No 19º Domingo do Tempo Comum, o arcebispo de Manaus e presidente do Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB Norte 1), cardeal Leonardo Ulrich Steiner, iniciou sua homilia recordando que o texto proclamado faz parte do sermão de Jesus a partir dos “lírios do campo e as aves do céu.” Segundo ele, “aquelas palavras de Jesus que despertam em nós confiança no Pai dos céus e nos sentimos na sua proximidade. Expressa o cuidado amoroso e amorável de Deus para com seus filhos e filhas”.
Participar da intimidade de Deus
O cardeal Steiner recordou a palavra de consolo e esperança que ouvimos: “Não tenhais medo, pequenino rebanho, pois foi do agrado do Pai dar a vós o Reino.” Ele enfatizou: “Sim, somos convidados, convidadas à participação da intimidade de Deus, fazer parte de seu Reino. O reino, o seu reinado, o seu amor, a sua cordialidade.” É por isso que “poderíamos viver com pessoas que buscam desfrutar cada momento, cada experiência. Organizando a nossa vida de forma sempre mais guiada pelo prazer. Levar uma vida vivida hedonisticamente. O importante do viver é desfrutar todo e qualquer prazer”.
O arcebispo de Manaus ainda acrescentou: “poderíamos viver como pessimistas, onde nada funciona, tudo é mau. Poderíamos fugir dos problemas, buscando como defender-nos da melhor maneira possível, uma espécie de pessimismo existencial: para que viver, para que sofrer. Assim entenderíamos a felicidade como tranquilidade, fugir dos problemas e conflitos, dos compromissos. Há uma fuga para a tranquilidade e não percebemos que as tensões fazem parte da vida e depende de cada um dar sentido às tenções e conflitos”.

Frente a isso o cardeal Steiner disse: “Mas poderíamos entender e viver como pessoas que percebem a grandeza da vida como realização, maturação, plenitude de viver. Buscar sempre o melhor, perceber que a vida é inesgotável e pode chegar à plenitude. Entenderíamos a felicidade como crescimento, como transformação, como caminho. Na verdade, não entenderíamos a felicidade como busca, como conquista, mas nos sentirmos felizes por conviver, por servir, desenvolver-se, ser no amor!”
Caminhar para a plenitude
O presidente do Regional Norte 1 recordou que Teilhard de Chardin afirmava: um “homem feliz é aquele que sem buscar diretamente a felicidade, encontra inevitavelmente a alegria, como acréscimo, no próprio fato de ir caminhando para a sua plenitude, para a sua realização, para frente”, palavras recolhidas por José Antonio Pagola no livro “O caminho aberto por Jesus, Lucas”. “Sim em meio a todos os dissabores e desamores, caminhar, abrir veredas!”, enfatizou o cardeal Steiner.
Citando o texto evangélico: “Vendei vossos bens e dai esmola. Fazei bolsas que não se estraguem, um tesouro no céu que não se acabe; ali o ladrão não chega nem a traça corrói”, ele fez um chamado a descobrir que “permanecer na cercania do cuidado e benevolência do Pai, é o convite de Jesus. O valor maior, quase único é a preciosidade do cuidado de Deus, do seu amor para conosco. Nenhuma coisa, objetos, substituem o amor de Deus por nós: esse é o tesouro que recebemos! O convite para desfazer-se dos bens e ter um tesouro, pois “onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração”. Aquele tesouro que ninguém pode roubar, destruir, o tesouro que não se desfaz. Desfazer-se, despir-se, desvestir-se, como possibilidade de participar do tesouro do Reino, do amor de Deus”.
De novo, citou o texto do evangelho do dia: “Que vossos rins estejam cingidos e as lâmpadas acesas. Sede como homens que estão esperando seu senhor voltar de uma festa de casamento, para lhe abrirem imediatamente, a porta, logo que ele chegar e bater. Felizes os empregados que o senhor encontrar acordados quando chegar.” Diante disso, ele disse que “o texto sagrado nos remete para o encontro com o inesperado esperado; o outro que conhecemos e que nos desperta para um encontro de expectativa, de desejo, de reencontro”. Ele recordou as palavras de Antoine de Saint-Exupéry, em “O Pequeno Príncipe”: “Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieto e agitado: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração…” Uma citação onde o cardeal vê o chamado a “estar na atenção, na espera do encontro com o amado, a amada”.

