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A pandemia da especulação

A pandemia da especulação

Tem gente que só quer ganhar dinheiro, mesmo diante do
sofrimento alheio, mesmo diante de uma pandemia que está matando muita gente. O
que está acontecendo nos últimos dias e a avareza daqueles que estão se
aproveitando da falta de produtos básicos
, sobretudo o oxigênio, deveria nos
levar a refletir como sociedade. O Papa Francisco sempre nos adverte contra uma
economia que mata. Na sua última encíclica, Fratelli tutti, falando sobre uma
nova cultura ao serviço dos mais poderosos, ele nos adverte que “disto tiram
vantagem o oportunismo da especulação financeira e a exploração, onde aqueles
que sempre ficam a perder são os pobres”. Ele nos diz que “a especulação
financeira, tendo a ganância de lucro fácil como objetivo fundamental, continua
a fazer estragos
”.

Ver os pobres vender o pouco que eles têm para comprar
um cilindro de oxigênio
é algo de doer o coração. Gente que se apega à última
esperança diante de uma situação de morte presente na vida de muitas famílias
da nossa cidade de Manaus nos últimos dias. Diante da escassez do produto, a
gente tem visto que o preço tem mais do que triplicado, algo que só pode ser
entendido como uma amostra de pouca vergonha da parte de quem está enchendo o
bolso diante do sofrimento do povo.

A mesma coisa pode ser dita dos remédios, dos
alimentos, inclusive os mais básicos. O Papa Francisco, também em Fratelli
tutti, ele nos diz que “quando a especulação financeira condiciona o preço dos
alimentos, tratando-os como uma mercadoria qualquer, milhões de pessoas sofrem
e morrem de fome
”.
Estamos
vivendo momentos de grande sofrimento, que podem marcar o futuro da sociedade
manauara e mundial. Pobres cada vez mais pobres, e ricos cada vez mais ricos,
fruto de uma especulação que pode ser considerada como um gravíssimo pecado
social
. O pior de tudo é que a gente já acostumou com isso, aceitando que quem
não tiver recursos, a única saída é a morte,
uma morte cruel, pois morrer
sufocado pela falta de oxigênio é uma das maiores crueldades que pode enfrentar
o ser humano.


Será que não vamos nos indignar diante disso? Será que
vamos continuar impassíveis vendo como uns poucos engordam suas contas
bancarias enquanto uma multidão está ficando sem nada
, inclusive sem a própria
vida? O silêncio nos torna cumplices de um sistema que mata os pobres, uma
situação que é contrária ao projeto de Deus, que nos chama a fazer realidade na
vida de toda pessoa, o pão nosso de cada dia.

Não podemos negar, e essa deve ser nossa esperança,
que diante daqueles que especulam, também tem gente solidária. Como nos dizia
nosso arcebispo Dom Leonardo, diante da resposta à campanha organizada pela
Igreja católica do Amazonas e Roraima, “nós ficamos muito surpresos e
agradecidos pela solidariedade
, existe muita solidariedade em Manaus, existe
muita solidariedade no Amazonas, existe muita solidariedade no Brasil, existe
muita solidariedade internacional”. Ele destaca “os pequenos gestos, essas
pequenas contribuições”
, de tantas pessoas anónimas que estão ajudando nos
últimos dias. Nessa solidariedade, em palavras do nosso arcebispo, “nós
percebemos como nós formamos uma grande fraternidade, e como gostamos de nos
ajudar e nos consolar através desses pequenos gestos”.

Sejamos conscientes que somos nós quem devemos ajudar
a entender a vida desde uma perspectiva diferente. Ser solidários, compassivos,
caridosos
se torna uma necessidade urgente. Só assim a gente vai acabar com a
pandemia da especulação, mostrando que partilhar é bem melhor do que explorar,
sobretudo os mais pobres.

Luis Miguel Modino
Assessor de Comunicação Regional Norte 1 CNBB
Editorial Rádio Rio Mar de Manaus


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