Caminhar juntos sempre foi um desafio, que hoje se
tornou necessidade numa sociedade dividida, onde o confronto tem sido assumido
como atitude pessoal e política. Na sua última encíclica, o Papa Francisco nos
diz que “uma tragédia global como a pandemia do Covid-19 despertou, por algum
tempo, a consciência de sermos uma comunidade mundial que viaja no mesmo barco,
onde o mal de um prejudica a todos”, recolhendo uma ideia que ele mesmo
partilhava na oração que aconteceu na Praza de São Pedro vazia, no dia 27 de
março de 2020.
A pandemia tem nos mostrado a necessidade de cuidar
uns dos outros como algo que faz possível a vida em plenitude. Nossa falta de
cuidado com nós mesmos, provoca o sofrimento dos outros, do mesmo modo que os
outros, quando não se cuidam, podem fazer com que a gente sofra. As
consequências disso tem se tornado evidentes no Brasil, que vive uma situação
dantesca, beirando os três mil óbitos por dia, algo que infelizmente, muita
gente não tem e não quer ter consciência do que realmente significa.
A sociedade brasileira é desafiada cada vez mais a
refletir sobre essa situação, a se questionar sobre as atitudes e
responsabilidades que devem ser assumidas por todos e cada um, cada uma, de
nós. Fazer de conta que o que está acontecendo é normal, que é o jeito, uma
atitude que parece estar presente em muitos brasileiros e brasileiras, também
naquele a quem foi confiado conduzir politicamente o país, só piora uma
situação a cada dia mais caótica.
O diálogo deve ser assumido como caminho a seguir, em
vista de um discernimento que possa ajudar a superar as gravíssimas
consequências da pandemia. Mas para isso somos desafiados a escutar, a
partilhar pensamentos e sentimentos que ajudem a fazer realidade um sentimento
comum de fraternidade e empatia pelo sofrimento do próximo.
A Igreja católica tem feito insistentes chamados nesse
sentido nos últimos meses. Por isso, gostaria de destacar hoje a importância da
convocatória que a Arquidiocese de Manaus, através do seu arcebispo, Dom
Leonardo Steiner, fazia na semana passada, ao convocar uma Assembleia Sinodal
Arquidiocesana, onde será refletida a vida da Igreja de Manaus, mas também, e
sobretudo, a vida do povo, especialmente daqueles que mais sofrem, tentando assim
fazer vida as palavras do Papa Francisco na Querida Amazônia, onde sonha “com
comunidades cristãs capazes de se devotar e de se encarnar na Amazônia”.
A pandemia da Covid-19 tem mudado a vida cotidiana da
gente, também na vivência da fé. Por isso é importante tomarmos consciência da
atual situação que a gente vive e das circunstâncias que determinam hoje nossa
realidade social. As exigências e apelos que hoje devem ser enfrentados em
consequência da nova realidade que o mundo vive devem nos levar a uma reflexão
comum, algo que Dom Leonardo expressa na convocatória da Assembleia Sinodal da
Arquidiocese de Manaus, que deve ser um instrumento que ajude a responder aos
novos desafios, nascidos de uma realidade a cada dia mais complexa e
desafiadora.
É tempo de caminhar juntos, de enxergar o outro desde
uma atitude de fraternidade, de poder mostrar que o sofrimento do outro também
nos atinge. Assumir o cuidado da gente e dos outros se tornou uma urgência
inadiável, algo a ser feito já.