Uma espera benevolente
“A espera sem ânsia, a expectativa sem nervosismo! Uma espera benevolente, desejosa, mas não opressora; inquieta mas não nervosa. A imagem sugestiva do discípulo fiel que está sempre preparado, a qualquer hora e em qualquer circunstância, para acolher o Senhor que vem. Está na expectativa acolhedora e benevolente da vinda de seu Amor”, disse o arcebispo de Manaus.
Segundo ele, “essa expectativa, essa espera pelo inesperado, pede ‘vendei vossos bens e dai esmola. Fazei bolsas que não se estraguem, um tesouro no céu que não se acabe’. Esse desprendimento, essa liberdade e liberalidade, essa cordialidade e gratuidade de viver, pede soltura, movimento de pássaros voadores, embelezamento dos lírios: despojamento, pobreza! No dar esmola manifestamos a nossa solidariedade, a nossa irmandade.” Ele citou os ensinamentos do místico Harada, H. em “Domingos com São Francisco de Assis, Ano C”: “Ser solidário com os pobres, promovê-los, significa que nós ‘ricos’, como indigentes do sentido mais profundo do homem, mendigamos da pobreza do pobre a riqueza da vida, para nos convertermos a um princípio mais radical e essencial do homem”.
Movidos pela gratuidade
“O modo de quem vende tudo, os pobres de espírito, dos misericordiosos, são movidos pela gratuidade. Longe de tornar o homem acomodado, alheio à terra dos homens e aos homens da terra, com suas lutas e labutas, faz dele um homem sempre operoso, fecundo, serviçal, útil, prestimoso para com os outros, especialmente os que estão mais à margem”, enfatizou o cardeal Steiner. Ele disse que é nesse sentido que poderíamos meditar as palavras de Jesus: “que os vossos rins estejam cingidos e as vossas lâmpadas acesas” Lc 12,36). Como se disséssemos, afirmou, “estejamos de mangas arregaçadas e em atitude de atenção para servir. Trata-se da prontidão de servir. E como o agir, o fazer, necessita de prontidão benevolente, Jesus nos diz: lâmpadas acessas. Uma operosidade atenta e cordial. Assim, para entrar nessa benevolência de visitação, Jesus nos apresenta “verdadeiro tesouro” que, nós como discípulos, discípulas, temos a possibilidade de receber e que o tesouro não está nos bens deste mundo. É a beleza e a atração do ‘Reino’ e suas benevolências. E como descobrir e guardar esse “tesouro”?, citando Fernandes, M.A., Fassini, Dorvalino.
“Neste mês de agosto a Igreja no Brasil recorda e reza pelas vocações nas nossas comunidades. A vocação é um tesouro. Todas as vocações são um tesouro a ser cuidado e cultivado, pois um dom recebido”, recordou o cardeal Steiner. Segundo ele, “cada vocação é um convite a deixar tudo para seguir Jesus. A vida familiar, a vida matrimonial é um deixar tudo, uma entrega, uma vida de gratuidade, uma relação grata. É um vender, uma distribuir: um sair, deixar. Entrar na liberdade e na dinâmica de um amor gratuito que é um tesouro. Toda vocação tem o seu vender tudo e dar aos pobres, uma vida de gratuidade, de generosidade. Tudo o que tenho é muito pouco diante do tesouro do Evangelho de ser para os outros, ser apenas dom gratuito, presença de consolo, de compaixão. A vocação matrimonial, tem um deixar tudo! Hoje lembramos a vocação da maternidade, da paternidade, a vocação à vida matrimonial, a vocação da família”.
O arcebispo de Manaus recordou o ensinamento de Papa Francisco em Amoris Laetitia: “a Trindade que se revela com traços familiares. A família é imagem de Deus, que (…) é comunhão de pessoas. (AL, nº 71). A Família o Evangelho do Amor! A mostração do amor! Ao rezarmos pela vocação matrimonial, coloquemos diante de Deus os nossos pais. O dia dos pais seja a oportunidade de reconhecermos a beleza da vocação recebida, e gratidão pela sermos gerados na paternidade e maternidade”.

Necessidade da perseverança
Na passagem da carta ao Hebreus, o cardeal sublinhou que “nos recordava a necessidade da perseverança, de estar sempre com olhar voltado para Jesus, permanecendo na fidelidade do Evangelho, do reino de Deus. No meio de tantos desacertos, decepções, contradições, fraquezas, traições, violências: ‘Não tenhais medo, pequenino rebanho, pois foi do agrado do Pai dar a vós o Reino’. Sinal de esperança quando na proximidade de Jesus”.
Então: “Empenhemo-nos com perseverança no combate que nos é proposto, com os olhos fixos em Jesus, que em nós começa e completa a obra da fé…. Pensai, pois naquele que enfrentou uma tal oposição por parte os pecadores, para que não vos deixeis abater pelo desânimo. Vos ainda não resististes até o sangue na vossa luta conta o pecado.” (Hb 12,1-4), disse citando o texto da segunda leitura.
Finalmente, o arcebispo de Manaus insistiu em que “não importa saber o dia e a hora da vinda do Senhor. Importa os olhos e a sensibilidade que recebemos para perceber a vinda de Jesus, a sua presença entre de nós na pessoa dos irmãos e irmãs e nos acontecimentos da vida de cada dia. O Senhor esteja convosco: Ele está no meio de nós!”