertação e a salvação oferecido a todos. Talvez, no templo da misericórdia façam e façamos a experiência da presença acolhedora, gratuita que tudo libera e vivifica na ternura, no vigor e no recato da jovialidade. Talvez, façamos a experiência do Amor extravagante de Deus, do nada e do pouco de Deus, fonte que tudo vivifica e, então nasce a admiração, gratidão, gratuidade! E nos templos-igrejas elevamos nossos cânticos, louvores, ação de graças! Amém”.

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