Na Solenidade de São Pedro e São Paulo, o arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Ulrich Steiner, iniciou sua homilia afirmando que “o Evangelho apresenta Jesus em diálogo Pedro e os discípulos. Jesus se dirige aos discípulos com duas perguntas, com o desejo de clarificar a verdade de sua mensagem e presença e, ao mesmo tempo confirmá-los no seguimento, na vida do Reino”.
O enviado de Deus
“Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?”, disse o presidente do Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, recordando a pergunta de Jesus. “Eles responderam: Alguns dizem que é João Batista; outros que é Elias; outros ainda que é Jeremias ou algum dos profetas”, disse citando o texto do Evangelho. Segundo ele, “o dizer dos outros vê Jesus em continuidade com o passado: João Baptista, Elias, Jeremias ou algum dos profetas. Não perceberam a condição única de Jesus, a sua novidade, a sua originalidade, do seu verdadeiro envio. Reconhecem, apenas, que Jesus é um homem convocado por Deus e enviado ao mundo com uma missão, como os profetas. Jesus é, assim, um homem bom, justo, generoso, que escutou os apelos de Deus”.
“Então Jesus lhes perguntou: E vós, quem dizeis que eu sou? Simão Pedro respondeu: Tu és o messias, o Filho do Deus vivo”, continuou com o texto. Segundo ele, “Pedro toma a palavra e faz uma confissão: ‘Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo’”. Para o arcebispo de Manaus, “confessar que Jesus é Messias, ‘o Cristo’, expressa que Ele é o libertador que Israel esperava, enviado por Deus para libertar o seu Povo e para oferecer a salvação. Mas Pedro confessa não só que ele é o Messias, mas também o Filho do Deus vivo, do Deus vivente”.

“Filho de Deus visibiliza que Ele recebe vida de Deus, que vive em total comunhão com Deus, que desenvolve com Deus uma relação de profunda intimidade e que Deus lhe confiou uma missão única: a salvação, a redenção. O Deus vivo é o reconhecimento da profunda unidade, comunhão e intimidade entre Jesus e o Pai, Jesus e o Espírito Santo que será enviado. A confissão de Pedro diante dos sofrimentos que Jesus haveria de passar a paixão e morte de cruz, abre uma relação nova e vindoura”, enfatizou o cardeal.
Confissão que constrói a Igreja
Ele citou de novo a passagem do Evangelho: “Respondendo, Jesus lhe disse: Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas meu Pai que está no céu. Por isso eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que tu ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que tu desligares na terra será desligado nos céus.” Em palavras do arcebispo de Manaus, “é sobre essa confissão, essa revelação, que se constrói a Igreja, que somos Igreja. É na manifestação dessa fé que recebemos as chaves para nos ligarmos e permanecermos fiéis ao Reino revelado definitivamente na Cruz e Ressurreição. É nessa confissão que participação do mistério salvífico, redentor e libertador do Filho de Deus. É nessa confissão que somos recebidos e afirmados como Filhas e filho de Deus”.
“Talvez, a pergunta dirigida aos apóstolos nos ajude a responder que Jesus é o Messias o Filho do deus vivo, pois a cada um de nós é dirigida a pergunta: ‘E vós, quem dizeis que Eu sou?’ A pergunta ecoa e nós respondemos: tu és o Filho de Deus vivo!! Mas uma resposta que não nasce mais do dizer dos outros, do que lemos e ouvimos, mas de experimentamos a Jesus. Qual é o lugar que Jesus ocupa na minha vida, na minha existência. Quem é o Filho de Deus quando me encontra a dor, a desilusão, a morte? Ele é o Filho de Deus se apresenta nos pobres, nos necessitados, nos despossuídos, nos descartado? É Ele que a quem respondo ao responder às necessidades de tantos necessitados? Quem é Jesus Cristo para mim? E nós continuamos a afirmar que ele é o Messias, o Cristo o filho de Deus vivo que anima os nossos passos, abre o nosso coração, nos acompanha enquanto caminhamos, enquanto somos peregrinos. Ele razão de peregrinarmos na Esperança e sermos sinal de esperança para tantos irmãos e irmãs desiludidos”, refletiu o cardeal Steiner.
Ele lembrou que “hoje celebramos Pedro e Paulo, no dizer de Papa Francisco, dois Apóstolos enamorados de Jesus, duas colunas da fé da Igreja. Como responderam ele a pergunta e vós quem dizeis que eu sou?”

