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Artigo – O sínodo que incomoda

Artigo – O sínodo que incomoda

Fiquei surpreso ao saber que a Igreja Católica em Manaus está sob
suspeita de estar preparando uma ofensiva contra o governo no Sínodo que
vai acontecer em outubro. Ao que tudo indica, as reuniões preparatórias
que aconteceram na nossa cidade foram monitoradas pelos órgãos de
informação. A minha primeira reação foi de estranheza pois nada fizemos
de secreto. Centenas de textos de trabalho foram distribuídas. O que
levou a esta suspeita? Tudo indica que é o medo de críticas e de
oposição. Além disto, atribuir a preparação do Sínodo a uma orientação
política da Igreja Católica mostra que a Igreja é pouco compreendida.
Faço parte da Comissão da Amazônia da CNBB que foi constituída para
fazer com que a Igreja no Brasil se solidarizasse com a Igreja na
Amazônia, ao mesmo tempo, sendo desta região no conjunto da Igreja. Sei
quanto este Sínodo está sendo um sinal de esperança para o nosso povo,
sobretudo aqueles que nunca são ouvidos. Vi e testemunhei o encontro de
bispos com ribeirinhos e comunidades indígenas. Assisti a reuniões de
jovens que puderam se expressar livremente sobre temas antes vistos como
tabus em rodas de conversa e escutas que se multiplicaram por todo o
território panamazônico.

A preocupação de todos é a evangelização e a maior demanda é que se
pensa na Eucaristia que não pode ser celebrada por falta de ministros.
São preocupações que vem de longe. A estas se juntam à preocupação com a
Casa Comum, numa Ecologia Integral. E neste aspecto os povos
originários tem muito a nos ensinar. Também os ribeirinhos adquiriram a
arte de viver e conviver na floresta. Os melhores projetos de
desenvolvimento sustentável são os que aliam conhecimento científico e
sabedoria popular. O Sínodo da Amazônia já é um evento bem-sucedido
porque já provocou um grande mutirão de participação nas reflexões nunca
visto em Sínodos anteriores. É o Povo de Deus que caminha na história e
que quer ser ouvido em questões que são vitais para a humanidade.

Questiona-se a competência da Igreja para tratar destes assuntos. Ela
está presente na Amazônia desde o início da sua ocupação pelos
europeus. Tem um conhecimento da realidade que vem da convivência dos
seus ministros com o povo. Os bispos que participarão da Sínodo são
pastores atentos à vida do rebanho e agem sem segundas intenções quando
defendem seus direitos e denunciam a violação dos mesmos. Os
missionários estiveram entre os primeiros a descrever a região e seus
habitantes. A Igreja encara com seriedade a sua missão e sempre procurou
o melhor para os seus fiéis. Não jogamos para a plateia e nem visamos o
dinheiro fácil e abundante que sempre atraíram os olhares cobiçosos
para esta região, fonte inesgotável de riquezas.

Nos meus quarenta anos de convivência com os povos da floresta,
aprendi mais que ensinei. Aprendi a respeitar a natureza. Não se brinca
com ela. As consequências da destruição do meio ambiente são trágicas.
Não é só a religião que afirma isto, mas também a ciência. Falar disto
não é um atentado contra a soberania nacional, mas é colocar nossa
pátria na vanguarda da defesa da vida no planeta.

ARTIGO DE DOM SERGIO EDUARDO CASTRIANI – ARCEBISPO METROPOLITANO DE MANAUS
JORNAL: EM TEMPO
Data de Publicação: 17.2.2019

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