A violência contra as mulheres é “uma covardia e uma
degradação para toda a humanidade”. Quem diz isso é o Papa Francisco no vídeo
com que todo mês difunde sua intenção de oração. Neste mês de fevereiro, ele
pede para rezar pelas mulheres vítimas de violência, pois “hoje segue havendo
mulheres que sofrem violência, violência psicológica, violência verbal,
violência física, violência sexual”.
Na
próxima segunda-feira, 8 de fevereiro, no dia em que a Igreja católica celebra
a festa de Santa Bakhita, uma escrava africana que depois se tornou religiosa
na Itália, acontece o Dia Mundial de Oração e Reflexão contra o Tráfico de
Pessoas, que na sua 7ª edição, nos leva a refletir sobre o tema “Economia sem
tráfico de pessoas”.
Estamos
diante de uma grande oportunidade para refletir sobre o modelo econômico dominante, uma das principais causas do tráfico de pessoas.
Não podemos esquecer que os lucros anuais decorrentes do tráfico no mundo são
150,2 bilhões de dólares, dois terços dos quais são provenientes da exploração
sexual. Neste tempo de pandemia da Covid-19, a pandemia do tráfico de pessoas,
da exploração sexual e da violência contra as mulheres, que são realidades
muito presentes na sociedade mundial, também na Amazônia, têm sido agravadas.
Nesse modelo econômico, onde na mente de muita
gente tudo pode ser comprado e vendido, sempre que isso gere lucros, e a gente não
pode esquecer que estamos diante de um crime que gera altos lucros, as pessoas
são vistas como mercadorias, sendo submetidas pela especulação financeira e
pela concorrência.
Diante disso, o Papa Francisco, na encíclica Fratelli tutti nos diz que “o
direito de alguns à liberdade de empresa ou de mercado não pode estar acima dos
direitos dos povos e da dignidade dos pobres” (FT 122).
Se
faz necessário mudar o sistema econômico global, e
para isso tem que ser assumida uma visão “estrutural e global” do tráfico de
pessoas, que ajude a desequilibrar todos aqueles mecanismos perversos que
alimentam a oferta e a procura de “pessoas para explorar”. A reflexão sobre
esse sistema econômico nos leva a entender que é o coração de toda a economia
que está doente. Trata-se de uma economia onde tudo é dominado pelo preço dos
produtos, onde as empresas se tornaram vítimas de uma lógica em que cada vez
mais, a empresa é valorizada pelo preço das suas ações no mercado financeiro e
não pelo valor acrescentado gerado pelo seu capital humano.
Não
podemos esquecer que são os pobres as maiores vítimas do tráfico de pessoas,
muitas vezes em consequência de falta de oportunidades no âmbito local, o que é
aproveitado pelas máfias, que com falsas promessas conseguem aliciar as
vítimas. Diante dessa realidade, a mesma encíclica nos diz que “a superação da
desigualdade requer que se desenvolva a economia, fazendo frutificar as
potencialidades de cada região e assegurando assim uma equidade sustentável”
(FT 161).
Reflitamos sobre essa realidade, mas também sobre a
violência contra as mulheres, pois “o número de mulheres espancadas, ofendidas
e violadas é impressionante”, nos diz o Papa Francisco no vídeo. São muitas as
mulheres que lançam “um grito de socorro que não podemos ignorar. Não podemos
olhar para o outro lado”. É mais uma pandemia que provoca morte e sofrimento,
que precisa de cada um de nós para ser superada. Rezemos juntos com o Papa
Francisco.
Luis Miguel
Modino, Assessor de
Comunicação CNBB Norte 1 (Editorial Rádio Rio Mar)