No dia em que a Igreja celebra “uma das festividades mais importantes dedicadas à bem-aventurada Virgem Maria: a solenidade da sua Assunção”, o arcebispo de Manaus e presidente do Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB Norte 1), cardeal Leonardo Ulrich Steiner, iniciou sua homilia dizendo que “a Mãe de Jesus é elevada ao Céu, à glória da vida eterna, está na plena comunhão com Deus”.
Libertação definitiva do mistério da morte
Segundo o arcebispo, “a vida de Maria, toda a sua existência, foi uma expressão da grandeza do amor da Trindade, por isso, a sua vida e sua morte celebram o mistério amoroso do Pai, do Filho e do Espírito Santo. E porque toda manifestação amorosa da Trindade veio manifestada na mulher Maria ao dar à luz a Jesus, celebramos nesta liturgia a sua libertação definitiva do mistério da morte”.
O cardeal Steiner recordou que “São Lucas nos fez ver e proclamar a presteza com que Maria deixa a própria casa e subindo as montanhas entra na casa de Isabel. Na casa vemos a caridade de Maria, a agitação de João no ventre materno; vemos e ouvimos o grito de alegria de Isabel, venerando a presença do Filho de Deus no ventre materno; ouvimos a exultação e louvação da Mãe de Deus pelo reconhecimento da presença do Filho Unigênito de Deus como fruto de seu ventre. E ‘Maria ficou três meses com Isabel; depois voltou para casa’. Na Ladainha a invocamos como Casa de Ouro!”

“A casa!”, exclamou o presidente do Regional Norte 1 da CNBB, sublinhando que “gostamos de estar em casa, de voltar para casa. Saímos, viajamos, mas nos sentimos em casa, na nossa casa. Gostaríamos de sentir-nos sempre em casa como na nossa casa. Tentamos viver o Evangelho, como se estivéssemos por tudo em casa. Não suportamos viver sem uma referência, sem um porto, sem lugar. Nosso coração deseja estar em casa em algum lugar. Não suportaríamos viver sem sonhos, sem um lugar onde repousar e retomar as buscas”.
Sempre em casa
Nessa perspectiva, ele disse que “Maria sai da sua casa, entra na casa de sua prima Isabel e do mudo Zacarias, permaneceu na casa por três meses e volta para casa. Maria que sai da casa, entra na casa, permanece na casa e volta para casa. Muitas vezes deixará a casa! Já deixara a casa paterna para entrar na casa de José. Deixando a casa de Nazaré entra na casa-estábulo em Belém; de Belém entra na casa estrangeira no Egito; da casa do Egito entra na casa de Nazaré; de Nazaré entra na casa de João o discípulo amado; e da casa de João em quantas casas não terá entrado essa mulher e mãe no peregrinar com João? Parece sempre estar saindo de casa, entrando em casa e permanecendo na casa por três meses, três dias, três anos… Mas sempre em casa!”
“E de casa em casa, saindo de casa, entrando na casa, permanecendo em casa, voltando para casa, ela sempre parece estar em casa. Ela fará de estábulo a sua casa. Nessa casa-estábulo dá à luz ao seu Filho único. No acolhimento da situação, da geração, ali agora, é a casa e ela está ali toda inteira de corpo e alma. Está em casa e recebe os pastores e os anjos. A casa-estábulo onde os pastores e os anjos se sentem em casa. Eles da casa-estábulo voltam para os céus e para os campos; uns cantando e outros cheios de alegria louvando a Deus. O recém-nascido a faz estar em casa”, afirmou o cardeal Steiner.
“E quando tiver que abandonar a casa de Nazaré para acompanhar o Filho no caminho da Cruz e da morte habitará a casa da dor e da solidão. A casa da dor no caminho do calvário e aos pés da cruz. Nada mais existe somente a dor, a perda, o sofrer. A dor é sua casa e ela a habita e nela está de corpo e alma. A casa da solidão ao tomar em seus braços o seu filho único descido da cruz, despido, silenciado, sem respiro, sem vida. A vida de sua vida, a vida que lhe dera a vida e era a razão de sua vida, agora sem vida nos seus braços. Ela habita a casa da solidão e nela está de corpo e alma. Por que dizemos que habita a casa da dor e da solidão de corpo e alma? Nenhum desespero, nenhum fim, nenhum sem sentido, mas repetição silenciosa”, refletiu o arcebispo de Manaus, que citou o texto bíblico: “faça-se em mim segundo a tua palavra”.