Despertar e erguer-se
Na primeira leitura dos Atos dos Apóstolos, o cardeal destacou que “Pedro é libertado das correntes da prisão; ‘um anjo do Senhor tocou-lhe o lado enquanto dormia, despertou-o e disse: Ergue-te depressa!’ É despertado e deve erguer-se. Despertar e erguer-se, significa que o anjo do Senhor despertou Pedro do sono da morte e o impeliu a erguer-se, isto é, a ressurgir, a sair para a luz, a deixar-se conduzir pelo Senhor para superar todas as portas fechadas. Ao ergue-se e seguir o anjo Pedro responde mais uma vez a Jesus: Tu és o Filho do deus vivo”.
Nessa perspectiva, o arcebispo de Manaus disse que “a resposta de Pedro é o seguimento. ‘Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo’ se faz caminho! Depois de ter vivido a fascinante aventura de seguir a Jesus, só depois de ter caminhado com Ele, seguindo os seus passos durante muito tempo, é que Pedro chegou àquela maturidade espiritual que, por graça, por pura graça, o leva a tão clara profissão de fé. Pedro largara tudo, para seguir Jesus. E o Evangelho sublinha: ‘imediatamente’. Pedro não disse a Jesus que iria pensar nisso, não fez cálculos para ver se lhe convinha, não apresentou desculpas para adiar a decisão, mas deixou as redes e seguiu Jesus, sem pedir antecipadamente qualquer segurança. E aprofundaria o seguimento dia após dia, até a morte. Não é por acaso que as últimas palavras, segundo os Evangelhos, que Jesus lhe dirige são: ‘Tu, segue-me’ (Jo 21,22)”.
“São Pedro nos ensina que perseverando todos os dias no seguimento de Jesus que aprendemos a conhecê-lo e amá-lo; é fazendo-nos seus discípulos, discípulas e acolhendo a sua Palavra que nos tornamos seus seguidores e experimentamos o seu amor que nos transforma”, sublinhou o cardeal.
Segundo ele, “somos atraídos pelo modo do seguimento de Pedro. Ele nos convida ao seguimento. Ele nos convida a ser uma Igreja-em-seguimento. Uma comunidade que é discípula e humilde serva do Evangelho. Assim seremos capazes de dialogar com todos e tornar-nos proximidade, esperança para as mulheres e os homens do nosso tempo. Pedro nos incentiva a sermos uma comunidade de fé que se deixa atrair por Jesus e confessa: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”.

Perseguição e tribulação
Na segunda leitura, o cardeal enfatizou que “Paulo propõe que sejamos ativos no anúncio do Evangelho: ‘combati a bom combate’ (2Tm 4,7). Ele se refere às inúmeras situações, às vezes marcadas pela perseguição e a tribulação ao anunciar o Evangelho de Jesus. No final da vida, vê ainda uma grande batalha, porque muitos não estão dispostos a acolher Jesus, preferindo correr atrás dos seus próprios interesses e outros mestres, mais cômodos, mais fáceis, mais segundo a própria vontade. Paulo enfrentou o seu combate e, agora que terminou a corrida, pede a Timóteo e aos irmãos da comunidade para continuarem, com a vigilância, o anúncio, o ensino”.
“Percebemos na leitura como São Paulo é anúncio; o anúncio do Evangelho, a boa nova. Também para ele, tudo começou por graça. No caminho de Damasco, enquanto se empenhava com orgulho na perseguição dos cristãos, veio ao seu encontro Jesus ressuscitado e cegou-o com a sua luz, com a graça da Luz. Saulo deu-se conta de quanto era cego, fechado no orgulho da sua rígida observância e descobre em Jesus a realização do mistério da Promessa. Assim, São Paulo percorre terra e mar, cidades e aldeias, não se importando de padecer carências e perseguições, para anunciar Jesus Cristo. E quanto mais anuncia o Evangelho, tanto mais conhece Jesus; quanto mais conhece Jesus, mas desejo tem de anunciar. Por isso, Paulo deixou essa belíssima expressão que nos a trai: ‘ai de mim se eu não evangelizar’ (1Cor 9,16), pois para ele ‘viver é Cristo’ (Flp 1,21)”, disse o arcebispo de Manaus.
“São Paulo está a nos ensinar: quando evangelizamos, somos evangelizados. A Palavra, que levamos aos outros, regressa a nós numa medida maior do que a usada para a oferecer. E Somos provocados a colocar o anúncio no centro, ser uma Igreja que não se cansa de repetir, ‘para mim, viver é Cristo’ e ‘ai de mim se eu não evangelizar’!”, disse o cardeal Steiner.
Finalmente, ele fez um convite: “Caminhemos juntos, peregrinemos juntos. Sigamos a Jesus com alegria e anunciemos a razão da nossa vida: Viver Cristo! Tudo na graça de Jesus ser para nós esperança como foi para Pedro e Paulo. São Pedro e São Paulo nos acompanhem e intercedam por todos nós, para podemos confessar sempre: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo! Amém”.