No vigésimo sétimo domingo do Tempo Comum, o arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Ulrich Steiner, iniciou sua homilia recordando que “aumenta a fé é a súplica dos discípulos a Jesus. O pedido, a súplica, que nasce depois de ouvirem a parábola do pobre Lázaro que nos foi proclamado no domingo passado e depois de ouvirem o ensinamento do perdão”, citando o texto do Evangelho: “Se pecar contra ti sete vezes num só dia, e sete vezes vier a ti dizendo: Estou arrependido, perdoa-lhe”.
Os apóstolos pedem a graça da fé
Ele sublinhou que “diante das revelações de Jesus que não cabem na compreensão dos apóstolos, eles pedem a graça da fé. A fé que permite ultrapassar o que é incompreensível, impensável; uma fé que acolhe e oferece horizonte extraordinariamente sem limites. Diante da dificuldade em acolher os ensinamentos de Jesus os discípulos são despertados para a necessidade de uma fé mais robusta, mais aberta, que leva à liberdade diante das contradições e cruzes da vida. A fé que supera a adesão a dogmas ou a um conjunto de verdades abstratas sobre Deus. Fé que é fé, é adesão a Jesus, à sua proposta de vida, à vida do ‘Reino’”.
O arcebispo recordou que Santo Ambrósio, nos diz Comentário sobre o Evangelho de Lucas VII, 176-180: “Lembro-me de outra passagem que evoca o grão de mostarda, e onde ele é comparado com a fé; diz o Senhor: «Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: “Muda-te daqui para acolá”, e ele há-de mudar-se» (Mt 17,19). […] Se, portanto, o Reino dos Céus é como um grão de mostarda e a fé também é como um grão de mostarda, a fé é seguramente o Reino dos Céus e o Reino dos Céus é a fé. Ter fé é ter o Reino dos Céus. […] Foi por isso que Pedro, que tinha fé, recebeu as chaves do Reino dos Céus: para poder abri-lo aos outros (Mt 16,19). Apreciemos agora o alcance da comparação. Este grão é certamente uma coisa comum e simples; mas, se o trituramos, faz irradiar a sua força. Do mesmo modo, à primeira vista, a fé é simples; mas, tocada pela adversidade, faz irradiar a sua força”.

Adesão a Jesus
Segundo o presidente do Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos de Brasil: “a adesão a Jesus e ao seu modo de viver, ao seu Reino, é um caminho incômodo, às vezes difícil, pois é um caminho na fragilidade, nas incertezas, na nossa finitude. Um estar a caminho que devagar vai abrindo horizontes, iluminando as incompreensões, os não saberes, possibilitando novas relações e uma percepção sempre mais profunda e real da vida com Deus”.
“Nesse caminhar na fé existe um exercício de abandono. Um abandonar-se na fé, abandonar que é próprio da fé ‘é a máxima ousadia do homem’!”, disse citando Karl Rahner. Isso porque “uma partícula ínfima do cosmos se atreve a relacionar-se com a ‘totalidade incompreensível e fundante do universo” e, além disso, o faz confiando absolutamente com seu poder e em seu amor. Perceber a audácia inaudita que implicada atrever-nos a confiar no mistério de Deus’”, disse seguindo José Antônio Pagola, no “Caminho aberto por Jesus, S. Lucas”.
Confiar incondicionalmente no Mistério
Em palavras do arcebispo de Manaus, “a mensagem central e original de Jesus consiste precisamente em convidar a cada um de nós a confiar incondicionalmente no Mistério insondável que está na origem de tudo. A confiança que ressoa no anúncio: Não tenhas medo, confiai em Deus, chamai-o de Abbá, pai querido, papai. Ele cuida de vós, até os cabelos de vossa cabeça estão contados. Tende fé em Deus. Não vos preocupes.” Ele recordou o texto de Lucas 12,22-28: “Não fiqueis preocupados quanto a vossa vida, pelo que haveis de comer, nem, quanto aos vosso corpo, pelo que haveis de vestir. A vida vale mais quem o alimento, e o corpo mais que o vestuário. Observai os pássaros não semeiam, nem colhem, não tem dispensa, nem celeiro, e Deus os alimenta. Vós valeis mais que os pássaros do céu. Observai os lírios do campo, como crescem. Não trabalham, nem fiam, no entanto, eu vos digo que nem Salomão em toda a sua glória, jamais se vestiu como um só dentre eles. Ora se Deus veste assim a erva do campo que hoje está aí e amanhã é lançada ao forno, quanto mais a vós fracos na fé.” O cardeal prosseguiu: “Sim, a fé como confiança, como experimentar o cuidado de Deus para conosco”.
O arcebispo referiu-se “à confiança proclamada pelo profeta na primeira leitura. Uma confiança que se torna em determinadas situações um clamor, um confronto: Senhor, até quando clamarei, sem me atenderdes, sem me socorres? Destruição e prepotência estão à minha frente; reina a discussão, surge a discórdia”. Ele considera que “as palavras tão atuais, ressoam os nossos dias, a nossas aflições, e e desilusões. E, no entanto, Habacuc a nos despertar para uma confiança: ‘se demorar, espera, pois ela virá com certeza, e não tardará. (…) o justo viverá por sua fé’ (Hab 1,3; 2,3-4)”.
Igualmente, ele recordou as palavras de Paulo a Timóteo que nos ilumina ao ensinar: “Deus não nos deu um espírito de timidez, mas de fortaleza, de amor e sobriedade. Não te envergonhes do testemunho de Nosso Senhor, nem de mim, seu prisioneiro, mas sofre comigo pelo Evangelho, fortificado pelo poder de Deus. Usa um compêndio de palavras sadias que de mim ouviste em matéria de fé e de amor em Cristo Jesus. Guarda o precioso depósito, com a ajuda do Espírito Santo que habita em nós” (2Tm 1,6;8.13-14).