Maria sempre em casa
Isso porque “Maria sempre está em casa em toda à parte. Cada parte é a sua casa; cada lugar é sua casa; em cada situação ela está em casa. Por tudo está em casa e habita sempre a mesma casa em todas as casas. Também na dor, na solidão; sem casa está ela sem casa. Ela está em casa de corpo e alma”, afirmou o cardeal.
O arcebispo definiu Maria como “Mãe-mulher habitação de Deus, morada de Deus, a casa de Deus, na concepção; ela, mãe feita habitação de Deus ao dar à luz torna o mundo dos homens a habitação e a casa de Deus. Ela sabia que em tudo, por tudo, sempre, em todas as situações e lugares habitava sempre a mesma casa: Deus, o amor da Trindade. Como Deus desejoso de habitar e estar por tudo na casa dos homens, era ela desejo de deixar-se habitar, toda inteira pelo amor da Trindade. Hoje celebramos o habitar de Maria na Casa da Trindade Santa: Assunta aos Céu!”

Ser uma Igreja que serve
Diante disso, ele mostrou que “somos convidados, convidadas a estar a caminho com Maria e ser a habitação, a morada, na soltura, na liberdade e na receptividade transformante. Ser casa do aconchego, do cuidado, da misericórdia, morada, casa de Deus. “A nossa revolução passa pela ternura, dizia papa Francisco, pela alegria que sempre se faz proximidade, que sempre se faz compaixão – que não é comiseração; é padecer com, para libertar – e leva a envolver-nos, para servir, na vida dos outros. A nossa fé nos faz sair de casa e ir ao encontro dos outros para partilhar alegrias e sofrimentos, esperanças e frustrações. A nossa fé nos tira de casa para visitar o doente, o recluso, quem chora e também quem sabe rir com quem ri, rejubilar com as alegrias dos vizinhos. Como Maria, queremos ser uma Igreja que serve, sustenta a esperança, é sinal de unidade. Como Maria, ser uma Igreja que sai de casa para lançar pontes, abater muros, semear reconciliação. Como Maria, queremos ser uma Igreja que saiba acompanhar todas as situações “grávidas” da nossa gente, comprometidos com a vida, a cultura, a sociedade, não nos escondendo, mas caminhando com os nossos irmãos, todos juntos”.
Daí a importância de “aprender a rezar com Maria, pois a sua oração é cheia de memória e agradecimento; é o cântico do povo de Deus que caminha na história. É a memória viva de que Deus está no nosso meio; é a memória perene de que Deus olhou para a humildade do seu povo, socorreu o seu servo como prometera aos nossos pais e à sua descendência para sempre”, disse citando Papa Francisco.
Mês vocacional
No mês vocacional, o cardeal lembrou da vida consagrada. Segundo ele, “ela que em muitas situações se faz casa, abrigo! Ela sabe da casa, onde ela se encontra, quem é a casa, pois sente-se impelida à casa da Palavra e da Eucaristia, como uma antecipação da casa definitiva. Nesta casa sente-se em casa e gosta de voltar a esta casa. A casa que abriga abre os olhos para os que não tem casa, abrigo, acolhida. E destruída a casa na dor e na solidão experimenta e sabe que nesta casa está em casa. A Vida religiosa, a vida consagrada sempre está em casa em todas as casas, mesmo estando sem casa, em toda parte em tudo em casa”.
O cardeal Steiner pediu que “na Solenidade da Assunção de Nossa Senhora ao meditarmos a Maria a Morada, casa do Senhor, elevemos o cântico de louvor e admiração a Deus que é a nossa guarida e proteção, nossa verdadeira casa. Com Maria bendizemos: A nossa alma engrandece, louva, bendiz ao Senhor, e nosso espírito se alegra e rejubila em Deus nosso salvador, protetor e redentor, porque ele baixou seus olhos sobre a humildade e pequenez de suas servas e seus servos. Todas as gerações, povos e nações, proclamarão que são felizes e ditosos, porque o Onipotente e misericordioso realizou obras grandiosas e ditosas. Santo é o seu nome e sua misericórdia bendita. A sua bondade e cuidado pairem sobre os tementes e crentes em todas as gerações e de geração em geração. A força e vigor de seu braço enfraquece e dispersa os que vive da soberba e com o coração endurecido. Eleve e dignifique os pobres, os órfãos, os humildes e descartados. Aos famintos e sedentos acolha e sacia, dispersando os que vivem para si e de si mesmos de mão vazias. Acolhe Israel, servos e servas de um povo escolhido e eleito, lembrando-se de seu amor misericordioso, como no seu devotamento a nossos pais em favor de Abraão e de sua descendência para sempre (cf. Lc 1,39-56)”.
Finalmente, o arcebispo de Manaus fez um chamado a que “Deus nos conceda a graça de em tudo e por tudo estarmos em casa, habitando a casa da Trindade; e Maria, nossa mãe, assunta ao céu, desperte em nós o cântico de louvor e bendição pelas maravilhas realizadas em nós que somos convidados a ser também Casa de outro, habitação de Deus! Amém”.