Na vida das comunidades eclesiais de base, onde o protagonismo laical é um elemento que as define, o ofício divino das comunidades é um dos modos comuns de oração, que mais uma vez se fez presente na VI Assembleia das Comunidades Eclesial de Base da prelazia de Tefé, que se celebra na paróquia São Joaquim de Alvarães de 09 a 13 de julho, com a presença de mil representantes das 14 paróquias e 03 áreas missionárias em que se divide essa igreja local.
Os participantes continuam refletindo sobre quatro temáticas: ecologia integral e sinodalidade; compromisso para a justiça social; missionariedade; e desafios e perspectivas em um mundo polarizado. Essas reflexões fazem parte da vida das comunidades, uma necessidade para poder responder aos desafios atuais.

O fenómeno da polarização
Um dos maiores desafios que enfrenta a sociedade atual é a polarização, um fenómeno que também se faz presente na Igreja católica. O secretário executivo da Comissão Brasileira de Justiça e Paz, Daniel Seidel, refletiu sobre essa realidade, mostrando a necessidade de procurar soluções que ajudem a superar dinâmicas em que uns ganham e outros perdem, dado que o trabalho comunitário é o que salva.
Diante da atual realidade brasileira, Seidel refletiu sobre realidades presentes no atual panorama no país. O Brasil é um país onde a democracia está ameaçada, com um claro desequilíbrio entre os três poderes: executivo, legislativo e judiciário. Fenómenos como a distribuição do orçamento público, a judialização de muitas leis, a enorme influência das redes sociais, a desinformação. Junto com isso, a COP30 é um momento importante diante desse cenário mundial e brasileiro, que demanda o compromisso da sociedade e da Igreja.
O sociólogo analisou o papel de Papa Francisco e Papa Leão XIV, a contribuição no campo da ecologia integral com a Laudato si´, o Sínodo para a Amazônia, assumindo o caminho iniciado pela Igreja da região desde Santarém 1972, um caminho que está dando continuidade o Papa Leão XIV, que acaba de celebrar pela primeira vez a Missa pela Criação. Papas que nasceram na experiência da Igreja latino-americana, na profecia da sinodalidade, do reconhecimento das mulheres nos ministérios eclesiais e nos espaços de decisão na Igreja.
Agenda de lutas
Existe uma agenda de lutas, que as comunidades eclesiais de base são desafiadas a assumir. Dentre elas aprender com os povos originários o bem-viver; se envolver no plebiscito popular sobre a jornada de trabalho e a taxação dos super-ricos; a Campanha a Vida por um Fio de autoproteção de lideranças e comunidades ameaçadas; enfrentamento à extrema direita, ocupando os espaços nas redes digitais; conversão pastoral, ecológica, cultural e sinodal, para fazer realidade os sonhos de Papa Francisco em Querida Amazônia: social, ecológico, cultural e sinodal; garantir a aplicação do Sínodo sobre a Sinodalidade: participação, comunhão e missão, dando passos corajosos para ser uma Igreja com rosto amazônico, samaritano, em saída para as periferias. Todo isso, sem medo, com a inspiração da divina Ruah.

Na sociedade brasileira existem, segundo Daniel Seidel, heranças históricas que marcam a consciência política: colonialismo, racismo e discriminação regional, a cidadania pelo trabalho, autoritarismo, machismo, preconceito e violência contra as mulheres, consumismo e materialismo. São fenómenos que mostram a atual mudança de época, que tem como sinais o antropoceno, que provoca mudanças climáticas e aquecimento global; crise das instituições e valores; necropolítica; ultraliberalismo e fundamentalismo; fé-sentido-experiência; pandemia que coloca em questão a ideia de super-homem; distopia e utopia.
Essa realidade demanda profecia, anúncio e denúncia que gera esperança. Uma atitude que demanda discernimento dos apelos que Deus faz na realidade, que leva a denunciar as injustiças, estruturas e sistemas que negam a vida e cultuam a morte. Todo discípulo é chamado a anunciar a boa notícia, a esperançar, a reaprender o valor da sobriedade feliz, a seguir o exemplo de Maria, a utilizar as redes sociais como instrumento de comunicação estratégica e incidência política e cultural.