É a fé que tem a nós
“O Espírito Santo que nos concede o dom da fé, nos concede a gentileza que percebermos que na dinâmica da fé nós não temos fé, é a fé que tem a nós. Mesmo a possibilidade, a disposição de nos abrimos à fé, é doação da fé. A fé é simples: una, inteiriça, coerente. Simples não quer dizer nem ingênua, nem fácil. Trata-se da experiência da gratuidade do encontro e encontro da gratuidade. A absoluta doação da fidelidade do amor do Pai é toda ela, inteira e radicalmente gratuita. Essa gratuidade, quanto mais claramente captada, na sua graciosidade, suscita em nós também a doação da mesma “natureza”, portanto inteira e radicalmente gratuita. A uma doação primeira de encontro de tamanha boa vontade só é possível corresponder da mesma maneira, ser do mesmo modo, ser uno, ser o mesmo: gratuito! Esse ser-o-mesmo não é ajuntamento de duas coisas, mas simplesmente, concretamente, a própria dinâmica e ser-do-encontro, o próprio encontro, ele mesmo. Quem assim é, dá o melhor de si, em tudo, e, em assim se dando, se percebe não como dono, como proprietário da doação, mas sim agraciado pela doação que Deus realizou”, refletiu o presidente do Regional Norte 1.
No início do mês missionário na Igreja no Brasil, ele disse que “no mês de outubro lembramos de modo especial a nossa vocação de missionários e de missionárias: discípulos missionários. Mês das missões, mês missionário. Neste ano, para animar e dinamizar o mês temos como tema: ‘Missionários da esperança entre os povos’, escolhido pelo Papa Francisco, e o lema ‘A esperança não decepciona’ (Rm 5,5). A Campanha Missionária anima a Igreja no Brasil a ser portadora da esperança de Cristo nas diversas realidades do mundo, em especial as periferias geográficas e existenciais”.
Ser artesãos de esperança
Segundo o cardeal Steiner: “no Ano Santo da redenção, como discípulos e discípulas de Jesus somos convocados a ser artesãos de esperança, restauradores da humanidade, tantas vezes, distraída, infeliz, violenta, desagregada, sem percepção para os necessitados”.
Ele enfatizou que “o que Jesus nos pede no Evangelho de hoje é que percorramos, com coragem e empenho, o caminho da fé. Quando o discípulo aceita percorrer esse caminho, é capaz de operar coisas espantosas, milagres que transformam o mundo… E, cumprida a sua missão, resta ao discípulo sentir-se servo humilde de Deus, agradecer os dons, entregar-se confiada e humildemente nas suas mãos. Numa tal dinamicidade e disponibilidade que podemos entender as palavras de Jesus: ‘quando tiverdes feito tudo o que vos mandaram, dizei: Somos servos inúteis, fizemos o que devíamos fazer’”.

Senhor aumenta-nos a fé
O arcebispo pediu: “Senhor aumenta-nos a fé. Ensina-nos que a fé é crer em ti, Filho encarnado de Deus para abrir-nos a teu Espírito, deixar-nos alcançar por tua palavra, aprender a viver segundo teu estilo de vida e seguir de perto teus passos. Tu despertas e consumas a fé. Aumentai-nos a fé. Ensina-nos a viver uma fé fundada em tua presença viva na vida de nossos irmãos e irmãs, na vida das nossas comunidades”.
“Aumenta a fé! Ajuda-nos a viver a fé com paixão por ti e com compaixão para com os que sofrem. Seja nossa fé sal da terra e luz do mundo. Desperta entre nós a fé das testemunhas e dos profetas. Aumenta-nos a fé. Ensina-nos a descobrir que a fé consiste em crer em Ti que nos ensinas a amar, esperar, confiar! Ensina-nos a seguir-te carregando cada dia a nossa cruz”, disse inspirado nas palavras de Pagola. Daí seu pedido: “Aumenta-nos a fé. Pois, ‘quando tiverdes feito tudo o que vos mandaram, dizei: Somos servo inúteis, fizemos o que devíamos fazer.”